terça-feira, 1 de maio de 2018

PRIMEIRO DE MAIO


1.º DE MAIO


Foi há 44 anos que em Portugal se comemorou pela primeira vez o Primeiro de Maio. O Estádio da FNAT, hoje Estádio 1.º de Maio, propriedade da Fundação INATEL (que substituiu o nome da FNAT), em Alvalade, Lisboa, foi o palco onde os trabalhadores portugueses pela primeira vez puderam comemorar o Dia do Trabalhador. Um de Maio de 1974, sete dias após o 25 de Abril, o 1.º de Maio foi o sinal de que a Revolução vigou e que daqui para a frente a responsabilidade pela instalação da Democracia seria dos militares, do Conselho da Revolução, e, principalmente dos políticos.

Nesta fase política, já estava a ser preparada a fundação do PPD, hoje PSD, que foi fundado em 6 de Maio de 1974. Em embrião estava o CDS, hoje CDS-PP, que foi fundado em 19 de Junho de 1974. Antes, em 19 de Abril de 1973, já tinha sido fundado, na Alemanha, o PS. Mas o primeiro de todos a ser fundado foi o PCP, cuja data é de 6 de Março de 1921. Estes foram os 4 partidos políticos que ajudaram à consolidação da Democracia em Portugal.

Mas voltemos ao primeiro Primeiro de Maio festejado em Portugal. Esta fabulosa manifestação que juntou milhares de pessoas. Esta manifestação de força dos trabalhadores e de consolidação da Liberdade, teve o condão, e fica marcada na história da Democracia portuguesa, de juntar na mesma manifestação Álvaro Cunhal e Mário Soares, quer se queira ou não foram os dois rostos principais da consolidação da Democracia em Portugal, iniciada pelos Capitães de Abril.

Posteriormente, as manifestações do Primeiro de Maio poucas vezes conseguiu unir os trabalhadores nas manifestações, pois as duas Centrais Sindicais, CGTP/IN e a UGT, têm por norma comemorar o Dia do Trabalhador em manifestações separadas.

A luta dos Trabalhadores, que deu lugar ao Feriado Internacional do 1.º de Maio – não é um Feriado Mundial, pois há países onde não é feriado. No Brasil, por exemplo, não é feriado, mas os trabalhadores costumam comemorar o 1.º de Maio.

Alameda D. Afonso Henriques - Lisboa

Mas esta data remonta ao dia 1 de Maio de 1886. Nesse dia, mais de 500 mil trabalhadores saíram às ruas de Chicago, nos Estados Unidos da América, numa manifestação pacífica, exigindo a redução da jornada de trabalho para oito horas. A polícia retaliou a manifestação, e na tentativa de dispersara multidão, feriu e matou dezenas de operários.

Não obstante esta tragédia, os trabalhadores regressaram às ruas no dia 5 de Maio de 1886. Novamente a carga policial caiu em cima dos operários, registando-se novamente feridos e vários manifestantes a serem presos.

Desta vez a opinião pública manifestou-se contra a acção da polícia e do Governo, bem como das entidades patronais. Em 1889, o Congresso Operário Internacional reuniu-se em Paris e decretou o 1.º de Maio como o Dia Internacional dos Trabalhadores.

Em 1890, os trabalhadores americanos viram a jornada de trabalho diária ser reduzida para oito horas.

Hoje, dia 1 de Maio de 2018, os trabalhadores portugueses, a maioria, esfrega as mãos porque este dia é apenas mais um feriado. Houve trabalhadores que perderam a vida a lutar pelos direitos dos operários. Quantos hoje estarão presentes nas manifestações que por todo o país de vão realizando? Ou mais estarão de fim-de-semana prolongado? O certo é que os trabalhadores das grandes superfícies comerciais deixaram de gozar o dia do Trabalhador. As empresas há poucos anos que deixaram de cumprir a norma de encerrar as portas no dia 1.º de Maio. Hoje os trabalhadores das grandes superfícies comerciais estão em greve. Hoje a precariedade é cada vez maior.

Alameda D. Afonso Henriques - Lisboa
Há pouco passei na Alameda D. Afonso Henriques, a praça mítica da Fonte Luminosa, e deparei-me com milhares de pessoas a circular nessa área, pois é lá que a CGTP/IN vai realizar a sua manifestação do 1.º de Maio.

Consciência da Classe Operária – parece um radicalismo da extrema-esquerda, como hoje muitos gostam de dizer -, mas os trabalhadores, sejam em que serviço for, são, efectivamente, operários – precisa-se, hoje mais do que nunca.


quarta-feira, 25 de abril de 2018

25 DE ABRIL - 44 ANOS DE LIBERDADE


Hoje acordei em Lisboa. Como eu gostava de ter acordado há 44 anos em Lisboa! Seria sublime viver aquela manhã de Sol, tal como a de hoje, do raiar de um dia de uma madrugada libertadora!

Viver a primeira infância a ver os jovens que conhecia a fazerem festa quando eram considerados aptos para a vida militar e, ao mesmo tempo, ouvir as lamúrias e as rezas das mães que tinham os seus filhos a combater nas colónias portuguesas de África causava em mim uma sensação dúbia, própria de um menino que não sabia o que era a Liberdade, a Democracia, ou a ditadura.

Assistia às conversas entre mães temerosas de que os seus filhos não regressassem do ultramar, e ao medo de outras, tal como a minha mãe, na altura com dois filhos rapazes, de que estavam a criar os seus filhos sempre com o coração nas mãos de um dia os poderem ver partir para uma guerra que elas não sabiam para que era nem qual o sentido. Apenas sabiam que essa guerra lhes "roubava" os filhos! que não sabiam se à partida seria a última vez que os viam vivos!

Com a idade da altura, 12 anos, só ouvia falar do medo da PIDE. Mas eu não tinha a mínima ideia do que isso era! Sabia apenas que havia uns delatores - ouvia eu de algumas bocas: aquele é informador da PIDE! - Que para agradar aos chefes mandantes não tinham pejo em acusar um vizinho ou um conhecido como um delator do regime, mesmo sendo esse acusado um ignorante. Conheci um caso de um ignorante, que nada sabia de política, que mal sabia assinar o nome, e a ler era pior do que eu quando comecei a juntar as letras na leitura ao fim de dois dias. Mas esse homem, que, diga-se, era um fala-barato, mas sem qualquer maldade, um dia viu a casa da sua mãe invadida pela guarda para o levar. Acusado de conspirar contra o regime. E por isso eu fiquei confuso.

Toda essa confusão que pairava na minha mente se esvaneceu e tudo se clarificou na manhã soalheira de 25 de Abril de 1974. Fui para o Ciclo Preparatório sem saber que, afinal, o tal regime que perseguia o meu vizinho Luís já não existia. Fiz o caminho a pé. Chegado a Esposende, nada transparecia de que algo tivesse mudado no país! Tudo era a normalidade dos dias anteriores, dos meses e dos anos que eu já percorria aquelas artérias para ir para a Escola.

Apenas quando já estávamos equipados para  aula de Educação Física, e já dávamos uns toques na bola no Campo Padre Sá Pereira, chegou o Professor de Educação Física e informou-nos que não havia aulas pois tinha havido uma Revolução em Lisboa e que nós deveríamos ir para casa e não andar na rua. Sem mais explicações! 

Vesti-me e segui o caminho inverso em direcção a casa. Lá chegado informei a minha mãe de que não havia aulas, pois tinha havido uma Revolução em Lisboa. Sentei-me em frente à televisão, talvez pelas 11 horas da manhã, e não mais desgrudei da mesma até noite dentro e o sono me conseguir vencer. Naquele dia ouvi falar da Liberdade, da Democracia, do fim da guerra colonial. Assisti ao rebuliço das ruas e às informações das negociações no Quartel do Carmo, cercado pelos carros de combate do regimento de Santarém, para a rendição do regime por parte do Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, figura familiar das imagens televisivas das "Conversas em Família".

Assim foi o meu primeiro contacto com o 25 de Abril! Desde então nunca mais deixei de procurar saber mais e mais sobre a Revolução dos Cravos. Bebi cada escrito e cada programa televisivo que nos falasse de Abril e daquela madrugada libertadora. Para mim, Grândola Vila Morena e Zeca Afonso ainda hoje persistem. Aliás, as cantigas do Zeca estão na minha playlist. Neste momento que escrevo, ouço o Zeca nas colunas do computador.

Mas hoje, 44 anos depois, será que os ditames de Abril estão integrados na nossa sociedade? Não sou tão radical como muitos. Abril foi Revolução! Houve coisas boas. Houve coisas más. Houve erros. Houve excessos. Mas isso aconteceu em todas as Revoluções que marcaram a Humanidade.

Foi graças a Abril que Portugal saiu da miséria do país mais pobre e menos esclarecido da Europa. Foi graças a Abril que todos tiveram direito ao acesso à Saúde e à Educação. Foi Abril que nos facultou o direito de escolher, em eleições livres, quem queríamos a governar o nosso país. Foi com Abril que o Poder Local ganhou independência e democraticamente os seus órgãos passaram a ser eleitos pelo povo. Foi graças a Abril que deixei de ler nos boletins de voto: "Sim ou não Marcelo Caetano", que os pais de família recebiam pelo correio e no dia indicado iam colocar o boletim numa urna eleitoral que se encontrava depositada na igreja da minha freguesia. A maravilha que é esta mudança! Só quem a viveu a pode sentir!

Mas para completar os valores de Abril ainda muito há a fazer. Não obstante a nossa adesão à Europa, onde nos encontramos abaixo da média, mas já recuperamos extraordinariamente, temos de continuar a lutar pela melhoria da condição de vida dos portugueses. A brilhante criação do nosso Serviço Nacional de Saúde - onde nos podemos orgulhar de sermos dos países do mundo com a mais baixa taxa de mortalidade infantil, o que não acontecia antes do 25 de Abril -, o sistema de Educação pública e o sistema de Segurança Social pública são conquistas de Abril que não podemos descurar e não permitir que os interesses individuais do capital financeiro os pretenda desmantelar. Muito há ainda a fazer nestes sectores. Mas são conquistas nossas. São conquistas de Abril. São de todos e não de alguns!

Reconheço que vivemos num mundo global. Sei que hoje se vive enredado nos ditames da economia. O défice e a dívida pública são a teia que nos enreda e nos coarcta o acesso a mais igualdade. Mas esses ditames não podem ser castradores da nossa sociedade. Não pode ser o princípio orientador que nos impeça de tornar um país mais igual, mais justo, mais solidário. Um país onde a pobreza seja uma vergonha e que todos tenham direito ao acesso a uma melhor qualidade de vida. Possam trabalhar e receber um salário justo. Saberem que têm garantias e direitos no seu trabalho, para além das obrigações. Não podem sentir que são descartáveis a qualquer momento. Temos o direito de programar uma vida com objectivos e com futuro. Estabilidade emocional pede-se a uma sociedade livre e democrática. Cuidar das crianças mais desprotegidas e dos idosos isolados e sem garantias de uma qualidade de vida mínima no fim da sua vida pela parca reforma que os sustenta, é um desiderato civilizacional. Que os filhos saibam que têm a obrigação de cuidar dos seus pais já velhos e cansados, tal como eles os cuidaram quando eram bebés, crianças, adolescentes e jovens. Nenhum filho deve dar como perdido o tempo a cuidar dos seus pais, pois os seus pais cuidaram deles mais anos do que aqueles que os filhos podem cuidar dos pais. Temos de lutar por uma sociedade de Direitos. Uma sociedade que reconheça nos cidadãos portadores de deficiência pessoas com direitos, com direito à sua dignidade como pessoa humana; com direito ao apoio público, privado e da sociedade civil para que estes cidadãos não sejam escondidos na parte traseira da casa.

Sei que muito há ainda a fazer para seguir Abril. A luta contra a corrupção deverá ser um dos objectivos. Agora não podemos é pactuar com a delação. Não devemos aceitar os espectáculos deploráveis que uma comunicação social em conluio com a justiça (com a constante violação do segredo de justiça, um princípio Constitucional de defesa de um acusado) para a imolação na praça pública de alguém que seja acusado, ou mesmo ainda a ser investigado, fazendo, com isso, um julgamento sumário em praça pública, onde a sociedade já interioriza a culpabilidade do arguido. Esta é uma conquista de Abril que nos compete a nós defender.

Hoje vivemos numa sociedade onde tudo é descartável. As redes sociais são um meio de comunicação rápida, onde tudo se expõe sem regra. Acusa-se e condena-se, expõe-se a vida privada com a maior facilidade. Muitas vezes é sentença escrita na pedra o que se lê nas redes sociais. O julgamento é feito apenas com a leitura das letras gordas dos jornais ou o rodapé no programa de informação de um canal de televisão. Julga-se perder menos tempo a escrever no teclado do computador e do telemóvel, e assim fica mais esclarecido e se mostra mais erudito, do que dar algum do seu tempo a uma leitura aprofundada das notícias ou de um livro.

Para mantermos Abril temos de sair da nossa área de conforto. Ir à luta. Sair de casa e ouvir quem tem algo para nos dizer. Nem que saibamos que vamos ouvir algo de que não concordamos. Mas a nossa vida preenche-se com estas dicotomias. Temos de perceber que o melhor para nós não é ouvir só aqueles que nos dizem sempre o que nós queremos ouvir. Mais importante é ouvirmos aqueles que nos dizem o que nós não queremos ouvir. Ou que temos medo de ouvir, porque muitas vezes somos obrigados a dar-lhes razão.

Não esqueçamos: Abril não acabou, é uma constante procura! Não nos devemos acomodar!

Abril, Sempre!

segunda-feira, 20 de março de 2017


A ARTE DA MENTIRA


É um facto insofismável que a mentira é uma arte apenas ao alcance de indivíduos com mau carácter e dos fracos que ao se sentirem excluídos ou desprezados e em busca de um protagonismo que gostariam de ter e não têm e que os outros não lhes reconhecem valor para que o seu ego possa chegar ao alto do que eles querem, utilizam sem qualquer pudor a mentira para se promoverem.

Mentir é um acto condenável na sociedade. Ou melhor: era! Pois hoje mente-se com a maior leviandade. E um facto é que a mentira, por vezes, vai pegando.

Contudo, mentir é uma arte do mentiroso. Mas mentir sobre conteúdos de conversas privadas é perverso e demonstra a pequenez de quem as pratica.

Aqui fica um pequeno pensamento sobre o chorrilho de mentiras que irão continuar a inventar para sustentar a primeira.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

QUE SE PASSA COM A INFORMAÇÃO DA FEIRA QUINZENAL?

QUE SE PASSA COM A INFORMAÇÃO DA FEIRA QUINZENAL?

Foto tirada hoje, dia 26 de Fevereiro. Acreditem que não é brincadeira de Carnaval.
O ano de 2017 já está a chegar ao fim do seu segundo mês de existência. Contudo, o painel informativo da Feira quinzenal de Esposende continua a apresentar os meses de Setembro a Dezembro, suponho que do ano de 2016.
Por isso há razão para perguntar:
1 – Será pelo facto de a Câmara andar muito ocupada com a “tempestade de Pedras” que tem invadido nas últimas semanas o Concelho que não há tempo para actualizar o cartaz informativo?;
2 – Será que com a compra de um terreno com mil metros quadrados pagos a 100€m2 para alargar(?) o terrado de feira o orçamento ficou esgotado e já não há dinheiro para continuar a publicitar a tempo e horas os dias da Feira Quinzenal de Esposende?;
3 – Será que agora a Câmara entende que este serviço público é um serviço menor e que não merece que seja gasto um cêntimo nesta informação?;
4 – Será que o contrato feito com a empresa responsável pela colocação do cartaz informativos caducou e não foi renovado?;
5 – Ou será que o contrato continua em vigor e a empresa é que eventualmente não esteja a cumprir a sua obrigação e ninguém fiscaliza?.
São apenas estas simples perguntas que deixo neste canto.

Já agora, e prestando um serviço público, anuncio que amanhã, dia 27 de Fevereiro de 2017, é dia de Feira em Esposende. 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017


“TEMPESTADE DE PEDRAS NO CONCELHO DE ESPOSENDE”



O concelho de Esposende, desde há uns tempos, que tem sido fustigado por uma tempestade de pedras. Por isso, os especialistas colocaram o concelho em “alerta laranja” até ao final do próximo mês de Setembro.

Segundo os especialistas, este é um fenómeno que ocorre de 4 em 4 anos e que não afecta apenas o concelho esposendense. A explicação dada pelos especialistas na matéria centra-se no exercício da demagogia e do populismo.

Questionados sobre a forma de resolver esta tempestade de pedras que se abate sobre o concelho, os especialistas avisam a população de que não devem entrar em pânico e não valorizar este festim “pedrado” para bem da sua sanidade intelectual.

Todavia, adiantam os especialistas, a população deverá demonstrar a sua indignação e o atentado à sua inteligência lá para o mês de Setembro quando forem chamados a votar, pois esta tempestade de pedras apenas é causada por um elevado grau de provincianismo e de desrespeito pela inteligência das populações.


sábado, 14 de maio de 2016

ESCOLAS PRIVADAS COM CONTRATOS DE ASSOCIAÇÃO

As últimas semanas têm mostrado o ridículo e a deturpação dos factos e razões

Tem sido um fartar vilanagem de declarações públicas de responsáveis políticos, de dirigentes dos colégios, de pais de alunos que frequentam os colégios privados, de membros da Igreja, de comentadores políticos, etc, sobre a decisão do governo de reavaliar e não renovar os contratos de associação com escolas privadas.
Muita lama tem sido atirada para cima do Ministro da Educação, sendo Passos Coelho aquele que mais insinuações torpes, falta de seriedade e honestidade política lançou para o palco desta discussão.
Contudo, antes de mais, quero afirmar que a discussão lançada para o palco, num acto indecoroso de procurar dividir o ensino público e o privado, de procurar imputar ao governo uma atitude meramente ideológica e de perseguição ao ensino privado, não passa de uma mera falácia e tem contornos que raiam a mentira, a trapaça e a desonestidade intelectual. Não posso ter macieza nas palavras ao abordar este assunto, pois estamos perante um verdadeiro ataque de carácter perpetrado por quem deveria recatar-se em insinuações vis, pois não tem moral para o que quer que seja sobre o assunto em demanda.
No entanto, vamos por partes e esclarecer sobre aquilo que está em causa e a ser discutido.
Afinal, o que são os contratos de associação com as escolas privadas?  São contratos celebrados, nos anos 80 do século passado, entre o Estado, representado pelo Ministério da Educação, e os estabelecimentos de ensino particular e cooperativo situados em áreas onde não havia escolas públicas que pudessem responder às necessidades, pelo que esses contratos visavam assegurar a gratuitidade do ensino aos alunos que não tenham obtido vaga nas escolas da rede pública.
Os contratos eram assinados com estabelecimentos particulares ou cooperativos quando não existiam estabelecimentos de ensino público numa determinada localidade, ou se os havia os mesmos se encontrassem saturados.
Portanto, os contratos de associação eram assinados para garantir que nenhum aluno ficava impedido de frequentar a escola.
Importa realçar que estes contratos surgiram há mais de trinta anos, ou seja, num contexto completamente diferente daquele que é hoje, relativamente à rede escolar pública que era incomparavelmente menor.
O que fez o governo para podermos assistir a este espectáculo triste que nos tem sido fornecido? Simples e transparente como a água mais pura da nascente, o Ministério da Educação definiu, através do Despacho normativo n.º 1-H/2016, com data de 13 de Abril de 2016, informando que só serão firmados contratos de associação para financiar novas turmas de início de ciclo onde haja carência de oferta pública. E é esta a avaliação que está a ser feita da rede escolar pública e privada actualmente existente na preparação do próximo ano lectivo.
E foi esta norma, propositadamente escondida e entroncada por aqueles que contestam a decisão do governo. Os contratos de associação com as escolas particulares e cooperativas só terminarão no final de cada ciclo do ensino, para os já existentes. Novos contratos só serão lavrados em casos onde esteja devidamente comprovada que a rede da escola pública não consegue dar resposta às necessidades.
É lógico e entendível por quem queira estar minimamente liberto de interesses que não há razão plausível e entendível para o Estado continuar a pagar a escolas particulares e cooperativas para substituir a falta de escolas públicas, quando na localidade há uma rede de escolas públicas que dá resposta às necessidades.
Só a pura demagogia, o populismo e a intenção ideológica de destruição de tudo o que é público é que poderá defender a manutenção destes contratos que oneram os cofres públicos desnecessariamente.
A direita, tão paladina a anunciar o despesismo dos governos de esquerda, teve o topete de cortar, nos últimos quatro anos de governação, nas prestações sociais, no subsídio de desemprego, nos apoios sociais, na ajuda aos mais idosos e financeiramente mais frágeis; ao mesmo tempo que fez uma revisão dos contratos de associação com os colégios particulares aumentando o valor do contrato.
A direita enche a boca a falar em gestão de recursos, mas no que tange aos colégios particulares os mesmos são pródigos na sua generosidade.
De uma vez por todas temos de perceber que o Estado não pode entregar, através dos contratos de associação, 80.500 euros por turma aos colégios particulares e corporativos quando há oferta suficiente da rede escolar pública.
E quer se queira ou não, o que está na peleja é a renda fixa que engorda e sustenta os colégios particulares e cooperativos.
Estamos perante o verdadeiro liberalismo português, que defende que o Estado deve sair de tudo – a educação não deve ser pública, a saúde não deve ser pública, a segurança social não deve ser pública, as empresas não devem ser públicas -, mas defendem que o Estado deve dar dinheiro às empresas privadas, deve pagar aos hospitais privados, não deve sustentar os mais desfavorecidos com o pagamento de prestações sociais, pois há as seguradoras a vender seguros, deve dar a liberdade de escolha na escola e pagar aos colégios, deve pagar aos hospitais privados, etc. É esta a verdadeira realidade do liberalismo típico português que a nossa direita defende.
A direita e os interesses instalados entre os proprietários dos colégios, incluindo a Igreja, que não dá nada a ninguém e anda a fazer peditórios para a Universidade Católica – onde só lá entra quem tiver dinheiro para pagar as altas propinas -, vem intrometer-se na decisão do governo nesta temática dos acordos de associação.
Também se torna ridícula a alegação do direito à liberdade de escolha por parte dos pais para escolherem a escola onde querem que os filhos estudem. Esta é uma falácia que torna ridículo quem a profere.
Ninguém está a impedir a liberdade de escolha. O Estado cumpre o seu papel, por isso criou uma rede de escolas públicas que colocam gratuitamente à disposição dos alunos para a poderem frequentar e aprender. Se porventura alguém entender que não quer os seus filhos na escola que o governo coloca à disposição dos seus filhos para aprenderem e optar por colocar os seus filhos numa escola particular ou cooperativa está a utilizar a sua liberdade de escolha, agora não tem é legitimidade de exigir que o Estado pague aos colégios particulares ou cooperativos, quando esse mesmo Estado coloca à sua disposição uma rede de ensino.
Logo, Passos Coelho tem razão ao dizer que o Ministro da Educação defende “interesses suspeitos”, pois esses interesses que Passos Coelho abomina, são o interesse dos contribuintes; o interesse da Constituição; o interesse do Estado Social e o interesse da Escola Pública, o maior elevador social conquistado pela Democracia.
Nota: O autor escreve com o AO

Crónica publicada no Jornal Notícias de Esposende de 14 de Maio de 2016

domingo, 31 de janeiro de 2016

PRESIDENCIAIS E OE 2016

As eleições presidenciais confirmaram o poder da televisão
A negociação do OE 2016 mostra o maléfico papel da comunicação social


 1 – No rescaldo das eleições presidenciais do passado domingo, dia 24, importa realçar que Marcelo Rebelo de Sousa foi o vencedor sem margem para dúvidas.
Os eleitores confirmaram nas urnas o que as sondagens sempre apontaram e o que todos os comentadores políticos e a comunicação social há meses andam a “vender”. A vitória de Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta.
Contudo, não poderá ser olvidado o facto de semana após semana o professor ter vindo sempre em perda nas percentagens apresentadas pelas sondagens. No entanto, o comentariado nacional sempre preferiu fazer tábua rasa deste facto e continuou alegremente a levar no “andor” o professor Marcelo em procissão até Belém.
A soma dos votos entrados nas urnas no dia das eleições mostra, claramente, que a comunicação social tem um poder desmesurado na criação de candidatos e ditar vencedores. Na noite de domingo foram dois os considerados vencedores do dia: Marcelo Rebelo de Sousa e Vitorino Silva (Tino de Rans). Isto o que foi dito por uma grande maioria dos comentadores chamados a opinar sobre os resultados eleitorais. Também houve quem visse em Marisa Matias uma ganhadora e, por arrasto, um brilhante feito do Bloco de Esquerda. Por outro lado, o comentarismo de serviço aproveitou para arrasar o PCP pelo mau resultado do seu candidato, Edgar Silva, bem como arrastaram para os derrotados Maria de Belém.
Todavia, os mesmos comentadeiros dividiram-se na catalogação do resultado de Sampaio da Nóvoa. Uns consideraram o resultado do antigo Reitor da Universidade de Lisboa como uma vitória, atendendo à boa campanha que fez e ao seu discurso final; outros atentaram que se tratou de uma derrota porque não conseguiu o objectivo de levar Marcelo a uma segunda volta.
2 – Já no que comporta à classificação atribuída aos partidos pelos comentaristas encartados convidados pelas televisões e escribas em jornais, foi um fartote de idiotices ditas e escritas por muitos comentadores que tinham a obrigação de ser mais sérios e honestos nas suas análises.
Em primeiro lugar não estava em disputa eleições partidárias mas unipessoais. O vencedor destas presidenciais recebeu votos de eleitores de todos os quadrantes políticos. Só por este exemplo, onde os eleitores não transformaram as presidenciais num jogo partidário, mas acima de tudo no jogo do conhecimento mediático, onde Marcelo era claramente o grande vencedor, amplificado pelas televisões – especialmente pela TVI que durante 10 anos deu semanalmente palco a um candidato – que mostraram, e deram razão ao saudoso Emídio Rangel, de que um canal de televisão consegue “vender” um Presidente da República. Foi isso o essencial da vitória de Marcelo, a sua exposição mediática nas televisões. O mesmo valeu a Tino de Rans, pois a sua passagem pelos Talk Shows da TVI, bem como o destaque concedido ao seu discurso no congresso do PS com Guterres, aliado à forma como muitos eleitores trataram jocosamente estas presidenciais, o Vitorino Silva (Tino de Rans), o calceteiro mais conhecido do país, conforme o apresentam a comunicação social, conseguiu um resultado espectacular, ultrapassando em muitos concelhos, como o foi no de Esposende, Maria de Belém.
Dessa forma, é intelectualmente desonesto os comentaristas assumirem estas presidenciais como uma derrota do PS e de António Costa. A desonestidade é tanta, que a fúria destes comentadores e o ódio de estimação que expelem contra o PS e António Costa fê-los entrar em delírio e não enxergarem que o PS não apoiou nenhum candidato. A partir do momento em que António Guterres não assumiu a candidatura, o PS não se quis expor nestas presidenciais. Só não entende quem não quer!
Depois os mesmos comentadores têm o topete de considerarem como vencedores o PSD e o CDS só pelo facto de terem recomendado o voto em Marcelo. Ao mesmo tempo que enalteciam a vitória do professor por ter feito campanha sem a máquina de um partido e tê-la feita sozinho e ter-se demarcado do PSD e do CDS e jurar apoio ao governo socialista e Marcelo a afastar do seu lado as figuras recentes do PSD e do CDS. Há comentadeiros que não têm mesmo vergonha na cara… mas é o que temos!
Sem retirar os méritos de Marcelo, no que comporta à sua forma de lidar com as pessoas, ao seu modo de ser a roçar o populismo e o demagógico, o certo é que não conhecemos de Marcelo um documento escrito que ilustre o seu pensamento político, a sua visão sobre o modo e a forma de Portugal estar na política interna e externa. Não encontramos nenhum pensamento em Marcelo, a não ser dizer tudo e o seu contrário e não dizer o que pensa. Marcelo foi um Presidente da República formatado e “vendido” pela televisão durante 15 anos (primeiro na RTP e depois na TVI), semana após semana. Nada mais que isso!
Não falo por mim, pois daqui a 10 anos, se por cá ainda andar, eu quero é paz e sossego, mas desafio a TVI a oferecer ao Tino de Rans o lugar de Marcelo para que semanalmente possa dizer a “missa” dominical à noite, e daqui a 10 anos será eleito presidente da República. Foi este o sinal que os eleitores portugueses nos deram no passado domingo…
3 – O governo português está a negociar o Orçamento do Estado (OE) para 2016 com Bruxelas. O governo pretende, conforme o prometido, virar a página da austeridade e oferecer aos portugueses mais rendimento e melhores condições de vida. É isso que o governo está a procurar cumprir!
Do lado de Bruxelas, os burocratas da Comissão Europeia dizem-se e desdizem-se sobre o OE e querem mais austeridade, querem sugar ainda mais o povo português. Os mesmos burocratas que acham que não se deve baixar a guarda da austeridade foram os mesmos que impuseram ao governo português a obrigatoriedade de perder mais de 3 mil milhões de euros com o Banif.
Entretanto, enquanto Mário Centeno ia negociando com Bruxelas, por cá os comentaristas políticos e os partidos da oposição, saudosistas da austeridade, já proclamavam, num rasgar de vestes, que Bruxelas não aceita o OE, que Bruxelas tinha dúvidas sobre o OE e mais um rol de disparates. Alguns vociferavam que Bruxelas já tinha chumbado o OE. Outros aventaram tenebrosas previsões de que a redução das 35 horas e a reposição dos salários era um erro, que o governo foi laxista ao avançar com o alívio da austeridade.
Este catastrofismo apregoado por comentadeiros sem coluna vertebral foi também partilhado por deputados da oposição, que num pranto e ranger de dentes, numa verbalização esganiçada, vieram lançar um labéu e desgraça sobre o povo português, pois o que o governo queria impor no OE para 2016 não era realista – ser realista era a cultura, conforme se ouviu da voz de comentadores e deputados e se podia ler saído da pena de jornalistas -, que o anterior governo cultivava, realismo que todos nós conhecemos e que a devolução dos 35% da sobretaxa do IRS comprova?.
Toda esta gente está deprimida e com saudades da austeridade, pois essa sim era virtuosa e garantia as boas graças com Bruxelas e sustentava o nosso futuro.
Enquanto por cá assistíamos a toda esta histeria de uma comunicação social que continua a viver no passado e a oposição de direita a dançar o “samba do crioulo maluco”, o correspondente da RTP em Bruxelas anunciou que o envio de cartas por parte da Comissão Europeia enquanto se está a negociar o OE é uma prática corrente e habitual e que também a anterior ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, também as recebeu. Por isso o que assistimos é à má-fé de muitos jornalistas e comentadeiros, assim como da oposição.
No entanto, o mesmo correspondente afirmou que Bruxelas apenas dá um parecer ao orçamento, pois quem aprova ou rejeita orçamentos dos Estados-membros é o Eurogrupo (reunião dos ministros das finanças) e que esse só lá para Março é que vai olhar para o Orçamento português.
Mais seriedade informativa pede-se à comunicação social!
Nota: O autor escreve segundo o antigo AO.