O Partido Socialista que aprendi
a gostar há 40 anos e no qual me tornei militante há cerca de 13 anos está
descaracterizado nos mais básicos conceitos democráticos e nas mais basilares
regras do decoro, do respeito, do objectivo e interesse colectivo. Digo-o com
mágoa e com a voz embargada pela vergonha que sinto pelo triste e indecoroso
quadro de lutas intestinas que desde o pretérito passado mês de Maio se
instalou no Partido Socialista.
No PS acantonaram-se duas facções
a nível nacional e arregimentaram-se em torno das Federações o que
vergonhosamente está a transformar o PS num Partido sem crédito e a,
infelizmente, dar azo e confirmar as opiniões do povo anónimo sobre o descrédito
dos Partidos e dos políticos. Sinceramente, o PS tornou-se no saco de porrada
do escárnio e maldizer! Mas tornou-se por única e exclusiva responsabilidade
dos seus dirigentes de maior responsabilidade. É-o fruto da ambição desmedida
de alguns e pelo comportamento de atropelo às mais basilares regras do decoro e
da pluralidade democrática.
Em vez de democraticamente se
encararem os desafios sem medo, abriu-se uma grande cratera que abalou para
muitos e longos anos o cimento da consistência do PS ao nível da confiança dos
seus militantes, simpatizantes e eleitores. A triste verdade que envolve hoje o
PS num nebuloso clima de suspeição, de intriga, de ferimento das regras mais
básicas da democracia está a causar danos irreversíveis no Partido fundador da
Democracia em Portugal.
Neste momento, como militante e
dirigente concelhio, tenho vergonha do Partido Socialista! Sinto um travo
amargo de desgosto por olhar para o comportamento indecoroso e condenatório de
dirigentes com grandes responsabilidades locais e nacionais. Dirigentes que em lugar
de pensar no interesse único do Partido Socialista e dos Portugueses, avoca
apenas e só os seus interesses e ambições pessoais, mandando às malvas a história
plural e democrática do PS. Há gente instalada que não quer perder as mordomias
do poder, pois só apenas esse pequeno poder lhe dá a força comportamental
própria de um aprendiz de tiranete. Outros há que para satisfação do ego e
ambição de ser ministro, de ser primeiro, de ser secretário de estado e
deputado passaram, em nome desse interesse, a comportar-se à laia dos anelídeos,
o mesmo é dizer das minhocas, seres sem coluna que vão rastejando
contorcendo-se. É isso que hoje se passa no PS! Pejado de minhocas, o meu PS
vai em direcção ao abismo, pois gente sem qualquer escrúpulo não tem pudor em
utilizar o argumento mais rasca, de atropelar as regras fundamentais do
respeito institucional e de usar a boa-fé de gente como eu que está na política
para servir, a expensas próprias, o interesse colectivo.
Tenho vergonha da situação actual
do PS e de muita gente que nele gravita! Tenho nojo de conviver no mesmo espaço
com aqueles que entendem que na política valem todos os meios para atingir os
fins! Tenho vergonha daqueles que ainda há poucos meses eram inimigos e hoje
estão de braço dado na destruição do PS, apenas o fazendo imbuídos do interesse
individual de manter o status ou de
alcandorar voos mais altos!
Eu que procuro contrariar a visão
do povo de que os Partidos são um antro de gente com ambição desmedida e que
apenas procura o interesse individual, sinto-me hoje incapaz de promover essa
luta, pois não é possível argumentar contra factos tão flagrantes e violentos
que hoje pairam sobre o PS no que comporta à tomada de poder sem qualquer tipo
de escrúpulos.
Temo pela desintegração do PS no
distrito de Braga, a exemplo do que se passou em alguns concelhos deste
distrito, que fruto das ambições pessoais de alguns, hoje o PS transformou-se
num partido em constante luta interna e sem vitórias eleitorais. É este o
caminho que eu não pretendo para o PS distrital. Mas com os comportamentos dos
últimos meses é esse o caminho e o fim.
No entanto, esses ambiciosos de
serem dirigentes, ministros, secretários de estado, deputados passarão, mas eu
continuarei Socialista e militante, para, pelo menos, poder continuar a dar o
grito do Ipiranga dentro do PS!