segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

ESTÃO A “INDROMINAR”?



A IDA A MERCADOS

Todo este júbilo, o toque das trombetas da alegria e os cânticos de loas no regresso aos mercados que têm perpassado todo o universo da comunicação social no nosso País, tem-me deixado algo desconfiado, porque dá-me a sensação, como dizia a minha avó, que me estão a “indrominar”.
Quando era petiz, por vezes ia com a minha avó ao mercado vender as suas produções hortícolas e de animais de capoeira. Não faltavam vendedores que procuravam engendrar formas de enganar o “zé povo” que pretendia comprar os produtos que não tinham.
Certo dia, acompanhei a minha avó ao mercado para vender os produtos hortícolas colhidos na véspera na horta, mais umas aves de capoeira que criava, assim como uma cesta de ovos – é um facto que naquele tempo a minha avó não tinha “à perna” a directiva da Comissão Europeia que se preocupa com o espaço do local onde a galinha põe os ovos, caso contrário seria o bom e o bonito -, que eu quando a visitava sempre corria a procurar no galinheiro e nos sítios onde as galináceas descarregavam o ovo. Nesse dia, após a venda, a minha avó ia aproveitar para comprar um porquinho, pois tinha há umas semanas matado o porco que criara e já se encontrava na salga para se ir comendo nos meses seguintes.
Como sempre o fazia quando tinha de ir ao mercado, a minha avó levantou-se ainda o Sol dormia o primeiro sono, eu estremunhado lá me levantei e ainda os galos não tinham cantado. Carregou para a cabeça um grande molho com as couves, as pencas, os grelos, os corações; numa mão levava a cesta com os ovos, onde também juntou umas cabeças de alho; na outra mão levava outra cesta, com um galo, com cebolas e com batatas. Carregou, ao todo, mais de trinta quilos. E tínhamos de fazer 10 quilómetros a pé para chegar ao mercado (feira era o que se dizia).
Lá chegada colocou ordenamento as suas produções no chão e depressa começaram as mercadoras a se aproximar e a “marralhar” o preço pedido pela minha avó. Só que a minha avó sabia muito bem do negócio, apesar de não saber ler nem escrever, e não abdicava do preço que impunha. Ela mandava, pois sabia o que vendia. As clientes, muitas delas assíduas, sabiam o que compravam, pois confiavam perfeitamente na qualidade dos produtos da D. Maria, e depressa acediam ao preço imposto pela sábia vendedora, a senhora minha avó, e compravam, pois sabiam que se virassem costas logo atrás estava outra para comprar.
Depressa, e bem cedo, a minha avó vendeu toda a sua mercadoria. Recolhidas as cestas e guardado o dinheiro da venda no seio, a minha avó lá se dirigiu para o local onde se situava a feira do gado. Lá se vendiam vacas, bois e porcos, eu olhava em redor e via homens com chapéus e de vara na mão a falarem alto e a vociferarem um rol de palavrões que corava qualquer um. A minha avó, como boa católica, não gostava de ouvir (se fosse o relvas dizia: ouvisto…) esse tipo de palavreado e remoía para dentro, que eu bem ouvia, o Senhor vos castigue por causa dessa língua porca.
A minha avó percorreu a parte da feira dos animais e deteve-se perante um curral improvisado onde se encontrava um porquinho. Não teria mais de dois meses. Eu via aquele bacorinho e pensei para mim que era raquítico, pois tinha assistido à matança do porco em casa da minha avó, e, segundo os cálculos do meu avô, teria cerca de 10 arrobas. Olhando para aquilo estranhei.
A minha avó olhou para o porquinho, senti que este também olhou para ela, e algo ali aconteceu. A minha avó perguntou ao vendedor quanto queria pelo porco. O vendedor logo começou por vender mais que “banha da cobra” (frase que eu ouvia muito quando ia à feira) e logo começou por enaltecer as grandes qualidades do bacorinho, a qualidade da sua carne, pois a mãe dele era de boa “febra”. Olhe senhora para estes quadris!? Veja a qualidade desta pá, isto é que vai dar bom presunto!? Por ser para si são dois contos, que a senhora até parece boa pessoa. A minha avó olhou para o vendedor, e com uns olhos que eu nunca tinha visto naquela santa senhora, com uma voz ríspida, desancou no vendedor: Mas você está a querer me “indrominar”? Então eu não vejo que esse porquinho está raquítico, e o senhor deveria ter vergonha em vir para cá anunciar as qualidades do pobre bacorinho, pois vê-se bem que se ele não for bem tratado que não se salva. Que adianta vir ao mercado se ninguém acredita no que o senhor diz, pois todos vemos e sentimos que esse animalzinho não vai sobreviver durante muito tempo se não alterar a forma como o trata! Tenha vergonha na cara. Respeite a minha pessoa e tenha temor aos ditames do Senhor nosso Deus por estar a querer “indrominar” as pessoas. Dou-lhe 500 escudos pelo porquinho, mas vou criá-lo muito bem, é preciso é saber criar condições para o pobre “bicho” poder crescer. E com esta “rabecada” que a minha avó passou ao vendedor este até lhe vendeu o bacorinho pelos 500 escudos.
Lembrei-me desta passagem, agora que ouço todo o júbilo do regresso aos mercados. Tal como a minha avó, também digo que me estão a “indrominar”, pois a ida a mercados foi uma acção concertada com o BCE; teve por trás quatro bancos estrangeiros; o BCE assumiu o risco do pagamento da dívida em caso de  incumprimento por parte dos países; a troika permitiu o alargamento do prazo na maturidade da dívida. Com tudo isto, os investidores, especuladores, agiotas, preferem comprar a dívida pública portuguesa, escudada pela garantia de pagamento em caso de falha por parte do BCE, a 4,9% de juros, do que estarem a pagar à Alemanha para comprar a sua dívida, sendo que a Alemanha também já está a baixar o seu crescimento.
Todo este espectáculo não mais é do que “indrominar” os portugueses, pois esta ida a mercados não resolve nenhum dos problemas que afectam a nossa anémica economia.
Por isso, os nossos governantes e todos aqueles que elogiam a ida a mercados – são sempre os mesmos, mesmo quando era o anterior governo -, deveriam era levar nas trombas com a rabecada que a minha avó passou ao vendedor do bacorinho por nos estarem a “indrominar”.
Aquela passagem serviu para mim como uma grande lição de vida que nunca mais esqueci!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

AUTOFAGIA DO PARTIDO SOCIALISTA?



AUTOFAGIA DO PARTIDO SOCIALISTA?

Temos um governo que impõe uma dolorosa austeridade aos portugueses. Que está deliberadamente a empobrecer os trabalhadores; a criar cada vez mais desemprego; a mandar emigrar uma grande percentagem de população activa; a enfurecer-se contra os funcionários públicos e os reformados; e alguns membros do Partido Socialista estão a preocupar-se com a data ou antecipação do congresso. Isto como se o Partido Socialista não tivesse estatutariamente os seus calendários definidos, nomeadamente para a eleição do Secretário-Geral, que terá de ocorrer primeiro que o congresso.
Agora quando o PS deveria estar concentrado em tudo o que de mau este governo está a fazer; em direccionar todas as suas forças e todos os seus membros para a preparação, e luta, das próximas eleições autárquicas, surge um rol de deputados, dirigentes e antigos dirigentes a pronunciarem-se sobre a necessidade da antecipação do congresso.
Numa altura em que as estruturas locais do Partido, nomeadamente onde o PS é oposição, procuram promover listas e convidar personalidades para participarem activamente nas próximas eleições autárquicas, gente com muita responsabilidade no PS dão-nos este triste espectáculo. Que se passa? Voltou a autofagia do PS quando está na oposição?
É cíclico dentro do Partido Socialista, mormente quando está na oposição, que membros mais destacados do (actuais ou antigos dirigentes) desatem a prestar declarações que apenas servem para ridicularizar o Partido aos olhos do povo. Este comportamento em nada ajuda aqueles que andam no terreno tenham de dar a cara em nome do Partido, levando com uma série de negações, pois gente com algum escrúpulo sente que não deve envolver o seu nome com um Partido que nas suas cúpulas e no Parlamento não se entende.
A todos aqueles que estão preocupados com a antecipação do congresso, convido-os a virem para o terreno, a “bater a portas” para convidar individualidades para promoverem ou fazerem parte das listas candidatas às próximas autárquicas, pois esse é o melhor serviço que prestam ao Partido Socialista.
Seria bom que muitos deixassem de falar para o espelho, que procurassem não sobreviver a todo o custo. É óbvio que muitos estão com medo que surja uma crise política e tenha de haver eleições legislativas antecipadas, e dessa forma correm o risco de sair das listas de deputados… esse é o verdadeiro drama de muitos, e não a preocupação com o PS.
O Partido Socialista neste momento ganha mais votos quando está calado… do que quando alguns dos seus membros abre a boca…
Registo de interesses: Sou dirigente concelhio do Partido Socialista e sei do que falo no que diz respeito à elaboração de listas e a negatividade aos olhos das pessoas do comportamento e das declarações de membros destacados do PS.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

ADSE no centro do furacão político

ADSE no centro do furacão político

Não deixa de ser algo caricato. Mas quando o País está a ser fustigado por ventos fortes, neve em alguns locais e chuvas torrenciais, entre no centro deste furacão a ADSE, cujas declarações de elementos com responsabilidade na direcção do Partido Socialista também criaram uma séria tempestade interna.
Ora, o que está em causa, primeiro que tudo, foi a entrevista do porta-voz do PS para o sector da saúde. Álvaro Beleza deu uma entrevista ao Jornal de Notícias, em meados de Dezembro, p.p., onde se mostra favorável à extinção da ADSE. Por coincidência, ou não, o Jornal de Notícias apenas publicou a entrevista, com destaque de primeira página, no presente mês de Janeiro, precisamente no dia em que se iniciavam as jornadas parlamentares do Partido Socialista, em Viseu.
Tudo isto levou a que as jornadas parlamentares, e tudo o que lá se disse, do PS fossem passadas para segundo plano. Mas o que é certo é que se houve alguma acção concertada externa para que as jornadas parlamentares não fossem devidamente escalpelizadas pela comunicação social, alguns dirigentes e deputados do Partido Socialista ajudaram a que esse plano tivesse êxito, pois esse desiderato foi conseguido, graças a uma verborreia e a uma espiral de desdizeres por parte dos actores Socialistas em reacção à frase apontada a Álvaro Beleza que não foi preciso a oposição abrir a boca para mais... imaginem que até Miguel Relvas veio mandar o seu "bitaite" sobre este assunto. Haja mais contenção na verbalização, falem menos para o espelho e contenham-se com um microfone à frente, pois só assim o Partido Socialista e os seus dirigentes poderão ganhar a credibilidade necessária junto do povo português, se pretendem ser governo em 2015.
Mas, afinal, para que serve a ADSE? Sabemos que é um fundo de apoio à assistência médica aos funcionários públicos. Mas, possivelmente, também se tornou um sorvedouro de maus gastos de dinheiros públicos, pois os seus beneficiários também se aproveitaram, de forma condenável, para a ruína da ADSE.
Salazar criou a ADSE como um benefício para os Funcionários Públicos, tendo em conta que eram muito mal pagos naquela altura - quem queria ser funcionário público naquele tempo?, é bom que não branqueiem a memória. Nas últimas décadas as circunstâncias alteraram-se. Hoje, os funcionários públicos são dos mais bem pagos do país. Por isso importa saber: Justifica-se a continuidade da ADSE nos moldes em que hoje funciona? Alguém consegue explicar se o que os Funcionários Públicos descontam do seu salário é o bastante para sustentar este subsistema de saúde?
Era por aqui que a discussão no Partido Socialista deveria ter começado! Primeiro deveria fazer essas contas. Com os números obtidos pronunciar-se sobre se seria melhor para o país a extinção da ADSE ou a reformulação da ADSE.
Agora de uma coisa é certa: não são apenas os funcionários públicos que reclamam a manutenção da ADSE nos moldes em que estão, pois não me espanta que o administrador do Hospital dos Lusíadas, segundo o descrito na comunicação social, do grupo HPP, portanto um grupo de saúde privado, diz que a ADSE "é um exemplo de protecção social aos trabalhadores", pelo que defende que "deve continuar".
Portanto, verifica-se que a ADSE é um "tesouro" para o financiamento da saúde privada. É por isso que interessa que a ADSE não seja mexida e que o SNS seja desmantelado.
 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O embuste no pagamento dos duodécimos



Com o “enorme aumento de impostos”, reconhecido pelo ministro das Finanças, vamos viver um ano onde o desemprego vai aumentar, o custo de vida vai subir – aumentos do gás, da electricidade, dos combustíveis, dos transportes públicos, das telecomunicações, etc. – e os salários vão diminuir, fruto das alterações das taxas de IRS e dos cortes nos subsídios de Natal e de Férias.

O governo, com os votos favoráveis do PSD e do CDS e, incompreensivelmente, do PS, viu aprovada na Assembleia da República a proposta de pagamento em duodécimos de um subsídio para a Função Pública e 50% dos subsídios de férias e de natal para os trabalhadores do sector privado, ou seja: todos os meses os trabalhadores vêem no seu recibo de vencimento ser pago um valor superior que corresponde a essa parte dos subsídios.

Ora, esta estratégia do governo – diluir os subsídios em duodécimos – é uma autêntica “falcatrua”, pois esta táctica vai fazer crer ao trabalhador que o seu rendimento mensal de trabalho aumentou – ou não diminuiu devido ao aumento colossal nas taxas de IRS que lhe são retidas na fonte -, o que vai causar uma sensação de que tudo está bem. Mas isso não é verdade! O trabalhador terá de ter a noção, já a partir do mês de Janeiro de 2013, que há um valor que está a receber mensalmente que já não vai receber aquando do recebimento do subsídio de férias e do subsídio de natal, pois nos meses em que lhes são pagos esses subsídios os trabalhadores apenas vão receber 50% do valor que tinham direito a receber, e este embuste criado pelo governo é que levará os trabalhadores a sentirem que mensalmente não estão a perder rendimento do salário, o que não é verdade. Por isso convém que os trabalhadores e os reformados e pensionistas (que também vêem os seus subsídios pagos em duodécimos) procurem todos os meses deixar de lado a verba correspondente à divisão do valor dos subsídios que todos os anos recebiam na totalidade e que muitas das vezes eram aproveitados, como receita extraordinária, para fazer pagamentos de despesas fixas (como o seguro do automóvel ou a compra dos livros escolares para os filhos), pelo que convém que haja esta atenção especial ao rendimento auferido mensalmente para que quando chegarem aos meses em que recebem os subsídios não tenham uma surpresa.

Para além desta astúcia maquiavélica do governo com a diluição dos subsídios em duodécimos que leva os trabalhadores a sentirem que não perderam dinheiro do salário mensal, o governo sai beneficiado porque passa a cobrar mensalmente mais impostos, pelo que a execução fiscal mensal é superior e entra nos cofres do fisco mais dinheiro por mês.
Publicadas as novas tabelas do IRS para 2013, logo o governo tratou de anunciar os "benefícios" para os trabalhadores, com algumas simulações, aceites passivamente pela comunicação social e noticiadas até ao enjoo, principalmente nas televisões, fazendo crer aos trabalhadores de que não perdem rendimento mensal e que com este "assalto" ao rendimento do trabalho através dos escalões do IRS o seu rendimento mensal aumentou. 
Ora isso não é verdade! O único rendimento mensal que aumentou foi a cobrança dos impostos por parte da autoridade tributária. 
Os trabalhadores terão de estar atentos e não se deixarem enredar nesta teia urdida pela comunicação, que procura fazer crer que uma mentira é verdade...