ADSE no centro do furacão político
Não deixa de ser algo caricato. Mas quando o País está a ser fustigado por ventos fortes, neve em alguns locais e chuvas torrenciais, entre no centro deste furacão a ADSE, cujas declarações de elementos com responsabilidade na direcção do Partido Socialista também criaram uma séria tempestade interna.Ora, o que está em causa, primeiro que tudo, foi a entrevista do porta-voz do PS para o sector da saúde. Álvaro Beleza deu uma entrevista ao Jornal de Notícias, em meados de Dezembro, p.p., onde se mostra favorável à extinção da ADSE. Por coincidência, ou não, o Jornal de Notícias apenas publicou a entrevista, com destaque de primeira página, no presente mês de Janeiro, precisamente no dia em que se iniciavam as jornadas parlamentares do Partido Socialista, em Viseu.
Tudo isto levou a que as jornadas parlamentares, e tudo o que lá se disse, do PS fossem passadas para segundo plano. Mas o que é certo é que se houve alguma acção concertada externa para que as jornadas parlamentares não fossem devidamente escalpelizadas pela comunicação social, alguns dirigentes e deputados do Partido Socialista ajudaram a que esse plano tivesse êxito, pois esse desiderato foi conseguido, graças a uma verborreia e a uma espiral de desdizeres por parte dos actores Socialistas em reacção à frase apontada a Álvaro Beleza que não foi preciso a oposição abrir a boca para mais... imaginem que até Miguel Relvas veio mandar o seu "bitaite" sobre este assunto. Haja mais contenção na verbalização, falem menos para o espelho e contenham-se com um microfone à frente, pois só assim o Partido Socialista e os seus dirigentes poderão ganhar a credibilidade necessária junto do povo português, se pretendem ser governo em 2015.
Mas, afinal, para que serve a ADSE? Sabemos que é um fundo de apoio à assistência médica aos funcionários públicos. Mas, possivelmente, também se tornou um sorvedouro de maus gastos de dinheiros públicos, pois os seus beneficiários também se aproveitaram, de forma condenável, para a ruína da ADSE.
Salazar criou a ADSE como um benefício para os Funcionários Públicos, tendo em conta que eram muito mal pagos naquela altura - quem queria ser funcionário público naquele tempo?, é bom que não branqueiem a memória. Nas últimas décadas as circunstâncias alteraram-se. Hoje, os funcionários públicos são dos mais bem pagos do país. Por isso importa saber: Justifica-se a continuidade da ADSE nos moldes em que hoje funciona? Alguém consegue explicar se o que os Funcionários Públicos descontam do seu salário é o bastante para sustentar este subsistema de saúde?
Era por aqui que a discussão no Partido Socialista deveria ter começado! Primeiro deveria fazer essas contas. Com os números obtidos pronunciar-se sobre se seria melhor para o país a extinção da ADSE ou a reformulação da ADSE.
Agora de uma coisa é certa: não são apenas os funcionários públicos que reclamam a manutenção da ADSE nos moldes em que estão, pois não me espanta que o administrador do Hospital dos Lusíadas, segundo o descrito na comunicação social, do grupo HPP, portanto um grupo de saúde privado, diz que a ADSE "é um exemplo de protecção social aos trabalhadores", pelo que defende que "deve continuar".
Portanto, verifica-se que a ADSE é um "tesouro" para o financiamento da saúde privada. É por isso que interessa que a ADSE não seja mexida e que o SNS seja desmantelado.