segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

REVENDO ESCRITOS - TEXTO PUBLICADO NO JORNAL "VOZ DE MARINHAS" EM JANEIRO DE 2010



EDITORIAL

Orçamento do Estado


N
as últimas semanas os portugueses têm sido bombardeados pela comunicação social com notícias sobre o Orçamento do Estado para 2010. Notícias têm sido muitas sobre as reuniões dos partidos da direita com o governo para “negociar” a aprovação do Orçamento do Estado pela Assembleia da República. O Governo e o Partido Socialista lá vão cedendo aqui e ali às exigências do PSD e do CDS/PP. Os partidos da direita lá vão aproveitando para fazer incluir no Orçamento do Estado políticas mais liberais; menos Estado a intervir no mercado. É esta a sanha persecutória dos partidos da direita ao Estado. Contudo, não obstante esta cólera, estes partidos exigem que o governo baixe impostos e ainda por cima ajude as empresas, nomeadamente as micro, pequenas e médias empresas; quer que o Estado baixe as despesas correntes, suporte as despesas com o subsídio de desemprego às centenas de milhar de portugueses desempregados, que foram para o desemprego graças à má gestão de muitos empresários sem escrúpulos; subsidie as empresas que entrem em lay-off, muitas vezes de forma pouco clara; que financie os Bancos que entraram no mundo da especulação financeira. Esta é a forma que os partidos da direita entendem o papel do Estado: não se intrometer na economia de mercado – sabendo como esta anda sem controlo -; ter dinheiro para injectar nas empresas; e muitos outros quejandos que nos vão sendo debitados consoante o economista que se pronuncia sobre a crise e o papel do Estado.
O que se torna caricato, é que estes partidos da direita agora estejam muito preocupados com o défice público, esquecendo essa sacrossanta ideia quando o governo teve de injectar dinheiro nos bancos – mormente na nacionalização do BPN, que se tornou num autêntico saco de gatos, pois quanto mais se mexe mais falcatruas de lá saem – que deu origem a que o défice público seja em 2009 de 9,3%.
Para os partidos da direita, e também o PS que suporta o governo, a sua maior preocupação é irem ao oráculo das agências de “rating”, pois os conselhos destas agências são seguidos à risca. No entanto, foram estas agências que, com as suas análises financeiras e de risco aos governos e empresas, levaram a que o mundo tenha vivido no último ano a maior crise financeira após 1929. Foram as brilhantes análises destas agências que levaram ao descrédito total o mundo financeiro. Foram estas agências que uns meses antes afirmavam que o banco americano Lehman Brothers detinha uma robustez financeira de triplo A, mas que só não foi à falência e dar origem à queda em cascata de todo o sistema financeiro mundial graças à intervenção do governo americano, liderado por Barack Obama, que lá injectou umas largas centenas ou milhares de milhões de dólares.
Outra entidade que os partidos da direita, bem como, diga-se, a União Europeia, seguem religiosamente é a cartilha neoliberal apregoada pelo FMI. As ideias económicas do Fundo Monetário Internacional (FMI),  que são cegamente seguidas pelo séquito de neoliberais que comando o mundo político, através do sistema económico, que é o alicerce da sociedade hodierna, foram as mesmas que levaram, ainda não há muitos anos, um país como a Argentina a falir. São as directrizes económicas e exigências do FMI que têm levado a que muitos países africanos não consigam elevar os seus indíces de desenvolvimento económico e social.
Hoje só ouvimos comentadores a pronunciarem-se sobre a necessidade do nosso país cumprir com o Pacto de Estabilidade e Crescimento imposto pela União Europeia; só ouvimos falar em cumprir o défice público inferior a 3%;  só reclamam que o Estado deve cortar nas despesas correntes – isto é cortar com o pessoal.  Por isso, o Orçamento do Estado e as orientações políticas em Portugal, no que concerne à economia, são aquelas que praticamente todos os países ocidentais, e alguns asiáticos, seguem.
É um facto, mas ninguém parece querer ver, que o motor da economia global gripou e, por isso, não consegue sair do pântano e libertar-se da especulação financeira e da batota do mercado.  É este sistema económico que nos querem oferecer mas que não garante a milhões de homens e mulheres de todo o mundo um mínimo de garantia de dignidade e segurança no trabalho; é este sistema que nos querem impingir como o melhor dos melhores que deita fora do mundo do trabalho homens e mulheres aos quarenta e cinquenta anos de idade, apenas com um  único fito de ganhar mais e pagar menos, de poder saltar de terra em terra a fechar e a abrir empresas, a infestar a vida dos trabalhadores com o aumento do tempo da jornada de trabalho, sempre com o beneplácito de governos e castas financeiras e do mundo dos negócios. Este é o mundo que alguns pretendem implementar para todos, mas que só uns poucos lucram, pois estão a erguer um sistema que não está ao serviço da sociedade  mas do lucro máximo para alguns. Vivemos num tempo em que as novas tecnologias vão dando a oportunidade de alcançar uma cada vez maior capacidade de produzir riqueza, mas onde os políticos e os gestores subordinam a produção de bens básicos e essesnciais para o sustento das pessoas à especulação e ao lucro fácil. É este o mundo que os partidos da direita nos vão impingindo e enrredando numa teia, fazendo-nos crer que não há alternativa e que, como tal, o povo apenas tem de lutar pela sobrevivência. Importa que todos nós tenhamos a capacidade de lutar contra estes poderes instituídos.
                                                                                                                             L. R.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O DESEMPREGO EM 2013 – AS VERDADES QUE NÃO SE DIZEM



Nestes últimos dias temos acompanhado as notícias sobre os números do desemprego que nos fazem sentir envergonhados com a forma como o governo e a comunicação social tem noticiado este assunto.
A maioria das notícias, intervenções dos comentadores e dos governantes sobre os números divulgados pelo INE estão recheados de incongruências, onde se pretende esconder os números anuais de 2013, dando apenas ênfase à percentagem de desempregados no mês de Dezembro de 2013.
Por parte do governo e dos partidos da maioria já não estranho a leviandade com que ululam sobre este tema, pois deles já espero que escondam uma parte dos números e perorem apenas sobre o que lhes interessa. Da comunicação social também não espero grande coisa, pois todos afinam pelo mesmo diapasão.
No entanto, lendo os números publicados pelo INE no dia de ontem, 5, podemos tirar algumas conclusões que nos devem, como portugueses, preocupar, pois é o futuro do País que está em causa, pois por parte do governo e dos partidos da maioria, contrariamente ao que apregoam, não é o País que está em causa, é apenas o facto de prover que os credores recebam os seus usurários créditos e gritem que tudo está bem e a política imposta tem dado resultado, dado que se aproximam eleições.
Portanto, da leitura dos números do INE, poderemos dizer que o desemprego, contrariando as vozes correntes, aumentou em Portugal, olhando para os números homólogos entre 2012 e 2013. O desemprego em 2012 era de 15,7%; em 2013 o desemprego é de 16,3%. O governo apenas se vangloria porque os números finais são inferiores aos previstos no Orçamento do Estado para 2013. A estupidez em roda livre?
Ao falarem apenas na taxa de 15,3% de desemprego em Dezembro de 2013, o que nos estão a dar é apenas a taxa mensal, não a taxa anual. Por isso, a mentira é grave!
Contudo, falta, também, anunciar mais números recolhidos e publicados pelo INE respeitantes a 2013 e comparados com o ano de 2012.
Dessa forma, os números dizem-nos que a população activa em Portugal, entre os 15 e os 34 anos, reduziu, de 2012 para 2013, em 107,6 mil pessoas.
Nesse sentido, comparando com o ano de 2012, Portugal perdeu, em 2013, 36 mil pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos; no mesmo hiato de tempo saíram de Portugal 71,6 mil pessoas do escalão etário compreendido entre os 25 e os 34 anos.
Por isso, importa questionar: O que aconteceu a esta população que desapareceu dos números do INE?
O certo é que entre 2012 e 2013 a população inactiva aumentou em 4 800 pessoas, sendo que destas reformaram-se 3 700 pessoas, tendo, por isso, passado à condição de inactivos 1 100 pessoas, o que se pode considerar ser uma gota de água nas mais de 100 mil pessoas que deixaram de fazer parte das estatísticas, em 2013,da população activa em Portugal.
O quadro que nos apresenta os números do INE é de que 107,6 mil pessoas, com menos de 34 anos, desapareceram das estatísticas – foi a emigração que as levou?!
Perante o quadro negro publicado pelo INE, não encontro palavras para qualificar o gáudio do governo e da maioria com os números do desemprego apresentados em Dezembro último, isto até porque, segundo o INE, a maioria dos postos de trabalho criados em Portugal no ano passado é de trabalho a tempo parcial, com os trabalhadores a trabalharem menos de 10 horas por semana. Isto é tentar enganar as pessoas. Todo o folclore que o governo e a maioria cria à volta do desemprego não passa de uma falácia perigosa, que põe em risco a sobrevivência de um povo, de um país.
Que futuro tem Portugal com estas políticas? A população em idade activa e de procriação abandona o País aconselhado pelo chefe do governo. Só o santo milagreiro acredita que estas pessoas que agora foram corridos como proscritos regressarão um dia a Portugal para trabalhar. Em Portugal, neste momento, ficam os velhos; os governantes incompetentes; os reformados a mandar nas maiores instituições da República; os banqueiros e donos das redes de distribuição; os que já desistiram da vida activa; as poucas crianças que estão à espera de se juntar aos pais que emigraram.
Este é o retrato de um País, cujos responsáveis entendem que não se deve pedir a reestruturação de uma dívida impagável.
O que vai ser de Portugal dentro de duas décadas? Como vai Portugal poder preencher a sua população, se hoje nascem menos 80 mil bebés por ano neste país? Como se vai fazer a substituição das gerações?
Ninguém quer pensar nisto! O governo está mais preocupado em se reunir, como o fez hoje, para regulamentar as “rifas da sorte”, que irão oferecer prémios a quem pedir facturas com o número de contribuinte.
Perante este número governativo, não me admira que os credores, os ditos mercados, tenham transformado Portugal num casino, pois o próprio governo incentiva os portugueses ao jogo da sorte. Muitos vão pedir facturas com número de contribuinte… mas em 2015 terão o fisco à sua porta a comparar o que declararam de IRS com as facturas que apresentaram para entrar no sorteio… O governo está a criar uma armadilha aos portugueses, fazendo com que se tornem fiscais do fisco, mas que vão cair na ratoeira…