terça-feira, 15 de outubro de 2013

O BISPO DA GUARDA E QUEM DEVE PAGAR A CRISE



Há dias, o Bispo da Guarda referiu que a «Crise deve ser paga pelos ricos e pelos Bancos».
Não posso estar mais de acordo com sua Iminência!
Também como se vê, pelas medidas anunciadas para o Orçamento do Estado de 2014, o governo ouviu as preces do Reverendíssimo Bispo, pois vai mesmo pôr os ricos, que ganham 600,00 € por mês, a pagar a crise...
Ainda voltando à afirmação do Bispo da Guarda, não obstante todo o respeito que me merece e a bondade colocada na afirmação, entendo que o Bispo apenas está a olhar para o governo através da espiritualidade, pois materialmente o actual governo de Portugal mais não é que um cobrador do fraque, que carrega sobre os trabalhadores, os desempregados, os doentes, os reformados e os pensionistas.
Mas deixando de fora a força do espírito e assentando os pés na terra, jamais no nosso País os ricos (aqueles que sua Iminência o Bispo da Guarda, e eu também, considera como ricos, e não os dos 600,00€ que o governo considera) pagarão o que quer que seja desta crise, antes pelo contrário, segundo os números, os ricos ficaram cada vez mais ricos desde que a crise se implantou em Portugal.
Dizia eu que esses tais ricos e os Bancos nunca pagarão o que quer que seja, porque:
1.º - A crise surgiu para salvar os Bancos, que com a voracidade do lucro, numa espiral de capitalismo selvagem, entraram em derrocada, e foi o dinheiro dos contribuintes que pagou a falência dos Bancos. Eles continuam cheios, bem gordinhos e a fumar o seu charuto... haverá  alguém com eles no sítio para os obrigar a pagar, nem vê-los.
Os Bancos não pagam IMI, pois os seus prédios estão todos incluídos em fundos imobiliários que os subservientes políticos fizeram o favor de aprovar leis que isentam do pagamento deste imposto estas organizações, que são proprietárias de sumptuosos imóveis. Só o pobre do Zé paga o couro e o cabelo pelo IMI da sua casinha, para os outros andarem a gastar em jantares, passeios e terços - sem maldade, mas só porque me estou a basear nas palavras do Bispo da Guarda.
2.º - Quanto aos ricos, verdadeiros, esses também nada pagarão, antes pelo contrário, ainda recebem cada vez mais: a redução do IRC às empresas apenas serve, em Portugal, para as grandes empresas distribuírem mais dividendos pelos accionistas e não criam mais nenhum posto de trabalho, isso é certo.
Os ricos têm as suas contas recheadas nos paraísos fiscais: pagar impostos, nem vê-los; as suas mansões, iates, automóveis de luxo, etc., estão em nome de empresas sediadas em offshores, pelo que pagar impostos, nicles; os que usufruem de grandes rendimentos são pagos por empresas com sede em países de zona franca, portanto, pagar impostos é um oásis.
Perante este quadro, sei que as palavras bem-intencionadas do Bispo tinham o propósito de abanar consciências, não almejo o que quer que seja sobre quem verdadeiramente vai continuar a pagar a crise.
No domingo, o "Primeiro-ministro" Portas veio, mais uma vez, mentir ao País. Utilizou a semântica para ludibriar um povo que está paralisado de medo. Um povo que já não reage, tal os sedativos que lhes são aplicados, desde o desemprego até ao corte nos rendimentos. Temos um povo petrificado. Um povo que prefere continuar a alimentar-se da mentira, à espera do milagre prometido pelo profeta. Um povo que gosta de ser achincalhado, pois está à espera que o poder lhe ofereça um empreguinho, a tal migalha que cai da mesa farta desta gente sem escrúpulos.
Para além de tudo isto, temos um povo que não se insurge, não se revolta, não diz basta. Por que será? Muito simples: muito deste povo ainda vive da economia paralela, que corresponde a 25% do PIB português, pelo que para muitos a crise ainda não chegou; também vive muito na base da solidariedade familiar e dos vizinhos, pelo que vai passando pela crise sem grandes mossas. Depois não se revolta porque é submisso, não tem espírito crítico, aceita as medidas impostas como uma necessidade salvífica, daquelas anunciadas pelo Messias, aceitando a culpa daquilo que o acusaram: ter andado a viver acima das suas possibilidades.
Depois o povo português não se preocupa com o saber, por isso os governos, especialmente de direita, quando têm de cortar cortam na cultura. Quando não se lê, não se vê teatro, não se vai ao cinema, não se assiste a palestras, a debates e a conferências, fica-se apenas pelo que se ouve e vê na televisão, torna-se prisioneiro do pensamento único, daquele que os governantes e os comentadores do regime debitam diariamente nas televisões: viveram acima das possibilidades; não há outro caminho; não há alternativa à austeridade; não há dinheiro para salários e reformas; não podemos assustar os credores; temos de ser bons pagadores, pagar o que devemos; temos de cumprir os contratos das PPP’s; os contratos das Swap’s são sagrados, temos de os pagar. Por isso temos de empobrecer. Esta é a retórica que é vendida, que é imposta a um povo que não está habituado, nem é ensinado e incentivado, a questionar. Aceita, come e cala!
Só um povo amorfo e estupidamente enraizado na doutrina individualista é que não reage a todas as manigâncias que lhes são acometidas por este governo. Como pode o povo aceitar que se lhes diga que os contratos com os credores são sagrados, por isso para cumprir, e que ao mesmo tempo aceite que o mesmo governo que lhes fala da sacralidade dos contratos com os credores lhes viola e não cumpre com os contratos que o Estado tem com esse mesmo povo, que é o do pagamento das reformas, do acesso à saúde e à educação? Como é possível?
Também me causa espécie que este povo não se indigne com a afirmação de Passos Coelho, proferida mais uma vez naquela simulação aberrante de entrevista na RTP1, o país pergunta, onde Coelho afirma: se eu falhar é o país que falha.
Só um ignorante pode proferir tal dislate. Só alguém completamente à deriva se pode arvorar em profeta salvador da desgraça. Por esta afirmação vê-se que Coelho está dessincronizado da realidade. Se Coelho fosse intelectualmente honesto, teria dito e reconhecido que já falhou, pois pelo que se viu nos últimos dois anos o País cumpriu com tudo o que Coelho lhe pediu e exigiu. Coelho aumentou os impostos em 2011, tendo rapado parte do subsídio de natal a todos os trabalhadores, afirmando que era só nessa altura, pois 2012 seria o ano da retoma; em 2012 aumentou novamente os impostos, dizendo que 2013 era o ano da retoma; em 2013 já vai a caminho do terceiro orçamento e para 2014 há mais cortes nos salários e nas pensões.
O País acolheu isto tudo. Se há falhas apenas é a de Passos Coelho e do seu governo. Alguém com um pingo de vergonha na cara já se teria demitido. Mas como este é um governo sem vergonha, continua alegremente na sua campanha.
Esta tirada de Passos Coelho seria cómica se não estivesse ligada a uma parecida que Hitler proferiu quando sentiu que tinha perdido a guerra: o povo alemão é que não lutou o suficiente para ganhar a guerra, eu fiz tudo.
Acorda povo, antes que seja tarde!

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

PORTUGAL E OS PEDIDOS DE AJUDA EXTERNA



Há dias encontrava-me no café a tomar a minha bica (apesar do conselho médico de cortar com esta divinal bebida – para mim, como é óbvio), maldita cafeína, quando na mesa ao lado estavam dois parceiros a conversar.
O teor da conversa, como na maioria dos lugares onde se juntam pessoas (cafés, lojas, salas de espera de centros de saúde, hospitais, consultórios médicos, etc.), era, inevitavelmente, a crise.
Da dita cuja conversa, um dos parceiros afirmava-se apoiante das medidas de austeridade tomadas pelo governo, alegando que o País estava endividado e que era preciso corrigir essa dívida. O parceiro de conversa tentou esboçar uma argumentação diferente, mas logo o outro disparou: então queres que os Socialista venham de novo para o governo? Eles que são os responsáveis por tudo isto? Sempre que passaram pelo governo só endividaram o País? O parceiro tentou novamente debuxar uma frase, começando por dizer que também tinham melhorado muito o País e a vida das pessoas. Mas o outro, embalado na sua narrativa, mais parecia de cassete, disparou: Não gabes os Socialistas, pois foram eles que trouxeram por três vezes o FMI para Portugal.  
Como não me meto em conversas onde não sou chamado, este diálogo apenas vem confirmar a minha tese de que tudo é feito para apagar a memória e a história e fazer prevalecer no nosso País uma retórica falsa.
O facto é que de tanto repetirem este embuste, os mais desatentos e menos informados acabam por aceitar como verdadeira esta narrativa, que mais não passa do que uma forma de alijar as próprias responsabilidades e fazer com que o rumo dado à política económica do País só tem uma alternativa, a do governo, e que acaso os Socialistas regressem ao governo voltará o descontrolo das contas públicas e o aumento da dívida.
Portugal sempre dependeu da ajuda externa ao longo da sua história. O nosso País foi sendo construído sempre com o apoio do exterior. Para não irmos mais longe na história, basta ficarmos pela época dos Descobrimentos. Primeiro vivemos à custa das especiarias que vinham do Oriente; depois seguiu-se o ouro do Brasil; segue-se a venda da alma à Inglaterra, aquando das Invasões Francesas; vivemos à custa das negociatas do volfrâmio com os aliados e com a Alemanha de Hitler; seguiu-se o aproveitamento das colónias ultramarinas para depósito dos nossos excedentes e dos de cá a passar fome; por fim entramos na CEE, hoje União Europeia, onde fomos – e continuamos a ir – buscar milhares de milhões de euros para desenvolver o País, mas cuja maior fatia foi desbaratada por pseudo-elites corruptas que têm desbaratado o nosso País desde 1986 (data em que entramos de facto na CEE), mas engordando os seus pecúlios.
Portanto, e para bem da nossa sanidade mental, importa referir que a primeira entrada do FMI em Portugal foi em 1977, aquando do I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, onde eram ministros Mota Pinto, Medina Carreira, António Barreto, etc.. Todos sabemos da instabilidade política e social que o País viveu desde 1974 até essa data. Isto para não falar do atraso de 100 anos de desenvolvimento económico e social do nosso País, comparando com o resto da Europa, pelo que era preciso iniciar reformas de vulto para que Portugal pudesse entrar no rol dos países desenvolvidos. Também as despesas suportadas com o regresso dos portugueses que residiam nas antigas colónias, que entretanto se tinham tornado independentes e entrado em guerra civil, foram substancialmente grandes, pelo que os recursos económicos produzidos no nosso País não chegavam para o que era necessário fazer – desenvolver Portugal. Isto foi reconhecido pelo FMI.
A segunda vez que o FMI entra em Portugal é em 1983. Ironia do destino ou não o Primeiro-ministro era novamente Mário Soares. É preciso lembrar que o País estava num caos social e sem dinheiro, em 1983. A AD, liderada por Sá Carneiro, ganhou as eleições, com maioria absoluta, em 2-12-1979, e governou até à morte de Sá Carneiro, em Dezembro de 1980. Em 9 de Janeiro de 1981 tomou posse um novo governo liderado por Mota Pinto e com Basílio Horta, na altura militante do CDS, como vice-Primeiro-ministro. Cavaco Silva, ministro das Finanças de Sá Carneiro, abandonou o governo, sendo então ministro da Finanças Morais Leitão. A 4 de Setembro de 1981 toma posse um novo governo da AD com Pinto Balsemão como Primeiro-ministro e Freitas do Amaral como vice-Primeiro-ministro. O ministro das Finanças era João Salgueiro. Este governo esteve em funções até 9 de Junho de 1983.Na altura, Pinto Balsemão pediu a demissão e o governo caiu, tendo-se realizado eleições no dia 25 de Abril de 1983.
Na sequência das eleições de 25 de Abril de 1983, o Partido Socialista ganhou as eleições sem maioria. Daí resultou a constituição de um governo com acordo de incidência parlamentar entre o PS e o PSD. Desse governo, para além de Mário Soares, fazia parte Mota Pinto e Rui Machete, ambos com o lugar de vice-Primeiro-ministro. O ministro das Finanças era Ernâni Lopes, portanto uma figura insuspeita de ser um perigoso Socialista, como afirmou o homem da conversa acima relatada.
Dada a grave situação económica e social que se vivia no País, o novo governo não teve outro remédio senão solicitar de novo a ajuda ao FMI para poderem equilibrar as contas públicas e melhorar as condições de vida dos Portugueses.
Como vemos, a vinda do FMI em 1977 e, especialmente, em 1983 não advém do facto do Partido Socialista ser governo nos anos anteriores, mas sim por ganhar as eleições e encontrar o País em dificuldades económicas. Que haja seriedade nestes julgamentos. O PS só poderia governar, naquela altura, com o recurso ao apoio externo.
Como é sabido, a entrada da troika, pedida, em 2011, desta vez pelo Socialista José Sócrates, veio na senda do chumbo do PECIV, Plano de Estabilidade que Passos Coelho se recusou a dar o seu apoio e o do PSD, já com o fito da chegada ao governo envolto na mentira, como se veio a concretizar.
Seria bom que se tivesse cuidado nos julgamentos, e mesmo na acusação àqueles que trouxeram a troika para Portugal, pois nós não sabemos se o PECIV, como estava desenhado e com o apoio das instituições internacionais e da Alemanha, resultaria ou não, e daí evitar a vinda da troika e ficarmos sob protectorado, como Portas gosta de dizer. Nunca o chegaremos a saber, pois a sede de chegar ao poder por parte de Passos Coelho e do PSD impede-nos de sabermos se Sócrates e o PS são na realidade os responsáveis pela vinda da troika.

sábado, 5 de outubro de 2013

IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA


No dia da implantação da República, neste dia 5 de Outubro de 2013, que deixou de ser feriado pelas mãos do actual governo, assistimos a cerimónias fechadas na Câmara Municipal de Lisboa, o mesmo é dizer que o povo já não festeja na rua a implantação da República no nosso País. Uma vergonha!
Triste foi ver os figurantes perfilados a aguardar a chegada de Coelho e Cavaco. Notava-se em alguns a ânsia para que estas figuras que entristecem Portugal lhes estendesse a mão para os cumprimentar. Esta é a imagem de um povo, submisso ao poder, mesmo que este poder seja composto por gente sem ética e sem vergonha.
Esta gente vai discursar e assistir a estas cerimónias da implantação da República sem um pingo de vergonha. A República é o alicerce da ética, da separação dos poderes do Estado e da responsabilidade! O que se vê nesta gente que nos governa? Ética nem vê-la, pois é vê-los à porfia, à espécie de um jogo, para ver qual deles diz mais disparates; mais atropela a ética e o respeito pelos portugueses; o que mais disparates diz, por vezes com a boca pejada de mentira.
A separação de poderes onde pára? Esta gente não respeita a Constituição; atropela os direitos constitucionais quando promovem leis que são inconstitucionais, já me parece que não o fazem por burrice mas propositadamente, pois assim têm o Tribunal Constitucional para servir de bode expiatória às tropelias governamentais e aos cortes cegos que fazem nas áreas da Educação, da Saúde e da Segurança Social.
Rui Machete foi o último que demonstrou a pandemia de soltura que invade o cérebro desta tropa fandanga, quando se imiscuiu na justiça ao pedir desculpa ao estado angolano pelas investigações da nossa justiça sobre dinheiros angolanos. Isto só demonstra que para esta gente não há regras, não há justiça, não há fiscalização. Tanto assim é, que este governo teve a amabilidade de criar o visto dourado, o que corresponde a conceder visto de residência a quem compre casas de milhões de euros em Portugal... Não faz mal como o dinheiro é adquirido, na óptica do vale tudo, o dinheiro pode vir da exploração sexual, do jogo ilegal, do tráfico de armas, da corrupção política, do narcotráfico. Isso não interessa, o que importa é que venha, para que o paulinho das feiras possa falar de cátedra.
Por fim, é ver Durão Barroso, o fugitivo da tanga, no Algarve, a ameaçar o Tribunal Constitucional para o facto da possibilidade de haver medidas do OE para 2014 que sejam chumbadas.
No aniversário da República, temos políticos da trampa, que só têm este poder porque estão num regime republicano, que não têm pejo em vilipendiar a República portuguesa.
Nunca ansiei tanto pela chegada de um ano, como o de 2015. Só espero é que nessa altura o povo saiba votar e que aproveite para desmentir a opinião dos nossos juízes que afirmaram que só 10% dos portugueses sabem votar.