Se todos nos lembramos, Mário
Nogueira foi o líder de um levantamento dos professores contra o governo do
Partido Socialista, tendo organizado em Lisboa uma manifestação com 200 mil
professores que debitavam palavras de ordem contra José Sócrates,
primeiro-ministro, e Maria de Lurdes Rodrigues, ministra da Educação.
Hoje, perante todos os malefícios
que este governo tem causado à educação pública há razões para perguntar onde
pára Mário Nogueira e os 200 mil professores?
E de que se queixavam, na altura,
os professores liderados pelo camarada Mário Nogueira – quem sabe se na altura
à espera que o Partido Comunista o nomeasse substituto de Carvalho da Silva à
frente da CGTP? -? Pura e simplesmente não queriam que fosse implementado o
modelo de avaliação aos professores desenhado pelo governo de então. Aliado a
uma direita caceteira e irascível na crítica à escola pública, o líder da
Fenprof foi a escolha perfeita da direita para servir de apêndice na afronta e
na crítica ao governo, tendo em vista a destruição da imagem da escola pública
e dos professores. Mário Nogueira, imbuído pelo “ódio” comunista ao Partido
Socialista, deixou-se cair na esparrela montada pela direita. Ou talvez não,
pois hoje Nogueira está manso com o actual governo. As voltas que o mundo dá!?
Enquanto Nogueira e a sua trupe
ia organizando manifestações em tudo o que era sítio onde alguém do anterior governo
pousasse pé, o professor de matemática, Nuno Crato, lá ia fazendo o seu papel
de comentador televisivo a desancar na escola pública, acusando-a de facilitista
e apregoando a mestria do mérito e do rigor. Mário Nogueira, na rua, e Nuno
Crato, nas televisões, foram cumprindo o seu papel de destruição da escola
pública e denegrindo a imagem do professor. Nogueira, por não aceitar a
avaliação na escola pública, e Crato, criticando e catalogando a escola pública
de facilitista e defendendo o mérito, a competência e o rigor, fizeram uma dupla
perfeita no ataque à escola pública. E a maioria dos professores deixou-se
enredar nesta teia.
Terminadas as funções de minar a
credibilidade do governo de Sócrates, em 2009 chegou-se a eleições
Legislativas. Mesmo assim o PS ganhou mas perdeu a maioria, muito por fruto da
alteração de votos de milhares de professores e de funcionários públicos. Com
um governo minoritário, Nogueira e Crato continuaram a sua luta contra a escola
pública. E com a demissão de Sócrates, em 2011, e as consequentes eleições
antecipadas, a direita chegou ao poder e Nuno Crato a ministro da Educação.
Quanto a Nogueira, não chegou a Secretário-geral da CGTP e continuou à frente
da Fenprof. Mas gastou o gás todo até 2011, estando há três anos em pousio,
tirando uma ou outra intervenção, mas só para dizer que existe, pois o seu
concluio com a direita continua em vigor.
Com o governo da direita no poder
e Crato no lugar de ministro da Educação, hipocritamente parece que se
apaziguou o clima nas escolas. Bastou para isso um mero rebuçado oferecido aos
professores, que foi uma agilização do processo de avaliação. Processo de
avaliação que não caiu e que tinha sido o motivo que levou 200 mil professores
em manifestação a Lisboa a insurgir-se contra o governo e a ministra por via da
avaliação dos professores.
Afinal, o que mudou no ministério
da Educação? Mudou muito! A começar por um ministro que apenas pretende dar
continuidade à destruição da escola pública, mas que teve a astúcia e a manha
da raposa de tecer uma teia que prendeu a ela Mário Nogueira e os professores
mais antigos. O actual governo muniu-se de preciosos bilros e rendaram uma teia
que apenas prendeu os professores mais novos e aqueles que não estão no quadro.
Aquando da famosa prova de
avaliação de competências aos professores, proposta pelo ministro Crato,
Nogueira e a sua gente iniciaram então a farsa da discórdia. E digo farsa, pois
se se insurgiram contra a prova a mesma teria de ser para todos os professores.
Mas não foi! É aí que Nogueira continua a sua saga de apoio ao ministro Crato e
a agarrar-se como lapa à presidência da Fenprof(?), pois bastou que o governo
tivesse assumido que os professores mais antigos não faziam a prova, obrigando
apenas aqueles que estão na profissão há menos de cinco anos, para que Nogueira
e a sua trupe assinasse de cruz o acordo com o Crato, não obstante continuar a
clamar com as providências cautelares que se sabia nada iam dar. Manter todas
as mordomias e direitos aos professores mais antigos – aqueles, diga-se, que são
sindicalizados e a maioria está na Fenprof -, isentando-os da tão malfadada
prova de avaliação de competências, mas que fosse aceite como uma necessidade para
obrigar os professores mais novos a demonstrarem as suas competências.
Ora, quando deveriam ser os
professores mais antigos, como é o caso de Mário Nogueira, que já não dá aulas
há mais de 20 anos, a efectuarem essas provas, pois a maioria deles está
desactualizado, os sindicatos louvaram ao Crato o facto de aceitar não mexer
com os professores mais antigos e desancar um atestado de incompetência nos
mais novos, com a agravante de fazer uma selecção e impedir que muitos
habilitados para a docência não pudessem dizer que eram professores
desempregados.
Assim, entre 2005 e 2011 Mário
Nogueira prestou um favor à direita, ao contestar o governo nas suas políticas
educativas, de 2011 para cá a direita, no governo, pagou o favor a Mário
Nogueira não mexendo nos professores mais antigos e apenas penalizando os mais
novos.
Portanto, Crato e Nogueira parecem
viver num género de concubinato e, cada um à sua maneira, são os coveiros da
credibilização da escola pública.
Portanto, não admira que os
professores mais jovens não sejam sindicalizados, pois não acreditam nos
sindicatos. Assim é destruída a escola pública e o sindicalismo.