segunda-feira, 13 de outubro de 2014

ONDE PÁRA MÁRIO NOGUEIRA E OS PROFESSORES



Se todos nos lembramos, Mário Nogueira foi o líder de um levantamento dos professores contra o governo do Partido Socialista, tendo organizado em Lisboa uma manifestação com 200 mil professores que debitavam palavras de ordem contra José Sócrates, primeiro-ministro, e Maria de Lurdes Rodrigues, ministra da Educação.
Hoje, perante todos os malefícios que este governo tem causado à educação pública há razões para perguntar onde pára Mário Nogueira e os 200 mil professores?
E de que se queixavam, na altura, os professores liderados pelo camarada Mário Nogueira – quem sabe se na altura à espera que o Partido Comunista o nomeasse substituto de Carvalho da Silva à frente da CGTP? -? Pura e simplesmente não queriam que fosse implementado o modelo de avaliação aos professores desenhado pelo governo de então. Aliado a uma direita caceteira e irascível na crítica à escola pública, o líder da Fenprof foi a escolha perfeita da direita para servir de apêndice na afronta e na crítica ao governo, tendo em vista a destruição da imagem da escola pública e dos professores. Mário Nogueira, imbuído pelo “ódio” comunista ao Partido Socialista, deixou-se cair na esparrela montada pela direita. Ou talvez não, pois hoje Nogueira está manso com o actual governo. As voltas que o mundo dá!?
Enquanto Nogueira e a sua trupe ia organizando manifestações em tudo o que era sítio onde alguém do anterior governo pousasse pé, o professor de matemática, Nuno Crato, lá ia fazendo o seu papel de comentador televisivo a desancar na escola pública, acusando-a de facilitista e apregoando a mestria do mérito e do rigor. Mário Nogueira, na rua, e Nuno Crato, nas televisões, foram cumprindo o seu papel de destruição da escola pública e denegrindo a imagem do professor. Nogueira, por não aceitar a avaliação na escola pública, e Crato, criticando e catalogando a escola pública de facilitista e defendendo o mérito, a competência e o rigor, fizeram uma dupla perfeita no ataque à escola pública. E a maioria dos professores deixou-se enredar nesta teia.
Terminadas as funções de minar a credibilidade do governo de Sócrates, em 2009 chegou-se a eleições Legislativas. Mesmo assim o PS ganhou mas perdeu a maioria, muito por fruto da alteração de votos de milhares de professores e de funcionários públicos. Com um governo minoritário, Nogueira e Crato continuaram a sua luta contra a escola pública. E com a demissão de Sócrates, em 2011, e as consequentes eleições antecipadas, a direita chegou ao poder e Nuno Crato a ministro da Educação. Quanto a Nogueira, não chegou a Secretário-geral da CGTP e continuou à frente da Fenprof. Mas gastou o gás todo até 2011, estando há três anos em pousio, tirando uma ou outra intervenção, mas só para dizer que existe, pois o seu concluio com a direita continua em vigor.
Com o governo da direita no poder e Crato no lugar de ministro da Educação, hipocritamente parece que se apaziguou o clima nas escolas. Bastou para isso um mero rebuçado oferecido aos professores, que foi uma agilização do processo de avaliação. Processo de avaliação que não caiu e que tinha sido o motivo que levou 200 mil professores em manifestação a Lisboa a insurgir-se contra o governo e a ministra por via da avaliação dos professores.
Afinal, o que mudou no ministério da Educação? Mudou muito! A começar por um ministro que apenas pretende dar continuidade à destruição da escola pública, mas que teve a astúcia e a manha da raposa de tecer uma teia que prendeu a ela Mário Nogueira e os professores mais antigos. O actual governo muniu-se de preciosos bilros e rendaram uma teia que apenas prendeu os professores mais novos e aqueles que não estão no quadro.
Aquando da famosa prova de avaliação de competências aos professores, proposta pelo ministro Crato, Nogueira e a sua gente iniciaram então a farsa da discórdia. E digo farsa, pois se se insurgiram contra a prova a mesma teria de ser para todos os professores. Mas não foi! É aí que Nogueira continua a sua saga de apoio ao ministro Crato e a agarrar-se como lapa à presidência da Fenprof(?), pois bastou que o governo tivesse assumido que os professores mais antigos não faziam a prova, obrigando apenas aqueles que estão na profissão há menos de cinco anos, para que Nogueira e a sua trupe assinasse de cruz o acordo com o Crato, não obstante continuar a clamar com as providências cautelares que se sabia nada iam dar. Manter todas as mordomias e direitos aos professores mais antigos – aqueles, diga-se, que são sindicalizados e a maioria está na Fenprof -, isentando-os da tão malfadada prova de avaliação de competências, mas que fosse aceite como uma necessidade para obrigar os professores mais novos a demonstrarem as suas competências.
Ora, quando deveriam ser os professores mais antigos, como é o caso de Mário Nogueira, que já não dá aulas há mais de 20 anos, a efectuarem essas provas, pois a maioria deles está desactualizado, os sindicatos louvaram ao Crato o facto de aceitar não mexer com os professores mais antigos e desancar um atestado de incompetência nos mais novos, com a agravante de fazer uma selecção e impedir que muitos habilitados para a docência não pudessem dizer que eram professores desempregados.
Assim, entre 2005 e 2011 Mário Nogueira prestou um favor à direita, ao contestar o governo nas suas políticas educativas, de 2011 para cá a direita, no governo, pagou o favor a Mário Nogueira não mexendo nos professores mais antigos e apenas penalizando os mais novos.
Portanto, Crato e Nogueira parecem viver num género de concubinato e, cada um à sua maneira, são os coveiros da credibilização da escola pública.
Portanto, não admira que os professores mais jovens não sejam sindicalizados, pois não acreditam nos sindicatos. Assim é destruída a escola pública e o sindicalismo.