sexta-feira, 17 de outubro de 2014

ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2015



Conhecidos os números do Orçamento do Estado para 2015 (OE15), todos ficamos a perceber que estamos perante um documento que em vez de servir, como deveria de ser, de principal instrumento da política económica do governo é um autêntico instrumento panfletário eleitoralista do governo, ou não estivéssemos em ano de eleições.  
Como verdadeiro documento de trabalho do governo para a implementação de uma política económica amiga dos cidadãos e das empresas, o governo mais não fez que transformar o OE15 num documento de fluxos de caixa. Quem paga e quem recebe. Não mais que isto.
Este OE15 não é definidor das políticas públicas, apenas se comporta como uma folha de caixa. Ao deixar de fora deste Orçamento a reforma do IRS e a fiscalidade verde, o governo confirma a sua incompetência na estruturação de políticas públicas credíveis. Se assim não fosse o governo não optava por discutir fora do OE15 a reforma do IRS e a fiscalidade verde.
Tão mau é este documento orçamental, que o governo optou por fazer uma campanha eleitoral ao redor da reforma do IRS e da fiscalidade verde em simultâneo e propositadamente para retirar da discussão pública o OE15. Só como prova temos o sem número de presenças do ministro do Ambiente e do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais nas televisões a falar-nos das virtualidades destas duas medidas. Os últimos dois dias têm sido um fartar vilanagem de membros do governo a falar de tudo, menos do OE15. Porque será? Porque, de facto, o OE15 é um documento que apenas se baseia na arte da cobrança de impostos, pois o que ali se define é o só cobrar, cobrar e cobrar. Mais nada!
Quando Passos Coelho anuncia que o OE15 não é eleitoralista mais não faz do que esconder, de facto, o verdadeiro eleitoralismo deste Orçamento. O OE15 é objectivamente um documento eleitoralista! Basta para isso se verificar que, à primeira vista, não se identificam neste Orçamento normas que possam ser consideradas inconstitucionais. Finalmente! Ao fim de 12 Orçamentos não há normas inconstitucionais? Que é isto senão eleitoralismo? Só o simples facto das famílias com filhos e os funcionários públicos ganhar poder de compra, os pensionistas vão receber mais um bocado e as empresas vão pagar menos impostos sobre os seus lucros. Se isto não é eleitoralismo, o que é?   
Para além disto, assistimos ao anúncio do aumento do salário mínimo, aumentará o número de contribuintes com isenção de IMI – mas finda a cláusula de salvaguarda muitos vão pagar muito mais de IMI -  e as rendas ganharão mais tempo para não subirem em conformidade com a Leis das Rendas em vigor.
Que mais é senão eleitoralismo o facto do défice de 2015 em lugar dos 2,5% negociados com Bruxelas passou a ser de 2,7%? É ou não eleitoralismo as palavras de Passos Coelho quando afirma que o governo assim desafia Bruxelas e não pode ser acusado pelo PS de “fanatismo”?
Mas há algo neste OE15 que me deixa perplexo e que se impõe questionar: então se este Orçamento é assim tão bom como anunciam os “evangélicos” governamentais, se há tanta melhoria para muita gente, como é possível reduzir o défice dos 4% para os 2,7%? Pois! Mas neste campo estamos mesmo perante um comportamento esotérico por parte do governo. Só com uma elevada crença no esoterismo é que se acredita que é possível o crescimento económico plasmado pelo governo no OE15. Só com muita fé é que o governo pode acreditar que consegue cobrar os valores previstos com a caça à fraude e evasão fiscal, o salvador da execução orçamental de 2014. O governo pretende manter a mesma toada para 2015. Desta vez oferecendo uns rebuçados aos contribuintes. Já não bastava os automóveis no sorteio, o governo agora lança o isco aos contribuintes, acenando-lhe com a possibilidade de verem devolvida a totalidade, ou uma parte, da sobretaxa de 3,5% de IRS que é cobrada aos contribuintes. Para que possam usufruir dessa benesse em 2016, o governo transforma os contribuintes em pides, dizendo-lhes peçam facturas electrónicas e assim denunciam os comerciantes que pretendem fugir ao fisco. É apenas baseado na crença de que pode ainda cobrar mais impostos no OE15 que o governo promete aos contribuintes dar-lhes um crédito fiscal. Só mesmo saído da cabeça do “irmão” Núncio? Portanto, cobrar mais impostos não serve para descer as taxas, serve isso sim para pagar mais despesa. Mas, atenção, não é despesa com a Educação, Saúde e Segurança Social, nada disso.
Como todos sabemos, este governo chegou ao poder anunciando a sua saga contra as gorduras do Estado. Clamou que bastava cortar nas gorduras do Estado e as contas públicas ficavam equilibradas. Será que foi isto que o governo fez em três anos? Nada disso, antes pelo contrário. Nem gorduras nem formosuras foram cortadas. Foi, isso sim, desmantelado tudo o que é público e que dava dinheiro e funciona em regime de monopólio: EDP, ANA, REFER, CTT e muito mais. Isto sim, foram as formosuras retiradas ao Estado. Tanto que foi que a ANA já aumentou, desde que foi entregue aos franceses há pouco mais de um ano, em 30% as taxas aeroportuárias, aumento que tem penalizado as contas da TAP, que é a companhia aérea que mais utiliza os aeroportos portugueses. Este é só um exemplo, para não falar da EDP aos chineses, que a partir de 1 de Janeiro do próximo ano aumentará a tarifa eléctrica em 3%. Este sim tem sido o corte nas gorduras do Estado perpetrado por este governo.
No entanto, a Comissão Europeia veio dizer que era necessário substituir os cortes temporários por definitivos entre 1,5 e 2 mil milhões de euros. O OE15 apenas nos diz que vão ser cortados na Educação mais 740 milhões de euros. No fim como ficará a escola pública? Na Saúde pública continuarão os cortes. A Segurança Social terá mais cortes e haverá um tecto máximo para as prestações sociais. Cá está o tal corte nas gorduras do Estado. Cortar nas despesas sociais é o que este governo pretende.
No entanto, o INE anuncia que 1 em cada 4 portugueses estão em risco de pobreza e quem recebe o Salário Mínimo Nacional ganha menos que em 1974. Também diz o INE que 29,3% da população infantil no ano passado se encontrava em privação material. O risco de pobreza de famílias com crianças dependentes tem-se vindo a agravar, tal como se tem agravado a taxa de intensidade de pobreza. Também tem sofrido um agravamento a diferença entre Portugal e a média da União Europeia e o número de pobres vai aumentando em Portugal, enquanto na União Europeia tem tendência para se manter estável. E no OE15 não se vê nada que possa contrariar estes números, antes pelo contrário. Não obstante tudo isto, Portugal está mais pobre que em 1974, mas tem mais ricos.
Este OE15 é mais do mesmo no que diz respeito à austeridade. Não traz quaisquer benefícios aos contribuintes, excepto para as empresas que vêem a redução da taxa de IRC sobre os seus lucros. Este é um OE15 feito e sustentado na variável da fé no crescimento económico, à laia da santa da ladeira. Mas os números indicam que as economias, mesmo a da Alemanha, estão em estagnação, pelo que não é crível o crescimento da nossa economia em 1,5% conforme diz o governo no OE15.