As ciclovias foram
criadas para dar mais
conforto aos
ciclistas.
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A
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s ciclovias (espaços próprios
para os utilizadores de bicicletas circularem) nasceram, essencialmente, nos
países da Europa Central, em finais do
século XIX, fruto da necessidade de criar conforto de circulação aos
utilizadores de bicicletas e evitar a mistura da circulação de bicicletas com
as carroças e charretes. Foi nas zonas rurais que primeiramente se criaram
esses “corredores”, dado que as estradas eram entapetadas com pedra e
“cascalho” (as estradas de Macadame) que causava transtornos e desequilíbrios
aos ciclistas. Tendo em conta que as bicicletas eram o maior meio de transporte
utilizado pelas pessoas, os responsáveis pelo planeamento começaram por criar
corredores laterais nas ruas e estradas, com um piso liso, primeiro em terra e
depois em cimento, para ser utilizado pelos ciclistas.
Nos anos 30 do século XX, a
criação de ciclovias massificou-se na Alemanha, pois a política do
Nacional-Socialismo pretendeu retirar as bicicletas das estradas e ruas para
que estas não perturbassem os automóveis, que começavam a ser produzidos em
massa, e os impedisse de atingir a velocidade desejada.
Foi da necessidade de criar
condições de conforto para os ciclistas que nasceram as ciclovias! Também será
de realçar que a construção das ciclovias não invadiram o espaço para
circulação de veículos motorizados, nem tampouco ocuparam o espaço para a
circulação dos peões.
Com a descoberta de novos
materiais para os pisos das ruas e estradas, aliado ao desenvolvimento do
automóvel como meio de transporte, houve países que nunca descuraram a questão
da circulação das bicicletas, pelo que no planeamento estratégico da rede
viária esteve sempre presente a criação do espaço para a circulação de
bicicletas, para que estas não criassem embaraços ao trânsito motorizado e aos
peões.
É certo que os países não são
todos iguais, quer em questão de clima quer de relevo. Com maior facilidade as
populações estão disponíveis e abertas à utilização de bicicletas quando os
países e as localidades apresentam um relevo plano ou as suas zonas nãos sejam,
na maior parte do ano, sujeitas a ventos fortes (aquilo que na nossa zona
chamamos de “nortadas”), mas isto também se deve aos estilos de vida.
Para além deste planeamento
concertado entre as vias de trânsito motorizado, os passeios para os peões
caminharem sem sobressaltos e as ciclovias ou ciclofaixas, os governos
(centrais e locais) incluem no seu planeamento uma forte rede de transportes públicos.
E é este tipo de planeamento que apela ao incentivo da bicicleta como
transporte urbano no dia-a-dia, pois os autocarros e o metro estão aptos a
receber no seu interior as bicicletas transportadas pelos passageiros.
Agora não se pode confundir a
utilização da bicicleta ao fim-de-semana, em modos de recreação ou “treino”, como
um meio de transporte, e, assim, se inicie a criação de ciclovias sem
planeamento. Mais desaconselhável é quando essa criação vai “roubar” espaço
necessário para o estacionamento automóvel, ou retira, também, espaço aos peões
para poderem caminhar sem sobressaltos e não os obrigar a caminhar sempre com o
cuidado de fugirem a uma bicicleta, que circule na via construída nos espaço
roubado ao passeio para peões, ou ao esterco de cão que fica depositado no
passeio...
Quando o planeamento não é feito
de raiz, muitas das vezes os remendos não são a melhor solução! A construção de
espaço de circulação de bicicletas não é obrigatório ser criado nos espaços
destinados aos peões! Ao mesmo tempo não é bom exemplo de planeamento quando se
vai retirar centenas de lugares de estacionamento de automóveis em locais onde
eles são necessários, dado o fluxo de gente a esses locais e há inexistência de
parques de estacionamento e de uma rede de transportes públicos que
desincentive a utilização do veículo automóvel como transporte.
Não posso deixar de aceitar que a
sociedade hodierna vive muito de momentos! E os momentos de hoje são as
ciclovias e as caminhadas! Ainda bem para todos, pois dessa forma cada um de
nós cuida da sua saúde e evita, assim, o possível aparecimento de doenças dos
tempos modernos devido à vida sedentária que a maioria de nós tem. Agora, o que
não se deve é ir atrás de “modas” onde muitas vezes se aconselha a não o fazer.
Contudo, vários estudos
efectuados em diversos países dizem que o simples facto de serem criadas
ciclovias não é sinal de aumento da segurança para o ciclista no meio urbano. A
lógica apresentada neste estudo prende-se ao facto de o ciclista estar separado
do fluxo de veículos e a sua interacção com outros condutores e a sua
visibilidade são prejudicados em cruzamentos. Assinalam, também, que no meio
urbano a maioria dos acidentes com ciclistas como intervenientes ocorrem nos
cruzamentos e que a construção das ciclovias agrava estas circunstâncias.
Os mesmos estudos apontam o facto
de que os ciclistas têm mais segurança pedalando nas ruas compartilhando o
tráfego com outros veículos, dando como exemplo a cidade de Helsínquia, do que
usando os 800 km de ciclovias da cidade. Também em Berlim, cidade em que apenas
10% das vias têm ciclovias, nos anos de 1980, a polícia elaborou um estudo que
indica que as ciclovias produzem 75% das mortes e demais acidentes com
ciclistas, apontando que as ciclofaixas são menos perigosas do que as
ciclovias, pois ao circular nas ciclofaixas os ciclistas estão mais visíveis
aos condutores dos veículos automóveis.
Na maioria dos países que têm por
hábito a utilização da bicicleta, quando não há a inclusão de uma ciclovia de
raiz, os responsáveis, em vez de ocuparem os espaço destinado aos peões e ao
estacionamento automóvel, criam na faixa de rodagem, em cada sentido de
trânsito, um correr próprio para os ciclistas.
A utilização massiva da bicicleta
envolve sempre as características da sociedade e dos seus estilos de vida;
assim como o relevo do país, pois num país plano com facilidade se utiliza a
bicicleta; para além disso o clima também é convidativo à utilização da
bicicleta como principal meio de transporte, dado que é mais agradável, até
para a higiene pessoal, pedalar num clima ameno, ou mesmo frio, do que num
clima quente, onde o calor origina a transpiração, o que, diga-se em abono da
verdade, não é convidativo para quem se desloca de bicicleta para ir trabalhar.
Por muito que nos custe e
tentemos alterar os modos de ser e pensar, a sociedade portuguesa não está
vocacionada para a utilização prioritária da bicicleta como meio de transporte.
O relevo do nosso país não convida à utilização desse transporte e mesmo o
clima.
Pelo contrário, países como a
Holanda e a Dinamarca dão a prioridade à bicicleta como meio de transporte
diário. Na Holanda, por exemplo, metade da população usa a bicicleta como meio
de transporte. Já Copenhaga, Dinamarca, considerada a cidade das bicicletas, tem
cerca de 350 Km de ciclovia, 55% das pessoas vão trabalhar de bicicleta.
É certo, também, que na maioria
dos países da Europa, a passagem à utilização massiva da bicicleta teve como
causa a crise do petróleo de 1973. Dado o desmesurado aumento do custo do
crude, as populações passaram a optar pela utilização massiva da bicicleta.
Portanto, seria óptimo que os
responsáveis pelo planeamento, em Portugal e nas autarquias, começassem por
incluir nos novos projectos a inclusão de ciclovias e ciclofaixas para a
utilização da bicicleta, mas também criassem uma rede de transportes públicos
que facilitasse a deslocação às pessoas.
É esse o desafio, pois só a
partir daí se pode alterar as mentalidades!
*Publicado no Jornal Notícias de
Esposende n.º 15/2015 – 18 a 24/Abril