quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

DEMOCRACIA POR CONVENIÊNCIA



Começo por referir que não concordo que os manifestantes, no ISCTE, tivessem impedido o ministro Relvas de falar sobre o que não sabe e não percebe, e obstassem o ministro de proferir as alarvidades a que ele já nos acostumou. Deveriam ter deixado o senhor falar. Essa é a minha opinião, abaixo deixarei o porquê! Relvas, não sabe nada de jornalismo. A não ser, claro, aquele assunto da eventual pressão sobre a jornalista do jornal Público. 

Entendo que mesmo aos ignóbeis deverá ser dada a palavra, quanto mais não seja para que quem o ouça (Relvas disse na RTP ouvisto…) lhe mostre, efectivamente, a ignorância em que vive acerca da cultura e do jornalismo. Dado, porventura, que de negociatas parece que o homem percebe.

Ao não o deixarem falar no ISCTE, o ministro aproveitou, mais o seu governo e os deputados do seu partido e do partido “muleta” que suporta o governo, para se transformarem em vítimas e a encher a boca a falar da falta de Democracia. Não poderemos esquecer que Relvas e os seus quejandos são especialistas na arte da vitimização. E é isso que têm andado a fazer nos últimos dias. Erro crasso dos manifestantes, que permitiram que estes senhores se esfalfem a reclamar por falta de Democracia.

É certo que Relvas não merece ser respeitado, pois ele também não se dá ao respeito. Num País onde os políticos fossem moral e eticamente escrutinados pelo povo, Miguel Relvas já teria saído da política pela porta pequena. Relvas, ao que parece, mentiu descaradamente no Parlamento, onde prestou declarações sob juramento, sobre o assunto da ligação aos serviços secretos; Relvas é um político que em 2003 utilizava abusivamente o título académico, Dr., antes do nome próprio, quando não detinha qualquer licenciatura que lhe permitisse essa prerrogativa – confirma-se com a licenciatura por equivalências em 2006. Por isso, e muito mais, não pode merecer o respeito das pessoas, e, acima de tudo, não pode estar a gerir a coisa pública, pois demonstra que a sua conduta não é a mais correcta, dado que quem mente na Assembleia da República sob juramento, sobre o curriculum ou utiliza abusivamente um título académico que não detém não pode merecer o respeito do povo, muito menos daqueles que durante anos estudaram para concluir uma licenciatura, como é o caso dos estudantes manifestantes no ISCTE. 

Mas a realidade em Portugal não é essa, e esses usurpadores de títulos académicos continuam a pavonear-se como se nada fosse, e os eleitores continuam a votar neles. 

Portanto, não venham com a treta de que os políticos são todos iguais! Os políticos só serão aquilo que o povo quiser que sejam. Um povo exigente com os políticos nunca voltará a votar em quem mente; em quem promete e não cumpre; em quem seja acusado pelo tribunal de mau comportamento no exercício da função, mas que os eleitores voltam a votar e a eleger. Este é o verdadeiro drama da sociedade portuguesa, no que toca à forma como olham para os políticos. Por muito que me doa pensar, julgo que os eleitores muitas vezes votam nos políticos em que sentem que se revêem se tivessem a mesma oportunidade. Só em pensar que isto pode ser verdade, fico em pânico.  

Um povo devidamente escrutinador dos políticos e dos seus comportamentos deveria já ter dito aos membros do governo, ao PSD e ao CDS que não se pode encher a boca a falar de democracia apenas quando é conveniente.

Foi triste a imagem do Montenegro, líder dos deputados laranja na Assembleia da República, acolitado pelos membros do seu grupo parlamentar, em autêntico delírio, de pé, em grande histeria, a vociferar impropérios contra os manifestantes e a sua falta de democracia, ao mesmo tempo que de dedo em riste o deputado Montenegro desafiava a oposição a colocar-se ao lado deles e do CDS, pois estava em causa o exercício democrático e o direito de falar em Democracia.

Figuras tristes fizeram estes nossos representantes. Os seus caprichos tolheram-lhes o discernimento. Fizeram um “Delete” na sua memória. Transformaram-nos em autómatos, mesmo sem vergonha, ao clamarem pela falta de democracia quando os seus são apupados. É isto que denigre a imagem dos políticos!

Onde estava o deputado Montenegro e a bancada do PSD e do CDS quando estava no governo o PS, liderado por José Sócrates? O que diziam os senhores do PSD e do CDS quando os ministros do governo de José Sócrates eram recebidos por ruidosas manifestações, com insultos e impedidos de falar, mesmo em recintos fechados em reuniões de índole partidária? O que disse Miguel Relvas, em declarações à comunicação social, aos filhos de José Sócrates? Toda a gente se esqueceu do comportamento do agora ministro quando estava na oposição? Do que Relvas dizia sobre as manifestações que esperavam os anteriores governantes? Relvas está a beber o mesmo veneno que deu aos outros, por isso que aguente, como diz o Ulrich.

Era bom que estes senhores fossem ao baú das memórias procurar as justificações que davam, principalmente o dr. Relvas, hoje transformado em mártir (não fosse o limbo que o papado está a viver e certamente seria transformado em santo, ainda vivo), quando os ministros e membros do Partido Socialista eram impedidos de exercer as suas funções e de falarem, quando eram confrontados com as manifestações organizadas. Dizia o PSD que a responsabilidade era do governo. Calar as vozes dos ministros, naquele tempo já não era um ataque à Democracia, era, para os partidos que hoje governam, um exercício de cidadania e direito à indignação. Portanto, a Democracia a funcionar?

Agora verifica-se que o PSD e o CDS quando se encontram do outro lado da barricada já gritam: Aqui d’El Rei que não há Democracia… Afinal, para estes senhores, só há Democracia quando lhes convém, quando lhes toca no pêlo. Mas quando são os outros, é como o brasileiro, pimenta no cú do outro, para mim é refresco…
      

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

QUO VADIS, PORTUGAL



Os acontecimentos dos últimos dias levam-nos a perguntar: para onde vais Portugal?
Primeiro foi na Assembleia da República! Portugueses, nas galerias da Assembleia, onde se encontram os representantes da população, que foram eleitos para defender os interesses da população e não de corporações, interromperam a intervenção do Primeiro-ministro com o cântico de “Grândola, Vila Morena”. Passos Coelho reagiu com um sorriso amarelo e cínico.
Ontem, 18, foi a vez de Miguel Relvas, em Gaia, no Clube dos Pensadores, ser interrompido, quando palestrava, por manifestantes que também cantavam “Grândola, Vila Morena” e gritavam palavras de ordem.
Hoje, 19, no ISCTE, Miguel Relvas foi apupado e teve de sair pelas portas traseiras, fruto da manifestação de jovens que mostravam o seu descontentamento.
Estes acontecimentos estão a ser recorrentes. Seria bom que os governantes reflectissem sobre o que se está a passar e sobre o descontentamento das pessoas.
Só quem não vive no País real é que não está ao corrente do pensamento das pessoas e da panela de pressão que está em lume brando, mas até um dia. Nos fóruns radiofónicos e da televisão a maioria dos intervenientes mostram-se descontentes com o rumo que está a ser dado ao País. E não é, para menos!
1 - Passos Coelho na Assembleia da República mostra um sorriso cínico quando confrontado com a manifestação; Relvas, também com cara de gozo e enorme “cara de pau”, canta, desafinado, “Grândola, Vila Morena”. Mas não era só desafinação, via-se que não conhece a letra do refrão…  
2 – Confrontado com os números do desemprego, Passos Coelho tem o topete de dizer que este número colossal que tem um pequeno desvio nas previsões do governo… mas avisa: vai ser pior.
3 – Relvas, em Gaia, avisa que, por muitas manifestações que se façam, este governo só sairá em 2015, se for esse o entendimento dos portugueses. Até lá, digo eu, estes governantes vão concluir a sua missão ideológica que pretendem implantar em Portugal: desmantelamento do Estado Social; falências em série; desemprego descomunal e os trabalhadores entregues ao esclavagismo e obrigados a trabalhar pelo preço de uma malga de arroz.
4 – Esta gente não é incompetente. Eles pretendem mesmo fazer o que estão a fazer. Passos Coelho diz que só vão resistir as empresas com capacidade, portanto esta política é mesmo para fazer a selecção das “espécies”.
5 – Para desgraça maior dos Portugueses, o Presidente da República, Cavaco Silva, refugia-se no Palácio de Belém, atribuiu umas condecorações, e quanto aos números do desemprego, à intenção dos cortes definitivos de 4 mil milhões de euros no Estado Social (Saúde, Educação e Segurança Social) nem uma palavra. Será que ainda temos Presidente da República?
Numa busca pela blogosfera, à volta das notícias sobre as manifestações, tive a oportunidade de ver comentários que me deixam algo preocupado. Não pelo facto de serem em defesa do governo, mas porque a maioria dos comentadores da blogosfera terem memória curta. E esse facto, para o bem da Democracia, é extremamente perigoso.
Diz a maioria desses comentadores que no anterior governo os “esquerdelhas” que agora se manifestam não se pronunciaram. Isto é grave! Os governos de José Sócrates, quer no primeiro, com maioria, quer no segundo, em minoria, foram sempre alvo de constantes manifestações – vide a luta dos professores -; de ataques profundos, como o da Associação das Farmácias e dos Magistrados, etc.
Dizer que o anterior governo não foi alvo de contestação é branquear a memória. E isso, em Democracia, é o golpe mais rasca que se pode utilizar em política.
Pelas intenções deste governo, que demonstra não querer alterar a sua política, aliado ao silêncio do presidente da república, temo muito que possa acontecer uma catástrofe social e destas manifestações possam surgir danos físicos graves, quer para os manifestantes quer para os alvos do descontentamento.
Espero que haja o bom senso de todas as partes para que isto não aconteça. Mas os governantes deveriam ter o bom senso de analisar que estão a cozinhar em lume brando uma desgraça social, num País que já não aguenta mais.
Para cúmulo, Passos Coelho diz que não vai partir a corda esticada. Não, Passos Coelho já partiu a corda. Já não é possível causar mais danos às pessoas que não se tornem irreversíveis. A fome está a aumentar; a miséria está a surgir com mais peso. É este o caminho para onde o governo está a levar Portugal.  

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

SAÍ DA MODORRA DO FIM-DE-SEMANA



SAÍ DA MODORRA DO FIM-DE-SEMANA

Não sei porquê! Procurei, neste fim-de-semana que terminou, abster-me de tudo. Não fui para fora passar o fim-de-semana, não! A minha situação não permite gastos.
O desemprego subiu de forma descomunal. Serão cerca de um milhão e quinhentos mil os desempregados, sendo que quase um milhão está registado nos Centros de Emprego. Se a estes acrescentarmos os cerca de 200 mil que emigraram no último ano e meio, podemos ver bem a razia que a austeridade e a política de “terra queimada” ao emprego está a transformar Portugal.
Para juntar à incompetência do governo, temos o cinismo do Primeiro-ministro – eventualmente ficará para a história de Portugal como o chefe de governo mais incompetente do País, bem pior que a rainha D. Maria. Passos Coelho tem o topete, perante os números descomunais de desemprego em Portugal, provocados pela sua governação, de dizer que o desemprego não lhe tira o sono. Isto é vergonhoso! Como é possível um Primeiro-ministro dizer uma coisa destas? Isto é gozar com as centenas de milhar de desempregados que não conseguem regressar ao trabalho, fruto das políticas defendidas por Passos Coelho. Desempregados que perdem o sono por não terem trabalho, e ouvem o principal responsável a gozar com eles, dizendo que o desemprego não lhe tira o sono! É deplorável.
Dizia eu, que me encafuei em casa como se estivesse numa caverna soturna. Não li jornais e não vi televisão. Por isso fiquei a Leste de tudo o que se passou no nosso País.
Hoje regressei ao “mundo”. E logo de manhã, numa resenha noticiosa do fim-de-semana, vi num canal de televisão uma passagem sobre o acontecimento de sexta-feira na Assembleia da República, quando umas dezenas de cidadãos, nas galerias da Assembleia, começaram a cantar a “Grândola Vila Morena”, interrompendo a intervenção do Primeiro-ministro, Passos Coelho.
Nesta reportagem olhei com atenção para o comportamento de Passos Coelho. Este demonstrou um desdém para com aqueles que lhe mostravam o seu desagrado; o seu sorriso amarelo era cínico, dando a sensação que, interiormente, estava a gozar com as pessoas, parecia sentir-se feliz com o que está a fazer aos portugueses e ao País. Um horror! Mas as palavras que dirigiu no final, mostrando compreensão, em nada o ilibam do seu ar de gozo para com aqueles que se mostravam indignados.
Não gostando muito do anterior Primeiro-ministro, digo que preferia o rosto arrogante de José Sócrates – que mostraria numa situação destas -, do que este rosto cínico, querendo mostrar simpatia, de Passos Coelho, pois este demonstra que interiormente se sente satisfeito com tudo o que está a fazer ao País. Também nesta mesma reportagem já o vi, hoje de manhã, a mostrar-se preocupado com a responsabilidade social. Mas será que este governo alguma vez se preocupou com a responsabilidade social? Se assim fosse não teria pago ao FMI para fazer a parte de mau na elaboração de um relatório que o governo – Coelho, Gaspar, Pereira e Soares – quer aplicar a Portugal, criando empobrecimento e miséria, como é a intenção de cortar 4 mil milhões de euros, de forma definitiva, no Estado Social (Saúde, Educação e Segurança Social).
Agora o defensor dos lavradores e dos contribuintes é o responsável pela elaboração do documento do corte. Passos Coelho e o PSD lançaram o isco, Portas caiu que nem um “tordo” na armadilha. Ao ficar responsável pela escolha de onde cortar os 4 mil milhões, Passos Coelho, Gaspar e o PSD lavam, dessa forma, as suas mãos, imputando a Portas essa responsabilidade.
Ao oferecer este “presente envenenado” a Portas, Coelho e o PSD garantem a legislatura até ao fim, tendo tempo suficiente para destruir a coesão social em Portugal e voltar aos anos sessenta do século passado. Quanto a Portas, se sobreviver como político, certamente que o CDS terá o seu fim, pois em 2014 o PSD irá empurrar para Portas a responsabilidade na escolha dos cortes. Portas arranjará uma colocação internacional, como têm feito todos aqueles que anteriormente desgraçaram Portugal.
Também vi nestas notícias de segunda-feira as manifestações da CGTP. Penso que estas manifestações já não estão a surtir efeito. São mais do mesmo, e os trabalhadores já se sentem cansados. Ou surgem novos movimentos inorgânicos que consigam agregar à sua volta todo o descontentamento dos portugueses, ou este tipo de manifestações e greves apoiadas pela CGTP vai criar efeito contrário ao pretendido, pois irá lançar os trabalhadores contra os outros trabalhadores (caso dos transportes) e o governo vai explorando esta situação.
Assim voltei ao mundo real; ao mundo das desgraças. Já agora, seria bom que se tivesse em conta o vídeo que anda no YouTube sobre os espanhóis em manifestação a cantar “Grândola Vila Morena”.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

PEDRO, E A RETOMA



Pedro, e a retoma

Aqueles que têm mais de 50 anos certamente que se lembram do livro de leitura da 4.ª Classe. Esse livro apresentava-nos histórias e no final de alguns deles era-nos apresentado o moral da história.

Uma dessas histórias, intitulada “É perigoso mentir”, contava a história de Horácio, um rapazola de 14 anos, pastor, e costumava guardar as ovelhas e as cabras na encosta de um monte, perto da sua aldeia. Este rapazola tinha o mau hábito de mentira, não obstante a população da aldeia até o considerar que não era mau moço.
Certo dia, Horácio, querendo rir-se à custa do bom povo da aldeia e das gentes da vizinhança, começou a gritar, alto e bom som: - Aí vem lobo! Aí vem lobo!
Como era óbvio, os camponeses, sempre prontos a ajudar quem se encontrava em dificuldade, deixaram todos os seus afazeres e, armados de varapaus, começaram a aparecer de todos os lados à procura do lobo. Não tendo encontrado nada, regressaram ao trabalho. Mas o jovem Horácio pôs-se a rir às escondidas a gozar com o bom povo, que sempre se mostrou pronto a ajudar quando Horácio clamava por ajuda por estar em dificuldades. Horácio, tomou o gosto à brincadeira e lá voltou, na semana seguinte, a gritar: - Aí vem lobo! Aí vem lobo! Mais uma vez os camponeses foram em auxílio do jovem, mas desta feita foram menos os camponeses que correram a prestar ajuda ao farsola. E, mais uma vez, nada tendo visto, foram-se embora e regressaram, cabisbaixos, aos seus afazeres.
Passado algum tempo, Horácio, como era o seu costume, andava na encosta da serra a guardar as ovelhas e as cabras. Repentinamente, um lobo enorme transpõe a sebe e começa a atacar as ovelhas e as cabras, via-se que era um animal faminto.
O jovem pastor começa a gritar com todas as suas forças: - Acudam! Socorro! Lobo! Lobo! Gritava desesperadamente o rapazola.
Mas ninguém fez caso dos gritos; ninguém acudiu. As ovelhas e as cabras fogem desesperadamente em direcção à aldeia, vão espavoridas, enquanto Horácio, de pau na mão, luta bravamente com o lobo. Mas não consegue evitar que o lobo fuja e lhe leve um dos melhores cordeiros que tinha no rebanho.
Com algumas feridas no corpo e as roupas rasgadas, Horácio chega à aldeia e conta o que se passou, ao mesmo tempo que tem o desplante de censurar os camponeses por não o terem socorrido.
Mas um dos camponeses respondeu-lhe: - Mau rapaz, nós bem ouvimos os teus gritos, mas quis-nos parecer que era para mais uma vez te rires à nossa custa, por isso lembra-te que é perigoso mentir, mesmo a brincar.
Veio-me esta história à memória quando ouço o Primeiro-ministro, Passos Coelho, falar que vem aí a retoma. É que Pedro Passos Coelho já disse tantas vezes aos portugueses que vinha aí a retoma, que milhares até já abandonaram a “aldeia” e foram para outros lados; outros, que colaboraram nas primeiras vezes que Pedro pediu ajuda, já não acreditam nos gritos do Pedro, que corre o risco, agora que tem a Comissão Europeia, o BCE, o FMI e a OCDE a preparar-lhe a chegada da retoma, que quando a retoma chegar os portugueses já não ligarem aos gritos do Pedro.