Começo por referir que não
concordo que os manifestantes, no ISCTE, tivessem impedido o ministro Relvas de
falar sobre o que não sabe e não percebe, e obstassem o ministro de proferir as
alarvidades a que ele já nos acostumou. Deveriam ter deixado o senhor falar. Essa
é a minha opinião, abaixo deixarei o porquê! Relvas, não sabe nada de jornalismo.
A não ser, claro, aquele assunto da eventual pressão sobre a jornalista do
jornal Público.
Entendo que mesmo aos ignóbeis deverá ser dada a palavra,
quanto mais não seja para que quem o ouça (Relvas disse na RTP ouvisto…) lhe
mostre, efectivamente, a ignorância em que vive acerca da cultura e do
jornalismo. Dado, porventura, que de negociatas parece que o homem percebe.
Ao não o deixarem falar no ISCTE,
o ministro aproveitou, mais o seu governo e os deputados do seu partido e do
partido “muleta” que suporta o governo, para se transformarem em vítimas e a
encher a boca a falar da falta de Democracia. Não poderemos esquecer que Relvas
e os seus quejandos são especialistas na arte da vitimização. E é isso que têm
andado a fazer nos últimos dias. Erro crasso dos manifestantes, que permitiram
que estes senhores se esfalfem a reclamar por falta de Democracia.
É certo que Relvas não merece ser
respeitado, pois ele também não se dá ao respeito. Num País onde os políticos
fossem moral e eticamente escrutinados pelo povo, Miguel Relvas já teria saído
da política pela porta pequena. Relvas, ao que parece, mentiu descaradamente no
Parlamento, onde prestou declarações sob juramento, sobre o assunto da ligação
aos serviços secretos; Relvas é um político que em 2003 utilizava abusivamente
o título académico, Dr., antes do nome próprio, quando não detinha qualquer
licenciatura que lhe permitisse essa prerrogativa – confirma-se com a licenciatura
por equivalências em 2006. Por isso, e muito mais, não pode merecer o respeito
das pessoas, e, acima de tudo, não pode estar a gerir a coisa pública, pois
demonstra que a sua conduta não é a mais correcta, dado que quem mente na
Assembleia da República sob juramento, sobre o curriculum ou utiliza
abusivamente um título académico que não detém não pode merecer o respeito do
povo, muito menos daqueles que durante anos estudaram para concluir uma
licenciatura, como é o caso dos estudantes manifestantes no ISCTE.
Mas a realidade em Portugal não é
essa, e esses usurpadores de títulos académicos continuam a pavonear-se como se
nada fosse, e os eleitores continuam a votar neles.
Portanto, não venham com a treta
de que os políticos são todos iguais! Os políticos só serão aquilo que o povo
quiser que sejam. Um povo exigente com os políticos nunca voltará a votar em
quem mente; em quem promete e não cumpre; em quem seja acusado pelo tribunal de
mau comportamento no exercício da função, mas que os eleitores voltam a votar e
a eleger. Este é o verdadeiro drama da sociedade portuguesa, no que toca à
forma como olham para os políticos. Por muito que me doa pensar, julgo que os
eleitores muitas vezes votam nos políticos em que sentem que se revêem se tivessem
a mesma oportunidade. Só em pensar que isto pode ser verdade, fico em pânico.
Um povo devidamente escrutinador
dos políticos e dos seus comportamentos deveria já ter dito aos membros do
governo, ao PSD e ao CDS que não se pode encher a boca a falar de democracia
apenas quando é conveniente.
Foi triste a imagem do
Montenegro, líder dos deputados laranja na Assembleia da República, acolitado
pelos membros do seu grupo parlamentar, em autêntico delírio, de pé, em grande
histeria, a vociferar impropérios contra os manifestantes e a sua falta de
democracia, ao mesmo tempo que de dedo em riste o deputado Montenegro desafiava
a oposição a colocar-se ao lado deles e do CDS, pois estava em causa o
exercício democrático e o direito de falar em Democracia.
Figuras tristes fizeram estes
nossos representantes. Os seus caprichos tolheram-lhes o discernimento. Fizeram
um “Delete” na sua memória. Transformaram-nos em autómatos, mesmo sem vergonha,
ao clamarem pela falta de democracia quando os seus são apupados. É isto que denigre
a imagem dos políticos!
Onde estava o deputado Montenegro
e a bancada do PSD e do CDS quando estava no governo o PS, liderado por José
Sócrates? O que diziam os senhores do PSD e do CDS quando os ministros do
governo de José Sócrates eram recebidos por ruidosas manifestações, com
insultos e impedidos de falar, mesmo em recintos fechados em reuniões de índole
partidária? O que disse Miguel Relvas, em declarações à comunicação social, aos filhos de José Sócrates? Toda a gente
se esqueceu do comportamento do agora ministro quando estava na oposição? Do
que Relvas dizia sobre as manifestações que esperavam os anteriores
governantes? Relvas está a beber o mesmo veneno que deu aos outros, por isso que
aguente, como diz o Ulrich.
Era bom que estes senhores fossem
ao baú das memórias procurar as justificações que davam, principalmente o dr.
Relvas, hoje transformado em mártir (não fosse o limbo que o papado está a
viver e certamente seria transformado em santo, ainda vivo), quando os ministros
e membros do Partido Socialista eram impedidos de exercer as suas funções e de
falarem, quando eram confrontados com as manifestações organizadas. Dizia o PSD
que a responsabilidade era do governo. Calar as vozes dos ministros, naquele
tempo já não era um ataque à Democracia, era, para os partidos que hoje
governam, um exercício de cidadania e direito à indignação. Portanto, a
Democracia a funcionar?
Agora verifica-se que o PSD e o
CDS quando se encontram do outro lado da barricada já gritam: Aqui d’El Rei que
não há Democracia… Afinal, para estes senhores, só há Democracia quando lhes
convém, quando lhes toca no pêlo. Mas quando são os outros, é como o
brasileiro, pimenta no cú do outro, para mim é refresco…