Pedro, e a retoma
Aqueles que têm mais de 50 anos certamente que se lembram do livro de leitura da 4.ª Classe. Esse livro apresentava-nos histórias e no final de alguns deles era-nos apresentado o moral da história.
Uma dessas histórias, intitulada “É
perigoso mentir”, contava a história de Horácio, um rapazola de 14 anos,
pastor, e costumava guardar as ovelhas e as cabras na encosta de um monte,
perto da sua aldeia. Este rapazola tinha o mau hábito de mentira, não obstante
a população da aldeia até o considerar que não era mau moço.
Certo dia, Horácio, querendo
rir-se à custa do bom povo da aldeia e das gentes da vizinhança, começou a
gritar, alto e bom som: - Aí vem lobo! Aí vem lobo!
Como era óbvio, os camponeses,
sempre prontos a ajudar quem se encontrava em dificuldade, deixaram todos os
seus afazeres e, armados de varapaus, começaram a aparecer de todos os lados à
procura do lobo. Não tendo encontrado nada, regressaram ao trabalho. Mas o
jovem Horácio pôs-se a rir às escondidas a gozar com o bom povo, que sempre se
mostrou pronto a ajudar quando Horácio clamava por ajuda por estar em
dificuldades. Horácio, tomou o gosto à brincadeira e lá voltou, na semana
seguinte, a gritar: - Aí vem lobo! Aí vem lobo! Mais uma vez os camponeses
foram em auxílio do jovem, mas desta feita foram menos os camponeses que
correram a prestar ajuda ao farsola. E, mais uma vez, nada tendo visto,
foram-se embora e regressaram, cabisbaixos, aos seus afazeres.
Passado algum tempo, Horácio,
como era o seu costume, andava na encosta da serra a guardar as ovelhas e as
cabras. Repentinamente, um lobo enorme transpõe a sebe e começa a atacar as
ovelhas e as cabras, via-se que era um animal faminto.
O jovem pastor começa a gritar
com todas as suas forças: - Acudam! Socorro! Lobo! Lobo! Gritava desesperadamente
o rapazola.
Mas ninguém fez caso dos gritos;
ninguém acudiu. As ovelhas e as cabras fogem desesperadamente em direcção à
aldeia, vão espavoridas, enquanto Horácio, de pau na mão, luta bravamente com o
lobo. Mas não consegue evitar que o lobo fuja e lhe leve um dos melhores
cordeiros que tinha no rebanho.
Com algumas feridas no corpo e as
roupas rasgadas, Horácio chega à aldeia e conta o que se passou, ao mesmo tempo
que tem o desplante de censurar os camponeses por não o terem socorrido.
Mas um dos camponeses
respondeu-lhe: - Mau rapaz, nós bem ouvimos os teus gritos, mas quis-nos
parecer que era para mais uma vez te rires à nossa custa, por isso lembra-te
que é perigoso mentir, mesmo a brincar.
Veio-me esta história à memória
quando ouço o Primeiro-ministro, Passos Coelho, falar que vem aí a retoma. É
que Pedro Passos Coelho já disse tantas vezes aos portugueses que vinha aí a
retoma, que milhares até já abandonaram a “aldeia” e foram para outros lados;
outros, que colaboraram nas primeiras vezes que Pedro pediu ajuda, já não
acreditam nos gritos do Pedro, que corre o risco, agora que tem a Comissão
Europeia, o BCE, o FMI e a OCDE a preparar-lhe a chegada da retoma, que quando
a retoma chegar os portugueses já não ligarem aos gritos do Pedro.
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