Os acontecimentos dos últimos
dias levam-nos a perguntar: para onde vais Portugal?
Primeiro foi na Assembleia da
República! Portugueses, nas galerias da Assembleia, onde se encontram os
representantes da população, que foram eleitos para defender os interesses da
população e não de corporações, interromperam a intervenção do
Primeiro-ministro com o cântico de “Grândola, Vila Morena”. Passos Coelho reagiu
com um sorriso amarelo e cínico.
Ontem, 18, foi a vez de Miguel
Relvas, em Gaia, no Clube dos Pensadores, ser interrompido, quando palestrava,
por manifestantes que também cantavam “Grândola, Vila Morena” e gritavam
palavras de ordem.
Hoje, 19, no ISCTE, Miguel Relvas
foi apupado e teve de sair pelas portas traseiras, fruto da manifestação de
jovens que mostravam o seu descontentamento.
Estes acontecimentos estão a ser
recorrentes. Seria bom que os governantes reflectissem sobre o que se está a
passar e sobre o descontentamento das pessoas.
Só quem não vive no País real é
que não está ao corrente do pensamento das pessoas e da panela de pressão que
está em lume brando, mas até um dia. Nos fóruns radiofónicos e da televisão a
maioria dos intervenientes mostram-se descontentes com o rumo que está a ser
dado ao País. E não é, para menos!
1 - Passos Coelho na Assembleia
da República mostra um sorriso cínico quando confrontado com a manifestação;
Relvas, também com cara de gozo e enorme “cara de pau”, canta, desafinado, “Grândola,
Vila Morena”. Mas não era só desafinação, via-se que não conhece a letra do
refrão…
2 – Confrontado com os números do
desemprego, Passos Coelho tem o topete de dizer que este número colossal que tem
um pequeno desvio nas previsões do governo… mas avisa: vai ser pior.
3 – Relvas, em Gaia, avisa que,
por muitas manifestações que se façam, este governo só sairá em 2015, se for
esse o entendimento dos portugueses. Até lá, digo eu, estes governantes vão
concluir a sua missão ideológica que pretendem implantar em Portugal: desmantelamento
do Estado Social; falências em série; desemprego descomunal e os trabalhadores
entregues ao esclavagismo e obrigados a trabalhar pelo preço de uma malga de
arroz.
4 – Esta gente não é
incompetente. Eles pretendem mesmo fazer o que estão a fazer. Passos Coelho diz
que só vão resistir as empresas com capacidade, portanto esta política é mesmo
para fazer a selecção das “espécies”.
5 – Para desgraça maior dos
Portugueses, o Presidente da República, Cavaco Silva, refugia-se no Palácio de
Belém, atribuiu umas condecorações, e quanto aos números do desemprego, à
intenção dos cortes definitivos de 4 mil milhões de euros no Estado Social
(Saúde, Educação e Segurança Social) nem uma palavra. Será que ainda temos
Presidente da República?
Numa busca pela blogosfera, à
volta das notícias sobre as manifestações, tive a oportunidade de ver
comentários que me deixam algo preocupado. Não pelo facto de serem em defesa do
governo, mas porque a maioria dos comentadores da blogosfera terem memória
curta. E esse facto, para o bem da Democracia, é extremamente perigoso.
Diz a maioria desses comentadores
que no anterior governo os “esquerdelhas” que agora se manifestam não se
pronunciaram. Isto é grave! Os governos de José Sócrates, quer no primeiro, com
maioria, quer no segundo, em minoria, foram sempre alvo de constantes
manifestações – vide a luta dos professores -; de ataques profundos, como o da
Associação das Farmácias e dos Magistrados, etc.
Dizer que o anterior governo não
foi alvo de contestação é branquear a memória. E isso, em Democracia, é o golpe
mais rasca que se pode utilizar em política.
Pelas intenções deste governo,
que demonstra não querer alterar a sua política, aliado ao silêncio do
presidente da república, temo muito que possa acontecer uma catástrofe social e
destas manifestações possam surgir danos físicos graves, quer para os
manifestantes quer para os alvos do descontentamento.
Espero que haja o bom senso de
todas as partes para que isto não aconteça. Mas os governantes deveriam ter o
bom senso de analisar que estão a cozinhar em lume brando uma desgraça social,
num País que já não aguenta mais.
Para cúmulo, Passos Coelho diz
que não vai partir a corda esticada. Não, Passos Coelho já partiu a corda. Já
não é possível causar mais danos às pessoas que não se tornem irreversíveis. A
fome está a aumentar; a miséria está a surgir com mais peso. É este o caminho
para onde o governo está a levar Portugal.
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