terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

QUO VADIS, PORTUGAL



Os acontecimentos dos últimos dias levam-nos a perguntar: para onde vais Portugal?
Primeiro foi na Assembleia da República! Portugueses, nas galerias da Assembleia, onde se encontram os representantes da população, que foram eleitos para defender os interesses da população e não de corporações, interromperam a intervenção do Primeiro-ministro com o cântico de “Grândola, Vila Morena”. Passos Coelho reagiu com um sorriso amarelo e cínico.
Ontem, 18, foi a vez de Miguel Relvas, em Gaia, no Clube dos Pensadores, ser interrompido, quando palestrava, por manifestantes que também cantavam “Grândola, Vila Morena” e gritavam palavras de ordem.
Hoje, 19, no ISCTE, Miguel Relvas foi apupado e teve de sair pelas portas traseiras, fruto da manifestação de jovens que mostravam o seu descontentamento.
Estes acontecimentos estão a ser recorrentes. Seria bom que os governantes reflectissem sobre o que se está a passar e sobre o descontentamento das pessoas.
Só quem não vive no País real é que não está ao corrente do pensamento das pessoas e da panela de pressão que está em lume brando, mas até um dia. Nos fóruns radiofónicos e da televisão a maioria dos intervenientes mostram-se descontentes com o rumo que está a ser dado ao País. E não é, para menos!
1 - Passos Coelho na Assembleia da República mostra um sorriso cínico quando confrontado com a manifestação; Relvas, também com cara de gozo e enorme “cara de pau”, canta, desafinado, “Grândola, Vila Morena”. Mas não era só desafinação, via-se que não conhece a letra do refrão…  
2 – Confrontado com os números do desemprego, Passos Coelho tem o topete de dizer que este número colossal que tem um pequeno desvio nas previsões do governo… mas avisa: vai ser pior.
3 – Relvas, em Gaia, avisa que, por muitas manifestações que se façam, este governo só sairá em 2015, se for esse o entendimento dos portugueses. Até lá, digo eu, estes governantes vão concluir a sua missão ideológica que pretendem implantar em Portugal: desmantelamento do Estado Social; falências em série; desemprego descomunal e os trabalhadores entregues ao esclavagismo e obrigados a trabalhar pelo preço de uma malga de arroz.
4 – Esta gente não é incompetente. Eles pretendem mesmo fazer o que estão a fazer. Passos Coelho diz que só vão resistir as empresas com capacidade, portanto esta política é mesmo para fazer a selecção das “espécies”.
5 – Para desgraça maior dos Portugueses, o Presidente da República, Cavaco Silva, refugia-se no Palácio de Belém, atribuiu umas condecorações, e quanto aos números do desemprego, à intenção dos cortes definitivos de 4 mil milhões de euros no Estado Social (Saúde, Educação e Segurança Social) nem uma palavra. Será que ainda temos Presidente da República?
Numa busca pela blogosfera, à volta das notícias sobre as manifestações, tive a oportunidade de ver comentários que me deixam algo preocupado. Não pelo facto de serem em defesa do governo, mas porque a maioria dos comentadores da blogosfera terem memória curta. E esse facto, para o bem da Democracia, é extremamente perigoso.
Diz a maioria desses comentadores que no anterior governo os “esquerdelhas” que agora se manifestam não se pronunciaram. Isto é grave! Os governos de José Sócrates, quer no primeiro, com maioria, quer no segundo, em minoria, foram sempre alvo de constantes manifestações – vide a luta dos professores -; de ataques profundos, como o da Associação das Farmácias e dos Magistrados, etc.
Dizer que o anterior governo não foi alvo de contestação é branquear a memória. E isso, em Democracia, é o golpe mais rasca que se pode utilizar em política.
Pelas intenções deste governo, que demonstra não querer alterar a sua política, aliado ao silêncio do presidente da república, temo muito que possa acontecer uma catástrofe social e destas manifestações possam surgir danos físicos graves, quer para os manifestantes quer para os alvos do descontentamento.
Espero que haja o bom senso de todas as partes para que isto não aconteça. Mas os governantes deveriam ter o bom senso de analisar que estão a cozinhar em lume brando uma desgraça social, num País que já não aguenta mais.
Para cúmulo, Passos Coelho diz que não vai partir a corda esticada. Não, Passos Coelho já partiu a corda. Já não é possível causar mais danos às pessoas que não se tornem irreversíveis. A fome está a aumentar; a miséria está a surgir com mais peso. É este o caminho para onde o governo está a levar Portugal.  

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