sexta-feira, 24 de maio de 2013

SEM FUTURO COM ESTE PRESENTE



Pode parecer paradoxal esta semântica, mas não restam dúvidas de que na Europa e em Portugal, particularmente, não vislumbramos futuro, pois o presente, com todas as decisões políticas que nos são impostas à bruta e sem contemplações, coarctam a possibilidade de cada um de nós perspectivarmos um futuro.
Tudo começou com uma crise financeira, em 2007/2008, mas depressa, por incúria e incompetência (ou não) dos poderes políticos, a crise financeira transformou-se numa crise económica, pois assim tinha de ser, dada a necessidade de salvar a Banca. Depois da crise económica surgiu a crise social, fruto do desemprego, do enorme aumento de impostos, pois convinha preservar incólume e recuperar os interesses da banca e dos especuladores financeiros. Hoje o presente é vivido de incertezas, sem futuro, pois o desemprego, a fome e a miséria de 99% da população já começa a sobressair, tornando turva a ideia de um futuro que com este presente certamente não haverá.
O continente europeu, com especial incidência no século XX, viveu duas grandes guerras mundiais que destroçaram o continente e destruíram muitos países intervenientes na luta bélica e fratricida que provocou milhões de mortos. Também na Europa ocorreram guerras belicistas fruto de intervenções nacionalistas e devido a invasões de outros.
No entanto, não obstante toda a miséria, fome, destruição e morte causados por estas guerras que manifestamente mancham de sangue o século onde se assistiu a um dos maiores avanços e descobertas ao nível da tecnologia - o homem foi à Lua; descobriram-se tecnologias de apoio à produção que trouxeram mais capacidade de produção e nível de bem-estar para os povos europeus; fizeram-se descobertas científicas que muito ajudaram ao nível da medicina a salvar milhões de vidas -, o certo é que os sobreviventes das guerras, apesar da fome, das privações e provações que tiveram de viver, tiveram o “privilégio” de lhes ver ser oferecido um FUTURO.
Foi este olhar e acreditar num futuro que ajudaram à sobrevivência dos meus avós e dos meus pais, como certamente o de outros milhares de avós e de pais, num presente de privações, de destruição de fome e de miséria que lhes afectou a vida naquele presente.
O presente que hoje nos oferecem não é fruto de uma guerra bélica; não se traduz numa destruição física dos edifícios e das infra-estruturas frutos das bombas disparadas pelos canhões ou lançadas pelos aviões. Não! Não é este o presente que nos oferecem. O presente que nos é oferecido pelos responsáveis e decisores políticos, que nos seus luxuosos gabinetes ou nas salas dos luxuosos hotéis nos traçam e aplicam, é bem mais letal que as armas bélicas que disparavam, pois sofremos um presente assoberbado pelos disparos silenciosos das armas financeiras que, com uma brilhante pontaria, nos atingem a alma, nos levam à dor moral, ao sofrimento interior, aquele que não se vê fisicamente mas que dói mais que uma ferida aberta, é o presente vivido com as doenças psicológicas, as depressões que afectam milhões, pois a incerteza do presente retira toda a projecção do futuro.
É muito doloroso viver um presente de desemprego, de medo em perder o emprego, de se deitar à noite e acordar de manhã sem saber se continua a ter trabalho, de ser alvo de acusações fúteis por parte do poder político acusando-os de serem responsáveis pela crise económica, acusados de viver acima das suas possibilidades quando não deve nada a ninguém, ficou sem emprego por um despedimento colectivo, nunca foi passar férias fora de casa, nunca fez um crédito.
Esta é uma dolorosa sensação de viver um presente que não vislumbra um futuro. Um presente onde é incutido o medo. Um presente onde lhe são surripiados os parcos rendimentos que usufrui, mesmo do subsídio de desemprego, depois de quase 30 anos a trabalhar. Onde é retirado parte da reforma. Um presente que obriga quem recebe mais de 200,00€ de reforma a ter de apresentar declaração de IRS. E muito outro medo é imposto a quem vive.
Os desempregados na Europa são mais de 25 milhões. Os desempregados em Portugal são perto de um milhão e quinhentos mil, com um elevado desemprego jovem, e decidem os políticos, crápulas e cínicos, que a idade da reforma deve aumentar. Decide-se que o trabalho é um custo e deve ser desvalorizado. Aumenta-se o horário de trabalho sem ter a devida compensação salarial.  
É este presente oferecido aos portugueses e europeus que transporta nas garras dos especuladores todo um presente de medo que transforma o futuro numa miragem e obriga a viver o presente com o pensamento no passado e não no futuro.

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