quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A DERIVA POPULISTA QUE NOS ATINGE



Em primeiro lugar quero deixar claro que não sou nem nunca fui deputado nem nunca tive ou tenho qualquer cargo político remunerado. Nunca recebi o que quer que seja da política. Sou um simples militante e dirigente concelhio. Em segundo lugar quero dizer que tenho uma relação de afectividade com António José Seguro e que nunca falei com António Costa.
Feito este registo de interesses, importa, então, seguir um trilho de pensamento estribado naquilo que vamos assistindo no PS ao longo destes penosos quatro meses e olhar sobre o que deveria ser esta discussão.
Tinha e tenho estima pessoal por António José Seguro. Mas esta relação de alguma afectividade não poderá/deverá toldar a minha opinião/visão política sobre o que se está a passar no PS. Por isso, o que pretendo mesmo é analisar o campo da política.
Se até aqui ia assistindo e tirando as minhas ilações nesta dolorosa e angustiante campanha interna do PS sem muita preocupação, hoje, perante as últimas propostas de António José Seguro – não sei se na qualidade de Deputado, Secretário-Geral ou candidato a candidato a primeiro-ministro – já sinto alguma preocupação pela deriva populista que delas se pode extrair. E o pior que poderá acontecer a um partido político é o seu líder entrar pela via populista e demagógica. É a certidão de óbito do partido!
Quem ouvir as últimas propostas de Seguro e se não o conhecer até pensa que estamos perante uma pessoa que apenas chegou agora à política. Só que António Seguro e António Costa andam na política e no PS há mais de 35 anos. Como dizia a falecida minha avó, que Deus a tenha, já fazem parte da mobília!
O coelho tirado da cartola por parte de Seguro ao anunciar que vai propor pela via legislativa a redução do número de deputados na Assembleia da República, que deseja restringir a passagem da política para as empresas/negócios, que quer que os políticos informem todos os seus rendimentos, que pretende propor a alteração da Lei eleitoral, etc., são medidas que eu apoio incondicionalmente. Mas há um grande senão no tempo em que são apresentadas e que a mim me preocupa e não posso aceitar. É que propostas apresentadas nesta altura não passam de meros actos eleitoralistas e atingem as raias do populismo.
Seguro iniciou uma purga sobre os políticos, como se não fizesse parte desta casta há mais de 35 anos. O candidato Seguro não pode alegar que ele comporta a parte limpa da política e que a outra parte é o lado negro da política ligada aos negócios, sem especificar e dizer com clareza onde e como a outra parte é o lado maléfico da política. Seguro foi líder da JS e deputado europeu, foi e é deputado do parlamento português, foi ministro e secretário de estado, e é o actual Secretário-geral do PS, cargo que foi preparando com mestria há muitos anos, mas principalmente a partir de 2005. Todos nos devemos lembrar que no Altis o cadáver político de Sócrates ainda estava quente e Seguro anunciava a sua candidatura a Secretário-geral. Digo e assumo que teve o meu apoio na sua eleição, mesmo eu não tendo concordado com a fórmula do anúncio, tal qual não concordo com a forma utilizada por Costa para anunciar que ia desafiar Seguro. Enquanto os governos Socialistas liderados por Sócrates iam governando, tomando decisões boas e más, Seguro foi seguindo o seu caminho numa oposição silenciosa. Seguro em seis anos de governo Socialista apresentou uma proposta de alteração ao funcionamento da Assembleia da República, que foi aprovada, e nada mais fez na Assembleia, a não ser aplaudir o discurso de Cavaco Silva que causticou o governo Socialista. Nunca se quis comprometer com os governos de então. Tal qual o fez após a saída do PS do governo e a sua ascensão a secretário-geral.
Por razões tacticistas (?) a direcção do PS permitiu que o governo e a maioria lançassem os maiores anátemas sobre os governos de José Sócrates. Nunca levantou a voz para defender os governos Socialistas, quer seja no que de mau fizeram quer no que muito de bom construíram. O PS nos últimos 3 anos ofereceu um terreno fértil à maioria que nos governa para destroçar o Partido Socialista. Um Socialista que se preza nunca poderia deixar passar em claro o gasto discurso de que os Socialistas deixaram o país na bancarrota e foram eles que salvaram o País, quando este governo transformou a dívida herdade em 97% do PIB para os actuais 134% do PIB. Um Socialista nunca poderia deixar passar em claro ou abster-se, mesmo que com violência, um Orçamento do Estado como o de 2012. Um Socialista nunca poderia aprovar um tratado orçamental que é o mesmo que colocar um garrote asfixiador a um país a definhar. Um Socialista não poderia permitir que fosse aprovado um código laboral maléfico para os trabalhadores – aqui com a conivência da UGT. Um Socialista nunca poderia aprovar a descida da taxa do IRC para as empresas sem que ao mesmo tempo os trabalhadores também vissem reduzida a taxa de IRS do seu trabalho.
Depois de 3 anos de Secretário-geral do PS porquê só agora Seguro surgir com estas propostas? Teria o meu apoio para estas propostas de redução do número de deputados, alteração às leis eleitorais para a Assembleia da República e Autarquias, bem como a obrigatoriedade do período de nojo após a saída da política, como a obrigatoriedade da exclusividade dos deputados, com estes a ser obrigados a divulgar publicamente o seu registo de interesses. Agora, neste momento e neste período eleitoralista, não o posso fazer.
Vivemos numa sociedade que está a abominar os políticos e os partidos políticos. Temos uma sociedade que entende que na política vale tudo e que os políticos são todos uns corruptos. Por isso é que surgindo uns populistas e demagogos, como o está a fazer Marinho e Pinto, as pessoas esquecem a ética republicana e em vez de se comportarem como cidadãos exigentes com os políticos, comportam-se como súbditos dos populistas. É isto que me parece que Seguro quer explorar. As propostas que Seguro agora enuncia deveriam ter sido apresentadas logo que tomou posse como Secretário-geral do PS, e como deputado deveria tê-las levado à Assembleia da República. Não o fez! Fá-lo agora porque está acossado na liderança e pretende agarrar-se a algo que o salve. Daí esta perigosa via populista e demagógica. Eu não quero isto para o PS.
Já relativamente a António Costa, tenho a dizer que me está a surpreender pela negativa. E essa surpresa advém do facto de estar a utilizar um tacticismo pernicioso. Ao não pretender responder aos ataques de carácter que lhe dirigem, Costa está a colocar-se da mesma forma que o seu opositor: na área da vitimização.  
Para ganhar estas eleições primárias, Costa terá de apresentar propostas concretas. Dizer com clareza o que quer fazer se chegar ao governo. O que vai fazer junto das instituições europeias sobre o tratado orçamental.
Estas eleições primárias no PS são uma novidade no País. É pena que os candidatos não aproveitem a oportunidade para discutir com seriedade o futuro do País e, principalmente, iniciar com coragem uma discussão sobre o futuro ideológico do PS.
Mais uma vez temos uma oportunidade perdida, pois o populismo e a demagogia estão a impedir uma discussão séria e produtiva sobre o que poderíamos esperar do Partido Socialista quando chegasse ao governo, fosse quem fosse o vencedor das primárias.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O PS CONTINUA NA AUTOFAGIA



Terminadas as eleições internas para eleger os Presidentes das Federações, assim como os delegados ao congresso, muitos membros com grandes responsabilidades no Partido Socialista continuam a debitar um discurso falacioso e recheado de demagogia.
É repugnante que agora a narrativa se debruce sobre qual dos dois candidatos às primárias de 28 de Setembro teve mais votos e mais apoios. É confrangedor que apoiantes de ambos os candidatos, com grandes responsabilidades no PS – o que lhes exigia mais rigor e mais respeito pela inteligência dos militantes e simpatizantes Socialistas -, continuam a expelir uma verborreia que apenas demonstra à saciedade que estamos perante gente que não merece o mínimo de respeito pessoal e institucional, tendo em conta o lugar que ocupam na organização, tal a desonestidade intelectual do seu discurso. Já muita confusão foi lançada para o ar e muita porcaria foi expelida de bocas de gente que não tem o mínimo respeito pelo Partido Socialista, nem se coíbem de evitar a sua própria exposição ao ridículo. Apenas parece se quererem agarrar aos lugares como lapas, ou estar à espera de lugares.
Já foi burlesco a falácia lançada para criar confusão ao pretenderem colar as eleições dos presidentes de Federação às eleições Primárias de 28 de Setembro. As eleições para os presidentes das Federações e os delegados ao Congresso federativo são independentes e não deveriam ser misturadas com os candidatos às primárias. Mas, infelizmente, muitos assim não entenderam e lançaram o labéu sobre os candidatos a presidentes de Federação fazendo crer que aqui se jogava o resultado das primárias. Este discurso ilusório apenas procurava criar confusão nos militantes do PS. Insistir na narrativa de que nestas eleições estava em jogo a contagem de “espingardas” e apoios para cada um dos candidatos às primárias é a aberração discursiva na sua verdadeira acepção.
Se já era aberração o discurso antes do acto eleitoral federativo, mais aviltante é continuarem os discursos dos apoiantes – repito - com grandes responsabilidades dentro do Partido Socialista, não são uns meros militantes, de ambos os candidatos, com uma maioria a pender para o actual Secretário-Geral, a insistirem na tónica de que se António Costa conquistou mais presidências da Federação, já António José Seguro arrebatou um maior número de votos.
Esta argumentação retórica mais parece o último espasmo de um moribundo. Com esta narrativa sem fundamento apenas estão a destruir ainda mais o Partido Socialista aos olhos dos cidadãos. Urge que alguém mande calar estas brilhantes criaturas que se olham ao espelho a admirar a sua beleza intelectual. Haja respeito pela inteligência dos militantes!
É uma mentira descarada o pretender ligar o número de votos ao candidato António José Seguro. Senão vejamos e procuremos pensar sem palas para que tudo seja transparente. A comunicação social, com a preciosa ajuda dos inteligentes que se consideram a nata do PS, decidiu criar e alimentar a relação das eleições para os presidentes de Federação com os candidatos às primárias. E este pobre e aberrante discurso foi sendo repetido até à náusea. E que alguns continuam a debitar, mesmo passado o acto eleitoral.
Houve Federações onde surgiram duas listas – que mostraram o seu apoio pessoal a cada um dos candidatos às primárias -; outras onde surgiram dois candidatos que apoiavam o mesmo candidato; e outras onde foi lista única e divididos no apoio aos candidatos às primárias. Em algumas federações, mormente no Porto, a maior do país, houve um acordo entre os apoiantes dos dois candidatos às primárias que se constituíram em lista única para a Federação.
Portanto, vejamos onde está a falácia dos discursos dos que reclamam vitória ao contabilizarem a totalidade dos votos somados nas federações em cada um (ou no único) candidato afecto a Seguro ou Costa. É este exercício que desvirtua toda a realidade e provoca náusea no militante que sente estarem a fazer dele um autómato.
Para provar a falsidade deste discurso, basta atentarmos no resultado da maior federação do País, a do Porto. Como acima dissemos, apenas se candidatou à presidência da Federação José Luís Carneiro, confesso apoiante de António José Seguro. Só que esta candidatura teve o apoio de muitos militantes que já demonstraram o seu apoio a António Costa e que deram a cara no apoio a Carneiro no Porto. Agora será legítimo contabilizar a totalidade dos votos obtidos por Carneiro na Federação do Porto como sendo na sua totalidade votos a contabilizar nas contas de António José Seguro? É óbvio que este exercício não poderá ser levado em linha de conta, pois muitos dos que votaram em Carneiro não vão votar Seguro no próximo dia 28.
Por fim, e para exemplificar a narrativa falsa de quem pretendeu misturar as eleições federativas como o plesbicito das primárias, apenas posso afirmar que na minha secção temos militantes que apoiaram e votaram no candidato à federação afecto publicamente a António Costa, mas que no dia 28 vão votar António José Seguro. É este exemplo de pluralidade e de liberdade que deve persistir no PS. Mas com a diarreia discursiva de muitos, apenas lamento que se continue a apostar na autofagia do Partido Socialista.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

ESTRANHO CONCEITO DE ACÇÃO SOCIAL



Malaquias, um empresário de sucesso, e a sua esposa, Quinhas, arquitecta que trabalha directamente com um dos mais famosos gabinetes de arquitectura do mundo, estavam em férias nas paradisíacas e quentes praias das Caraíbas, acompanhados pelo seu filho Barnabé, de 8 anos, mais a babá que acompanhou o casal para cuidar do pequeno Barnabé, quando o conhecido empresário tem conhecimento, via internet, ao ler as notícias através do seu Tablet de última geração, de que a Câmara da sua terra aprovou por unanimidade a atribuição de livros grátis a todos os alunos do 1.º Ciclo do seu concelho. O marido comentou de imediato esta notícia com a esposa. Quinhas, logo elucidou que já tinha encomendado na papelaria os livros escolares para o Barnabé, aluno que ia frequentar o 3.º ano.
O Casal Malaquias é muito conhecido na urbe e não se coíbe de mostrar os seus carros de alta cilindrada, topo de gama de uma marca alemã, que cada um dos membros conduz. Também é conhecido que o casal reside numa sumptuosa moradia de sua propriedade e que para além da babá contratada para tomar conta do Barnabézinho o casal também tem uma empregada doméstica interna, que cozinha e zela por todo o arranjo e asseio da casa e é a responsável por todas as compras para a alimentação da família. Contratado também está um jardineiro que lhes trata do imponente jardim e cuida da grande piscina.  
Terminadas as férias e regressados à urbe, a Quinhas foi à papelaria levantar os livros escolares que tinha encomendado para o Barnabé. Procedeu ao respectivo pagamento e solicitou um recibo. Prontamente e amavelmente concedido pelo dono da dita papelaria. Munida do recibo, a arquitecta deslocou-se à Câmara Municipal a fim de solicitar o respectivo reembolso dos valores pagos na aquisição dos livros.
No atendimento, a Quinhas foi efusivamente saudada pelas funcionárias, dado ser pessoa conhecida, e lá começou por dizer ao que vinha. Entretanto, chega a Marcolina, acompanhada do seu filho, também de 8 anos, registado e baptizado com o nome de Marcolino – uma homenagem à mãe.
Eram três as funcionárias que se encontravam no atendimento. Não havia mais ninguém para ser atendido, para além da Quinhas e da Marcolina. A Quinhas sentou-se na cadeira em frente à funcionária que a atendia e logo as outras duas funcionárias deixaram o seu posto e juntaram-se à colega no mesmo ponto para ouvirem as últimas contadas pela Quinhas. Resta acrescentar que a Marcolina mais o seu filho começaram por ser completamente ignorados!
Então a conhecida arquitecta informa que vem receber o reembolso do pagamento dos livros escolares do seu filho, Barnabé, que por sinal estava acompanhado pela babá a receber aulas particulares de inglês. Muito simpática a funcionária recolhe o recibo entregue pela Quinhas. Enquanto isso, esta lá vai contando que tinha acabado de chegar de férias das Caraíbas. Uma maravilha amigas, uma beleza. Dizia alto e bom som, pois a Quinhas gostava de falar alto para que todos ouvissem. Sentada numa cadeira está a Marcolina, muito calada. Ao seu lado, sentado noutra cadeira, lá estava quieto e hirto o Marcolino.
A Quinhas lá ia dizendo para as funcionárias, todas submissas e de boca aberta:
- Esta mala e estes sapatos Chanel, bem como este vestido da Massimo Dutti, comprei-os nas lojas em Londres, num fim-de-semana em que fui lá com o Malaquias.
E a Marcolina lá estava, sentada, calada e quieta. Vestia uma saia preta, uma blusa às flores e um casaco de malha que tinha ido buscar, assim como os chinelos já rompidos que tinha nos pés, à loja social da Cruz Vermelha da terra. Aliás, as sobras, depois de alguém ter retirado a melhor roupa e o melhor calçado na primeira escolha antes da exposição ao público. O pequeno Marcolino calçava uns ténis já gastos e a romper, bem como vestia umas calças já roçadas e uma camisola de malha deformada que a Marcolina lhe tinha trazido também da loja social.
A arquitecta Quinhas lá recebeu a guia para ir à tesouraria receber a verba respeitante ao pagamento dos livros do Barnabé. Ao fim de quase uma hora, Quinhas levantou-se da cadeira e as funcionárias lá regressaram ao seu posto de trabalho. Ao mesmo tempo a funcionária que atendeu a Quinhas levantou-se do lugar e saiu do seu posto de trabalho. Quem sabe não terá tido uma vontade enorme e inesperada de despejar a bexiga ou algo mais.
Já sentadas nas suas cadeiras, as funcionárias parece ignorarem a presença da Marcolina, viúva, com uma reforma de 100,00 € por morte do seu António, trabalhadora à jorna nas limpezas e na agricultura, quando havia, que lá continuava na sua humildade e simplicidade a aguardar a sua vez para o atendimento.
Ao fim de algum tempo, uma das almas caridosas, já que a outra nunca mais voltava, resolveu chamar a senha da Marcolina. Marcolina lá se dirigiu para o guiché de atendimento e puxou pelo recibo da compra dos livros escolares para o Marcolino, dizendo que vinha ver se era verdade o que a vizinha, a D. Glorinha, lhe tinha dito que a Câmara agora pagava os livros da escola para o seu filho, dizendo:
- Sabe menina, eu sou viúva e vivo da pequena reforminha do meu António, que Deus o tenha, e sobrevivo à custa do meu trabalho de jornaleira nas limpezas e no campo, quando há. Por isso peço o favor à Câmara para me reembolsar o valor que eu paguei pelos livros para o meu filhinho, eu fico muito agradecida ao senhor presidente.
A funcionária foi tratando da emissão da guia enquanto a Marcolina desfiava o seu rosário de contas da sua vida. Logo que terminou a sua tarefa, a funcionário entregou a guia de pagamento à Marcolina e informou-a que se deveria dirigir à tesouraria para receber a respectiva verba.
Perante este quadro, qual o conceito de acção social que está implícito na decisão da autarquia? Será que deverá ser considerada acção social o tratamento igual de quem tem poder de compra completamente diferente e oposto? Será qua a família Malaquias merece que lhe sejam pagos os livros do filho da mesma forma que são pagos os livros do filho da Marcolina? É claro que não!
A Acção Social não pode ser tratada de forma demagógica e populista! Há quem precise da ajuda pública e quem não precise. Antes o abono de família era pago a todas as famílias por igual independentemente do seu rendimento financeiro. Hoje, e muito bem, essa prestação social foi dividida por escalões e aqueles que maiores rendimentos têm não recebem. O que está correcto.
Agora, que conceito tem uma Câmara Municipal sobre Acção Social que paga livros escolares a uma família com rendimentos elevados da mesma forma que os paga a uma família que vive abaixo do limiar da pobreza? Pura demagogia! É vergonhoso.
O Socialismo Democrático e a Social-Democracia baseiam-se na redistribuição da riqueza, por isso é que aqueles que menos têm devem ser mais ajudados. Essa é a realidade que defendo, a equidade.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

UM PARADOXO CHAMADO PORTUGAL



Portugal poderá ser considerado um caso de estudo tal a proliferação de paradoxos em que o nosso País foi envolvido devido às vesgas visões, à incompetência legislativa e ao despudor com que se usa a demagogia e o populismo na decisão política.
A responsabilidade maior na transformação de Portugal num paradoxo incompreensível tem o seu maior naco na maioria do governo, mas não deixando de parte o Presidente da República.
Seria oportuno estudar o que é feito por trás da cortina, pois não se compreende que o discurso político do governo e do Presidente da República não tenha reflexo prático, antes pelo contrário, tudo é feito ao arrepio do discurso político.
O governo e o Presidente da República anunciam aos setes ventos a necessidade dos portugueses regressarem à agricultura! Apregoam os benefícios para o país de um regresso ao lavrar as terras, a promover as sementeiras e, acima de tudo, a produzir bens hortícolas que possam diminuir as importações. Este seria um discurso sério por parte do governo. Mas não o poderemos aceitar, pois o governo tudo faz para que as populações fujam da agricultura e, essencialmente, do interior. Isto tudo com o alto patrocínio, pelo seu silêncio, do Presidente da República.
Mas vamos por partes deste paradoxo que envolve, numa teia de interesses obscuros, oportunistas e pouco claros, Portugal.
Como todos sabemos a agricultura só poderá ser impulsionada no interior, tendo em conta que a voracidade dos patos bravos pelo imobiliário nos últimos anos destruiu no litoral terrenos agrícolas férteis para aí construírem prédios para habitação, férias, fim-de-semana, etc. Pela avidez de lucros fáceis – sempre com o patrocínio dos vários governos desde 1985, que licenciou as construções sem qualquer planeamento consciente – a maioria dos terrenos férteis para uso agrícola no litoral foi delapidado pelo betão.
Dessa forma só restaria o aproveitamento dos terrenos agrícolas do interior e aí promover o incentivo do regresso ao amanho das terras e à produção agrícola, não só para a subsistência mas, essencialmente, para a comercialização.
No entanto, a decisão política contraria todo o discurso que o governo e o Presidente da República debitam sobre a necessidade do regresso à agricultura. Sendo o interior a única parte de Portugal onde se poderá apostar seriamente na agricultura, não se compreende a postura do governo em fechar tudo no interior. Quando há necessidade de fixar pessoas no interior para revitalizar a agricultura, o governo resolve fechar os correios, encerrar escolas, desmantelar os Centros de Saúde, acabar com as Repartições de Finanças, acabar com as Juntas de Freguesia e, para cúmulo final, encerrar os tribunais.
Alguém é capaz de explicar que motivações têm os Portugueses de se manterem, ou ir, no interior quando tudo é retirado? Qualquer localidade onde lhe sejam retirados serviços é potenciar a desertificação.
Assim, este governo, em nome de uma austeridade sem freio, destrói tudo o que é Serviços Públicos. Desaba com os sonhos e as ambições das pessoas, que assim preferem abandonar as suas terras e procurar abrigo no superlotado litoral ou na emigração.
O governo vesgo para com o interesse público e à deriva tem apenas como objectivo final cortar, desmantelar, embaratecer e destruir, para depois vender ao desbarato a privados o que é público. Urge acabar com este paradoxo em que Portugal está transformado por responsabilidade de um governo incompetente, uma oposição sem rumo e com os cidadãos amorfos e anestesiados que não reagem, não criticam e não luta por um Portugal melhor. Os portugueses hoje em dia apenas pretendem olhar o seu umbigo e defender o seu interesse individual, para gáudio do governo pois é este o caminho que está a desenhar para Portugal. Pobreza de espírito no Portugal sem rumo e sem glória.