Foi Abril que nos trouxe a
Liberdade e a Democracia;
foi Abril quem nos deu a
Saúde e a Educação em igualdade de circunstâncias.
A data de capa deste jornal é
exactamente a do dia de aniversário do 25 de Abril. Foi há 41 anos que os
Portugueses assistiram à queda do regime fascista que governou Portugal, sob o
jugo da ditadura. Um grupo de capitães, cansados da guerra inconsequente do
ultramar e de viverem num país sem liberdade, veio para a rua com as suas
tropas e derrubaram um regime fechado e castrador da liberdade de expressão que
governava Portugal há 48 anos.
Os ideais de Abril centravam-se
na luta pela liberdade de expressão e política; para amenizar as desigualdades
sociais; pelo acesso de todos a melhores condições de vida; para terminar com o
corporativismo industrial; para que houvesse Educação, Saúde e Habitação para
todos, e não só para os que tinham posses para pagar. Estes foram alguns dos
desígnios de Abril que, pouco a pouco, se foram implementando em Portugal.
Graças à liberdade criada com
Abril, os portugueses tiveram oportunidade de vislumbrar o desenvolvimento do
país; puderam entrar na CEE – e deixarem de estar “orgulhosamente sós”. Os
fundos comunitários ajudaram a que o país se desenvolvesse em termos económicos
– não obstante muitos dos milhões que chegaram a Portugal terem sido
desbaratados.
As comemorações do 25 de Abril,
que hoje decorrem um pouco por todo o país, vêm renovar um orgulho e um
sentimento de alegria, reforçado por um ressuscitar de Portugal, liberto que
foi dos grilhões da censura e da mordaça da liberdade de expressão, e que
tolheu Portugal durante os anos da sua existência. O 25 de Abril fez sair da
tenebrosidade um povo que viveu amordaçado.
Nos momentos difíceis que o nosso
país neste momento atravessa, alegra-nos o facto de continuarmos a ter amanhãs
que cantam e que nos anunciam uma esperança redobrada de que os Portugueses
poderão ultrapassar esta grave crise. Com as comemorações de hoje, poderemos
reforçar a nossa esperança, quer com a materialização da liberdade expressa na
Revolução de Abril; quer no espírito do regresso aos valores de Abril, tão
arredios têm andado, nos últimos quatro anos, por responsabilidade do actual
governo.
Desta forma, e aproveitando esta data,
deveremos meditar sobre o conteúdo da mensagem que a Revolução de Abril nos
trouxe, e podermos descarregar as nossas frustrações na busca de respostas que
deixamos de ter; ou que não quisemos procurar e entender nos recados que nos
enviaram, tão preocupados que estamos em busca de uma felicidade materialista
alicerçada no egoísmo próprio do Ter e esquecer que o essencial na vida será
procurar o Ser. Por apresentarmos desta forma o nosso comportamento,
deixamo-nos levar embalados em sonhos encantadores, em palavras falsas, ditas
por farsantes tão grandes e com habilidade própria para o engodo, a falácia, a
falsidade que, por vezes, na nossa boa-fé, até julgamos que o que dizem é
verdade. Mas não é nada disso! Estamos perante gente mais falsa que Judas
Iscariotes, que com o seu beijo falso entregou Cristo para a crucificação; pelo
que urge que procuremos ganhar consciência sobre a vida que levamos até aos
dias de hoje. Será bom fazermos este momento de reflexão!
Neste Abril estamos a verificar
que o governo português está à sombra da doutrina ultraliberal, perita em
empobrecer as pessoas em defesa dos sacrossantos mercados, que defendem de
forma cega, sem rosto e sem ética. E é assim que surge, neste Abril da
Revolução, coladas ao governo, propostas que visam atingir, sem dó nem piedade,
as reformas, os apoios sociais, o sistema de saúde pública, o sistema de
educação pública e o valor do trabalho.
É triste neste País, após 41 anos
de Democracia, assistir à doutrina anunciada por um governo que não tem pejo em
destruir tudo o que foi construído com Abril. Este governo, acolitado pelos
neoliberais, que se dizem da sociedade civil, pretende desmantelar o Estado
Social, desbaratar a Saúde Pública e a Educação Pública e reduzir o valor do
trabalho, para, em nome da liberdade de escolha, entregar a exploração destas
necessidades aos vampiros do capital, que tal como diz José Afonso na canção:
“Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada…”. É bom que nas próximas
eleições de Setembro/Outubro o povo não permita que lhe tirem o essencial, tal
como Sérgio Godinho também canta: “A paz, o pão, habitação, saúde, educação, só
há liberdade a sério…”.
Nos últimos 41 anos de Abril,
tivemos oportunidade de melhorar exponencialmente as nossas condições de vida;
melhoramos incomparavelmente a nossa qualidade de vida; usufruímos do
privilégio de poder aceder ao melhor Serviço Nacional de Saúde que no mundo
existe – isto não é demagogia, é verdade -; fruímos do acesso à Escola para
todos; passamos a poder ocupar os mesmos espaços sem distinção de classes; as
mulheres entraram no mundo do trabalho e passaram a ter direito a votar; a
mobilidade social também se reflectiu, embora menos que aquilo que deveria ser;
as condições de vida e de salubridade melhoraram abissalmente; passamos a ter o
mais baixo índice de mortalidade infantil no mundo, a nossa investigação científica
tornou-se no melhor que há no mundo, etc. Isto não são meros anúncios de
politiquice rasteira, esta é a verdade dos números e estatisticamente
comprovados, pelo que não deveremos permitir que alguém queira insinuar de que
não foram conquistas do povo graças ao 25 de Abril.
Nos últimos 41 anos também se
cometeram alguns erros? Sim, é verdade! As decisões políticas muitas das vezes
não foram as melhores. Os governos também se deixaram embalar em cantos de
sereia que lá de fora nos enviavam. Principalmente após a entrada para a CEE em
1985.
Depois da entrada na CEE
começaram a ser oferecidos aos portugueses sonhos de que, respaldados nos
dinheiros europeus, poderíamos abdicar da nossa agricultura, das nossas pescas
e da nossa indústria; poderíamos tornar-nos num país de serviços e de consumo.
E foi assim que os maiores grupos industriais de Portugal se transformaram nos
maiores grupos de comércio e serviços, com especial destaque para a
distribuição alimentar. Apostou-se em demasia nas auto-estradas e esquecemos a
ferrovia – aposta de Cavaco Silva que argumentava, quando Primeiro-ministro, de
que era a forma de evitar a desertificação do interior. Nada mais falso! Como agora
podemos concluir. Também foi nesta fase, de 1985 a 1995, que se promoveram as
privatizações dos grupos empresariais que tinham sido nacionalizados em 1975,
para isso o governo criou linhas de crédito que disponibilizou aos anteriores
proprietários para que estes pudessem readquirir as empresas. Assim começou a
derrocada económica e financeira de Portugal!
Hoje assistimos a um governo que
ataca ferozmente os grandes princípios conquistados em Abril; um governo que
nos retira direitos conquistados à custa de muitas lutas; um governo que em
nome de uma austeridade inexplicável consegue empobrecer o povo. Este governo
está a levar o povo português para um empobrecimento igual ao anterior ao 25 de
Abril de 1974. Está a matar as conquistas de Abril.
Contudo, nem pestanejamos com o
que este governo está a fazer, pois em Portugal assistimos ao inédito de a
China estar a nacionalizar as empresas públicas que o nosso governo privatizou!
E o povo não reage! Assiste e aceita!
Este não é o Abril que nasceu há 41
anos!
*Artigo publicado no Jornal Notícias de Esposende, n.º
16/2015 – 25 de Abril a 2 de Maio