segunda-feira, 2 de novembro de 2015

QUE DEUS NOS PROTEJA PARA NÃO TERMOS POR MUITO TEMPO ESTE MINISTRO

Não fosse a desgraça que no fim-de semana se abateu sobre as zonas algarvias de Albufeira e Quarteira, o dia de hoje, dedicado ao dia de Todos-os-Santos, seria cómico, tendo em conta a verve do novel ministro da Administração Interna.
Investido há dias nas novas funções ministeriais, eis que o Ministro se dirige ao Algarve para, no local, se inteirar da gravidade da situação e observar a destruição causada pela intempérie.
Depois de atestar a idoneidade de Ricardo Salgado, num douto parecer jurídico que serviu de base a Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, para não destituir o Espírito Santo de líder do BES, Calvão da Silva sentenciou com o seu punho supremo de que uma choruda maquia de 14 milhões de euros não era mais do que o reconhecimento da amizade do construtor civil com o banqueiro, o professor de Direito da Universidade de Coimbra recebeu o reconhecimento público de Passos Coelho ao nomeá-lo para ministro da Administração Interna.
Investido das suas novéis funções, o ministro lá se apresentou em Albufeira para In loco observar a grandeza dos danos, as dores dos proprietários atingidos e a calamidade dos prejuízos. Ao observar tão dantesco cenário, o novo ministro, do governo nado morto, logo puxou da sua grandiloquência para lavrar tão pomposa e dignificante sentença: “a natureza é demoníaca”. Aqui tem razão S. Exa. o Senhor Ministro, então não é que o demónio da natureza nem o Domingo respeitou, pior ainda, não venerou o antigo feriado de 1 de Novembro, o dia dos fiéis defuntos. Pede-se ao digníssimo Professor que lavre de imediato um douto parecer condenando a natureza pela sua falta de respeito pelo dia do Senhor, o domingo, dia de descanso…
Para além dos prejuízos materiais provocados pelas inundações, também uma pessoa perdeu a vida devido à forte corrente de água que fez com que o veículo conduzido por um homem com 79 anos de idade tivesse sido arrastado para um riacho, causando a morte do senhor.
Falando da morte deste cidadão português, o novo ministro frisou, com eloquente sabedoria e com ar condoído pela dor, procurando sufragar a dor dos familiares da vítima, “Ele entregou-se a Deus e Deus, com certeza, que lhe reservou um lugar adequado”. Nem Salazar nem o Cardeal Cerejeira teria a sensatez de proferir tão brilhante e profunda frase… Haja já uma condecoração da presidência da República. O Homem merece…
Mas não ficou por aqui, o novo ministro já veio dar uns ralhetes nos proprietários por serem uns gastadores, não terem um pé-de-meia para fazerem seguros. Quem não tem seguros aqui no Algarve, isto «é uma lição de vida», frisou o ministro.
“Cada um tem um pequeno pé-de-meia. Em vez de o gastar a mais aqui ou além, paga um prémio de seguro. Não imagina a quantidade de pessoas que falaram que já accionaram o seguro. Isto é uma lição de vida para todos nós.”
Questionado sobre a situação dos comerciantes que não têm seguro, Calvão da Silva respondeu. “Quem não tem seguro, aprende em primeiro lugar que é bom reservar sempre um bocadinho para no futuro ter seguro. Em segundo, é bom esperar que o levantamento seja feito pela autarquia, que é a autoridade adequada, e mostrar que os requisitos de calamidade se verificam”.

Instado a pronunciar-se sobre o futuro que espera e as dificuldades que vão encontrar aqueles que não têm seguro, Calvão da Silva insistiu. "Eu sei que há muitas carteiras magras. Mas está a falar com uma pessoa que nasceu em Trás-os-Montes, que sabe o que é ser pobre e vir do pobre e tentar ser alguém. A mobilidade social funciona para todos. E todos temos de ter a nossa responsabilidade no sentido e dizer: 'eu tenho um negócio, vou fazer o meu seguro para que se o infortúnio me bater à porta tenha valido a pena pagar o prémio."
Eis senhores, mais um daqueles, tal qual o de Boliqueime, que se arvora no “pobre coitado” provinciano que subiu na vida. Com tal ralhete, com o ar paternalista com que foi ao Algarve chicotear os proprietários, os comerciantes e as pessoas por não terem seguros, por não cuidarem de poupar para pagar os seguros, o professor de Direito de Coimbra é um fiel zelador dos cuidados paternalistas com que Salazar e Cavaco Silva demonstraram ter pelos portugueses.

Não me admira o tal parecer dos 14 milhões, pois tal oferta seria o sinal supremo de que a poupança do construtor civil serviu para ter o banqueiro como um seguro…