quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

PASSOS COELHO E A MENSAGEM DE NATAL

Neste Natal, triste e pobre, o Primeiro-ministro, Passos Coelho, surgiu nos ecrãs da televisão a enviar uma mensagem de Natal. Que supostamente seria para os portugueses. Mas pelo teor da mesma, não foi dirigida aos portugueses.
Coelho falou de um país que só existe na cabeça dele e dos seus correligionários, incluindo Portas e Cavaco Silva.
Falou sobre os indicadores económicos positivos. Pudera, quem destruiu por completo a economia de um País em dois anos e meio, um pequeno aumento, um ligeiro espasmo, pode sempre ser considerado uma melhoria. Para além de ter dito a grande boçalidade da criação de 120 mil postos de trabalho, quando o que se passou, na realidade, foi o contrário, dado que, segundo o Eurostat, o número de pessoas empregadas em Portugal diminuiu 2,4% no terceiro trimestre deste ano, comparado com o período homólogo de 2012, pelo que não sei onde este sujeito se possa mostrar tão contente. 
Nesta mensagem nada disse sobre os mais de 120 mil portugueses que em 2012 fugiram de Portugal. E em 2013 o número de portugueses em fuga é exactamente o mesmo, ou mais. 
Ora, sem pessoas em idade activa num país e com outros que já desistiram de procurar emprego em Portugal, só poderia dar mesmo uma descida do desemprego em termos estatísticos, porque em termos reais não corresponde ao anunciado. 
Portanto, Coelho enviou uma mensagem de Natal para a troika e para os mercados externos, deixando no ar a promessa de que Portugal está a tornar-se naquilo que eles pretendem: ser a China e o Bangladesh da Europa ocidental, onde poderão explorar a mão-de-obra barata a trabalhar de sol a sol.
Bangladeche.

"bangladechiano", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/bangladechiano [consultado em 26-12-2013].
Bangladeche

"bangladechiano", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/bangladechiano [consultado em 26-12-2013].
Certo dia, um vizinho meu foi jogar ao casino. Não percebia nada de jogo e entrou de cabeça no jogo da roleta. Ao fim de umas cinco horas a jogar, o meu vizinho tinha virado os bolsos do avesso, tinha esgotado as contas bancárias, tinha hipotecado a casa e o carro.
O certo é que o meu vizinho ficou sem nada. Sem dinheiro, sem casa, sem carro, e até perdeu o emprego por encerramento da empresa.
Portanto, como se está a ver, o homem bateu mesmo no fundo. Aliás, não tinha mais onde poder cair, tal o abismo onde se estatelou.
Contudo, um outro vizinho, arvorado em pessoa com sensibilidade social, contratou o homem para lhe cortar a relva do seu jardim a troco de uma quantia previamente negociada, um valor muito abaixo daquele que o fingido "bom samaritano" pagava ao jardineiro que antes lhe fazia o trabalho.
Terminada a jorna, o meu vizinho jogador, abeirou-se do vizinho "samaritano" para receber a quantia estimada. O contratante pagou a verba negociada e ficou feliz da vida, pois tinha poupado uma boa maquia. Logo ali aproveitou para voltar a negociar com o desgraçado do vizinho a nova jornada de corte da relva, mas já lhe oferecendo menos do que aquilo que lhe tinha acabado de pagar pelo mesmo trabalho, alegando que arranjava com facilidade quem lhe fizesse o trabalho por menos dinheiro. O homem, necessitado que estava, lá aceitou o valor proposto e combinaram que o proprietário do jardim lhe comunicaria o dia em que teria de voltar a cortar a relva.
Entretanto, o jardineiro que sempre cortou a relva no "samaritano" deslocou-se a casa do dito cujo, com o intuíto de com ele combinar o corte da relva do jardim, conforme sempre fazia. Lá chegado ficou admirado por ver a relva já cortada. Então tocou à campainha, tendo o dono da casa e do jardim o atendido muito amavelmente.
Então, que o traz por cá? Perguntou o dono da casa.
Vinha combinar com o senhor o corte da relva. Mas já vi que está cortada!
Pois está, amigo! Contratei outro jardineiro e já não preciso dos seus préstimos. Aliás, o que eu contratei trabalha muito mais barato que o senhor. Portanto, terminou aqui a nossa relação de trabalho.
O homem lá virou costas e foi embora, cabisbaixo, pois tinha acabado de perder o emprego, dado que outro passou a desempenhar as suas funções por um preço muito mais baixo. Lá seguiu o seu caminho de cabeça baixa e a fazer contas à vida de como ia suportar o pagamento das despesas e sustentar a mulher e os filhos.
Entretanto, encontrei o meu vizinho jogador. Parei com ele numa pequena conversa, a fim de saber como estava a sua vida, resposta do meu vizinho:
- Olhe amigo, a coisa está a melhorar, já vejo uma luz ao fundo do túnel, pois acabei de receber uma pequena verba do corte da relva do jardim do nosso vizinho. A minha situação económica subiu um bocadinho. Quem estava sem nada ter agora 5 euros no bolso já é um bom exemplo de que estou a melhorar.
Pois bem, esta história bem demonstrar aquilo que Coelho tanto apregoa:
- A situação económica está a melhorar - para quem bateu no fundo, basta uma migalha para ficar melhor!
- Os privados já fizeram o ajustamento salarial - sem dúvida: à custa do desemprego e dos salários baixos, explorando a necessidade das pessoas que não conseguem sobreviver.
Este é o espelho do nosso País! Mas que os nossos governantes fazem por não querer ver.
Um vizinho oportunista aproveita-se de um vizinho desgraçado que continua na miséria, e não tem pudor em enviar para a miséria um outro que para ele trabalhava.
Moral da história: Quem tem dinheiro continua a ter mais dinheiro, e em vez de impedir que um homem vá para a miséria, envia dois. Um que fica sem rendimento; o outro que recebe miseravelmente pelo trabalho que faz! 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A DEMOCRACIA EM PERIGO



A Democracia está em perigo! Não pelo facto de a curto ou médio prazo poder surgir, em Portugal, um ditador, do género do dr. Oliveira, mas sim devido à forma como os nossos governantes estão a gerir o país, a mando dos burocratas de Bruxelas e da toda-poderosa Alemanha.
A Democracia não se esgota no voto. Tal como a legitimidade da governação não advém apenas e só do voto. O voto legítima o direito a governar; mas a governação é que cimenta a legitimidade para governar, sendo esta seguida em conformidade com os parâmetros apresentados na programática eleitoral apregoada aos eleitores e por estes aprovada nas urnas, cientes de que os vencedores iriam governar em consonância com o programa eleitoral apresentado, e não pelo seguidismo da cartilha imposta pelo exterior, mormente pelos burocratas de Bruxelas, tropa fandanga que não é eleita pelos europeus, e pela Alemanha, país que impõe aos países com governantes fracos, lambe-botas de primeira, como o caso português, políticas que não impõem dentro do seu próprio país. Primeiro, o Tribunal Constitucional alemão não deixa; segundo, os alemães não sancionaram nas urnas tal metodologia política.
Como se pode aferir, a Alemanha e a troika clamam para a redução de salários em Portugal, inclusive do salário mínimo. Só que a Alemanha vai aprovar a criação de um salário mínimo para os alemães, no valor de 1 400,00 €, dizem eles que vai ajudar a aumentar o poder de compra interno na Alemanha. Sobre esta medida, o Maçães, de cognome “o alemão”, parece nada ter dito. Mas este “cromo”, hoje conhecido pelas barbaridades políticas que tem apregoado, mas que nasceu nos blogs, chegou, através disso, a conselheiro político do Passos Coelho, por isso não admira tudo o que dizem estes artistas.
Portanto, o que está a minar a Democracia e a colocá-la em perigo é o risco que estamos a correr em Portugal ao não haver preocupação para com aqueles que não têm voz. Falo, como é claro, daqueles que não se manifestam, dos que não sobem as escadarias da AR ou invadem os Ministérios, mas sim daqueles que estão a ser levados aos limites com uma pressão exacerbada e que ficam sem voz para defender os seus interesses. Refiro-me, como é óbvio, à maioria de reformados e pensionistas; os desempregados que viram chegar ao fim o apoio do subsídio de desemprego; daqueles que vivem de pensões de sobrevivência, que apesar de não terem dinheiro, são considerados aos olhos dos Coelhos, Portas, Maçães e Maduros deste país como sendo “ricos”; o número significativo de jovens que não sabem o que é estar empregado neste país; também aqueles que, hoje são cada vez mais, vivem nas ruas.
A Democracia está em perigo, pois o governo continua ferozmente o corte nos apoios sociais. Cada vez mais crianças e jovens ficam em risco; cada vez mais há fome neste país; temos um governo que corta no abono de família e nos apoios sociais, mas que tem o desplante de gastar milhões em subconcessões privadas, em ajudas ao poder financeiro, em isenção de impostos aos dividendos dos accionistas das empresas do PSI20, pois 28,6%, em 2011, agora serão muito mais, das crianças portuguesas estão em risco de pobreza; entre 2009 e 2012 foi reduzido em 33,96€ por mês o apoio mensal do abono de família. Em 2011, hoje serão muitos mais, havia 723 000 adultos desempregados com menores a cargo.
Temos os governantes mais mentirosos e demagogos que jamais apareceram em Portugal, piores que os do Estado Novo, pois estes governantes enchem a boca a mentir descaradamente sobre os exacerbados gastos em apoios sociais, pelo que começaram a cortar às cegas. Mas esta narrativa não passa de um embuste, pois em Portugal o Estado dispensa apenas 1,5% do PIB para o apoio económico às famílias, quando a média europeia é de 2,3%. 
Dessa forma, podemos considerar que a verdadeira ameaça para a Democracia advém da existência deste grande exército de pessoas que perderam a sua dignidade humana, os seus direitos de cidadania. Pelo que os governantes, os políticos e a sociedade em geral devem sentir-se envergonhados por no seu seio viver gente em condições tão precárias, sem voz e sem defesa.
Num país democrático, quando existem pessoas que deixaram de ter voz, perderam os direitos, não têm quem os defenda e não conseguem se manifestar, é a Democracia que está doente e em perigo de finar. É urgente que os portugueses acordem para a realidade de uma desgraça social que já se está a abater sobre uma grande, enorme, franja da população portuguesa!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O GOVERNO EM ESTADO ORGÁSMICO



A discussão do Orçamento do Estado (OE) para 2014 e o arrazoado de verborreia imberbe vertida no documento a que o excitado Paulo Portas apelidou de guião da reforma do Estado, criou uma excitação de adolescente no governo e nos partidos da maioria que o suportam.
Passos Coelho entrou em negação completa. Já não consegue discernir o óbvio, nem tampouco consegue esconder a sua incapacidade e incompetência para continuar à frente do governo. Isso mesmo o prova com os disparates que vai vociferando contra o maior partido da oposição. Coelho não tem pejo em, de forma demagógica e populista, continuar a apontar ao anterior governo do PS a responsabilidade pela vinda da troika. Passos Coelho, arvorando em patriota e “santinho da ladeira”, depois de verberar impropérios contra Seguro e o PS, vem a terreiro, candidamente, reclamar que o PS deverá apoiar as medidas propostas pelo governo, no célebre guião do Paulo Portas, para a reforma do Estado, fazendo tábua rasa de tudo o que se passou em 2011 à volta do PEC IV, onde Coelho trocou o sentido patriótico pela possibilidade de ir para o governo, quando instado a decidir se pretendia eleições no País ou no Partido. Perante esta ameaça, Coelho, que já salivava de forma pavloviana, preferiu mandar às malvas o interesse patriótico e decidiu que deveria haver eleições no País e vir a troika para Portugal, sendo que o memorando da troika era o seu programa de governo e que até iria mais além. Só que a excitação que tem invadido Coelho e Portas, irrigou-lhes o cérebro de viscosidades que lhes retiram o discernimento necessário para decisões sérias de governação.
Da minha parte posso entender toda esta excitação de Coelho, Portas e companhia, como fruto de um estado orgásmico que invadiu o governo, só porque, dizem eles, a economia está a crescer, fruto de todas as medidas de austeridade implementadas pelo governo e do milagre anunciado por Pires de Lima. Portanto, à atenção do Papa Francisco e de D. José Policarpo. Diz mais Passos Coelho, que o PS está a destruir o País por não compreender todo o esforço que o povo português tem feito ao decidir não alinhar com o governo e que deveria ter em atenção porque os nossos credores estão atentos ao que diz o PS e que não gostam da posição do PS. Pois bem, o povo tem feito um esforço medonho, isso é verdade. Mas não vê esse mesmo esforço por parte dos mais poderosos. Não vê a finança a fazer esforço; não vê os governantes, deputados e políticos a fazerem esforços, pois caso contrário cortariam muito mais nas despesas que provocam ao Estado, como o deixar de receber a subvenção, as ajudas de deslocação, deixavam de utilizar o automóvel e o motorista com os dinheiros públicos e passavam a utilizar o seu próprio transporte e o transporte público. Querem que o povo seja austero, como também o pedia Salazar. Mas comecem pelo exemplo de também eles passarem a ser austeros.
Este tipo de comportamento do governo parece que se tornou numa orgia da direita em Portugal, pois não assumem o rotundo falhanço de orientação política que tem sido dado ao País. E perante o desastre que cada vez mais de acentua, opta pela fuga em frente, onde alguns apaniguados já clamam que deve ser decretado em Portugal o Estado de emergência.
Paulo Portas anda em estado catatónico desde que passou a vice-primeiro-ministro e se comporta como primeiro-ministro, pelo que ainda não deixou de estar excitado com a proliferação de orgasmo que o tem invadido, sendo o último exemplo, pela negativa, a excitação com que anunciou o tão esperado guião da reforma do Estado.
Documento com letra 16 e espaço 12 com 112 páginas. Portanto, aumentou o tipo de letra e o espaçamento para parecer um documento extenso, que transformado em letra normal não passa de um mero documento sem sentido e sem substância de cerca de 46 páginas.
É triste que Portas queira convencer-nos que a palha que espalhou no dito cujo é o guião para a reforma do Estado. Se for esse o guião para reformar o Estado, então será mesmo o fim de um País e de um povo.
Que venha depressa o 1640 que ele há dias referiu, pois pode ser dessa forma que os traidores da pátria que nos governam sejam defenestrados, como o foi o traidor Miguel de Vasconcelos.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O BISPO DA GUARDA E QUEM DEVE PAGAR A CRISE



Há dias, o Bispo da Guarda referiu que a «Crise deve ser paga pelos ricos e pelos Bancos».
Não posso estar mais de acordo com sua Iminência!
Também como se vê, pelas medidas anunciadas para o Orçamento do Estado de 2014, o governo ouviu as preces do Reverendíssimo Bispo, pois vai mesmo pôr os ricos, que ganham 600,00 € por mês, a pagar a crise...
Ainda voltando à afirmação do Bispo da Guarda, não obstante todo o respeito que me merece e a bondade colocada na afirmação, entendo que o Bispo apenas está a olhar para o governo através da espiritualidade, pois materialmente o actual governo de Portugal mais não é que um cobrador do fraque, que carrega sobre os trabalhadores, os desempregados, os doentes, os reformados e os pensionistas.
Mas deixando de fora a força do espírito e assentando os pés na terra, jamais no nosso País os ricos (aqueles que sua Iminência o Bispo da Guarda, e eu também, considera como ricos, e não os dos 600,00€ que o governo considera) pagarão o que quer que seja desta crise, antes pelo contrário, segundo os números, os ricos ficaram cada vez mais ricos desde que a crise se implantou em Portugal.
Dizia eu que esses tais ricos e os Bancos nunca pagarão o que quer que seja, porque:
1.º - A crise surgiu para salvar os Bancos, que com a voracidade do lucro, numa espiral de capitalismo selvagem, entraram em derrocada, e foi o dinheiro dos contribuintes que pagou a falência dos Bancos. Eles continuam cheios, bem gordinhos e a fumar o seu charuto... haverá  alguém com eles no sítio para os obrigar a pagar, nem vê-los.
Os Bancos não pagam IMI, pois os seus prédios estão todos incluídos em fundos imobiliários que os subservientes políticos fizeram o favor de aprovar leis que isentam do pagamento deste imposto estas organizações, que são proprietárias de sumptuosos imóveis. Só o pobre do Zé paga o couro e o cabelo pelo IMI da sua casinha, para os outros andarem a gastar em jantares, passeios e terços - sem maldade, mas só porque me estou a basear nas palavras do Bispo da Guarda.
2.º - Quanto aos ricos, verdadeiros, esses também nada pagarão, antes pelo contrário, ainda recebem cada vez mais: a redução do IRC às empresas apenas serve, em Portugal, para as grandes empresas distribuírem mais dividendos pelos accionistas e não criam mais nenhum posto de trabalho, isso é certo.
Os ricos têm as suas contas recheadas nos paraísos fiscais: pagar impostos, nem vê-los; as suas mansões, iates, automóveis de luxo, etc., estão em nome de empresas sediadas em offshores, pelo que pagar impostos, nicles; os que usufruem de grandes rendimentos são pagos por empresas com sede em países de zona franca, portanto, pagar impostos é um oásis.
Perante este quadro, sei que as palavras bem-intencionadas do Bispo tinham o propósito de abanar consciências, não almejo o que quer que seja sobre quem verdadeiramente vai continuar a pagar a crise.
No domingo, o "Primeiro-ministro" Portas veio, mais uma vez, mentir ao País. Utilizou a semântica para ludibriar um povo que está paralisado de medo. Um povo que já não reage, tal os sedativos que lhes são aplicados, desde o desemprego até ao corte nos rendimentos. Temos um povo petrificado. Um povo que prefere continuar a alimentar-se da mentira, à espera do milagre prometido pelo profeta. Um povo que gosta de ser achincalhado, pois está à espera que o poder lhe ofereça um empreguinho, a tal migalha que cai da mesa farta desta gente sem escrúpulos.
Para além de tudo isto, temos um povo que não se insurge, não se revolta, não diz basta. Por que será? Muito simples: muito deste povo ainda vive da economia paralela, que corresponde a 25% do PIB português, pelo que para muitos a crise ainda não chegou; também vive muito na base da solidariedade familiar e dos vizinhos, pelo que vai passando pela crise sem grandes mossas. Depois não se revolta porque é submisso, não tem espírito crítico, aceita as medidas impostas como uma necessidade salvífica, daquelas anunciadas pelo Messias, aceitando a culpa daquilo que o acusaram: ter andado a viver acima das suas possibilidades.
Depois o povo português não se preocupa com o saber, por isso os governos, especialmente de direita, quando têm de cortar cortam na cultura. Quando não se lê, não se vê teatro, não se vai ao cinema, não se assiste a palestras, a debates e a conferências, fica-se apenas pelo que se ouve e vê na televisão, torna-se prisioneiro do pensamento único, daquele que os governantes e os comentadores do regime debitam diariamente nas televisões: viveram acima das possibilidades; não há outro caminho; não há alternativa à austeridade; não há dinheiro para salários e reformas; não podemos assustar os credores; temos de ser bons pagadores, pagar o que devemos; temos de cumprir os contratos das PPP’s; os contratos das Swap’s são sagrados, temos de os pagar. Por isso temos de empobrecer. Esta é a retórica que é vendida, que é imposta a um povo que não está habituado, nem é ensinado e incentivado, a questionar. Aceita, come e cala!
Só um povo amorfo e estupidamente enraizado na doutrina individualista é que não reage a todas as manigâncias que lhes são acometidas por este governo. Como pode o povo aceitar que se lhes diga que os contratos com os credores são sagrados, por isso para cumprir, e que ao mesmo tempo aceite que o mesmo governo que lhes fala da sacralidade dos contratos com os credores lhes viola e não cumpre com os contratos que o Estado tem com esse mesmo povo, que é o do pagamento das reformas, do acesso à saúde e à educação? Como é possível?
Também me causa espécie que este povo não se indigne com a afirmação de Passos Coelho, proferida mais uma vez naquela simulação aberrante de entrevista na RTP1, o país pergunta, onde Coelho afirma: se eu falhar é o país que falha.
Só um ignorante pode proferir tal dislate. Só alguém completamente à deriva se pode arvorar em profeta salvador da desgraça. Por esta afirmação vê-se que Coelho está dessincronizado da realidade. Se Coelho fosse intelectualmente honesto, teria dito e reconhecido que já falhou, pois pelo que se viu nos últimos dois anos o País cumpriu com tudo o que Coelho lhe pediu e exigiu. Coelho aumentou os impostos em 2011, tendo rapado parte do subsídio de natal a todos os trabalhadores, afirmando que era só nessa altura, pois 2012 seria o ano da retoma; em 2012 aumentou novamente os impostos, dizendo que 2013 era o ano da retoma; em 2013 já vai a caminho do terceiro orçamento e para 2014 há mais cortes nos salários e nas pensões.
O País acolheu isto tudo. Se há falhas apenas é a de Passos Coelho e do seu governo. Alguém com um pingo de vergonha na cara já se teria demitido. Mas como este é um governo sem vergonha, continua alegremente na sua campanha.
Esta tirada de Passos Coelho seria cómica se não estivesse ligada a uma parecida que Hitler proferiu quando sentiu que tinha perdido a guerra: o povo alemão é que não lutou o suficiente para ganhar a guerra, eu fiz tudo.
Acorda povo, antes que seja tarde!

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

PORTUGAL E OS PEDIDOS DE AJUDA EXTERNA



Há dias encontrava-me no café a tomar a minha bica (apesar do conselho médico de cortar com esta divinal bebida – para mim, como é óbvio), maldita cafeína, quando na mesa ao lado estavam dois parceiros a conversar.
O teor da conversa, como na maioria dos lugares onde se juntam pessoas (cafés, lojas, salas de espera de centros de saúde, hospitais, consultórios médicos, etc.), era, inevitavelmente, a crise.
Da dita cuja conversa, um dos parceiros afirmava-se apoiante das medidas de austeridade tomadas pelo governo, alegando que o País estava endividado e que era preciso corrigir essa dívida. O parceiro de conversa tentou esboçar uma argumentação diferente, mas logo o outro disparou: então queres que os Socialista venham de novo para o governo? Eles que são os responsáveis por tudo isto? Sempre que passaram pelo governo só endividaram o País? O parceiro tentou novamente debuxar uma frase, começando por dizer que também tinham melhorado muito o País e a vida das pessoas. Mas o outro, embalado na sua narrativa, mais parecia de cassete, disparou: Não gabes os Socialistas, pois foram eles que trouxeram por três vezes o FMI para Portugal.  
Como não me meto em conversas onde não sou chamado, este diálogo apenas vem confirmar a minha tese de que tudo é feito para apagar a memória e a história e fazer prevalecer no nosso País uma retórica falsa.
O facto é que de tanto repetirem este embuste, os mais desatentos e menos informados acabam por aceitar como verdadeira esta narrativa, que mais não passa do que uma forma de alijar as próprias responsabilidades e fazer com que o rumo dado à política económica do País só tem uma alternativa, a do governo, e que acaso os Socialistas regressem ao governo voltará o descontrolo das contas públicas e o aumento da dívida.
Portugal sempre dependeu da ajuda externa ao longo da sua história. O nosso País foi sendo construído sempre com o apoio do exterior. Para não irmos mais longe na história, basta ficarmos pela época dos Descobrimentos. Primeiro vivemos à custa das especiarias que vinham do Oriente; depois seguiu-se o ouro do Brasil; segue-se a venda da alma à Inglaterra, aquando das Invasões Francesas; vivemos à custa das negociatas do volfrâmio com os aliados e com a Alemanha de Hitler; seguiu-se o aproveitamento das colónias ultramarinas para depósito dos nossos excedentes e dos de cá a passar fome; por fim entramos na CEE, hoje União Europeia, onde fomos – e continuamos a ir – buscar milhares de milhões de euros para desenvolver o País, mas cuja maior fatia foi desbaratada por pseudo-elites corruptas que têm desbaratado o nosso País desde 1986 (data em que entramos de facto na CEE), mas engordando os seus pecúlios.
Portanto, e para bem da nossa sanidade mental, importa referir que a primeira entrada do FMI em Portugal foi em 1977, aquando do I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, onde eram ministros Mota Pinto, Medina Carreira, António Barreto, etc.. Todos sabemos da instabilidade política e social que o País viveu desde 1974 até essa data. Isto para não falar do atraso de 100 anos de desenvolvimento económico e social do nosso País, comparando com o resto da Europa, pelo que era preciso iniciar reformas de vulto para que Portugal pudesse entrar no rol dos países desenvolvidos. Também as despesas suportadas com o regresso dos portugueses que residiam nas antigas colónias, que entretanto se tinham tornado independentes e entrado em guerra civil, foram substancialmente grandes, pelo que os recursos económicos produzidos no nosso País não chegavam para o que era necessário fazer – desenvolver Portugal. Isto foi reconhecido pelo FMI.
A segunda vez que o FMI entra em Portugal é em 1983. Ironia do destino ou não o Primeiro-ministro era novamente Mário Soares. É preciso lembrar que o País estava num caos social e sem dinheiro, em 1983. A AD, liderada por Sá Carneiro, ganhou as eleições, com maioria absoluta, em 2-12-1979, e governou até à morte de Sá Carneiro, em Dezembro de 1980. Em 9 de Janeiro de 1981 tomou posse um novo governo liderado por Mota Pinto e com Basílio Horta, na altura militante do CDS, como vice-Primeiro-ministro. Cavaco Silva, ministro das Finanças de Sá Carneiro, abandonou o governo, sendo então ministro da Finanças Morais Leitão. A 4 de Setembro de 1981 toma posse um novo governo da AD com Pinto Balsemão como Primeiro-ministro e Freitas do Amaral como vice-Primeiro-ministro. O ministro das Finanças era João Salgueiro. Este governo esteve em funções até 9 de Junho de 1983.Na altura, Pinto Balsemão pediu a demissão e o governo caiu, tendo-se realizado eleições no dia 25 de Abril de 1983.
Na sequência das eleições de 25 de Abril de 1983, o Partido Socialista ganhou as eleições sem maioria. Daí resultou a constituição de um governo com acordo de incidência parlamentar entre o PS e o PSD. Desse governo, para além de Mário Soares, fazia parte Mota Pinto e Rui Machete, ambos com o lugar de vice-Primeiro-ministro. O ministro das Finanças era Ernâni Lopes, portanto uma figura insuspeita de ser um perigoso Socialista, como afirmou o homem da conversa acima relatada.
Dada a grave situação económica e social que se vivia no País, o novo governo não teve outro remédio senão solicitar de novo a ajuda ao FMI para poderem equilibrar as contas públicas e melhorar as condições de vida dos Portugueses.
Como vemos, a vinda do FMI em 1977 e, especialmente, em 1983 não advém do facto do Partido Socialista ser governo nos anos anteriores, mas sim por ganhar as eleições e encontrar o País em dificuldades económicas. Que haja seriedade nestes julgamentos. O PS só poderia governar, naquela altura, com o recurso ao apoio externo.
Como é sabido, a entrada da troika, pedida, em 2011, desta vez pelo Socialista José Sócrates, veio na senda do chumbo do PECIV, Plano de Estabilidade que Passos Coelho se recusou a dar o seu apoio e o do PSD, já com o fito da chegada ao governo envolto na mentira, como se veio a concretizar.
Seria bom que se tivesse cuidado nos julgamentos, e mesmo na acusação àqueles que trouxeram a troika para Portugal, pois nós não sabemos se o PECIV, como estava desenhado e com o apoio das instituições internacionais e da Alemanha, resultaria ou não, e daí evitar a vinda da troika e ficarmos sob protectorado, como Portas gosta de dizer. Nunca o chegaremos a saber, pois a sede de chegar ao poder por parte de Passos Coelho e do PSD impede-nos de sabermos se Sócrates e o PS são na realidade os responsáveis pela vinda da troika.