quarta-feira, 13 de março de 2013

A esquerda e a crise



A esquerda e a crise

 É um facto insofismável que a ortodoxia de direita nunca foi fiel a princípios e ideologias que tivesse em consideração as pessoas, essencialmente os mais desprotegidos. É secular a relação entre dominadores e dominados; entre poderosos e fracos; entre patrões e empregados; entre ricos e pobres; entre proprietários e rendeiros.
Nestas lutas entre classes sociais – com o advento da revolução industrial começou a surgir a burguesia, que passou a equiparar-se na contemporaneidade com a Classe Média -, o poder esteve sempre do lado dos mais fortes. Hoje esta lógica ainda é mais retumbante, pois o conceito ultraliberal que hoje impera no mundo económico e financeiro apenas aponta para o lucro.
Na realidade, o capitalismo nunca foi bom, e nunca teve interesse, em distribuir a sua riqueza de forma mais equitativa. O capitalismo sempre foi egoísta e procurou sempre obter cada vez mais lucros, nem que para isso tivesse de proceder à exploração do trabalho dos outros.
Houve uma fase em que o capitalismo foi aceitando um estado social de redistribuição da riqueza produzida, mas foi numa fase em que estava em confronto com o Socialismo, na vertente Comunista, que proclamava a defesa dos direitos dos trabalhadores, a detenção dos meios de produção por parte de quem trabalha e da estatização da economia, na vertente planificada. Portanto, era em confronto com esta política ideológica que o capitalismo foi aceitando um equilíbrio na redistribuição da riqueza e na constituição de um Estado Social que criasse condições para que os mais desprotegidos não se tornassem um empecilho para o mundo capitalista.
Foi dentro desta lógica que o capitalismo foi “aguentando” e aceitando o Estado Social. Só que, após o fim dos 30 gloriosos anos, que terminaram com a crise petrolífera de 1973, o capitalismo deixou de ter os elevados, exorbitantes e pornográficos lucros que advinham do facto de obterem o petróleo a preços baixos, assim como todo o expoente de produção que foi criado na Europa e no Ocidente no pós Segunda Guerra Mundial. Com esta conjuntura do aumento dos custos de produção, o capitalismo logo procurou formas de contornar a perda de lucros originados pelos custos de contexto aliados ao preço dos combustíveis.
Para poder manter o poder de mandar no mundo e manter os lucros, o capitalismo foi implementando formas de se ir impondo e criando redes que complicavam a evolução da economia planificada que grassava nos países de Leste, dominado pela URSS. Com as lutas de equilíbrio de poderes entre a NATO e o Pacto de Varsóvia na componente de equilíbrio militar, que originava a necessidade de um investimento elevado na defesa militar, o capitalismo no Ocidente foi criando as suas redes, e com a ajuda de Margaret Thatcher, na Inglaterra, e de Ronald Reagan, na América, foi preparando caminho para a implosão do bloco de Leste e para o desmantelamento da URSS.
Com o fim do Bloco de Leste e a queda do muro de Berlim, destruído o factor que dava equilíbrio às duas forças de componente ideológica (capitalismo e comunismo), o capitalismo encontrou um terreno fértil para semear a sua ideologia de confisco do preço do trabalho e de exploração da mão-de-obra, alicerçado nas deslocalizações das empresas para países de mão-de-obra barata, assim como na construção de modelos financeiros que levavam à fuga de capitais e consequente pagamento de impostos através da criação de offshores, bem como de papéis que serviam de financiamento financeiro fictício que desaguou na crise financeira, económica e social que todos conhecemos em 2008.
Para salvar o mundo financeiro e os bancos em especial, a Europa conseguiu desencantar 700 mil milhões de euros, sendo feito este salvamento da banca especulativa à custa das pessoas, que viram reduzidas a nada as suas esperanças, o seu futuro a enegrecer e as perspectivas de vida a afundarem-se cada vez mais num naufrágio colectivo da classe média e dos mais desfavorecidos.
Perante este quadro, a direita capitalista pretende desmantelar o Estado Social criado na Europa, aplicando um garrote aos trabalhadores, aos desempregados, aos reformados e aos mais necessitados com o corte nos salários, nas reformas e nos apoios sociais. O ultraliberalismo nascido da globalização começou a sua safra oferecendo um “rebuçado” nos países mais pobres, para onde se deslocou a indústria, que passaram a usufruir de uma salário um pouco melhorado, mas sendo os trabalhadores obrigados a trabalhar sem direitos, sem apoios sociais.
O capitalismo capturou os Partidos Socialista da Europa através de um subterfúgio que se alicerçava num apoio financeiro, na introdução de políticas de empréstimos a custos reduzidos, na ideia de que na Europa era possível terceirizar a economia. Com estas promessas os Partidos Socialista europeus deixaram-se embalar e adormeceram, graças à Terceira Via de Tony Blair (que hoje factura milhões a enaltecer as virtudes do ultraliberalismo e da globalização pelo mundo, escondendo todos os malefícios que causaram aos europeus a sua política económica).
Hoje, mais que nunca, a esquerda europeia tem que repensar o seu posicionamento ideológico. Os Socialistas terão de reflectir naquilo que têm para oferecer de diferente à população. Se assim não for a esquerda europeia, consubstanciada nos Partidos Socialista europeus, tem o seu fim agendado para próximo.
Um mau exemplo já foi dado por François Hollande, aquele que quando foi eleito abriu uma janela de esperança para a Esquerda Democrática europeia de ser possível uma alteração da política austeritária que está a matar a Europa, quando fez aprovar o Tratado Orçamental que mais não é que um garrote aplicado a um País que tenha necessidade de incumprimento do défice por necessidades sociais – porque se o for para defender a Banca a Comissão Europeia emitirá uma directiva que aconselha os países a esquecerem o défice, aliás como o fez Durão Barroso em 2009.      

Sem comentários: