A esquerda e a crise
É um facto insofismável que a
ortodoxia de direita nunca foi fiel a princípios e ideologias que tivesse em
consideração as pessoas, essencialmente os mais desprotegidos. É secular a
relação entre dominadores e dominados; entre poderosos e fracos; entre patrões
e empregados; entre ricos e pobres; entre proprietários e rendeiros.
Nestas lutas entre classes
sociais – com o advento da revolução industrial começou a surgir a burguesia,
que passou a equiparar-se na contemporaneidade com a Classe Média -, o poder
esteve sempre do lado dos mais fortes. Hoje esta lógica ainda é mais retumbante,
pois o conceito ultraliberal que hoje impera no mundo económico e financeiro
apenas aponta para o lucro.
Na realidade, o capitalismo nunca
foi bom, e nunca teve interesse, em distribuir a sua riqueza de forma mais
equitativa. O capitalismo sempre foi egoísta e procurou sempre obter cada vez
mais lucros, nem que para isso tivesse de proceder à exploração do trabalho dos
outros.
Houve uma fase em que o
capitalismo foi aceitando um estado social de redistribuição da riqueza
produzida, mas foi numa fase em que estava em confronto com o Socialismo, na
vertente Comunista, que proclamava a defesa dos direitos dos trabalhadores, a
detenção dos meios de produção por parte de quem trabalha e da estatização da
economia, na vertente planificada. Portanto, era em confronto com esta política ideológica que o
capitalismo foi aceitando um equilíbrio na redistribuição da riqueza e na
constituição de um Estado Social que criasse condições para que os mais
desprotegidos não se tornassem um empecilho para o mundo capitalista.
Foi dentro desta lógica que o
capitalismo foi “aguentando” e aceitando o Estado Social. Só que, após o fim
dos 30 gloriosos anos, que terminaram com a crise petrolífera de 1973, o
capitalismo deixou de ter os elevados, exorbitantes e pornográficos lucros que
advinham do facto de obterem o petróleo a preços baixos, assim como todo o expoente
de produção que foi criado na Europa e no Ocidente no pós Segunda Guerra
Mundial. Com esta conjuntura do aumento dos custos de produção, o capitalismo
logo procurou formas de contornar a perda de lucros originados pelos custos de
contexto aliados ao preço dos combustíveis.
Para poder manter o poder de
mandar no mundo e manter os lucros, o capitalismo foi implementando formas de
se ir impondo e criando redes que complicavam a evolução da economia
planificada que grassava nos países de Leste, dominado pela URSS. Com as lutas
de equilíbrio de poderes entre a NATO e o Pacto de Varsóvia na componente de equilíbrio
militar, que originava a necessidade de um investimento elevado na defesa militar, o capitalismo no Ocidente foi criando as suas redes, e com a
ajuda de Margaret Thatcher, na Inglaterra, e de Ronald Reagan, na América, foi
preparando caminho para a implosão do bloco de Leste e para o desmantelamento
da URSS.
Com o fim do Bloco de Leste e a
queda do muro de Berlim, destruído o factor que dava equilíbrio às duas forças
de componente ideológica (capitalismo e comunismo), o capitalismo encontrou um
terreno fértil para semear a sua ideologia de confisco do preço do trabalho e
de exploração da mão-de-obra, alicerçado nas deslocalizações das empresas para
países de mão-de-obra barata, assim como na construção de modelos financeiros
que levavam à fuga de capitais e consequente pagamento de impostos através da
criação de offshores, bem como de papéis que serviam de financiamento
financeiro fictício que desaguou na crise financeira, económica e social que
todos conhecemos em 2008.
Para salvar o mundo financeiro e
os bancos em especial, a Europa conseguiu desencantar 700 mil milhões de euros,
sendo feito este salvamento da banca especulativa à custa das pessoas, que
viram reduzidas a nada as suas esperanças, o seu futuro a enegrecer e as perspectivas
de vida a afundarem-se cada vez mais num naufrágio colectivo da classe média e
dos mais desfavorecidos.
Perante este quadro, a direita
capitalista pretende desmantelar o Estado Social criado na Europa, aplicando um
garrote aos trabalhadores, aos desempregados, aos reformados e aos mais
necessitados com o corte nos salários, nas reformas e nos apoios sociais. O ultraliberalismo
nascido da globalização começou a sua safra oferecendo um “rebuçado” nos países
mais pobres, para onde se deslocou a indústria, que passaram a usufruir de uma
salário um pouco melhorado, mas sendo os trabalhadores obrigados a trabalhar
sem direitos, sem apoios sociais.
O capitalismo capturou os
Partidos Socialista da Europa através de um subterfúgio que se alicerçava num
apoio financeiro, na introdução de políticas de empréstimos a custos reduzidos,
na ideia de que na Europa era possível terceirizar a economia. Com estas
promessas os Partidos Socialista europeus deixaram-se embalar e adormeceram,
graças à Terceira Via de Tony Blair (que hoje factura milhões a enaltecer as
virtudes do ultraliberalismo e da globalização pelo mundo, escondendo todos os
malefícios que causaram aos europeus a sua política económica).
Hoje, mais que nunca, a esquerda
europeia tem que repensar o seu posicionamento ideológico. Os Socialistas terão
de reflectir naquilo que têm para oferecer de diferente à população. Se assim
não for a esquerda europeia, consubstanciada nos Partidos Socialista europeus,
tem o seu fim agendado para próximo.
Um mau exemplo já foi dado por François
Hollande, aquele que quando foi eleito abriu uma janela de esperança para a Esquerda Democrática europeia de ser possível uma alteração da
política austeritária que está a matar a Europa, quando fez aprovar o Tratado
Orçamental que mais não é que um garrote aplicado a um País que tenha
necessidade de incumprimento do défice por necessidades sociais – porque se o
for para defender a Banca a Comissão Europeia emitirá uma directiva que
aconselha os países a esquecerem o défice, aliás como o fez Durão Barroso em
2009.
Sem comentários:
Não são permitidos novos comentários.