A violência sempre ocupou o
desenvolvimento das civilizações;
A violência desde sempre
acompanhou o desenvolvimento das civilizações. A criação dos impérios foi
gerada através da violência. Mesmo a religião foi, e ainda é, imposta pela
violência. Portugal nasceu à custa da violência; de uma violência, podemos
dizer, atroz, pois o filho “bateu” na mãe, dado que foi à custa de uma guerra
que D. Afonso Henriques levou a efeito contra a mãe, D. Teresa de Leão, que
nasceu Portugal. Podemos dizer que nestes aspectos poderemos estar ante uma
violência radical, que verga e domina os opositores.
Sendo certo que a violência não
deve ser meio de incentivo, ela é, de facto, a forma mais comummente utilizada
para a obtenção de um bem ou de uma determinada posição. Aqui poderemos falar
da violência física e da violência psicológica, essa também já muito banalizada.
Com a evolução dos meios
tecnológicos e com a facilidade de comunicação através das redes sociais, com
facilidade se espalham imagens e comentários a retratar actos de violência,
sejam eles individuais, em grupo, na escola, na via pública, em casa, no
trabalho e em todos os locais onde haja pelo menos duas pessoas – aqui
reporto-me apenas e só à violência contra pessoas. Chegadas as imagens a estes
canais, logo se inicia uma autêntica “diarreia” informativa – canais
televisivos – e a viralidade que emerge nas redes sociais.
Recentemente vivemos esses
espectros com casos ocorridos em Portugal. Desde o assassinato de um bebé às mãos
do próprio pai; como o assassinato de um adolescente de 14 anos às mãos de um
jovem de 17 anos; assistimos, também, à divulgação - ad nauseam – nos canais de televisão e nas redes sociais, das
agressões perpetradas, há cerca de um ano, de algumas raparigas e rapazes a um
rapaz; também foi noticiado as agressões de um grupo de rapazes a um
adolescente de 12 anos dentro do autocarro que os transportava da escola. Nos
dois últimos casos, a turba ululante filmava as cenas com um telemóvel.
Para além dos casos acima
descritos, muitos têm sido os exemplos de violência que nos têm sido relatados
pela comunicação social, desde o assassinato de ex-mulheres, ex-namoradas, ou
mesmo de familiares. Nestes casos podemos dizer que estamos perante
transformações do amor em ódio, que terá originado as atitudes de violência
extrema exercida pelos algozes sobre as vítimas.
Esta semana tem sido alvo de
todas as análises, por parte dos mais variados especialistas(?), as cenas de
violência ocorridas em Guimarães, no final do jogo de futebol entre o Vitória local
e o Benfica, e os confrontos entre um grupo de adeptos e a polícia aquando das
comemorações do título conquistado pelo Benfica, em Lisboa.
No que a este último assunto diz
respeito, as imagens que nos transmitem sobre o que se passou, demonstram-nos
que estamos perante dois casos completamente diferentes e que merecem a devida
atenção, quanto mais não seja porque está envolvida uma das forças de segurança
do país, neste caso a PSP.
No caso de Guimarães, é-nos
apresentada uma imagem chocante, que nos mostra a atitude reprovável de um
polícia, por sinal com patente de oficial e comandante, a agredir barbaramente
um pai na presença de dois filhos menores, um com 9 anos de idade, e o avô
destes e pai do detido. As imagens mostram que há uma desproporção de meios
humanos, pois eram vários os polícias ao redor. O pai está a dar água ao filho,
que se teria sentido mal dentro do estádio, e é interpelado pelo polícia
graduado. Não sei que palavras trocaram! Não sei que gestos fez o civil! O que
se viu foi o graduado da polícia a utilizar uma violência desigual contra o
sujeito, molestando fortemente o mesmo à força do bastão. Quando o pai do
agredido tenta se intrometer, o polícia aplica-lhe um soco e empurra o idoso. E
os filhos a assistir a um acto tão degradante. O mais pequeno, vê-se, ficou
assustado e em pânico ao assistir a tal violência. Valeu a forma civilizada com
um outro polícia, armado de escudo, bastão e capacete de protecção, que recolheu
a criança, retirando-a do local e abraçando-a para que não continuasse a
assistir a tão bárbaro comportamento de um polícia com responsabilidades, e que
talvez fosse o seu chefe.
Neste caso em concreto, o polícia
tem grandes responsabilidades, pois, por muito que o civil lhe tivesse dito, ou
mesmo lhe tivesse cuspido – é certo que cuspir em alguém é o que de mais
degradante se pode fazer a um ser humano -, o graduado tinha por obrigação,
para isso são treinados, de não reagir da forma violenta como o fez, mas, isso
sim, usar apenas a força necessária para manietar o eventual agressor, até
porque ao seu lado estavam mais polícias e o homem estava sozinho com o pai e
com os dois filhos menores.
O comportamento da autoridade é o
sinal demonstrativo de que se está a banalizar a violência! E essa banalização
em detrimento da utilização da força necessária e proporcional retira margem de
defesa à autoridade. Não pode ser a autoridade a dar o primeiro sinal da
banalização da violência, pois essa é a acendalha necessária para o despoletar
da brutalidade.
No entanto, já o que se passou em
Lisboa, concretamente no Marquês de Pombal, a situação se torna diferente e,
não obstante o muito que possa ser dito e escrito, aí a polícia cumpriu o seu
papel, procurar conter uma chusma de meliantes que começaram a provocar
desacatos. A actuação policial foi conforme a situação, por muito que queiram
dizer o contrário, pois era necessário travar a escandecência de uma turba
ululante que já estava, certamente, anestesiada pelo álcool consumido.
Portanto, vivendo nós numa
civilização eticamente bem formada e esclarecida, supomos, temos por obrigação
de adequar o comportamento às circunstâncias, e as actuações ao meio
envolvente.
As multidões não se podem
transformar em autómatos que reagem à voz de um chefe, tal como um polícia não
pode, nem deve, actuar de forma diferente daquela que não seja a de último
recurso. Mais, os crimes das multidões resultam sempre após uma sugestão de um
poderoso do grupo, actuando os restantes convencidos de que estão a obedecer a
um dever.
Logo, as multidões e os polícias
em grupo não podem ceder à vontade de um poderoso. Terão sempre de primeiro
medir as consequências do acto. Esse é o primeiro passo para não se banalizar a
violência.
*Artigo publicado no jornal Notícias de Esposende n.º 20/2015, de 23 a
29 de Maio de 2015.