É
escola no nosso burgo em clima de festa
expelir verbosidade saloia.
O presidente da autarquia, Benjamim Pereira,
aprendeu bem nos livros da demagogia verbal e populismo saloio, quando em clima
de festa e frente a uma plateia subserviente, a lançar uns dislates discursivos
que levam no engodo muito boa gente.
Com púlpito e microfone à frente, Benjamim, qual
artista na arte da declamação, lá vai recitando as frases que decorou e fazem
parte da sua cartilha. É certo que o “disco” já está gasto de tanto falar em
investimento em Esposende. Anda a repetir a lengalenga há quase dois anos.
A primeira verbalização disparatada é a de que «Esposende está com uma dinâmica de
investimento ímpar» e «em Esposende,
o dinheiro é investido com critério».
Perante tal dislate, importa, objectivamente,
desconstruir este palavrório ardiloso, pois a enaltecida dinâmica de «investimento impar» não se vislumbra, pelo
que importa, acima de tudo, analisar o conceito de “investimento público” e não
alterar a semântica conceptual no sentido propositado de adulterar a realidade
dos factos.
Portanto, é essencial que se diga que o tal
“investimento impar” propalado por Benjamim Pereira nada tem a ver com a dinâmica
da sua gestão camarária.
Primeiro:
Obras do Programa Polis Litoral Norte
– Este é um programa criado pelo anterior governo que visa, no essencial,
promover a recuperação do litoral Norte, e do qual também fazem parte as
Câmaras de Caminha e de Viana do Castelo, assim como o governo central que
detém a maioria do capital social na empresa criada para o efeito.
Entretanto, no início da sua legislatura, o actual
governo PSD/CDS, pela voz da ministra do Ambiente da altura, Assunção Cristas,
cancelou a execução do programa e pretendia, mesmo, deixar cair o projecto.
O mesmo fez a Câmara Municipal de Esposende, em
reunião de Câmara de 13 de Setembro de 2012, aprovando, com o voto favorável de
Benjamim Pereira, na altura vice-presidente, uma proposta que tinha como objectivo
a saída da Câmara de Esposende do Programa da Polis Litoral Norte, propondo que
o governo comprasse a quota do Município por pouco mais de um milhão de euros –
isto depois de concluída a 2.ª fase da zona ribeirinha de Esposende. Nessa
reunião de Câmara, o vereador do PS votou contra. Também o PS Esposende tornou
pública a sua posição de não concordar com o abandono de tal programa, dado que
havia ainda obras a concluir.
O certo é que pela pressão do PS Esposende e pelos
dois outros municípios que fazem parte do capital social, o presidente da
Câmara da altura, João Cepa, não levou à Assembleia Municipal a proposta para
ser ratificada, argumentando falaciosamente que a posição tomada na Câmara era
no sentido de pressionar o governo. Balelas costumeiras.
Hoje verificamos, mas ainda bem que há eleições
Legislativas, que o governo “descobriu” o dinheiro que não queria aplicar no
programa e as obras seguem, o que tanto orgulho tem dado a Benjamim Pereira, e
demonstra a razão do PS Esposende em se opor à saída da Polis Litoral Norte.
Contudo, por sua vontade este programa teria
terminado em 2012. Mais, o Programa Polis Litoral Norte, por muito que custe
aceitar a muita gente, é um projecto do anterior governo do Partido Socialista,
que o lançou e desafiou as três autarquias a envolverem-se no Programa. E
parece que Benjamim Pereira se tem esquecido de dizer isso. O presidente da
Câmara enche a boca a falar dos 14 milhões de investimentos do Programa Polis,
dando a sensação que é ele e a Câmara que dirige que fizeram esses investimentos.
A Câmara de Esposende entrou para o capital social do programa com pouco mais
de 3 milhões de euros. Portanto, graças à visão do governo do Partido
Socialista é que o Programa Polis está a investir no litoral de Esposende! É
isto que Benjamim Pereira oculta na sua verbosidade.
Segundo:
Ampliação das ETAR da cidade de
Esposende concretizada pelas Águas do Norte – Esta empresa surgiu com a
agregação de várias empresas, dando azo ao desmantelamento da anterior empresa
Águas do Noroeste. Esta decisão do actual governo de criar uma grande empresa
de gestão da água em alta e das águas residuais é o primeiro passo para se
promover a privatização da água. Que eu saiba, Benjamim Pereira não se pronunciou
publicamente sobre a posição da Câmara de Esposende no que toca ao
desmantelamento da empresa Águas do Noroeste, empresa em que a Câmara é
accionista com um capital de 700 mil euros, o que demonstra bem a sua
subserviência ao actual governo, esquecendo que o seu papel é defender os
interesses dos esposendenses. Já assim foi com a desqualificação do tribunal!
Entendo que Benjamim Pereira ao falar em
«investimento» por parte da empresa Águas do Norte está a deturpar o conceito,
pois só se poderá compreender como investimento algo que seja benéfico para a
população em geral. O que não me parece que seja o caso. Neste caso concreto
estaremos mais perante um investimento em proveito da própria empresa, pois
pretende reduzir custos de funcionamento, pelo que não deverá ser elogiado pelo
presidente da Câmara, mas isso são entendimentos.
Agora o que Benjamim Pereira deveria dizer aos
Esposendenses era, na realidade, se
vamos ver reduzido o valor da factura da água que mensalmente pagamos graças a
esses “investimentos”?, pois na realidade só será investimento tudo aquilo
que tem como objecto melhorar a vida das pessoas e reduzir substancialmente os
valores a pagar pelos contribuintes. Falta Benjamim Pereira anunciar “Urbi et
Orbi” qual vai ser o benefício para os esposendenses na factura da água os
ditos “investimentos”.
Terceiro:
«Criação do Centro de Negócios» - É
sabido que a Câmara de Esposende tem parecido mais uma empresa de organização
de eventos e promotor imobiliário do que na realidade uma Câmara Municipal. A
compra de terrenos começou por ser anunciada por Benjamim Pereira como intenção
de promover a construção de habitação a custos controlados. Agora surge o
anúncio de que será para a “Criação do Centro de Negócios”.
Contudo, falta Benjamim Pereira dizer aos
esposendenses em que estudos, projectos e pareceres se baseia para promover a
construção do dito cujo “Centro de Negócios”. Explique, porque os esposendenses
querem saber!
Quarto:
Os esposendenses estão à espera de ouvir, do alto dos seus tamancos do poder e
de frente para o seu púlpito e microfone, o que tem Benjamim Pereira a dizer,
já que nestes aspectos essenciais para a vida concreta das pessoas nada disse, sobre
o seguinte:
- Explique porque motivo a Câmara foi submissa e
subserviente ao permitir a construção do aberrante mamarracho junto às margens
do rio Cávado (estação elevatória em Fão) por parte das Águas do Noroeste que é
um atentado à paisagem urbanística e ambiental?;
- Explique o motivo pelo qual a Câmara Municipal de
Esposende não se pronunciou publicamente sobre a intenção do actual governo de
encerrar dois GIP’S (Gabinetes de apoio aos desempregados) no concelho de
Esposende, mais concretamente, pelos critérios previamente estabelecidos e
devidamente orientados, os GIP’S de Forjães (ACARF) e o da Junta de Freguesia
de Apúlia e Fão? O encerramento destas entidades causa mais transtornos e
despesas aos desempregados, que são aqueles que mais prejudicados são;
- Explique aos esposendenses porque decidiu a
Câmara aderir apenas a um balcão único e não a mais; e, essencialmente,
explicar o motivo pelo qual decidiu que esse balcão único fique dentro do
edifício da Câmara e não, por exemplo, na margem Sul do concelho, para servir a
população desse lado, isto porque em Esposende já estão sediados os serviços
públicos que também prestam a maioria dos serviços oferecidos pelo balcão único,
razão pelo qual esse serviço deveria ser descentralizado para maior proximidade
com os cidadãos, dado que esse é o papel fundamental das autarquias locais?;
- Explique o que se passa, e qual o seu futuro, com
a extensão de Saúde de Apúlia, onde há falta de médicos?;
- Explique o que está a acontecer na Escola de
Música de Esposende, tendo em conta a manifestação dos alunos no interior do
edifício dos Paços do Concelho?;
Quinto:
«O dinheiro é investido com critério» -
Qual o critério e quais os parâmetros que Benjamim Pereira e a Câmara entendem:
- Será critério gastar 10 mil euros dos cofres
camarários para comparticipar num concerto promovido por uma empresa privada de
distribuição, que factura milhões anualmente na sua loja de Esposende e nem um
cêntimo paga de impostos no Concelho e no País?;
- Ou seria um bom critério colaborar com tal verba
com a Junta de Freguesia de Apúlia e Fão para a aquisição de uma máquina
rectroescavadora que tanta falta faz diariamente à autarquia para promover o
bem-estar da população e resolver os problemas concretos das pessoas?;
Sexto: Diz
Benjamim Pereira «…tudo isto numa conjuntura difícil, com restrições
financeiras» - Tal como o seu querido líder do governo central, Benjamim
Pereira perdeu a noção do ridículo e não consegue mudar a “cassete”.
Ao dizer tal desmando, o presidente da Câmara está
a gozar com os esposendenses, senão vejamos:
- Benjamim Pereira orgulha-se de ter dois milhões
de euros numa aplicação financeira no Banco BIC, o banco angolano que recebeu
quase de borla o BPN. Será isto conjuntura difícil?
- Só no ano de 2014 a Câmara Municipal de Esposende
cobrou de impostos directos aos esposendenses o valor de mais de 6 milhões e
quinhentos mil euros. Se isto é ter restrições financeiras, se isto é
conjuntura difícil, que dirão as pessoas que se veêm sonegadas dos seus
rendimentos?
Os esposendenses esperam que Benjamim Pereira se
pronuncie publicamente sobre o verdadeiro problema concreto das pessoas e não
de banalidades discursivas.
Nota: O autor escreve com o antigo AO.
*Artigo publicado no Jornal Notícias de Esposende,
n.º 26/2015 – 19 a 25/Julho.