sábado, 4 de julho de 2015

“ANDA UM ESPECTRO SOBRE A EUROPA”

Marx e Engels iniciavam o seu “Manifesto do Partido Comunista” com a frase que dá título a esta crónica.
O espectro de que os autores falavam era o Comunismo – adiantando que “todos os poderes da velha Europa se aliaram para uma santa caçada a este espectro”.
Também hoje, 143 anos depois desta frase, os poderes da Europa e do capitalismo financeiro se aliam para espalhar o espectro da actualidade: o Medo!
Na Europa da União Monetária à deriva, com líderes que não querem, pelo seu facciosismo e narcisismo, reconhecer que as políticas aplicadas à zona euro de há cinco anos para cá falharam redondamente, estão apostados em implementar o espectro do medo sobre a população europeia em geral e na grega em particular.
Desafiados pelo governo grego, que organizou um referendo para que os gregos, de forma democrática e livre, dissessem que futuro queriam para si próprios e para a Grécia. O pedido era apenas e só que os gregos dissessem SIM ou NÃO às medidas de austeridade que as instituições europeias querem continuar a impor e que o governo grego se recusa a aplicar na dose exigida.
Perante este desafio do governo grego, logo os mercados e os líderes europeus iniciaram a sua saga da imposição do medo. Tal é a sua voracidade, que não têm pejo de ameaçar o povo grego, caso o NÃO saia vencedor deste referendo, da desgraça financeira. Até por cá ouvimos os dislates pronunciados pelos coveiros deste país, como Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas, Durão Barroso e os mais variados comentadores avençados da comunicação social, tal como as costumeiras vuvuzelas que se habituaram a destilar o seu ódio aos gregos, procurando, ao mesmo tempo, ameaçar os portugueses de que se ousarem votar num novo governo, em Setembro/Outubro, calhará aos portugueses o mesmo caminho dos gregos. Esta é a mais reles chantagem que poderá ser feita a um povo que tem sido fustigado por uma grande austeridade que tem afundado cada vez mais o país, ao contrário da doutrina que os pregadores da coligação de direita anunciam.
Para além deste espectro do “medo” que é espalhado pelos líderes europeus e pelas instituições, também a lógica do pensamento único é o alfa e o ómega do discurso europeu. Para fazerem vingar a sua posição, esta gente não tem pejo em destruir pessoas; em degradar vidas; em desmantelar famílias; em afundar países. Pois apenas têm um fito: provar que não falharam e que só o caminho que eles impõem é o correcto. Dizem, sem vergonha, que não há outro caminho. Por isso procuram destruir quem ouse os enfrentar e dizer que há outro caminho menos doloroso para o povo.
Na Europa corre o espectro da supremacia. Apruma-se a lógica de dois mundos dentro da Europa. Procura-se a divisão entre os ociosos do Sul e os trabalhadores do Norte; promove-se a cisão entre os Católicos do Sul e os Protestantes do Norte.
Dessa forma, os líderes do Norte demonstram bem a sua inveja pelos povos do Sul: invejam o sol, as praias, a gastronomia, o clima, a afabilidade. Por isso não param de apodar de preguiçosos os povos do Sul. Os invejosos do Norte confundem o que vêem em tempo de férias!
É este espectro do medo e do pensamento único que está a destruir o conceito de solidariedade e de coesão que foram os pilares da construção da Europa nos resquícios da II Guerra Mundial. Não podemos esquecer que a II Guerra Mundial nasceu da loucura de Hitler em querer ser o dono da Europa, mas também do medo imposto ao povo alemão.