Está bem explicado?
Tem sido enaltecido pelo governo,
mormente pelo Primeiro-ministro Passos Coelho, e por alguns comentadores em intervenções e artigos de opinião, que a linha de austeridade seguida pelo
governo, rumo ao empobrecimento da maioria da população, nomeadamente da Classe
Média, está no caminho certo. E apresentam como bandeira do sucesso o aumento da
poupança em Portugal que se reflectiu nos depósitos bancários efectuados
durante o ano de 2012.
Pois Bem! Será este aumento dos
depósitos bancários, e o consequente aumento da poupança, um sinal de que as
medidas do governo estão certas no caminho que percorreu e pretende continuar a
percorrer? Ou será um perfeito embuste a proclamação deste desiderato como
fruto das boas práticas políticas na implementação do programa de austeridade
da troika e do governo português que se comprometeu mesmo em ir para além da
troika?
Na minha opinião, isto não passa
de uma falácia do governo que pretende justificar, ajudado pelos acólitos que
enxameiam as televisões, as rádios e os jornais, que a sua linha de conduta
governativa está no bom caminho e que esse reflexo está no aumento da poupança e
dos depósitos bancários. Só que este argumentário é falso.
Considero esta narrativa de que
num momento em que numa fase em que o rendimento disponível diminui e a poupança
cresce que é um sinal de confiança dos portugueses e que as medidas de austeridade
até não assim tão dolorosas e más como Passos Coelho já teve os desplante de
proclamar, não passa de um embuste.
Para que o governo e os seus
acólitos pudessem sustentar devidamente a correlação entre as medidas de
austeridade e a diminuição do rendimento originar o aumento da poupança
deveriam primeiro saber de onde advinha esse dinheiro depositado pelos
portugueses. Só após esse exercício é que deveriam vangloriar-se da trama que
defendem.
No entanto, quero deixar aqui
três situações que, certamente, deram origem ao aumento da poupança e dos
depósitos dos portugueses:
1.ª - Não sei se lembram quando
foi descoberta a tramóia da fuga de capitais, mais de 13 mil milhões de euros, para
paraísos fiscais e que fugiram ao pagamento dos respectivos impostos? Dessa
descoberta, e fruto do pagamento de uma multa simbólica a reverter para os
cofres do Estado, esse dinheiro terá regressado a Portugal devidamente “lavadinho”
numa operação de Marketing que deixa muito a desejar aos criativos que
trabalham para as empresas que produzem e vendem detergentes.
Ora, se esse dinheiro regressou a
Portugal, ele entrou nos bancos. Conclusão: contribuiu para aumentar os
depósitos e a consequente poupança;
2.ª – Outro dos motivos que deu
origem ao aumento dos depósitos e da poupança deve-se ao exacerbado número de despedimentos
colectivos e individuais que tiveram lugar em 2012. Com acordo de rescisão amigável do
contrato de trabalho ou por decisão do tribunal, os trabalhadores despedidos
receberam um valor de indemnização que depositaram no banco e criaram uma
carteira de poupança (neste caso falo por conhecimento de causa própria, pois
em 2012 fui para o desemprego e da indemnização que recebi fiz uma pequena
carteira de poupança);
3.ª – Por fim, esta 3.ª medida
repercute-se no facto da emigração ter aumentado muito em Portugal no último
ano e, certamente, os portugueses que emigraram terem enviado para cá o
dinheiro que poupam no país onde trabalham, até porque muitos têm compromissos
financeiros em Portugal.Também estranho que ainda não tenha sido publicado o valor da remessa dos emigrantes de 2012?
Eis aqui três situações que
levantei e que certamente estão na origem do aumento dos depósitos bancários e
da poupança.
Em jeito de conclusão, pelo
exposto pode-se considerar falaciosa a narrativa governativa e dos seus
acólitos no que tange a este assunto da poupança.