Não sei que mais dizer da
degradação política a que hoje chegamos no nosso País.
O povo que elegeu os senhores
deputados, e por conseguinte a presidente da Assembleia da República,
manifestou-se hoje nas galerias da Assembleia, pedindo a demissão do governo e
dos deputados ali presentes.
Com um tom de voz autoritário, a
presidente da Assembleia gritava ao povo para se retirar, segundo o vídeo do
canal televisivo “Económico Tv”. Ela que foi eleita pelo mesmo povo está a
correr com o povo que se manifesta, com legitimidade, na casa da Democracia. Se
aqueles que estão na casa da Democracia não respeitam a Democracia, então o
povo tem de lá ir e gritar para que a Democracia funcione.
Para cúmulo, a dita presidente
diz que vai rever o acesso às galerias. Isto é grave, muito grave. O povo não
pode ser impedido de ir à casa da Democracia. Hoje em Portugal quem está no
poder está a atacar a Democracia, está a agarrar-se ao poder como lapas. O
memorando da troika não pode nem deve servir de protecção para se aplicar uma
autocracia.
O mesmo se pode dizer de Passos
Coelho. O PM teve o topete, na sequência das demissões de Gaspar e Portas, de
afirmar "eu não me demito" e "eu não abandono o meu país".
Mas quem julga Coelho que é? Que legitimidade moral tem este senhor para dizer
que não abandona o país quando ordena a centenas de milhar de portugueses que
abandonem o seu país, quando os convida a emigrar? Só alguém imbuído de tiques
totalitários é que poderá afirmar "eu não me demito" e “eu não
abandono o meu país”. Isto é perigoso. Estes comportamentos de negação podem
ser fatais para a destruição de um país e de um povo.
Foi isto que Cavaco pensou ontem
no seu discurso. Só que Cavaco é tanto ou mais cobarde que esta tropa fandanga
do governo e da maioria na AR, pois Cavaco tinha a obrigação de dizer, palavra
por palavra, o que pensa desta gente e que pretende correr com eles do governo.
Cavaco não pode dizer e não dizer ao mesmo tempo, num discurso que deixa no ar
a possibilidade de muitas e diversas interpretações ao que ele quer dizer. O
País e os portugueses têm de ser mais importantes que os recados escondidos que
o supremo magistrado da Nação resolve enviar para os seus correligionários do
partido e os da coligação, em particular, e para os outros partidos,
especialmente ao PS, em geral. Cavaco sabe que tem de ser claro no que diz,
pois caso contrário cada português terá de tirar um curso de hermenêutica para
poder compreender o que Cavaco diz.
Portanto, o povo hoje demonstrou
na AR de que não está contente com o que se está a passar. A classe política
está a descer abaixo do grau zero da tolerância. Os partidos políticos são o
garante e a estabilidade da Democracia, Democracia essa que não é mais que dar
o poder ao povo com a utilização do voto.
Os responsáveis partidários que
não quiserem entender isto não estão a prestar um bom serviço ao seu Partido,
nem tampouco ao povo que os elegeu. Por teimosia, por não querer deixar o
poder, por arrogância política, por revanchismo incompreensível aqueles
dirigentes que entendem que devem continuar no poder sentindo-se legitimados
para isso estão a prestar um mau serviço à Democracia. Com esse comportamento
estão a denegrir os partidos e os políticos, e a fazer com que um povo, um povo
inteiro, comece a não acreditar nos políticos e nos partidos, o que poderá ser
o início de uma escalada na, já de si, degradação dos partidos e colocar em
causa a Democracia.
Só quem é tonto ou está tolhido
pela “bebedeira” do poder é que poderá continuar a comportar-se como o menino
mimalho que não tem jeito nenhum para dar um pontapé na bola e os outros não o
deixam entrar na equipa. Mas ele, mimado e arrogante, como é o dono da bola,
agarra na bola e não deixa ninguém jogar. Não há jogo.
É assim que estamos a assistir
neste momento em Portugal. O governo não se entende no seu interior; os dois
responsáveis máximos dos partidos da coligação não se falam; Cavaco não
acredita neles e nem confia, mas diz que o governo está em funções com um MNE
com um pedido de demissão irrevogável(?). Isto não é um governo! Isto é uma passerelle
de gente que só olha para o seu umbigo e que se embebedaram com o poder e não o
querem deixar, pois sabem que, indo para eleições, um dos partidos deixa de
estar no governo. É isto que eles não querem. Mas também é isto que Cavaco não
quer.
Cavaco não pode continuar a
pretender comandar um governo sem eleições. A legitimidade política de um
governo num sistema democrático é concedida pelo povo em eleições. É isto que
Cavaco tem de entender. É isto que aqueles que estão nas instituições europeias
têm de perceber. Mas o problema é que eles não percebem porque não foram
eleitos, eles foram escolhidos pelo mundo da finança, pelos banqueiros e porque
se comportaram como lambe botas de presidentes e primeiros-ministros. É esta
gente que manda na Europa e a quem os políticos eleitos obedecem cegamente. Quando
deveriam obedecer, isso sim, ao povo que o elegeu.