É o segundo resgate que se
avizinha
A crise política aberta pela
demissão de Gaspar, seguida da tentativa de fuga de Portas, veio escancarar o
que muitos já prognosticavam: a necessidade de um segundo resgate a Portugal,
pois, como Gaspar confessou na carta de demissão, a política de austeridade
imposta nos últimos dois anos não funcionou.
Gaspar fugiu porque era o rosto
principal do falhanço. Portas tentou fugir porque não queria ficar com o ónus
de estar num governo que falhou rotundamente todas as metas a que se propôs e
teve de pedir um segundo resgate.
Se não foi possível a Coelho e
Cavaco – Cavaco em defesa acérrima do PSD, disso não podemos duvidar – travar a
saída de Gaspar, já a saída de Portas foi imobilizada, com Coelho a não
entregar a Cavaco a carta de demissão do “Paulinho das feiras” (quem sabe se em
conluio com Cavaco?) para o obrigar a continuar no governo que se sabia que
Cavaco não iria demitir.
Dessa forma, Coelho e Cavaco
impedem a saída de Portas e evitam que pudesse vir a dizer que o segundo
resgate foi pedido com ele e com o CDS fora do governo e que, por isso, nada
tinha a ver com o pedido do segundo resgate. Se assim congeminou a sua
estratégia, o não se sabe ministro dos Negócios Estrangeiros ou vice Primeiro-ministro
(?), o tiro saiu-lhe pela culatra, pois em Belém há maquiavélicos iguais ou
melhores que Portas – basta a questão das escutas de Belém no governo de
Sócrates -, que conseguiram engendrar uma estratégia que amarram Portas ao
governo e assim impedem que o líder do CDS dê de “frosques” e fique na poltrona a assistir à degradação do
PSD. Portanto, primeira derrota para a estratégia de Portas.
Estribado Portas ao governo,
importava que outra estratégia fosse germinada, pois só dessa forma o PSD de
Cavaco e Coelho poderia sobreviver nas próximas eleições Legislativas – fossem antecipadas
ou não. Por isso era primordial que o PS e o seu líder, António José Seguro,
fossem manietados na sua liberdade de acção no papel de partido da oposição.
É assim que surge o discurso de Cavaco!
Não demite já o governo, pois é importante que o País não vá para eleições
enquanto a troika cá estiver. Portanto, era interessante oferecer já um
rebuçado ao PS e a Seguro, que não se cansam de pedir eleições antecipadas. Fórmula
encontrada para adoçar o “bico” ao PS: Cavaco compromete-se a marcar eleições
antecipadas a partir de Junho de 2014, quando a troika sair, mas é imposta uma
condição de o PS assinar um acordo com o PSD e o CDS para manterem um governo
de salvação nacional.
Esta é uma jogada que nem Maquiavel
se lembraria de aconselhar ao Príncipe! Atar ao governo o PS e António José
Seguro é o mesmo que o implicar na necessidade de pedido do segundo resgate.
Fazendo isso, Cavaco salva a face de Coelho e oferece a possibilidade do PSD
não sofrer a maior derrota eleitoral da história do Partido, pois os três
partidos ao assinarem o acordo estão a comprometer-se, depois disso nenhum
poderia colocar-se à margem do segundo resgate. Chegados a eleições, PSD e CDS
poderiam dizer que o PS também colaborou na necessidade do segundo resgate e
que por isso não podia criticar o governo.
Hoje o PSD e o CDS não se cansam
de acusar o PS de ter assinado o memorando da troika, escondendo
propositadamente que esses dois partidos também assinaram e colaboraram na implementação
de medidas incluídas no memorando. Como são dois partidos chefiados por dois
sem vergonha e mentirosos políticos compulsivos, o que hoje Coelho e Portas não
reconhecem como responsáveis também pela assinatura do memorando, não terão
pejo em alegar que o PS também assinou o acordo de governo e o pedido do
segundo resgate. É com esta gente que estamos a lidar.
Dessa forma, Seguro e o PS estão
embrulhados numa camisa de sete varas que lhes retira a mobilidade para poderem
actuar como maior partido da oposição. Se não aceitam negociar, logo serão
acusados de falta de patriotismo e que são os únicos responsáveis pela crise
política. Se aceitar o acordo, o PS e Seguro não poderão limpar a marca que
lhes será aposta pelos outros partidos de que também foi colaborante com o
segundo pedido de resgate.
O que Cavaco fez, no seu
discurso, foi infligir uma lança no PS e em Seguro que os feriu de “morte”,
quer aceitem ou não o acordo de regime para o governo de salvação nacional.
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