Estar desempregado não é uma
opção;
receber a pensão é um direito
que não pode ser negado!
As
últimas semanas têm sido pródigas em declarações políticas e peças noticiosas
sobre as pensões e o desemprego que deixa varado de pasmo aqueles que têm por
hábito acompanhar estas temáticas.
É
comummente aceite que o desemprego é um drama individual e familiar e uma chaga
social! Por isso, a problemática do desemprego está incluída nas principais
medidas políticas e governativas de qualquer país digno e desenvolvido. Para
amenizar o drama que atinge aqueles que caiem nas malhas do desemprego são
implementadas medidas de apoio que visam, no essencial, mitigar o problema
daqueles que são arrastados de forma involuntária para o despedimento.
Em
muitas culturas, olhar para um desempregado é considerá-lo um mandrião, um
vadio, um ocioso. Em Portugal, muito por fruto das declarações políticas de uma
facção da direita política, já se começa a olhar para o desempregado como
alguém que apenas quer viver à custa do subsídio de desemprego, a que todos
aqueles que descontaram do seu salário têm direito a receber; alguém que não
quer trabalhar.
Numa
sociedade, que é constituída por pessoas, portanto, cada um é como cada qual,
como sói dizer-se, há sempre alguns, desde o aparecimento do homem e dos
primórdios das civilizações, que estão fora da normalidade societal. Mas a
maioria das populações procura integrar-se na sociedade, nas normas e nos
costumes, sendo que o trabalho é uma das actividades que a civilização moderna
entende ser nobre e inclusiva.
Um
dos factores que mais contribui para a desestruturação de famílias e vidas
individuais é o desemprego! Por isso, é insofismável que para a maioria dos
indivíduos o trabalho é aquele que ocupa a maior parte da sua vida em todas as
actividades em que se envolve. Desse modo, também podemos considerar o trabalho
como uma escravidão, pois se assim não fosse as pessoas não se sentiam tão
perdidas, tão órfãs e desorientadas quando ficam desempregadas. E isso é o que
falta a sociedade actual entender! E, por isso, políticos sem escrúpulos e sem
vergonha; mais uma chusma de comentadores, de patrões e empresários; procuram
desacreditar os desempregados, tornando-os aos olhos de quem trabalha como uns
ociosos que vivem à custa dos subsídios pagos com os impostos de quem trabalha.
Agir assim e pensar desta forma é perfeitamente condenável, até porque o
desemprego não é uma opção, mas sim uma situação externa à vontade do
desempregado.
Mas
o que de mais repugnante pode acontecer é o desemprego e os desempregados
servirem de arma de arremesso para a luta politico partidária. Hoje, em Portugal, estamos a assistir a essa pouca vergonha.
É
comum os governos maquilharem os números do desemprego, criando mecanismos que
podem manipular como quiserem e entender. Quando o INE divulga os números dos
desempregados, o governo e a oposição logo os vêm interpretar à sua maneira e
conveniência.
O
que é vergonhoso é que os políticos esquecem-se que os números do desemprego
são pessoas, são famílias, que merecem ser respeitadas na sua dignidade.
As
entidades que gerem o desemprego são especialistas na cosmética para mascarar
os números, isto com o beneplácito e instruções dos governos, sejam eles de que
cor política for. Vai daí, quando querem reduzir artificialmente o número de
desempregados criam artifícios vergonhosos, fazendo crer que as medidas tomadas
pelo governo estão a criar emprego, por isso o desemprego desce. Nada disso é
verdade! E mentem descaradamente às pessoas!
Para
isso basta atentarmos a forma como o Instituto de Emprego e
Formação Profissional (IEFP) está a excluir das suas listas, sem aviso prévio,
os desempregados que já não recebem subsídio, uma situação que os impede de
concorrer a programas de apoio ao emprego, a formação profissional e, no caso
dos mais velhos, à reforma antecipada. É que, quem não recebe subsídio e não
contacta o centro de emprego no prazo de dois meses, ou recusa uma proposta de
emprego, falta a uma convocatória ou decide não participar numa ação de
formação vê a sua inscrição no centro de emprego “anulada”, desaparecendo, por
magia estatística, das longas filas do desemprego, e passando a ser mais um
“inativo” invisível para os cálculos do INE.
Mandam-se para estágio
profissional uns milhares de jovens; criam-se acções de formação para mais
outros milhares de desempregados; envia-se para contratos de inserção emprego
mais uns milhares de desempregados. E, assim, fazem desaparecer 160 mil
desempregados das estatísticas, o que correspondente a 3% dos desempregados.
Com isso o governo anuncia que o desemprego baixou! Pura mentira! Dessa forma o
governo promove a precariedade e subsidia as empresas enviando-lhes, quase de
graça, trabalhadores para ocuparem postos de trabalho efectivos. Isto é uma
vergonha preconizada pelo actual governo, mas também o foi por anteriores
governos. Aliás, isto já está viciado em Portugal: o governo envia
trabalhadores para as empresas, que estas aproveitam para suprimir
trabalhadores efectivos que se reformaram ou foram despedidos, mas cujo posto
de trabalho tem de ser preenchido, pois faz falta à empresa.
É assim que, à semelhança de
situações anteriores, a taxa de desemprego em Abril recuou 0,2 pontos percentuais
face a Março, para 13,0%, segundo a estimativa mensal recentemente divulgada
pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Anulados e excluídos, os
invisíveis desempregados sem subsídio ouvem, perplexos, o
vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, dizer publicamente que “hoje é um dia com
esperança”, criticando as “aves agoirentas que tentam puxar o país para baixo”.
E se acrescentarmos os muitos milhares de jovens que foram obrigados a emigrar
à procura de trabalho, aumentaria, e muito, o número de desempregados
registados nas estatísticas oficiais. O certo é que este governo destruiu, em
quatro anos, meio milhão de postos de trabalho.
Outro dos instrumentos para a
luta político partidária são as pensões. Para o actual governo os pensionistas
são um estorvo e um custo. Portanto, acenando com o papão da insustentabilidade
da Segurança Social, já anunciaram, pela boca da ministra das Finanças, que iam
cortar 600 milhões de euros nas pensões em pagamento. Perante esta informação,
Passos Coelho e Portas logo vieram a terreiro dizer que não era verdade, que
não iam cortar nas pensões. Mas a credibilidade dos ditos e das suas juras deve
ser igual às que produziram em 2011, pelo que não são para levar a sério, dado
ser mais uma grande mentira. Isto porque o governo inscreveu no Programa de Estabilidade
e Crescimento, que entregou às instâncias europeias de Bruxelas em Abril deste
ano, que iria poupar no próximo orçamento (2016) 600 milhões de euros nas
pensões em pagamento. Ora, poupar é sempre na despesa e não na receita.
Mais uma vez a coligação de
direita no governo quer denegrir a imagem dos desempregados e dos pensionistas,
como se eles fossem os responsáveis pelas políticas de destruição de emprego
implementadas por esta coligação de direita.
E assim assistimos a uma
vergonhosa tentativa da coligação de direita em colocar os que trabalham contra
os desempregados; e os que ainda estão no activo contra os reformados.
Esta forma de tentar dividir para
reinar é asquerosa, e o povo não pode pactuar com estas falácias.
Nota: O autor, por sua decisão, escreve com ao antigo acordo ortográfico.