quarta-feira, 11 de junho de 2014

CONSENSOS PEDE CAVACO



No discurso de ontem, 10 de Junho, na Guarda, Cavaco Silva (mesmo depois do “badagaio” que lhe deu) veio, pela milésima vez, falar em consensos e em entendimentos entre os partidos.
Para justificar esta cantilena, Cavaco fala em dar «esperança aos portugueses». O Presidente da República não tem outro tipo de discurso! Cavaco só pede entendimentos entre os partidos devido à sua limitação intelectual e ao facto de ser um apologista do “pensamento único?”, aliás o que vigora hoje na Europa.
Esta forma de pensar torna a política e a existência de partidos políticos inúteis! Para que todos pensem da mesma forma, como pretende Cavaco, não é necessário existir partidos e haver eleições. A política só pode sobreviver se houver confronto de ideias; se existirem pontos de vista diferentes; se for oferecido às pessoas alternativas de governação. Só dessa forma a Democracia perdura, pois Democracia não é apenas o direito de votar e a liberdade de expressão. Democracia corresponde, também, à liberdade de escolha, ao direito do povo de decidir por ele mesmo que tipo de políticas quer ver implantada no seu país. E não o pensamento único, o consenso, o entendimento, conforme preconiza Cavaco Silva.
Só o simples facto de haver a possibilidade de uma alternativa é que leva o povo a votar. Caso se imponha uma alternância de poder – como hoje se assiste – como defende Cavaco, as pessoas não se dão ao trabalho de ir votar. Daí a elevada percentagem de abstenção que se vem assistindo nos últimos actos eleitorais.
O papel de um Presidente da República é muito mais lato do que aquele de andar a apregoar entendimentos e consensos. O Presidente da República é o garante da democracia; é o fiel defensor dos preceitos constitucionais – conforme jurou na tomada de posse. Só com uma presidência activa é que um país como Portugal poderá respeitar a Constituição e os seus governos poderão respeitar as pessoas. O povo massacrado por poderes fácticos, que em busca do lucro desenfreado, que dominam o espectro político do governo, que submisso aos interesses do mundo dos negócios não tem pejo em deliberar em prejuízo daqueles que mais sacrificados são: as pessoas que trabalham, os mais necessitados, os doentes e os desempregados e não tem ao seu lado a voz defensora do Presidente da República.
Um Presidente da República terá de ser uma voz avisada e atenta; tem de dar um sinal forte ao governo do descontentamento popular; terá de ser um ouvidor dos sentimentos de frustração de um povo que se sente enganado todos os dias por um governo sem escrúpulos. O papel do Presidente da República terá de ser activo e não reactivo! Terá de ser o primeiro a suscitar e a pedir esclarecimento das dúvidas.
O Presidente da República não poderá continuar a caucionar um governo que faz o mal e a caramunha a um povo indefeso. Um mar de gente sem esperança não deve continuar a ser discriminada num mundo voraz, que apregoa a excelência e o mérito, mas que olhando para o interior de um governo que desempenha o papel de capataz, de feitor, é o exemplo da mediocridade e do demérito.
Compete, pois, ao Presidente da República ser o garante do bom funcionamento das instituições e da separação dos poderes. Cavaco Silva deveria ter aproveitado o 10 de Junho, não para continuar a falar do mesmo, do entendimento, dos consensos, para avisar o governo do seu mau comportamento; notificar o governo de que não pode nem deve pressionar o Tribunal Constitucional, nem tampouco promover um ataque tão absurdo aos juízes do Tribunal Constitucional.
Mas não foi nada disto que Cavaco fez e disse no 10 de Junho, na Guarda. Cavaco foi igual a ele próprio: um Presidente sem rasgos, medíocre, sem capacidade para ler a democracia e a vontade do povo. Apenas se comporta de forma “autista”, procurando não confrontar o governo do seu partido. Cavaco, mais uma vez, pôs os interesses partidários à frente do País?