No discurso de ontem, 10 de
Junho, na Guarda, Cavaco Silva (mesmo depois do “badagaio” que lhe deu) veio,
pela milésima vez, falar em consensos e em entendimentos entre os partidos.
Para justificar esta cantilena,
Cavaco fala em dar «esperança aos portugueses». O Presidente da República não
tem outro tipo de discurso! Cavaco só pede entendimentos entre os partidos
devido à sua limitação intelectual e ao facto de ser um apologista do “pensamento
único?”, aliás o que vigora hoje na Europa.
Esta forma de pensar torna a
política e a existência de partidos políticos inúteis! Para que todos pensem da
mesma forma, como pretende Cavaco, não é necessário existir partidos e haver
eleições. A política só pode sobreviver se houver confronto de ideias; se
existirem pontos de vista diferentes; se for oferecido às pessoas alternativas
de governação. Só dessa forma a Democracia perdura, pois Democracia não é
apenas o direito de votar e a liberdade de expressão. Democracia corresponde,
também, à liberdade de escolha, ao direito do povo de decidir por ele mesmo que
tipo de políticas quer ver implantada no seu país. E não o pensamento único, o consenso,
o entendimento, conforme preconiza Cavaco Silva.
Só o simples facto de haver a
possibilidade de uma alternativa é que leva o povo a votar. Caso se imponha uma
alternância de poder – como hoje se assiste – como defende Cavaco, as pessoas
não se dão ao trabalho de ir votar. Daí a elevada percentagem de abstenção que
se vem assistindo nos últimos actos eleitorais.
O papel de um Presidente da República
é muito mais lato do que aquele de andar a apregoar entendimentos e consensos.
O Presidente da República é o garante da democracia; é o fiel defensor dos
preceitos constitucionais – conforme jurou na tomada de posse. Só com uma
presidência activa é que um país como Portugal poderá respeitar a Constituição
e os seus governos poderão respeitar as pessoas. O povo massacrado por poderes
fácticos, que em busca do lucro desenfreado, que dominam o espectro político do
governo, que submisso aos interesses do mundo dos negócios não tem pejo em
deliberar em prejuízo daqueles que mais sacrificados são: as pessoas que
trabalham, os mais necessitados, os doentes e os desempregados e não tem ao seu
lado a voz defensora do Presidente da República.
Um Presidente da República terá de
ser uma voz avisada e atenta; tem de dar um sinal forte ao governo do
descontentamento popular; terá de ser um ouvidor dos sentimentos de frustração
de um povo que se sente enganado todos os dias por um governo sem escrúpulos. O
papel do Presidente da República terá de ser activo e não reactivo! Terá de ser
o primeiro a suscitar e a pedir esclarecimento das dúvidas.
O Presidente da República não
poderá continuar a caucionar um governo que faz o mal e a caramunha a um povo
indefeso. Um mar de gente sem esperança não deve continuar a ser discriminada
num mundo voraz, que apregoa a excelência e o mérito, mas que olhando para o
interior de um governo que desempenha o papel de capataz, de feitor, é o
exemplo da mediocridade e do demérito.
Compete, pois, ao Presidente da
República ser o garante do bom funcionamento das instituições e da separação
dos poderes. Cavaco Silva deveria ter aproveitado o 10 de Junho, não para
continuar a falar do mesmo, do entendimento, dos consensos, para avisar o
governo do seu mau comportamento; notificar o governo de que não pode nem deve pressionar
o Tribunal Constitucional, nem tampouco promover um ataque tão absurdo aos
juízes do Tribunal Constitucional.
Mas não foi nada disto que Cavaco
fez e disse no 10 de Junho, na Guarda. Cavaco foi igual a ele próprio: um
Presidente sem rasgos, medíocre, sem capacidade para ler a democracia e a
vontade do povo. Apenas se comporta de forma “autista”, procurando não
confrontar o governo do seu partido. Cavaco, mais uma vez, pôs os interesses
partidários à frente do País?