É comum fazer-se um balanço do
ano que termina. Agora que estamos no final de 2014, importa fazer um exercício
sobre as figuras e os factos que marcaram o ano que hoje finda.
Sendo este um exercício
subjectivo, mas eivado, em alguns dos acontecimentos, de objectividade em
muitos acontecimentos e figuras marcantes deste ano, limito-me a olhar com
subjectividade para 2014.
Em termos positivos, o ano que
hoje termina, coloco o Papa Francisco como a figura mais marcante de 2014. Não
só pelo facto de ter dado um abanão e sacudido o cotão das bafientas
instituições da Igreja Católica, que se fecharam em si mesmas, criando um antro
de secretismo à volta de casos que envergonham a Igreja, mas pelo facto de não
ter mordaças para acusar os regimes políticos que enaltecem o poder financeiro
e económico – o poder que mata – em detrimento das pessoas.
Por tudo o que disse e fez, o
Papa Francisco é, sem dúvida, a figura mais marcante de 2014, até porque é
citado por todos, dos Católicos aos agnósticos, passando pelos ateus e
professos de outras religiões.
Também não posso deixar de
referir, como figuras marcantes deste ano, todos aqueles, desde médicos a
enfermeiros e pessoal auxiliar, que se voluntariaram para ir para África
combater a epidemia do Ébola. Merece, sem dúvida, destaque o altruísmo destes
voluntários que sem holofotes à sua volta foram ajudar aqueles que mais
precisavam.
Olhando para 2014, dificilmente
encontraremos algo mais que possamos considerar positivo, para além dos acima
versados. No entanto, podemos, com alguma boa vontade, considerar, também, como
positivo a saída da troika de Portugal. Contudo, esta saída não foi tão limpa
quanto nos querem fazer crer, pelo que também se pode considerar de negativa a
forma como foi anunciada, pois muito foi escondido aos portugueses sobre a tal
saída limpa.
Portanto, a saída da troika não
foi o êxito anunciado pelo governo, mas apenas serviu para que as instituições
europeias procurassem sair “limpas” deste programa mal desenhado e que cedo se
provou ser um erro. A tal de “saída limpa” apenas serviu para a tentativa das
instituições europeias salvar a face e o governo montar uma cena circense.
Como positivo também poderemos
considerar a aproximação dos EUA e Cuba. Se for em frente esta intenção dos dois
países de pacificarem as suas relações e terminar o embargo económico a Cuba, é
de enaltecer esta decisão. Mas vamos aguardar os próximos desenvolvimentos.
Já no que toca a factores
negativos, não podemos deixar de dizer que é difícil conseguirmos listar uma
lista, pois tantos são os factos negativos que será difícil, neste espaço,
podermos listar toda a panóplia de causas que marcaram este ano.
Assim, como negativo poderemos
apresentar a pouca vergonha que foi a descoberta das falcatruas fiscais no
Luxemburgo com as multinacionais, isto com o consentimento do
primeiro-ministro, Juncker, hoje presidente da Comissão Europeia. Também o
desmoronamento do BES/GES é marcante.
Negativo também é a forma como a
Europa está a lidar com as centenas de milhar de emigrantes africanos que fogem
dos seus países em guerra e procuram a Europa, atravessando o Mediterrâneo em condições
desumanas, mas onde milhares perdem a vida.
Pelo nosso País, a negritude da
Nação está expressa na negatividade da acção de um governo que apenas procura
impor uma cartilha ideológica nociva para as pessoas, liderado por um
Primeiro-ministro que pretende ficar na história como aquele que vendeu as jóias
e os dedos de Portugal. Também o Presidente da República, pela sua completa
inacção, é uma figura pela negativa.
Negativo é o que se passa nos
hospitais públicos. Doentes a aguardar 23 horas por uma consulta na urgência é
inadmissível! O que este final de ano trouxe à colação foi a confirmação da
política de saúde que tem sido implementada em Portugal. Assistimos ao
desmantelamento dos recursos humanos nos hospitais públicos, orientando o
governo o apoio para os privados. É a degradação total dos serviços públicos de
saúde. O governo decidiu entregar a empresas de contratação de trabalho
temporário a contratação de médicos e enfermeiros. É uma vergonha os nossos
hospitais ter ao seu serviços médicos, enfermeiros e auxiliares a trabalhar à
tarefa. É tempo de acabar com esta política que destrói um serviço público de
saúde que está constitucionalmente garantido.
Negativo e vergonhoso foi o que
aconteceu na Educação com a colocação de professores. Negativo e vergonhoso foi
o que aconteceu com a alteração da Justiça, onde o sistema esteve parado mais
de um mês e ainda se assiste a processos amontoados no chão de uma arrecadação,
tribunais a trabalhar em condições degradáveis.
Negativo e vergonhoso, neste
2014, é a forma como o governo trata os pobres e os mais desprotegidos. Assim
como cuida dos despedimentos em massa na função pública, bem como do “assalto”
aos bolsos dos portugueses através da cobrança de impostos e taxas – só o fisco
contratou mais mil funcionários.
Negativo também é a forma como o
governo manipula e trata os desempregados. É um governo sem qualquer sensibilidade
social e que entende que as pessoas são um estorvo para a prossecução dos
objectivos que tem determinado, e que se prende com o facto de destruir tudo o
que é público e que esteja ao serviço dos portugueses; da destruição da
formação e qualificação dos portugueses, não só acabando com o acesso à
melhoria das qualificações como mandando emigrar os mais qualificados. O
governo não quer no país os mais instruídos e mais qualificados.
Muito haveria a apontar como
negativo, mas apontarei mais um caso, que é a prisão de José Sócrates. Este
acontecimento será, certamente, um assunto que marcará o futuro, pois ou a
justiça que o mandou prender apresenta provas irrefutáveis da sua culpa, ou,
então, estaremos perante o ruir do edifício da justiça, que é imprescindível
num país que seja um garante da confiança do povo. Quando o povo deixar de
acreditar na justiça, o país ficará à disposição das máfias.
Enquanto alguns andam na azáfama
da festa de logo à noite, estando os locais mais caros já esgotados, outros,
porém, ainda procuram algo que possam comer.
Enfim, o fim de 2014 e o início
de 2015 marcarão, como sempre, a distinção entre os que podem e gastam, e os
que não podem e não gastam. Há de um lado uma fartura, que até estragam, e do
outro há insuficiência, que nem chega para tapar o buraco da falta de um dente.
Este ano termina com os números
que nos dizem que uma em cada três crianças vive na pobreza. Será este o País
que pretendemos em 2015?