quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

FIGURAS E FACTOS DE 2014

É comum fazer-se um balanço do ano que termina. Agora que estamos no final de 2014, importa fazer um exercício sobre as figuras e os factos que marcaram o ano que hoje finda.
Sendo este um exercício subjectivo, mas eivado, em alguns dos acontecimentos, de objectividade em muitos acontecimentos e figuras marcantes deste ano, limito-me a olhar com subjectividade para 2014.
Em termos positivos, o ano que hoje termina, coloco o Papa Francisco como a figura mais marcante de 2014. Não só pelo facto de ter dado um abanão e sacudido o cotão das bafientas instituições da Igreja Católica, que se fecharam em si mesmas, criando um antro de secretismo à volta de casos que envergonham a Igreja, mas pelo facto de não ter mordaças para acusar os regimes políticos que enaltecem o poder financeiro e económico – o poder que mata – em detrimento das pessoas.
Por tudo o que disse e fez, o Papa Francisco é, sem dúvida, a figura mais marcante de 2014, até porque é citado por todos, dos Católicos aos agnósticos, passando pelos ateus e professos de outras religiões.
Também não posso deixar de referir, como figuras marcantes deste ano, todos aqueles, desde médicos a enfermeiros e pessoal auxiliar, que se voluntariaram para ir para África combater a epidemia do Ébola. Merece, sem dúvida, destaque o altruísmo destes voluntários que sem holofotes à sua volta foram ajudar aqueles que mais precisavam.
Olhando para 2014, dificilmente encontraremos algo mais que possamos considerar positivo, para além dos acima versados. No entanto, podemos, com alguma boa vontade, considerar, também, como positivo a saída da troika de Portugal. Contudo, esta saída não foi tão limpa quanto nos querem fazer crer, pelo que também se pode considerar de negativa a forma como foi anunciada, pois muito foi escondido aos portugueses sobre a tal saída limpa.
Portanto, a saída da troika não foi o êxito anunciado pelo governo, mas apenas serviu para que as instituições europeias procurassem sair “limpas” deste programa mal desenhado e que cedo se provou ser um erro. A tal de “saída limpa” apenas serviu para a tentativa das instituições europeias salvar a face e o governo montar uma cena circense.
Como positivo também poderemos considerar a aproximação dos EUA e Cuba. Se for em frente esta intenção dos dois países de pacificarem as suas relações e terminar o embargo económico a Cuba, é de enaltecer esta decisão. Mas vamos aguardar os próximos desenvolvimentos.
Já no que toca a factores negativos, não podemos deixar de dizer que é difícil conseguirmos listar uma lista, pois tantos são os factos negativos que será difícil, neste espaço, podermos listar toda a panóplia de causas que marcaram este ano.
Assim, como negativo poderemos apresentar a pouca vergonha que foi a descoberta das falcatruas fiscais no Luxemburgo com as multinacionais, isto com o consentimento do primeiro-ministro, Juncker, hoje presidente da Comissão Europeia. Também o desmoronamento do BES/GES é marcante.
Negativo também é a forma como a Europa está a lidar com as centenas de milhar de emigrantes africanos que fogem dos seus países em guerra e procuram a Europa, atravessando o Mediterrâneo em condições desumanas, mas onde milhares perdem a vida.
Pelo nosso País, a negritude da Nação está expressa na negatividade da acção de um governo que apenas procura impor uma cartilha ideológica nociva para as pessoas, liderado por um Primeiro-ministro que pretende ficar na história como aquele que vendeu as jóias e os dedos de Portugal. Também o Presidente da República, pela sua completa inacção, é uma figura pela negativa.
Negativo é o que se passa nos hospitais públicos. Doentes a aguardar 23 horas por uma consulta na urgência é inadmissível! O que este final de ano trouxe à colação foi a confirmação da política de saúde que tem sido implementada em Portugal. Assistimos ao desmantelamento dos recursos humanos nos hospitais públicos, orientando o governo o apoio para os privados. É a degradação total dos serviços públicos de saúde. O governo decidiu entregar a empresas de contratação de trabalho temporário a contratação de médicos e enfermeiros. É uma vergonha os nossos hospitais ter ao seu serviços médicos, enfermeiros e auxiliares a trabalhar à tarefa. É tempo de acabar com esta política que destrói um serviço público de saúde que está constitucionalmente garantido.
Negativo e vergonhoso foi o que aconteceu na Educação com a colocação de professores. Negativo e vergonhoso foi o que aconteceu com a alteração da Justiça, onde o sistema esteve parado mais de um mês e ainda se assiste a processos amontoados no chão de uma arrecadação, tribunais a trabalhar em condições degradáveis.
Negativo e vergonhoso, neste 2014, é a forma como o governo trata os pobres e os mais desprotegidos. Assim como cuida dos despedimentos em massa na função pública, bem como do “assalto” aos bolsos dos portugueses através da cobrança de impostos e taxas – só o fisco contratou mais mil funcionários.
Negativo também é a forma como o governo manipula e trata os desempregados. É um governo sem qualquer sensibilidade social e que entende que as pessoas são um estorvo para a prossecução dos objectivos que tem determinado, e que se prende com o facto de destruir tudo o que é público e que esteja ao serviço dos portugueses; da destruição da formação e qualificação dos portugueses, não só acabando com o acesso à melhoria das qualificações como mandando emigrar os mais qualificados. O governo não quer no país os mais instruídos e mais qualificados.
Muito haveria a apontar como negativo, mas apontarei mais um caso, que é a prisão de José Sócrates. Este acontecimento será, certamente, um assunto que marcará o futuro, pois ou a justiça que o mandou prender apresenta provas irrefutáveis da sua culpa, ou, então, estaremos perante o ruir do edifício da justiça, que é imprescindível num país que seja um garante da confiança do povo. Quando o povo deixar de acreditar na justiça, o país ficará à disposição das máfias.
Enquanto alguns andam na azáfama da festa de logo à noite, estando os locais mais caros já esgotados, outros, porém, ainda procuram algo que possam comer.
Enfim, o fim de 2014 e o início de 2015 marcarão, como sempre, a distinção entre os que podem e gastam, e os que não podem e não gastam. Há de um lado uma fartura, que até estragam, e do outro há insuficiência, que nem chega para tapar o buraco da falta de um dente.

Este ano termina com os números que nos dizem que uma em cada três crianças vive na pobreza. Será este o País que pretendemos em 2015?