As
palavras que ilustram este título devem ser
consideradas
as palavras mais importantes de 2015.
Quatro ilustres maganos de um país que existe apenas na cabeça deles
encontram-se algures.
O Primeiro - Olá sua majestade, como está o meu bom amigo, patriarca do
meu laranjal, meu seguro de vida? Então as dez mil balas da reforminha já
chegam para as despesas?
O Rei - Não sei, tenho de perguntar à Maria, a minha fada do lar.
O Gestor – Ehhh, ehhh. Não sou só eu que não sabia. Ah, Ah, Ah.
O Primeiro – Eu ignorava! É verdade. Sempre pensei que pagar à
Segurança Social era opcional. Nunca tive consciência dessa obrigação. E tu,
grande Gestor, não sabias dos 900 milhões de balas?
O Gestor – Não me lembro…
O Encarcerado – Então, ó Primeiro, ignoravas, era? Mas tu eras deputado
quando votaste a lei de bases da Segurança Social que tornava obrigatório os
descontos para a Segurança Social dos trabalhadores a recibos verdes?
O Primeiro – Ai era? Não me lembro. Eu era deputado? Naquela altura eu
andava preocupado com a Tecnoforma e com o meu amigo licenciado por
equivalências? Se votei, não sabia. Eu só ia à Assembleia marcar o ponto?
O Rei – Não aprendeste nada! Deixaste-te apanhar. Agora pareces um
piegas.
O Primeiro – E Vossa Majestade, Eih? Não foi apanhado nas acções do
Oliveirinha?
O Rei – Ouuurrrrr. Ouurrrrr….
O Gestor – Majestade, está bem? O que tem?
O Rei – Engasguei-me com uma fatia de bolo-rei…
O Encarcerado – Ainda me acusam de ter amigos que me emprestam
dinheiro. Mas sou só eu? Cadê os outros?
O Primeiro – Eh, pá! Vocês não ouviram o lambretas? Eu sou vítima de um
erro administrativo?
O Gestor – E eu sou vítima da minha falta de memória… não vi os 900
milhões de balas a ir para a Rioforte.
O Primeiro – Também és um palerma. Então deixaste que aquela
esquerdelha da Mortágua te encostasse à parede?
O Gestor – Que querias que eu
fizesse? Eu não tenho o laranjal a aplaudir-me e o lambretas para fazer figuras
parvas? E tu, não é palerma? Então porque foste para a festa laranja, no dia 21
de Fevereiro de 2014, dizer que «há muitos que deviam pagar os seus impostos e
não pagam, porque não declaram as suas actividades», quando já sabias que
devias à Segurança Social 5.016,00€?
O Primeiro – Eh, pá, está calado.
É uma vergonha estes gajos andarem a meter-se na minha vida privada. Já agora, Majestade!
Então a sisa da casa que não existia?
O Rei – E ali vi o sorriso das vacas naquele prado verdejante…
O Encarcerado – E eu tinha culpa no estatuto político administrativo
dos Açores?
O Rei – Chiu, Chiu aí, ó, encarcerado. Tu tens de explicar muita coisa.
Pelo menos o que vem no Correio da Manhã, no Sol e no “i”?
O Encarcerado – Não digo nada, senão processam-me por dificultar as
investigações!
O Primeiro – Ehhh, Ehhhhh. «Não
somos todos iguais, não usei o meu cargo para enriquecer».
O Rei – Eu também não!
Eu vivo miseravelmente com a minha Maria com as dez mil balas da reforma. Não
dá para as despesas. E ainda está para nascer quem seja mais sério do que eu.
(risada geral entre
todos os maganos…)
O Gestor – Coitadinho…
Eu vou vender a Comenda que me deu e ofereço-lhe a verba….
O Rei – Está calado, pá.
Bem me enganaste. Fui atrás da conversa do melhor gestor do mundo…
O Gestor – Alto aí! Sua
Majestade é a última pessoa a me poder acusar!
O Rei – Ai, sou? Só para
te provar que sou melhor gestor do que tu, vê o que eu ganhei nas acções da
SLN? Vê o resultado.
O Primeiro – E então eu? A gerir a coisa? Não paguei Segurança Social,
não preenchi na declaração de IRS o campo respeitante ao valor pago à Segurança
Social. Ignorava que tinha de pagar. Mas também ninguém me notificou. Mas
paguei 11 anos depois e ainda consegui um desconto… Numa terra de cegos quem
tem um olho é rei…
O Rei – Essa piada é para mim? Olha que eu não tenho culpa de ter uma
casa no Bairro de luxo do BPN? Vê lá se não te demito já. Era o que merecias
que te fizesse!
O Encarcerado – Ai, não? Então não ficaste a saber em 2012 que devias à
Segurança Social?
O Primeiro – Fiquei a saber. Mas só ia pagar quando me desse jeito, que
era nunca. Só que agora apareceu aí um jornalista a chatear e paguei.
O Encarcerado – E aqueles processos todos por falta de entrega das
declarações de IRS?
O Primeiro – Eh, pá! A culpa foi do contabilista. Não viste o BES? O
contabilista é que foi o culpado. E tu, Encarcerado, não dizes nada?
O Encarcerado – Não! Não quero levar um processo por violação do
Segredo de Justiça.
O Rei – Violação do Segredo de Justiça? Ah, ah, deixa-me rir… lê o Correio
da Manhã?
O Primeiro – Eu sou sério. «Eu pertenço a uma raça de homens que paga o
que deve».
(gargalhada geral)
E assim os quatro maganos seguiram o seu caminho como se nada de
anormal estivesse a acontecer.
(NOTA: NO DIÁLOGO ACIMA
TRANSCRITO, QUALQUER SEMELHANÇA COM A REALIDADE É PURA COINCIDÊNCIA).
É por isso que as palavras: Não sabia, não me lembro, ignorava, deverão
ser candidatas a palavras do ano de 2015.
O problema do uso de tal palavreado não teria relevância se não
tivessem sido proferidas por gente com alta responsabilidade política e
empresarial num país amorfo, com um povo servil e vergado à vara dos detentores
do mando.
Suponhamos um país assim. O que teria de ser feito de imediato, pois um
perigoso vírus atacou de forma drástica o principal responsável pelo governo
nesse país, não o imaginário de Tomás Morus, na sua Utopia, mas um país com
gente dentro, assim como os seus mais destacados gestores, banqueiros,
auditores e governantes?
Obrigatoriamente o principal político desse país, aquele que é suposto
ser o defensor dos direitos, liberdades e garantias das pessoas, de zelar pelo
bom funcionamento das instituições, teria de chamar a si a resolução do caso e
atacar de morte o vírus medonho que acometeu a memória de gente com tamanha
responsabilidade e de gestores que receberam comendas da República por serem considerados
os melhores gestores do mundo na sua área.
Era isso o que se esperava de quem tem o dever e a obrigação de zelar
pelo pedaço de terra com vista para o mar! Mas nada disso tem acontecido ou se
tem vislumbrado poder vir a acontecer. Um ser demitido! Ao outro deveriam ser
retiradas todas as comendas e condecorações, pois tudo soou a falso!
O que mais intriga é que tal vírus não tenha afectado o cidadão
anónimo. Mas esse está imunizado a tal vírus, pois basta passar um dia e as
sinetas tocam, a nota sai e a ameaça é velada. Do género: ou pagas, e com juros,
ou vai já para penhora.
O tal gestor, que destruiu a maior empresa de telecomunicações da
pátria, questionado sobre movimentações de dinheiro, apenas respondia: não me
lembro, não sei, não tive conhecimento. Nada, nadica de nada, do que aconteceu
teve a ver com ele. Aliás, não se recorda de nada.
E por aqui ficamos!
Há dias, o arvorado mor erguido pelo partido e votado pelo povo,
confrontado com uma falta de pagamento à Segurança Social, também repetiu que
não sabia, não se lembra, não foi notificado e ignorava essa obrigação.
Contudo, se no que diz respeito ao melhor gestor do mundo a virose que
o atacou prejudicou seriamente uma empresa privada; já no que concerne ao
político chefe do governo do país, o ataque que sofreu desse inqualificável e
maléfico vírus da memória, o caso já se torna mais complexo, pois tal figura
não se cansou de apregoar a moralidade e, à laia de espadachim, desferiu com a
sua espada, qual zorro, qual quê, o sinal de caloteiro e sem moral ao comum
cidadão, que muitas vezes tinha de optar por comer ou pagar ao fisco e à
Segurança Social.