domingo, 11 de outubro de 2015

BENJAMIM PEREIRA ESTÁ A DESTRUIR A ESCOLA DE MÚSICA*

A Escola de Música de Esposende é uma referência a nível nacional,
mas o presidente da Câmara e a administração estão a destruir a escola.

Nos últimos tempos têm surgido a público vários factos que nos levam a temer que a atitude do presidente da Câmara e da vereadora da Educação estão a encaminhar a Escola de Música de Esposende (EME) para a sua destruição.
É pública a manifestação de desagrado de muitos alunos e encarregados de educação com o rumo que a direcção administrativa está a dar à EME. Assim como a grave intromissão da administração naquilo que são as áreas exclusivas da Direcção Pedagógica (DP) e do Conselho Pedagógico (CP).
O grande exemplo do desagrado pelo rumo que Benjamim Pereira e Jaqueline Areias querem dar à EME está plasmado no pedido de demissão da responsável pela direcção do Coro dos Pequenos Cantores de Esposende (CPCE) e Ars Vocalis.
O CPCE é uma referência no modelo e uma extraordinária criação da responsabilidade dos professores, da DP e do CP da EME, pois o CPCE nasceu da actividade da EME junto das escolas do ensino básico, englobado no projecto “Esposende, Município Educador”, da responsabilidade da vereadora de então, Prof. Emília Vilarinho.
A demissão da maestrina do CPCE surgiu na sequência da decisão da vereadora da Câmara Municipal de Esposende (CME), Jaqueline Areias, com o pelouro da Educação, e da Zendensino terem decidido, à revelia da DP e do CP, que o CPCE e Ars Vocalis deixavam de fazer parte da classe de conjunto da EME, num claro prejuízo para a EME e para estes dois grupos. A verdade é que esta decisão está a provocar o risco do fim destes grupos, dado que pais e crianças já disseram que continuariam no projecto apenas e só com a maestrina que os dirigiu até agora.
Contudo, eventualmente, os problemas na EME terão surgido quando Benjamim Pereira e Jaqueline Areias, bem como a direcção administrativa, entraram em “guerra” com o actual presidente da DP, no cargo há 14 anos, e que tem demonstrado um excelente trabalho, como o comprova o êxito da EME, e com o CP, divergências que se iniciaram no ano lectivo de 2013/2014.
O financiamento da EME para o ensino artístico articulado foi nos últimos anos assegurado pelo programa comunitário POPH, sendo estes fundos comunitários a fonte de financiamento da EME. Todavia, no sentido de ser possível a mais alunos do concelho terem acesso à aprendizagem musical, a CME, entre 2012 e 2014, apoiou financeiramente a EME, o que permitiu que mais 42 alunos tivessem possibilidade de frequentar a EME.
O actual governo decidiu alterar a forma de financiamento do ensino artístico. Dessa forma, o financiamento deixou de ser feito através do programa comunitário do POPH e passou a ser feito através de um contrato de patrocínio.
Quando foi lançado o concurso para o contrato de patrocínio, a EME apresentou a sua candidatura. No final, a EME teve uma classificação de 82 pontos em 100 possíveis, ficando ordenada em 4.º lugar a nível nacional e em 2.º a nível da região Norte.
Esta classificação apenas demonstra a qualidade da EME e mandaria o bom senso, e mesmo o “senso comum”, que fosse dada continuidade ao trabalho desenvolvido e não criar instabilidade, inconstância essa que se vinha agravando desde há 2 anos.
O certo é que a EME, fruto dos cortes cegos perpetrados pelo governo, na área do Ensino Artístico, foi penalizada e viu o seu financiamento reduzido, diminuindo, por isso, o número de 42 alunos, anteriormente financiados pelo POPH, no curso básico; e de 36 alunos no curso de iniciação musical no âmbito do contrato de patrocínio. A estes alunos juntam-se mais 29 alunos que deixaram de ser apoiados pela CME e que foram apoiados, a título excepcional, no ano lectivo de 2013/2014 pela CME, pois a CME decidiu este ano não prestar nenhum apoio financeiro aos alunos da EME que não foram abrangidos, devido aos cortes impostos pelo governo, no contrato patrocínio feito com o Ministério da Educação.
Em 2014/2015, a EME tinha no curso básico 315 alunos financiados (POPH e CME). Em 2015/2016, terá 244 alunos financiados (contrato de patrocínio). Por sua vez, no curso de iniciação musical tinha 49 alunos financiados (contrato de patrocínio), este ano terá 13 alunos (no modelo de contrato patrocínio).
Perante este cenário de perda de alunos, cerca de 107, a CME decidiu não dar qualquer apoio financeiro – é melhor gastar nos concertos de Verão? –. Perante este quadro, o CP da EME demonstrou o seu desagrado à gestão administrativa da EME.
A partir deste cenário criaram-se rupturas entre o CP da EME e a gestão administrativa. Ao que parece, a direcção da Zendensino e a vereadora da educação terão usurpado funções atinentes apenas e só à DP e ao CP da EME e decidiram, unilateralmente, aumentar o número de alunos por turma, contrariando as mais basilares regras de entendimento do ensino, assim como terá também sido a gestão administrativa a distribuir os horários dos professores, ao arrepio do que são as competências da DP. Também ao que parece, a direcção administrativa terá contratado um professor estagiário para iniciação musical à revelia da DP e do CP.   
Em suma, eventualmente, a direcção da Zendensino e a vereadora decidiram contrariar a organização desenhada pela DP e pelo CP, configurando-se tal intromissão como um acto de ingerência grave no que está disposto na letra da Lei no que são as funções exclusivamente aplicadas ao director pedagógico e ao conselho pedagógico. Esta grave interferência da direcção administrativa apenas cria condições antipedagógicas e é contrária a todo o projecto educativo, surgindo, eventualmente, mais um caso grave que se compagina na eventualidade da não assunção no cumprimento de obrigações laborais com alguns professores.
Acontece, porém, que tendo a EME um contrato patrocínio com o Ministério da Educação, a mesma tem de cumprir uma caterva de normas e regras que regem o ensino e que cujo financiamento obriga ao seu escrupuloso cumprimento. Portanto, esta eventual sonegação de poderes à DP e ao CP da EME por parte da entidade administrativa poderá dar azo, caso seja apresentada uma queixa no Ministério da Educação, à abertura de um processo de averiguações que pode terminar no cancelamento do financiamento. Por isso, o que se tem passado na EME é de grande leviandade.
Conhecedor de tudo isto, Benjamim Pereira, como presidente da Câmara, e responsável máximo, assobia para o lado e, eventualmente, abana conforme o vento.
Contudo, Benjamim Pereira, através do seu gabinete de propaganda, anunciou, em 21 de Julho do corrente ano, que o Município ia avançar com um projecto cultural inovador e definir o futuro da Escola de Música, acrescentando que iria criar um grupo de trabalho, a designar pela Câmara Municipal, e que seria apresentado à comunidade no final do mês de Setembro.
Pois bem, que se saiba, ainda não foi criado nem definido nenhum grupo de trabalho. Todos sabemos que o mês de Setembro já terminou e Benjamim Pereira não apresentou nenhuns resultados à comunidade.
Ao que se consta, antes do tal mês de Julho teria sido apresentado um projecto a Benjamim Pereira para este assunto e que resolvia o problema da EME. O presidente da Câmara até teria concordado com ele. Mas não o pôs em vigor porquê?
Projectos como o CPCE e Ars Vocalis não podem ser destruídos apenas e só porque se decide com preconceito, ou a eventualidade de se querer substituir pessoas apenas e só por razões políticas ou de amizade. Se estes projectos terminarem Benjamim Pereira é o responsável.
É que para além de permitir todo este imbróglio, também se mostra incompetente e mente à comunidade, pois ao anunciar que no final de Setembro tinha um projecto para apresentar e não o apresentou, só podemos tirar essa conclusão.
Ademais, Benjamim Pereira não se pode escudar na responsabilidade dos cooperantes e sacudir a “água do capote”, até pelo facto de a CME deter 49% do capital social da cooperativa Zendensino. Mais, a vereadora da Educação da CME faz parte da direcção da Zendensino, e por isso também assina as ordens de serviço.
Depois não fica bem a Benjamim Pereira deixar no ar a ideia de que a demissão das funções de maestrina do CPCE e da Ars Vocalis não foi justificada, quando foram bem explícitas as razões desse pedido de demissão.
Mas parece que em política mentir compensa!
NOTA: O autor escreve segundo o antigo AO.

*Artigo publicado no jornal Notícias de Esposende, n.º 37/2015 – 9 de Outubro.