Acompanhei a construção do
edifício, ainda rapaz, pois o mesmo foi construído pelo meu padrinho, na altura
construtor civil.
O Fôjo nasceu assim mesmo como a
foto o demonstra. Depois o Sérgio foi-o aumentando e plantando os arbustos à
volta do mesmo. Se lhe diziam que não era estética a construção nas margens do
cávado, o Sérgio foi procurando melhorar a estética.
Contudo, enquanto o Sérgio ia
melhorando a estética, mais ao lado iam nascendo outros edifícios. A sede do
Clube Naútico é um deles.
Para mal dos pecados do Sérgio,
as entidades municipais nunca acharam muita piada ao Fôjo. Todavia, o Fôjo foi
o ponto de encontro de muita gente de fora de Fão, que deu vida e continuou com
a fama de Fão nocturno.
Como todos os da minha idade, o
Fôjo era ponto de encontro para a cavaqueira e para a música. Noite dentro o
Fôjo era o nosso paradeiro! No Fôjo ouvia “Gipsy kings”, ouvia o Sérgio, o Albano
e muitos outros artistas que faziam da música um passatempo e um sinónimo de
convivência.
Com poucos cobres no bolso não
podia ir às “boîtes”, mas esses cobres chegavam para ir ao Fôjo. O Sérgio nunca
obrigou ao consumo obrigatório!
O que hoje estão a querer fazer
ao Fôjo é destruir as memórias da juventude de muitos fangueiros e não só, pois
eu não sou de Fão, sou das Marinhas.
Só os tecnocratas poderão agora
achar que o Fôjo é inestético! Entender que o Fôjo está ilegal! Achar que podem
demolir um naco da história de Fão, do concelho de Esposende, do distrito de
Braga, do Minho e da Galiza. Não! Não podem fazer isso. Isto é um atentado.
Se algo há a fazer, resolvam.
Certamente que talvez haja por aí muita coisa que não foi iniciada com a devida
legalidade, mas foi reposta administrativamente.
Não conheço a deliberação que
manda demolir o Fôjo. Mas de certeza que não estará suportada na eventual
inestética do Fôjo; o facto de o mesmo estar construído em zona de protecção de
cheias; ou de o terreno não ser do Sérgio. Tudo isto pode ser dito.
Mas há algo que é surreal. A mesma
entidade que ordena a demolição do Fôjo é a mesma que autorizou a construção do
mamarracho, inestético, inenarrável e um autêntico atentado ambiental que é a
estação elevatória de resíduos de Fão, e ali mesmo ao lado do Fôjo.
Quando se autoriza aquela
construção, perde-se a legitimidade para mandar demolir o que quer que seja.
Urge defendermos a história.
Importa defendermos algo que há mais de 40 anos faz parte da margem do Cávado e da
memória de muita gente.
O Fôjo foi idealizado por um
homem visionário, hoje chamar-lhe-iam empreendedor. O Sérgio foi sempre um
espírito aberto. Um filósofo popular, um homem de causas, o desprendido da
vida material, mas com um amor eterno a Fão, ao rio e ao Fôjo.
É tempo da burocracia também
passar a ter sentido de justiça e humanismo. É chegada a hora de dizer aos
burocratas: vão bordamerda, pois vocês são uns infelizes que não sabem o que
foi e é passar umas horas no Fôjo.