quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O FÔJO


Falar do Fôjo é falar um pouco da minha adolescência e da minha juventude!
Acompanhei a construção do edifício, ainda rapaz, pois o mesmo foi construído pelo meu padrinho, na altura construtor civil.
O Fôjo nasceu assim mesmo como a foto o demonstra. Depois o Sérgio foi-o aumentando e plantando os arbustos à volta do mesmo. Se lhe diziam que não era estética a construção nas margens do cávado, o Sérgio foi procurando melhorar a estética.
Contudo, enquanto o Sérgio ia melhorando a estética, mais ao lado iam nascendo outros edifícios. A sede do Clube Naútico é um deles.
Para mal dos pecados do Sérgio, as entidades municipais nunca acharam muita piada ao Fôjo. Todavia, o Fôjo foi o ponto de encontro de muita gente de fora de Fão, que deu vida e continuou com a fama de Fão nocturno.
Como todos os da minha idade, o Fôjo era ponto de encontro para a cavaqueira e para a música. Noite dentro o Fôjo era o nosso paradeiro! No Fôjo ouvia “Gipsy kings”, ouvia o Sérgio, o Albano e muitos outros artistas que faziam da música um passatempo e um sinónimo de convivência.
Com poucos cobres no bolso não podia ir às “boîtes”, mas esses cobres chegavam para ir ao Fôjo. O Sérgio nunca obrigou ao consumo obrigatório!
O que hoje estão a querer fazer ao Fôjo é destruir as memórias da juventude de muitos fangueiros e não só, pois eu não sou de Fão, sou das Marinhas.
Só os tecnocratas poderão agora achar que o Fôjo é inestético! Entender que o Fôjo está ilegal! Achar que podem demolir um naco da história de Fão, do concelho de Esposende, do distrito de Braga, do Minho e da Galiza. Não! Não podem fazer isso. Isto é um atentado.
Se algo há a fazer, resolvam. Certamente que talvez haja por aí muita coisa que não foi iniciada com a devida legalidade, mas foi reposta administrativamente.
Não conheço a deliberação que manda demolir o Fôjo. Mas de certeza que não estará suportada na eventual inestética do Fôjo; o facto de o mesmo estar construído em zona de protecção de cheias; ou de o terreno não ser do Sérgio. Tudo isto pode ser dito.
Mas há algo que é surreal. A mesma entidade que ordena a demolição do Fôjo é a mesma que autorizou a construção do mamarracho, inestético, inenarrável e um autêntico atentado ambiental que é a estação elevatória de resíduos de Fão, e ali mesmo ao lado do Fôjo.
Quando se autoriza aquela construção, perde-se a legitimidade para mandar demolir o que quer que seja.
Urge defendermos a história. Importa defendermos algo que há mais de 40 anos faz parte da margem do Cávado e da memória de muita gente.
O Fôjo foi idealizado por um homem visionário, hoje chamar-lhe-iam empreendedor. O Sérgio foi sempre um espírito aberto. Um filósofo popular, um homem de causas, o desprendido da vida material, mas com um amor eterno a Fão, ao rio e ao Fôjo.

É tempo da burocracia também passar a ter sentido de justiça e humanismo. É chegada a hora de dizer aos burocratas: vão bordamerda, pois vocês são uns infelizes que não sabem o que foi e é passar umas horas no Fôjo.