segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O QUE NOS DIZEM AS ELEIÇÕES

Tenho andado a ler editoriais e artigos de opinião nos jornais. Tenho andado a ouvir comentadores que antes não perdia nem um segundo para aturar a sua pesporrência.
Isto tudo porque a última semana trouxe-nos um novo espectro político. Arrancou-nos da sonolência e da abstracção da política.
Contrariamente ao que todos esses editorialistas e opinadores têm andado a anunciar, o centro político, na minha modesta opinião, acabou. Deixou de existir essa treta do voto ao centro!
1 - Essa lógica do centro esquerda; ou do centro direita; apenas foi sendo utilizada por conveniência dos mesmos, daqueles que ganhasse o PSD ou ganhasse o PS os seus interesses estavam sempre protegidos e garantidos.
Desde que o único partido que se assumiu como do Centro, o CDS de Freitas do Amaral e Amaro da Costa, passou para a extrema-direita, transformando-se em PP pela mão de Paulo Portas, deu sempre muito jeito aos interesses instalados dizer que o PSD era o centro direita e o PS o centro esquerda.
Durante os últimos 32 anos, por apropriação da alternância do poder, o PSD e o PS foram bebendo e aceitando este epíteto, pois sentiam-se confortáveis no cognome de "partidos do arco da governação".
Contudo, com a chegada de Passos Coelho, e principalmente pelos seus 4 anos de governação, o PSD extremou-se à direita. Ultrapassando até a posição ideológica da génese da sua criação, o PPD, o partido liberal e de direita criado por Sá Carneiro, que queria agradar à pequena burguesia rural e aos pequenos comerciantes da província, e pretendia ser a alternativa ao PS, o partido da esquerda.
Só por defesa dos interesses individuais, obtidos à custa da governação com o nascimento do bloco central, em 1983, é que todos começaram a aventar a lógica do arco da governação e da alternância no poder do PSD ou do PS, ora com maioria absoluta de um ou de outro, ora com coligação com o CDS, o PSD; ora com acordos parlamentares, o PS de Guterres.
Mas as coisas começaram a mudar quando em 2009 Sócrates decidiu avançar com um governo minoritário sem qualquer apoio parlamentar. Esse governo foi cozinhado em lume brando durante dois anos. Em 2011, a coligação negativa no parlamento derrubou o governo e fomos para eleições antecipadas. Ganhou o PSD. Sem maioria fez uma coligação governamental com o CDS. Governou durante 4 anos de forma absolutista. Contra os portugueses e contra a constituição. O único objectivo era agradar aos mercados e à troika.
Chamados a novas eleições, os portugueses, no passado dia 4 de Outubro, decidiram mudar todo o cenário político e "revolucionar" o parlamento.
Nestas eleições os portugueses disseram que não queriam mais o governo PSD/CDS. Não obstante ter sido a coligação da direita a mais votada. O povo não lhe deu a maioria para eles continuarem a perpetrar as diatribes com que flagelaram os portugueses.
Mas os eleitores também, contrariamente a todas as eleições anteriores, não deram a vitória ao PS.
Aqui poderemos partir para um cenário meramente especulativo. Não tenhamos dúvidas de que a coligação de direita foi penalizada ao perder mais de 700 mil votos e cerca de 25 deputados. Já o PS não contabilizou os votos do descontentamento, não obstante ter obtido mais de 180 mil votos e eleger mais 12 deputados que em 2011. Perante estes resultados de perca da coligação e de não concessão da vitória ao PS, o eleitorado preferiu dar um aviso, isto segundo a minha singela e humilde opinião: chega de alternância, agora é a hora da verdadeira alternativa. Basta de salamaleques eleitorais que não sabemos o que o PS é, pois na oposição diz-se de esquerda, mas no governo foge para a direita. Portanto, não vamos dar a vitória ao PS e obrigamos o Partido Socialista a rever a sua posição ideológica.
2 - Perante este castigo infligido pelo eleitorado aos ditos partidos do arco da governação, importa, contudo, analisar a composição parlamentar e a flutuação do voto do eleitorado.
Se nos atermos aos três últimos actos eleitorais, poderemos dizer que em 2009 o eleitorado preferiu tirar a maioria absoluta ao governo do PS e votar no BE. O PS ganhou as eleições e entendeu governar em minoria. O governo durou 2 anos! Em 2011, o eleitorado deu a vitória ao PSD. Não obstante o PS ter perdido as eleições, o que surgiu como novidade foi que o BE também foi muito penalizado eleitoralmente, tendo perdido metade da sua bancada parlamentar. O PSD fez uma coligação no governo e governou os últimos 4 anos.
Chegados às eleições de 2015, e depois de 4 anos de governação severa com forte penalização da classe média e dos mais pobres, os resultados eleitorais, contrariamente ao que seria de supor, se seguíssemos a linha dos actos eleitorais anteriores, apresentam-nos a vitória da coligação da direita, mas sem maioria, e não dá a vitória ao PS, voltando novamente o eleitorado a apostar no voto no BE, que duplicou a sua votação e elegeu mais 11 deputados.
Daqui poderemos extrapolar, se quiserem de uma forma um pouco grosseira, de que o tal eleitorado do centro, o eleitor flutuante como é chamado pelos partidos do arco da governação, decidiram colocar o seu voto no BE, partido da extrema-esquerda, como diz a direita e algumas franjas do PS, nas eleições do dia 4 de Outubro. E este é o busílis da questão do momento: que fazer com este Parlamento?
3 – Importa ressaltar que neste quadro eleitoral o partido de charneira é o PS. Contudo, o PS está acossado à direita e à esquerda para tomar uma decisão.
Os ditos comentadores e a PàF andam como “baratas tontas”, procuram condicionar a posição e a decisão de António Costa. Nesta forma estão bem coadjuvados por muita gente ligada ao PS. O que não me surpreende, dada a forma como o PS tem servido para muitos desfilarem os seus egos e as suas vaidades.
A vitória da direita não lhe garante estabilidade governativa porque não tem maioria parlamentar. Se o PS apresentar uma alternativa de governo com estabilidade e maioria de esquerda, aqui-del-rei que é um ataque à Democracia e quer assaltar o poder quando não ganhou as eleições.
Contudo, António Costa está num verdadeiro dilema, e aqueles que mais tinham a obrigação de lhe dar serenidade para resolver o imbróglio, alguns dirigente e gente ligada ao PS, são os primeiros a causar a instabilidade.
Por isso;
4 – Seja qual for a decisão de António Costa, o mesmo vai “ser preso por ter cão e preso por não ter”. Da sua decisão estará em causa a sobrevivência do Partido Socialista como partido charneira e de poder.
Ser der a mão à direita, o PS desaparece do espectro político nas próximas eleições e “pasokiza-se”. Se apresentar uma solução de governo à esquerda e a coisa correr mal, o PS também desaparece do espectro político e “syriza-se”.
O que não pode acontecer é o Partido Socialista voltar a fazer-se de morto durante 3 anos à espera que o poder lhe caia no colo.

E essa deve ter sido a principal pena aplicada ao PS pelo eleitorado português.