Tenho andado a ler editoriais e
artigos de opinião nos jornais. Tenho andado a ouvir comentadores que antes não
perdia nem um segundo para aturar a sua pesporrência.
Isto tudo porque a última semana
trouxe-nos um novo espectro político. Arrancou-nos da sonolência e da
abstracção da política.
Contrariamente ao que todos esses
editorialistas e opinadores têm andado a anunciar, o centro político, na minha
modesta opinião, acabou. Deixou de existir essa treta do voto ao centro!
1 - Essa lógica do centro
esquerda; ou do centro direita; apenas foi sendo utilizada por conveniência dos
mesmos, daqueles que ganhasse o PSD ou ganhasse o PS os seus interesses estavam
sempre protegidos e garantidos.
Desde que o único partido que se
assumiu como do Centro, o CDS de Freitas do Amaral e Amaro da Costa, passou
para a extrema-direita, transformando-se em PP pela mão de Paulo Portas, deu
sempre muito jeito aos interesses instalados dizer que o PSD era o centro
direita e o PS o centro esquerda.
Durante os últimos 32 anos, por apropriação
da alternância do poder, o PSD e o PS foram bebendo e aceitando este epíteto,
pois sentiam-se confortáveis no cognome de "partidos do arco da
governação".
Contudo, com a chegada de Passos
Coelho, e principalmente pelos seus 4 anos de governação, o PSD extremou-se à
direita. Ultrapassando até a posição ideológica da génese da sua criação, o
PPD, o partido liberal e de direita criado por Sá Carneiro, que queria agradar
à pequena burguesia rural e aos pequenos comerciantes da província, e pretendia
ser a alternativa ao PS, o partido da esquerda.
Só por defesa dos interesses
individuais, obtidos à custa da governação com o nascimento do bloco central,
em 1983, é que todos começaram a aventar a lógica do arco da governação e da
alternância no poder do PSD ou do PS, ora com maioria absoluta de um ou de
outro, ora com coligação com o CDS, o PSD; ora com acordos parlamentares, o PS
de Guterres.
Mas as coisas começaram a mudar
quando em 2009 Sócrates decidiu avançar com um governo minoritário sem qualquer
apoio parlamentar. Esse governo foi cozinhado em lume brando durante dois anos.
Em 2011, a coligação negativa no parlamento derrubou o governo e fomos para
eleições antecipadas. Ganhou o PSD. Sem maioria fez uma coligação governamental
com o CDS. Governou durante 4 anos de forma absolutista. Contra os portugueses
e contra a constituição. O único objectivo era agradar aos mercados e à troika.
Chamados a novas eleições, os
portugueses, no passado dia 4 de Outubro, decidiram mudar todo o cenário
político e "revolucionar" o parlamento.
Nestas eleições os portugueses
disseram que não queriam mais o governo PSD/CDS. Não obstante ter sido a coligação
da direita a mais votada. O povo não lhe deu a maioria para eles continuarem a
perpetrar as diatribes com que flagelaram os portugueses.
Mas os eleitores também,
contrariamente a todas as eleições anteriores, não deram a vitória ao PS.
Aqui poderemos partir para um
cenário meramente especulativo. Não tenhamos dúvidas de que a coligação de
direita foi penalizada ao perder mais de 700 mil votos e cerca de 25 deputados.
Já o PS não contabilizou os votos do descontentamento, não obstante ter obtido
mais de 180 mil votos e eleger mais 12 deputados que em 2011. Perante estes
resultados de perca da coligação e de não concessão da vitória ao PS, o
eleitorado preferiu dar um aviso, isto segundo a minha singela e humilde
opinião: chega de alternância, agora é a hora da verdadeira alternativa. Basta
de salamaleques eleitorais que não sabemos o que o PS é, pois na oposição
diz-se de esquerda, mas no governo foge para a direita. Portanto, não vamos dar
a vitória ao PS e obrigamos o Partido Socialista a rever a sua posição
ideológica.
2 - Perante este castigo
infligido pelo eleitorado aos ditos partidos do arco da governação, importa,
contudo, analisar a composição parlamentar e a flutuação do voto do eleitorado.
Se nos atermos aos três últimos
actos eleitorais, poderemos dizer que em 2009 o eleitorado preferiu tirar a
maioria absoluta ao governo do PS e votar no BE. O PS ganhou as eleições e
entendeu governar em minoria. O governo durou 2 anos! Em 2011, o eleitorado deu
a vitória ao PSD. Não obstante o PS ter perdido as eleições, o que surgiu como
novidade foi que o BE também foi muito penalizado eleitoralmente, tendo perdido
metade da sua bancada parlamentar. O PSD fez uma coligação no governo e
governou os últimos 4 anos.
Chegados às eleições de 2015, e
depois de 4 anos de governação severa com forte penalização da classe média e
dos mais pobres, os resultados eleitorais, contrariamente ao que seria de
supor, se seguíssemos a linha dos actos eleitorais anteriores, apresentam-nos a
vitória da coligação da direita, mas sem maioria, e não dá a vitória ao PS,
voltando novamente o eleitorado a apostar no voto no BE, que duplicou a sua
votação e elegeu mais 11 deputados.
Daqui poderemos extrapolar, se
quiserem de uma forma um pouco grosseira, de que o tal eleitorado do centro, o
eleitor flutuante como é chamado pelos partidos do arco da governação,
decidiram colocar o seu voto no BE, partido da extrema-esquerda, como diz a
direita e algumas franjas do PS, nas eleições do dia 4 de Outubro. E este é o
busílis da questão do momento: que fazer com este Parlamento?
3 – Importa ressaltar que neste
quadro eleitoral o partido de charneira é o PS. Contudo, o PS está acossado à
direita e à esquerda para tomar uma decisão.
Os ditos comentadores e a PàF
andam como “baratas tontas”, procuram condicionar a posição e a decisão de
António Costa. Nesta forma estão bem coadjuvados por muita gente ligada ao PS.
O que não me surpreende, dada a forma como o PS tem servido para muitos
desfilarem os seus egos e as suas vaidades.
A vitória da direita não lhe
garante estabilidade governativa porque não tem maioria parlamentar. Se o PS
apresentar uma alternativa de governo com estabilidade e maioria de esquerda,
aqui-del-rei que é um ataque à Democracia e quer assaltar o poder quando não
ganhou as eleições.
Contudo, António Costa está num
verdadeiro dilema, e aqueles que mais tinham a obrigação de lhe dar serenidade
para resolver o imbróglio, alguns dirigente e gente ligada ao PS, são os
primeiros a causar a instabilidade.
Por isso;
4 – Seja qual for a decisão de
António Costa, o mesmo vai “ser preso por ter cão e preso por não ter”. Da sua
decisão estará em causa a sobrevivência do Partido Socialista como partido
charneira e de poder.
Ser der a mão à direita, o PS
desaparece do espectro político nas próximas eleições e “pasokiza-se”. Se
apresentar uma solução de governo à esquerda e a coisa correr mal, o PS também
desaparece do espectro político e “syriza-se”.
O que não pode acontecer é o Partido Socialista voltar a fazer-se de morto durante 3 anos à espera que o
poder lhe caia no colo.
E essa deve ter sido a principal
pena aplicada ao PS pelo eleitorado português.