O Papa Francisco continua a ser a figura mais marcante do ano a nível mundial; em Portugal António Costa é figura marcante.
No final do ano cada um de nós é
convocado a fazer uma rectrospectiva do ano e, também, a analisar figuras e
acontecimentos que possam ter sido relevantes, positiva e negativamente, no
decurso do ano.
Sabendo nós que esta análise
arrasta sempre atrás de si uma subjectividade constante, é certo, também, que
alguma objectividade nos assola e de forma subconsciente por vezes conseguimos
quase como uma unanimidade na escolha de uma ou várias figuras.
Contudo, neste meu exercício
subjectivo, convido o caro leitor a olhar com a sua consciência e espírito
crítico para o teor do texto que tem em mãos. É certo que alguns concordarão
com o que escrevo, mas muitos não seguirão por esse caminho.
Todavia, e a exemplo do que fiz
no ano anterior, findo o ano de 2015, importa fazer um exercício sobre as
figuras e os factos que marcaram o ano que finou.
1 – A exemplo do que foi o meu
entendimento em 2014, neste ano que findou de 2015 continuo a considerar que a
figura do ano é o Papa Francisco.
O Papa que veio do “fim do mundo”
continua a ser uma pessoa extraordinária sob o ponto de vista do pensamento e
da visão dos tempos. Francisco continua a alertar – e fê-lo com a devida
antecipação, com um sentido premonitório exemplar – para o drama dos refugiados
e de todas as crises humanitárias, independentemente da religião e cor da pele.
O Papa “sem medo” continua a desafiar os políticos e os poderosos financeiros
do mundo contra o que apelidou de “economia que mata” a fobia do poder
financeiro em detrimento da defesa das pessoas.
O exemplo de toda a sua
intervenção foi a publicação, em Junho deste ano de 2015, da encíclica papal
“Laudato de Si”, a encíclica verde que chama a atenção para os problemas que
afectam o mundo e reclama para o respeito pela ecologia humana, onde alerta
para a problemática em que hoje se encontra o perigo para a pessoa humana se
nada for feito, e daí a apologia de uma urgência para a ecologia humana.
Esta nota pastoral foi primordial
para a discussão do problema da poluição no mundo e para a destruição do
planeta Terra, sendo as alterações climáticas um assunto sempre em discussão à
volta da mesa quando os representantes políticos dos países mais poderosos do
mundo se juntam, como aconteceu há cerca de um mês em Paris.
No entanto, nestas reuniões, que
duram semanas, discute-se, fala-se e alerta-se. No final todos assinam um documento
em que se comprometem a reduzir a produção de factores poluentes e que
influenciam o clima. E tudo termina como se de um grande êxito se tratasse. Só
que, a exemplo de todos os outros acordos assinados durante as últimas décadas,
tudo é mandado para as calendas e tudo continua na mesma, ou mesmo
agravando-se, pois o lucro é mais importante que a possibilidade de promover
intervenções que reduzam o lançamento de poluentes para a atmosfera e que
provoca o efeito de estufa. Tudo fica na mesma e eu continuo a não acreditar em
todos aqueles que assinaram o compromisso. E serão os mesmos que se reunirão
novamente no próximo conclave político para se discutir o problema das
alterações climáticas.
Enquanto isso, as populações vão
sofrendo com as cheias e os cataclismos naturais. Foi no Brasil e em toda a
América Latina; é nos Estados Unidos da América, na China e na maioria dos
países asiáticos; é na Grã-Bretanha e em mais países da Europa. A destruição é
muita. Gasta-se milhões de euros na recuperação, que na próxima cheia ou
tempestade serão de novo destruídas. E as pessoas comuns continuarão a sofrer
perdas materiais e pessoas a morrer. Mas tudo continua alegremente. E não chega
a voz do Papa Francisco!
2 – Em Portugal a figura mais
relevante em termos positivos no ano que terminou foi António Costa.
A importância da actuação de
António Costa após o acto eleitoral, conseguindo agregar o apoio dos partidos
da Esquerda com assento na Assembleia da República para a formação de uma
maioria que sustenta o seu governo, é um facto significativo, até porque não
foi o seu partido, o PS, o vencedor das eleições.
O que o actual Primeiro-ministro
fez com os acordos à esquerda foi quebrar uma lógica que se instalou no
Portugal Democrático, de que o partido ou coligação que ganhava as eleições
formaria governo, mesmo sem maioria, deixando à margem da governação, por
vontade dos seus líderes ou porque nunca lhes tinha sido concedida a
oportunidade que agora lhes foi dada, os partidos da esquerda, nomeadamente o
PCP, os Verdes e o BE. António Costa quebrou esta alternância de poder e chamou
à responsabilidade governativa os partidos que sempre estiveram do outro lado
da barricada.
Não restam dúvidas de que António
Costa foi ágil, astuto, responsável e fez vir ao de cima as características que
todos lhe identificam: a de ser um excelente negociador e formador de
consensos. Por isso, António Costa fica na história da democracia portuguesa
como o primeiro a conseguir trazer para a área de governação os partidos da
esquerda que sempre estiveram do lado da oposição e do protesto. E isto é, de
facto, uma grande vitória para a Democracia portuguesa e António Costa foi a
figura principal neste desiderato.
3 – Já quanto a factos e figuras
negativas neste ano de 2015, para tristeza minha, e relendo o meu texto
respeitante ao ano de 2014, continuamos a assistir a mais do mesmo.
A exemplo do ano anterior, o
antigo governo do PSD/CDS deu mostras no final deste ano de toda a sua “marosca”
e da forma ignóbil como mentiu e escondeu aos portugueses a realidade, pois
procurou esconder factos graves que oneram em milhares de milhões de euros o
Orçamento do Estado com o único fito de ganhar as eleições.
O governo PàF mais uma vez nos
brindou com a mentira e a trapaça, ao esconder a verdadeira realidade do Banif
e do Novo Banco, que agora surgem com necessidades de recapitalização, sendo o
Banif o caso paradigmático da forma como Passos Coelho, Paulo Portas e Maria
Luís Albuquerque procuraram enganar os portugueses para ganhar as eleições.
Também este final de ano trouxe à
tona a desgraça que foi o corte no Orçamento no Serviço Nacional de Saúde, pois
mais uma vez fomos alertados para os periclitantes cuidados de saúde prestados
nos hospitais públicos, pelo menos ao fim-de-semana, porque o governo teve como
opção cortar nos salários dos médicos e enfermeiros. Por causa disso morrem
portugueses no catre do hospital à espera de serem operados, porque tiveram o
azar da sua doença surgir ao fim-de-semana. Uma Vergonha!
Também de forma negativa continua
a comportar-se as instituições europeias, mormente no tratamento e acolhimento
aos refugiados. Já 2014 terminou com esse drama e 2015 assim termina.
Mas mais grave ainda é o facto da
União Europeia, que se quer solidária, fraterna, inclusiva permitir que dentro
do seu seio haja países que ergam muros de arame farpado para impedir a
passagem dos refugiados, seres humanos que fogem da guerra e da mortandade.
Portanto, 2015 termina e, por
paradoxal que pareça, as figuras marcantes pela positiva continuam a ser
praticamente as mesmas e as negativas também se repetem comparativamente com
2014. Perante este quadro, não espero grandes mudanças e não auguro muito de
positivo em 2016.
Um Bom Ano para todos!