quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

SOCIEDADE SEM PRINCÍPIOS

Quando a vivência em sociedade perde os mais básicos princípios das regras e do respeito pelos outros entramos numa deriva de loucura

1 – Na comunhão entre todos em sociedade, independentemente da cor, da religião e do género, deve primar o respeito pelo outro.
A nível individual ou colectivo mandam as regras básicas dos princípios e dos valores que todos sejam respeitados como pessoa, na sua unicidade e na sua forma de ser e estar. Ninguém tem o direito de impor a sua vontade sobre os outros! E ninguém tem a legitimidade de se intrometer na gestão de qualquer outro país quando não é um exemplo.
Há dias a imprensa noticiou que a Coreia do Norte fez um teste nuclear. Estas notícias começaram por ser transmitidas como se de um sismo se tratasse; logo de seguida foi noticiado de que estávamos perante um teste nuclear levado a cabo pela Coreia do Norte.
Não sei se se vai confirmar ou não a versão do teste nuclear norte-coreano. O que sei é que esta possibilidade é mesmo um sismo. Contudo, este abalo sísmico ou nuclear é uma machadada muito forte no modelo de organização das Nações Unidas, pois podemos assistir a um país, cujo modelo de governação não aceito, dadas as restrições de liberdade e o modo ditatorial como o povo é governado e explorado, optando o governo por investir em armamento e nas excentricidades do seu presidente em detrimento da população, onde a maioria vive em condições miseráveis e degradantes para um ser humano, que está a desafiar os poderosos membros das Nações Unidas.
Não concordando minimamente com a posição da Coreia do Norte, também não aceito que um grupo restrito de membros poderosos que compõem as Nações Unidas queiram impor aos outros regras e normas que eles próprios não cumprem. É uma autêntica subversão de valores e de uma leviandade gritante ouvir os responsáveis dos países mais poderosos criticar e querer impedir que a Coreia do Norte tenha o armamento bélico em causa, mas esses próprios países detêm essas armas em seu poder. Para poderem falar, criticar e exigir deverão primeiro desfazer-se das suas. Porém, o que nós assistimos é aos mais poderosos a procurarem impor o seu poder pelo medo, não querendo que um país mais pequeno possa também os enfrentar. O armamento nuclear é do pior que poderá haver. E só todos os países acabarem com esse tipo de armas é que seria lógico e, aí sim, daria a legitimidade de todos poderem condenar aqueles que não abdicam dessa arma mortífera para todos os seres vivos.  
Todavia, esse grupo restrito que se acha o “dono do mundo” e que quer impor a sua vontade aos outros, falando levianamente em nome da paz no mundo, usando todo o seu poder bélico e fazer negócios de guerra. É que através deste grande negócio de armas de guerra, que floresce transversalmente como um jogo de omissões e mesmo de cumplicidades, cuja estratégia desemboca na produção de terrorismos toleráveis, por um lado, e que variam de forma exponencial e causador da fuga e movimentação de milhões de refugiados que fogem a uma guerra caucionada pelos poderosos que não querem afectar os seus negócios e que por isso vemos no Ocidente os países mais poderosos a mostrarem-se mais flexíveis com a chegada dos refugiados e imigrantes e outros a mostrarem a sua intolerância. A guerra é um grande negócio e um jogo de interesses que movimenta milhares de milhões de dólares, pelo que esta luta opaca se transforma num jogo de sombras onde a hipocrisia se eleva ao grau mais alto da conivência entre os mais poderosos.
Se porventura e infelizmente se confirmar que a Coreia do Norte se transformou em mais um país com poder nuclear, certamente que irá passar a integrar o restrito clube dos negócios de guerra, pois esse é um dos critérios que observamos nesta luta, pelo que se impõem que os restantes países dêem as boas vindas ao impopular Kim Jong-un, pois eventualmente não será pior que os seus colegas que protegem o rei Saudita, os israelitas, o regime iraniano, e, na Europa, os governos fascistas da Ucrânia e da Hungria. A Coreia no Norte não detinha este poder e passou a tê-lo?, agora só lhe falta uma imprensa que lhes dê destaque e cobertura, permitindo que se acomodem como os outros na aceitação do crime na opinião pública do mundo. Mas isso não é coisa que o dinheiro não compre. A ver vamos o futuro.
2 – Há dias, na imprensa foi destaque as palavras proferidas numa homilia pelo arcebispo de Toledo, Espanha, onde este responsável superior do Clero espanhol terá acusado as mulheres que são vítimas de violência doméstica como responsáveis principais destes actos bárbaros por não se saberem comportar e não saberem ser submissas. Estas palavras proferidas por um arcebispo numa homília terão de ser condenadas e o seu autor deverá ser severamente castigado. Não posso conceber, como Católico, que um arcebispo da minha Igreja proclame tão repudiantes palavras. Se o Clero espanhol for honesto, o fim deste arcebispo é a expulsão e a excomunhão. Não faço por menos, pois não concebo uma religião em que acredito dar cobertura e crédito a pessoa tão estúpida e bárbara.
Para além deste dislate do arcebispo espanhol, também um restaurante no Porto, através do Facebook, demonstrou o completo desrespeito pelas mulheres. Esse restaurante publicita na sua página que a carne que vende «Podia ser perfeitamente um pedaço da […]-omito propositadamente o nome da actriz porno- Mas é de uma outra vaca», isto é um insulto a uma mulher que desempenha uma profissão que escolheu e que está no seu direito. Agora o que é inqualificável é alguém publicar tamanho insulto. Nunca fui e nunca serei cliente de um restaurante destes que não respeite as pessoas e o que elas são e fazem!
Mas o desrespeito pelas mulheres não saiu só da boca do arcebispo e nem da página do facebook do restaurante, também a Presidente da Câmara de Colónia, Alemanha, fez questão de mostrar a sua estupidez e, quiçá, a sua frustração por talvez ser mulher… quem sabe?
As palavras horrorosas, insensíveis e imbecis da estúpida presidente da Câmara de Colónia foram proferidas na sequência dos factos ocorridos na noite da passagem de ano.
Nessa noite, cerca de mil homens – mais um bando de trogloditas anormais e idiotas – decidiu se entreter, junto da famosa Catedral de Colónia, a violar mulheres. Foram cerca de 90 as mulheres que foram violadas por esses animais. Se o acto da violação é abominável, mais abominável foram as palavras da tal presidente da câmara de Colónia, que instada a pronunciar-se sobre os actos bárbaros cometidos na sua cidade sobre as mulheres, acusou as mulheres violadas de serem responsáveis e justificou tais actos acusando-as de terem sido agredidas sexualmente por usarem vestuário impróprio («provocador»).
Não sei o que se passa na Europa civilizada e tolerante! Será que isto andará tudo ligado? Será que estamos a correr o risco de uma regressão civilizacional patrocinada por membros do Clero e da política? Onde está o mundo civilizado do Ocidente, onde o respeito pelo outro é uma cartilha de valores básicos?
Mas será que a Europa está a pedi-las? Afinal o que se passa? A Europa anda à deriva, perdeu por completo o respeito pelo outro, desumanizou-se. O primado do lucro e do poder ultrapassou todas as regras e normas da sã convivência e da ajuda àquele que necessita, ao pobre, ao miserável, ao idoso, ao doente, ao refugiado, ao imigrante. Enfim: ao ser Humano!
O exemplo acabado da desonestidade intelectual e da deriva louca está nas palavras do primeiro-ministro de Inglaterra, Cameron, que diz querer trocar imigrantes caros por outros mais baratos. Parece que estamos a regressar ao tempo da escravatura e do esclavagismo, onde não há um sobressalto cívico de ninguém. Na Alemanha, como acima descrevi, apela-se à domesticação das mulheres, uma vez que os agressores são homens! Por sua vez, em Espanha, o arcebispo de Toledo, como acima descrevemos, vai para o ambão e durante a homilia profere ignomínias inconcebíveis para um membro da Igreja que professa uma religião que defende que o outro é nosso irmão, justificando e dando a sua bênção ao assassinato das mulheres por algumas pensarem ou pedirem o divórcio e não serem submissas.

Perante este quadro descritivo, perdoem-me a sinceridade, mas os terroristas islâmicos parecem uns anjinhos comparados com esta gente.