segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

HOMENAGEM AO BOMBEIRO*

Ser Bombeiro é servir os outros, é ser altruísta, é ser confidente, é ser destemido

Recentemente a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Esposende comemorou 125 anos. Também a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Fão comemorou 90 anos. São muitos os anos de serviço ao socorro das populações.
Mas são muitos dias, muitas horas, que ao longo do tempo o Bombeiro deu de si para salvar vidas e bens materiais; são muitas noites sem dormir; muitas lágrimas conseguiram evitar, mas não conseguiram impedir derramar outras tantas; seja no Verão ou no Inverno, vidas socorridas foram muitas, a todo o tempo o Bombeiro responde ao pedido de socorro na doença, no acidente na estrada ou no trabalho, no incêndio florestal ou urbano, no afogamento ou no naufrágio, na intempérie, nas operações de busca e nas acções humanitárias.
Ao som lancinante da sirene, que serve de caixa-de-ressonância e ampliação da voz embargada e desesperada de quem pediu socorro aos bombeiros, o bombeiro abandona a sua cama, deixa o comer em cima da mesa, larga o lugar do sofá onde desfrutava do merecido descanso, deixa a meio a ajuda aos filhos nos trabalhos escolares, esquece a sua família e o seu descanso e parte. Fecha a porta da sua casa e vai em direcção ao quartel. Não pensa que poderá ser a última vez que faz o gesto de fechar a sua porta. Não perde tempo em pensar se voltará para abrir a porta da sua casa e encontrar a sua cama, a comida na mesa, o lugar no sofá, os filhos para ajudar a terminar os trabalhos escolares e a mulher à sua espera.
No seu espírito altruísta e de voluntariado o Bombeiro apenas quer chegar ao quartel o mais depressa possível e tomar o seu lugar na ambulância ou no carro de incêndio. É isso que o move!
No meio da intempérie é o Bombeiro o primeiro a socorrer quem vê as suas casas inundadas e os seus bens danificados. É o Bombeiro o primeiro elemento da protecção civil a chegar junto das populações, enquanto outros continuam no seu sono retemperador no quente das suas casas… sob a chuva ou sob o sol, o Bombeiro, muitas vezes sem descanso e sem comer, luta, cara a cara, de agulheta na mão, ali mesmo junto à língua de fogo, resistindo ao calor infernal e esquecendo que dali pode não sair vivo, apenas com a intenção de proteger as pessoas e os bens - e quantas são aquelas que nada fazem para proteger o que é seu atempadamente?...-,  face a face com a morte o Bombeiro procura escorar a derrocada, vai ao encontro do náufrago, do afogado, encontra-se com o perigo, imagem da vida e face da morte, o Bombeiro nunca nega a mão amiga junto dos aflitos, dos agoniados, são o bálsamo para a dor do corpo e da alma daqueles que sentem perder a vida e perder tudo o que têm: a raiz mais funda da entrega ao outro, da doação até ao fim, é a audácia, é este o sacrifício de homens e mulheres que se dedicam ao voluntariado, à dádiva, e é neles que se encontra o verdadeiro heroísmo, que se dão num tempo tão perene, num tempo tão fácil em criar e proclamar heróis balofos aclamados por turbas ululantes, mas que não valem nada comparados com o anonimato do Bombeiro, que com o ardor do silêncio, a discreta abnegação à causa, sem queixas e sem alaridos, mesmo sacrificando a sua vida e a sua família, o Bombeiro é presente, é entrega, é causa, é dor, é alma, é confidente, é o rosto que o desesperado primeiro vê, é o Bombeiro que socorre o desconhecido, não importa que seja branco ou preto, não tem em conta o seu credo, não quer saber se é rico ou pobre: apenas um ser humano!
Sem queixume, sem alarido, com uma discrição do tamanho do mundo, o Bombeiro é a excelência do mérito e do esplendor. O seu exemplo é a escola de valores bebido dos antecessores. É esse o espírito do Bombeiro!
O Bombeiro compreende as incompreensões, as críticas, mesmo que injustas, é apenas o seu espírito humanista e humanitário, a sua dádiva à causa do voluntariado, à entrega na ajuda ao outro, o servir no campo onde a seara cresce fruto da sementeira do altruísmo e do amparo, seara que honra um vasto percurso colectivo, um tributo ao altruísmo que cresce desde a fundação, desde o desenho gizado por uma gesta colectiva de humanismo num filão inesgotável e inestancável do magnânimo princípio de entrega à protecção de vidas e de bens.
Aqui fica o meu tributo a todos os Bombeiros, especialmente e particularmente aos Bombeiros das corporações de Esposende e Fão, que nesta fase aniversariante se podem orgulhar da escola de valores que formam nos seus voluntários.
Como nado e criado no concelho estou grato a todas as gerações de Bombeiros que foram engrandecendo as corporações. Mas também envio a minha gratidão a todos, desde o comando às direcções, que desde a génese das duas corporações muito têm feito para engrandecer estas tão nobres Associações. Não esqueço neste abraço de gratidão os associados e benfeitores, que graças a eles também as Associações existem.
Obrigado aos Bombeiros por tudo o que fazem! Peço que continuem a prosseguir o belo ideal que abraçam. Acudi aos desastres, às doenças súbitas, aos incêndios. Mostrai coragem no combate às chamas ardentes, mas não deixeis que esmoreça a chama, o incêndio, que palpita, crepita, dentro de vós. Não deixeis sucumbir na alma a chama incandescente que vos fornece a energia para continuardes ao serviço da causa humanitária que materializa a força que há em vós num espírito altruísta que sustenta a nossa sensação de segurança. 
A vossa energia advém do pão da entrega que vos alimenta e que muitas vezes é o último reduto, o último assomo de esperança de quem se encontra em risco e no limite da sua vida.
Agradeço todas as horas que roubais à família para dar aos outros! Reconheço em vós uma família, a família dos bombeiros que abraçados aos machados nos demonstram o seu amor à causa, o seu companheirismo, os seus laços com as populações, a vossa devoção e orgulho de capacete dourado resplandecente de luz que brilha nos sóis da nossa terra. Obrigado pelo vosso suor despendido na ajuda, no socorro, na luta inglória contra as chamas e contra as águas revoltantes que tudo arrastam. Obrigado pelo vosso espírito de missão, pela vossa coragem de vos levantardes quando o cansaço aperta e quando o desânimo se aproxima. Obrigado por muitas vezes serdes o sorriso e o abraço, o seguirdes em frente mesmo quando fostes em grande velocidade mas não chegastes a tempo. Obrigado por não desistirem às críticas injustas e incoerentes, pois apesar da velocidade ultrapassada não pudestes chegar a tempo, pois vós compreendeis, no vosso espírito humanista, que essas criticas saíram de bocas angustiadas, desesperadas, pois tudo perderam.
Obrigado Amigas e Amigos! Continuai em frente ao serviço de todos nós. Neste tempo de aniversário aqui fica a minha humilde e singela homenagem pública aos Bombeiros de Esposende e Fão, em particular, e aos Bombeiros de Portugal e do mundo.
Nota: o autor escreve segundo o antigo AO.
*Crónica publicada no jornal Notícias de Esposende, n.º 04/2016 de 23 de Janeiro.