sábado, 21 de fevereiro de 2015

MAIS ALEMÃ QUE OS ALEMÃES

O Ministro das Finanças Grego, Varoufakis, com a sua forma politicamente correcta – infelizmente, digo eu, trazida para a política pela esquerda americana -, não ousou apontar os nomes da Ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e do seu congénere espanhol, durante a conferência de imprensa, como os mais empertigados em impedir o acordo da Grécia com o Eurogrupo.
Só que, à saída da mesa, Varoufakis, interpelado pelo jornalista da RTP, António Esteves Martins, deixou sair um desabafo, acusando Portugal e a Espanha de serem “mais alemães que os alemães”.
Tenho pena que Varoufakis não tivesse mandado às malvas o politicamente correcto e ter, em frente a todos aqueles microfones, denunciado os nomes daqueles que, na reunião dos ministros das finanças do eurogrupo, ou seja a ministra das finanças de Portugal e o ministro das finanças de Espanha, tudo fizeram para contrariar o acordo, que já tinha sido formulado em Paris entre Merkel e Hollande. A portuguesa e o espanhol não tiveram pejo em se deixaram instrumentalizar pela Alemanha, para que a Merkel e Schäuble pudessem sair limpos de toda a trampa que arranjaram nas últimas semanas. Mas Varoufakis não o fez. Tenho pena!
Durante as últimas semanas, onde se discutiu o problema grego, Portugal comportou-se, através das suas mais importantes figuras do Estado, como uns autênticos lambe-botas.
A postura de Portugal deve envergonhar todos os portugueses. Eu sei que Cavaco, Coelho, Portas e Albuquerque não são exemplo a seguir, mas do comportamento destas figuras veio ao de cima aquilo que de mais rasca há na sociedade portuguesa: a mesquinhez, a inveja, o ódio, o «culambismo», a subserviência, a tacanhez, a prostração, a arte do “lambebotismo” aos mais poderosos, a arrogância e, pior que tudo, a falta de carácter para reconhecerem o erro. Estas são as maleitas que contaminam os portugueses; estes são os males que corroem a sociedade portuguesa.
Estar no constante beija-mão aos do poder é o que mais ordinário pode existir numa sociedade. Fazer figuras de tristes personagens de terceira no palco político e social, é algo que envergonha um país. Portugal não pode viver de cócoras perante os poderosos e empertigar-se contra aqueles que estão na mesma situação. Ser forte com os fracos e fraco com os fortes é cobardia!
Mas isto é mesmo o que se passa na sociedade portuguesa. O comportamento dos nossos governantes é o espelho fiel do que se passa em Portugal. Os que recebem apoios sociais empertigam-se e denunciam-se uns aos outros; os que precisam de recorrer a lojas e cantinas sociais são delatados pelos outros que também lá vão, sempre na esperança de que caiam nas boas graças de quem distribui e lhes toque mais um bocadinho; os trabalhadores do sector privado atiram-se como gatos a bofe aos trabalhadores do sector público; os trabalhadores no activo empertigam-se contra os reformados; os trabalhadores não se importam de acusar um colega de trabalho para cair nas boas graças do capataz ou do patrão, pois daí espera a oportunidade de uma promoçãozinha; os que menos têm ajudam sempre os que mais têm, pois a inveja faz com que prefiram comprar na grande superfície do que comprar na mercearia do vizinho, pois têm medo que ele enriqueça. Isto é Portugal!
Como é óbvio, os traços da nossa sociedade são mesmo de mesquinhez, de tacanhez e de subserviência. Traços que são muito bem explorados por aqueles que possuem o poder. Mas isto já começa no Jardim-de-infância, pois procuram sempre ser os “graxistas” da professora à espera de sinecuras.

Mas isto não muda. Eu morrerei como sou: contra o sistema!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

FOI HÁ DEZ ANOS!

Sim! Foi há dez anos. Quem não se lembra? O PS, com Sócrates como Secretário-geral, venceu as eleições Legislativas com maioria absoluta.
Portugal estava anémico. Tinha vivido o pesadelo da coligação Barroso/Portas e depois Santana/Portas. Nos entretantos Barroso tinha fugido para Bruxelas. Foi para lá desgraçar a Europa.
Santana acusava os irmãos de o espancarem na incubadora! Cavaco reapareceu na política – a preparar as presidenciais – com o texto da moeda má e da moeda boa. Explicitamente um artigo a desancar em Santana. Sócrates tinha sido eleito há pouco tempo Secretário-Geral do PS. O poder, pode-se dizer quase lhe caiu no colo.
O Presidente Sampaio, com a grande lucidez política que sempre pautou a sua carreira, fez aquilo que o povo queria: acabar com a agonia de uma coligação em pedaços e um país amorfo e desacreditado.
Há dez anos Sócrates conquista a primeira maioria absoluta para o PS. E tudo começou e tudo mudou!
Logo no discurso da tomada de posse, Sócrates disse ao que vinha. Afrontou o “lóbi” das Farmácias. João Cordeiro foi o primeiro a abrir fogo sobre Sócrates e o seu governo. Seguiu-se, não sei se ainda se lembram, o afrontamento aos juízes, decidindo o governo que os juízes passavam a ter apenas um mês de férias, em lugar dos três meses. O Parlamento passou a ter um mês de férias, apenas; foram cortadas as subvenções vitalícias aos políticos – infelizmente sem retroactivos, digo eu -; o mandato dos autarcas passou a ser limitado; assim como o dos Presidentes das Regiões Autónomas – aqui falhou a limitação aos deputados, digo eu.
Ao mesmo tempo começou uma perseguição sem exemplos na Democracia a um Primeiro-ministro. Todos os dias surgiam notícias nos pasquins a pretenderem ligar Sócrates a possíveis actos de corrupção. O Caso Freeport é o exemplo acabado da malvadez que atacou Sócrates. A polícia iniciou uma investigação perseguidora com base numa carta anónima. Soube-se mais tarde que ao que parece teria sido escrita por um indivíduo ligado a um partido da direita.
Enquanto era acossado pela imprensa com estas acusações e a forma como Sócrates obteve a sua licenciatura na Universidade Independente, o mesmo Sócrates, Primeiro-ministro, iniciava uma caterva de reformas que estavam a alterar por completo o “status quo” de algumas classes profissionais. Este afrontamento de Sócrates foi o início do fim da sua governação com maioria, pois os sindicatos, liderados pela CGTP – por sinal hoje muito calados, já não há manifestações não há nada, talvez porque a direita está a tratar bem os trabalhadores -, com o sindicato dos Professoras (Fenporf) na vanguarda, instigavam na rua o povo contra o governo. Foi no tempo do governo de Sócrates que a Frenprof levou a Lisboa, em manifestação, 200 mil professores (hoje estarão melhor os professores?).
E foi num clima de constante resistência das classes profissionais, onde mais era necessário se implementar mudanças estruturais de fundo, que o governo de Sócrates foi implementando medidas que visassem a modernização do país.
Foi Sócrates, contra a classe profissional, que tomou medidas na área da Educação – estas decisões estão diluídas na constante contestação dos professores. Mas o governo fez o que há anos deveria ser feito: encerrou escolas com menos de dez alunos; criou Centros Escolares modernos (por muitas criticas que hoje apresentem, na altura nem se pronunciou) que dão um maior conforto aos alunos e criam uma maior socialização entre as crianças da mesma idade; implementou a escola a tempo inteiro – até às 17,30 horas; generalizou as refeições nas escolas do 1.º Ciclo; criou as actividades extra curricular, onde todos os alunos da escola primária, independentemente do poder económico dos pais, passaram a ter aulas de inglês, de música, de educação física, de artes plásticas e de representação. Estas actividades, antes das medidas implementadas pelo governo de Sócrates, só estavam ao alcance daqueles que melhores condições económicas tinham para pagar escolas particulares para os seus filhos; hoje, por igual, todos têm acesso a estes ensinamentos. Aumentou exponencialmente a acção social escolar; aumentou a escolaridade obrigatória para os doze anos; promoveu o acesso às crianças do 1.º ciclo ao computador Magalhães; criou o Plano Tecnológico e o acesso aos alunos de todas as áreas de ensino a computadores mais em conta e com acesso à Internet; modernizou as escolas com computadores e acesso à Internet de Banda Larga.
A nível de qualificações, foi o governo de José Sócrates que voltou a apostar no ensino tecnológico profissional, ensino que foi esquecido durante décadas no nosso país; foi o Partido Socialista que criou as Novas Oportunidades, onde mais de 900 000 portugueses tiveram a oportunidade de concluir uma aprendizagem escolar que por motivos vários interromperam no percurso da sua vida. Para os detractores das Novas Oportunidades, lanço o desafio de perguntarem àqueles que tiveram a oportunidade de concluir a sua aprendizagem o que sentem agora após concluírem o grau de escolaridade, certamente que para a maioria é um grau de satisfação, pois enriqueceram os seus conhecimentos; Portugal tem de apostar na aprendizagem ao longo da vida, pois só assim estaremos aptos a concorrer com os outros. 
Já no que diz respeito à Acção Social, foi Sócrates que criou o complemento Solidário para os Idosos. A nível da Segurança Social foi Sócrates e Vieira da Silva que estabilizaram a Segurança Social e desta forma caucionou que a Pensão de reforma estava garantida para todos os pensionistas. 
Na questão da Saúde, Sócrates implementou novas formas de Serviços de urgência, criou as Unidades de Saúde Familiar, equipou populações com ambulâncias apetrechadas com modernos equipamentos de suporte de vida, o que não existia na maioria das urgências que foram encerradas ou requalificadas e criou as unidades de cuidados continuados.
Sócrates apresentou-se interessado em modernizar o País, para desta forma não nos distanciarmos mais da Europa.
Foi Sócrates que conseguiu que o défice público chegasse aos 3%.
Contudo, em 2008, chegou a crise financeira com o problema do subprime nos Estados Unidos da América. A Europa ficou em choque, e como uma barata tonta não soube responder condignamente ao problema financeiro que abalou o mundo.
Sócrates nacionalizou o BPN e, com isso, foi o dinheiro público que salvou da falência os barões da direita que lá tinham andado a “pôr a mão na massa”.
O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, publicou, em Bruxelas, no dia 27 de Novembro de 2008, o “Plano de Relançamento da Economia Europeia”. No documento incitava os governos da Europa a atacar a crise com investimento “inteligente”, a injectar poder de compra na economia destinada a fomentar a procura e a estimular a confiança.
Só que, as instituições europeias, sem líderes carismáticos, sem gente com rasgos e com visão, sem homens e sem mulheres à altura, que pensassem primeiro nas pessoas, em 2009 veio desdizer-se em tudo e aniquilou as economias mais débeis, como a Portuguesa, pois a União Europeia preferiu ir em socorro dos bancos alemães, franceses e ingleses, o que provocou uma espiral de aumento dos juros nos mercados financeiros que serviu de garrote a Portugal. Depois disso, foi o que se conhece.
Sócrates é um político com carisma e um líder nato. É por isso que ou o admiram ou o odeiam. Sócrates é mesmo assim! Um exemplo de abnegação, de luta. Mas com um pecadilho: a obstinação e o pragmatismo foram duas facetas que o prejudicaram.
Mas Portugal muito deve aos governos de Sócrates. E não fosse a crise financeira internacional e hoje poderíamos tirar melhores conclusões da sua governação.
Aqui fica o link para quem quiser consultar o texto da Comissão ao Conselho Europeu em 26-11-2008.

http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52008DC0800&from=EN  

“O ENTRUDO DOS POLÍTICOS”

Passou o Carnaval, e a quarta-feira de cinzas serviu para se desmontar os carros alegóricos que circularam nos cortejos carnavalescos e para arrumar as fantasias usadas, quem sabe se para usar no próximo Carnaval.
Os Cristãos entram na Quaresma, período sem festas e dado ao jejum e abstinência.
O povo, em geral, arrumou tudo o que o ligava ao entrudo, pois cumpre a tradição quaresmal, que na Igreja Católica representa os 40 dias de recolhimento de Jesus Cristo no deserto, sem comer e sem beber, e se prepara para cumprir, cada qual a seu modo, o ritual da penitência, a dedicação à oração e a exercitação das obras de piedade e caridade.
Já os políticos, mandando às malvas a penitência, a oração e as obras de caridade, iniciam o seu entrudo político, pois tiram dos armários os seus acessórios carnavalescos e iniciam a marcha da fantasia política.
A fantasia política vai durar até Setembro/Outubro. Os políticos já escolheram as suas fantasias e não terão pejo, nem vergonha, em as exporem ao povo.
Por um lado teremos a fantasia da maioria. Apresentar-se-ão fantasiados de salvadores da pátria, à laia de Sassá Mutema, anunciarão que salvaram o País. Exclamarão que graças às suas políticas salvíficas Portugal ganhou o respeito dos mercados. Aproveitarão para nos esfregar na cara os encómios recebidos por parte do ministro das Finanças da Alemanha e da senhora Merkel, a toda-poderosa.
No entanto, as suas fantasias vão esconder do povo que as suas decisões políticas aumentaram o desemprego; aumentaram a dívida pública; destruíram o Serviço Nacional de Saúde e a Educação Pública; deram origem à falência de milhares de micros e pequenas e médias empresas; cortaram sem critério nos apoios socias; aumentaram exponencialmente os níveis de pobreza.
Por sua vez, a oposição vai aparecer ao povo com duas fantasias diferentes. Por um lado virão aqueles que nunca foram nem querem ser poder denunciar que os partidos da maioria do governo e o PS são farinha do mesmo saco. Que todos no governo aplicam políticas de direita. Que estão subjugados ao tratado Orçamental e que a dívida é impagável.
São os fantasistas radicais que não querem fazer parte da solução, mormente numa lógica de esquerda Democrática e responsável, preferindo ficar à margem de qualquer solução de esquerda para o País. Não querem, nunca quiseram, fazer parte de uma solução. Neste momento já nem ao Syriza se podem agarrar. São as fantasias ortodoxas de uma esquerda radical que prefere seguir o exemplo salazarista do orgulhosamente só.
Por sua vez, o PS, acossado à direita pelas fantasias da coligação, e à esquerda por um discurso radical, vê-se na obrigação de não se fantasiar do que quer que seja.
Não pode/deve vestir a fantasia dos salvadores da pátria e os detentores das soluções que nos salvarão da canga dos mercados e das grilhetas de uma União Económica e Monetária sem sentido e mal desenhada. Não poderão vestir a fantasia do Syriza nem do PS de Hollande, muito menos da fantasia do governo Socialista de Itália.
O PS e António Costa deverão ser transparentes, concisos e coerentes nas propostas. Não poderá alinhar no discurso do radicalismo e do corte com o passado da governação socialista, por muitos anátemas que a maioria e a esquerda radical possam lançar. Para António Costa este será o maior desafio da sua vida. Mas não pode ficar à espera, no silêncio, na fantasia de passar pelos pingos da chuva sem se molhar.
Sem disfarces carnavalescos, sem entrudos políticos e sem fantasias, no devido tempo o PS terá, obrigatoriamente, de anunciar as suas linhas mestras definitivas, pois os traços gerais indicados na Agenda para a Década não são sinal bastante.
Vamos ter uma Primavera e um Verão bem quentes da fantasia deste entrudo político que não nos deixa.
Só mesmo no entrudo é que podemos assistir à subserviência da nossa Ministra das Finanças, a fazer papel da boa aluna, ao lado do alemão, quando este apresentava Portugal como o troféu das políticas austeritárias da troika.
Que tristeza de gente que temos no nosso governo. Subservientes e orgulhosos por terem obedecido e agradado cegamente aos algozes do povo português.

Entrudo político sem vergonha e fantasias loucas é o que nos espera até às próximas eleições legislativas!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

“OS LAMBE CUS”

Há mais praticantes de lambe cus do que atletas
de todas as modalidades desportivas em Portugal

A arte do lambe cus é uma modalidade que era muito apreciada antes do 25 de Abril. Depois da Revolução da Abril caiu um pouco em desuso, mas sempre existiram praticantes desta arte.
Hoje, a nossa sociedade aceita de bom grado a arte do «culambismo» (sibilinamente descrita por Miguel Esteves Cardoso), pois esta é vista como a melhor forma de «subir na vida». Ter alguns conhecimentos de «culambismo» é tão importante para vencer na vida como saber falar línguas.
A modalidade do lambe cus encontra-se na área da ginástica corporal, e cada jogador procura sempre mostrar a sua arte nas mais diversas formas de contorcionismo, cujo exercício complexo o obriga a recorrer a todos os meios ao seu alcance para conseguir prostrar-se primeiro e melhor que os outros para lamber o cu de um outro jogador mais forte.
Para além da “chicane” corporal, o lambe cus também terá de estar bem provido da falta de carácter, da falta de solidariedade, da falta de gratidão, da falta de coluna vertebral. Enfim, tornar-se uma minhoca rastejando em busca do cu mais poderoso para lamber, pois o seu objectivo é engraxar o chefe, o político com poder, ou aquele que o pode ajudar a fazer um negócio.
Em suma, o lambe cus procura sempre o cu melhor classificado, que poderá ser do superior hierárquico ou do político com poder. O lambe cus vai em busca de receber o prémio, pois esses prémios podem ser consubstanciados em dinheiro, em espécie, numa promoção, na ascensão social.
Se antes do 25 de Abril os lambe cus eram meros «amadores» na arte da lambidela, pois não passavam de uns reles “engraxadores”, que começava na escola com os alunos a engraxar os professores; o chefe de repartição a engraxar os chefes de serviço, etc. Mas, nessa altura, quiçá pela contingência política, eram poucos os praticantes da modalidade do lambe cus. Mas os engraxadores desse tempo eram bem-sucedidos nessa arte da lambidela dos cus mais disponíveis, e daí recebiam grandes sinecuras. Mas nesse tempo, essa arte de “engraxar” não era bem vista socialmente. O “engraxador” era alvo da troça dos colegas de turma e dos colegas de trabalho.
Mas hoje já nada é assim! Os lambe cus não têm vergonha e reproduzem-se como coelhos.
Também temos os cu lambidos, que ao mesmo tempo são lambe cus. Os cu lambidos estão numa posição onde têm uma série de lambe cus que os deixam satisfeitos, pois o seu poder hierárquico, o seu conhecimento com um político ou um empresário que pode meter uma cunha, ou pelo seu poder financeiro, sentindo-se uma personagem importante, mesmo que pouco relevante na sociedade, mas que também se torna um lambe cus para aqueles que estão acima dele na escala do poder ou da hierarquia. Esses cus lambidos, e ao mesmo tempo lambe cus, são personagens mesquinhas que não têm pejo em prejudicar quem quer que seja para agradar aos seus lambe cus, mas também àqueles a quem ele lhes lambe o cu. A sociedade de hoje está pejada deste tipo de vermes.
Não faltam por aí também os lambes cus que servem vários cus lambidos em simultâneo. Este tipo de lambe cus é aquele que não tem pejo em agradar a diversos cus lambidos, pois sabe que de um deles poderá conseguir aquilo que mais quer. Este é o tipo mais rasca que pode haver na sociedade. Os cus lambidos, por norma, pensam que têm a exclusividade do lambe cus. Só que isso não é verdade. Por isso, os lambe cus que lambem vários cus ao mesmo tempo, também são especialistas na dança do “samba do crioulo maluco” (como diz o brasileiro), pois são aqueles que andam para trás e para a frente no leva e traz, é o tipo coscuvilheiro.
Neste tipo de modalidade, o cu lambido é o que se encontra no topo da pirâmide. Este é aquele a quem todos gostam de lamber o cu, e quanto mais lambedores tiver mais ele gosta.
De seguida surgem aqueles que mais directamente trabalham com os cus lambidos, que se podem considerar como os «vice cus lambidos» ou os «lambe cus principais». Estes são os que melhor apresentam a arte do contorcionismo, dada a sua capacidade para lamber o cu do cu lambido. Mesmo sabendo que podem correr alguns perigos, estes lambe cus não se retraem, dado que têm a ambição de um dia serem cu lambidos.
Também existem os «lambe cus de carreira». Estes praticantes estão institucionalizados e gostam que o tratem por «chefe». A sua forma de estar é diferente dos outros, mas sabe que quantos mais cus lamber mais benefícios lhe poderá trazer, por isso treinam afincadamente a arte de lamber cus. Dentro desta categoria há muita concorrência, pelo que este tipo de lambe cus é sempre cauteloso, dado que uma má lambidela de cu poderá dar origem a um pontapé no cu. E lá se vai a ambição!
Nesta última categoria há uma divisão entre os especialistas na arte do lambe cus. Há o «lambe cu mensageiro» – o tal do leva e traz; o «lambe cu informático» - aquele que procura ganhar a confiança do cu lambido, pois este é um infoexcluído.
Depois temos os «lambe cus básicos». Esta categoria comporta aqueles que não «conseguem lamber bem um cu». Fazem-no talvez por falta de jeito ou de formação. Estes são os «lambe-botas, graxistas, ou engraxadores, já estão em desuso e por isso ultrapassados; são os que têm uma língua viperina e por isso mesmo não conseguem lamber o cu sem destilar abundantes quantidades de veneno».
Temos também o «self lambe cu». Esta é uma figura ilustre, mas externa ao cu lambido, é um género de lambe cus de luxo, pois são «exuberantes, narcisistas, teatrais e nada discretos». Este tipo de lambe cus merece uma grande atenção do seu cu lambido, pois este é o seu mecenas, tendo em conta a falta de jeito do cu lambido e a arte do embuste e da lambidela do lambe cus.
É difícil lidar com estes lambe cus, mas também com os cu lambidos. Por muito que queiramos, não conseguiremos converter um lambe cus. Há muito que já desisti desta empreitada. O melhor é sinalizá-los e estar atento às suas lambidelas.
Entendo que os lambe cus tenham fé na sua arte. No Senegal, no festival anual da lombriga africana, há um pastor que fez as mulheres acreditar que se ele lhes lambesse o cu elas aumentavam a fertilidade e as que eram solteiras mais depressa atraíam marido.
Pode-se dizer que ao pastor em causa não faltam clientes, pois elas lá aparecem na praia (o ritual tem de ser na praia à borda-d'água, talvez para algumas lavarem o cu antes da lambidela) e nuas se colocam de quatro com as pernas abertas e o pastor lá vai lambendo o cu (e talvez mais alguma coisa, mas eu nunca vi) a cada uma. O certo é que mesmo não havendo efeito nesse lambe cu, o certo é que elas regressam no festival seguinte. Talvez gostem mais da lambidela… ou seja mesmo uma questão de fé.

Na Índia a arte dos lambes cus é apelidada de Sicofância, que é uma sátira àqueles que se colam ao poder a fim de obter favores e sucesso.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

DIA DE ENTRUDO

Hoje é dia de entrudo! Muitos são os foliões que vêm para a rua. Uns apenas servem de mirones. Mas outros há que se esmeram na sua fantasia carnavalesca.
Tenho sérias dúvidas que alguém hoje, por vontade própria, se queira fantasiar de Cavaco, Coelho, Portas e, mesmo, de Costa.
É certo que se devem sentir deprimidos só em pensar que, com tal disfarce, os mirones lhe possam apontar o dedo, e em escárnio histérico, os acusarem de falta de imaginação ou de fazer uma deprimente figura. Muitos lhes diriam: vai para casa e esconde-te, tal é o mau gosto; outros gritariam que melhor se fantasiasse de matrafona ou de rato de esgoto, pois seria mais aplaudido nesta sua fantasia e poder de imaginação.
Irra! Em frente ao teclado, a escrever conforme as palavras vão surgindo, também, eu, em dia de entrudo, estou travestido, sem rumo, sem lógica, sem métrica. Mas pronto, não estou fantasiado. Eu sou eu! Não passo de ser eu próprio, mesmo em dia de entrudo. Porque não gosto! Mas não crítico quem gosta. Mas, porra! Não se fantasiem com as caras dos atrás citados. Procurem mais imaginação, quanto mais não seja imaginem-se na saga de Grey e nas suas 50 sombras do “tau tau”.
Seria bonito! Que alegria para os mirones. Que mesmo eles, que não gostam de se fantasiar, apenas de ver e rir à custa daqueles que tudo fazem para os divertir, começariam a fantasiar a sua pobre vida sexual. Certamente que alguns chegariam a casa e chamavam a Maria (não a cavaca).
A sua Maria, submissa como sempre, chegava prontamente junto do mariolas fantasista que se intitula de não se fantasiar em carnavais, e exclama do alto da sua pesporrência machista:
- Maria, já não és virgem, por isso não fantasies, esse direito é meu, vira para cá esse rabo gordo, cheio de celulite que eu vou-te açoitar, tal como descreve a E. L. James, ou lá que raio é.
E a Maria, atónita do que estava a ouvir.
- Ó “home”, que estás tu a dizer? Tu bebeste? Que raio te fez mal, credo?
O fantasista estúpido, já cheio de cólera, saca do cinto e desata a chibatar o rabo da Maria. Mas esta, em vez de dar gritinhos de prazer hedonista, gritava a plenos pulmões de dor lancinante perante as chibatadas impostas pelo fantasista cobarde que se diz não ser fantasista e criticar aqueles que se fantasiam.

O entrudo é isto: uns fantasiam-se para brincar; outros mascaram-se daquilo que gostariam de ser durante todo o ano; e outros, os que gostavam de se fantasiar mas são covardes, tal qual os nossos personagens de que todos fogem de se fantasiar, que gostavam de ser alemães e por isso se disfarçam de alemães para poderem chicotear os gregos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

PELA NOSSA SAÚDE, LUTEMOS*

A saúde é um bem que deveria ser de todos,
e acessível a todos!

N
as últimas semanas têm vindo a pública notícias e acontecimentos que trazem à colação a precariedade dos cuidados de Saúde em Portugal, nomeadamente no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O SNS foi uma das maiores conquistas trazidas pela Revolução de Abril de 1974! Com este Serviço, a população portuguesa, desde as grandes cidades às aldeias mais remotas deste Portugal com vista para o Atlântico, viu melhorar a sua qualidade de vida, pois o acesso aos cuidados mais básicos de Saúde era garantido por um serviço público de proximidade. Sendo exemplar a extraordinária redução da taxa de mortalidade infantil. Portugal, graças ao SNS, deixou de ser um dos países da Europa com a maior taxa de mortalidade infantil para se tornar no país da Europa com a mais baixa taxa de mortalidade infantil. E isto é impagável!
Não queremos ser líricos e pensar que no SNS tudo eram maravilhas. Nada disso!
Todavia, o facto de haver necessidade de algumas alterações de pormenor, mormente na componente do controlo da despesa em casos específicos e não na generalidade, não era motivo para que o governo actual promovesse o maior ataque ao SNS, tudo fazendo para desmantelar esta preciosa prestação de serviços médicos público à população. Desde a imposição de orçamentos rígidos que impediram os hospitais de funcionar com normalidade; à gestão do pessoal médico, de enfermagem e auxiliar, entregando a sua contratação a empresas de trabalho temporário e impedindo as administrações hospitalares de contratar pessoal e cortar na compra de medicamentos necessários e imprescindíveis para o tratamento e a cura dos doentes; terminando com a desqualificação dos hospitais, provocando a perda de valências em muitos, que deu origem a que as populações tivessem de ir para localidades mais distantes para consultas externas de especialidade, para serviços de urgência e para outros cuidados de saúde, tudo serviu para denegrir o SNS.
Sob a capa do argumento do memorando da troika, o governo de Passos Coelho e do contabilista Paulo Macedo, procedeu a cortes drásticos no Orçamento da Saúde. Com o estrangulamento financeiro aos hospitais e tornando mais caro o acesso à saúde à população, este governo iniciou a purga necessária para desmantelar o SNS. E estão a consegui-lo! Os governantes mentiram aos portugueses, pois sempre argumentaram que estavam a cumprir o acordado com a troika. Mas a mentira tem “perna curta”, e Passos Coelho e Paulo Macedo foram desmentidos por um relatório da OCDE que diz que «Portugal cortou na Saúde o dobro do que tinha negociado com a troika». Como se pode verificar, não foi a troika nem o memorando herdado que obrigou o governo a tomar as medidas contra o SNS. Foi, isso sim, uma intenção ideológica deste governo em desmantelar o SNS.
No entanto, estamos perante um governo em completo desnorte, sem rumo, e que a proximidade das eleições lhes tolhe o raciocínio e seca os pucos nerónios que lhes resta.
Não bastava todo o caos nos serviços de urgência, onde as pessoas tiveram que esperar, em alguns casos, 23 horas para serem atendidas no Serviço de Urgência. O caos estava montado! Ninguém assumia responsabilidades, todos empurram de um lado para o outro. Os directores de Serviços em alguns hospitais demitiram-se em bloco, alegando falta de condições de trabalho.
Perante este caos estabelecido, morreram 8 pessoas nas urgências hospitalares à espera de serem atendidos pelos médicos. Os internamentos tornaram-se um caos. A falta de pessoal médico e de enfermagem dá origem a que os cuidados médicos prestados aos doentes possam não ser os melhores. Perante este cenário, tenho quase a certeza que há muita gente a morrer antes do tempo.
Depois do caos nas urgências, eis que um novo caso surge na comunicação social e que demonstra a insensibilidade humana que este governo tem. Falo do caso dos doentes com Hepatite C! É inconcebível que uma pessoa morra por falta de um medicamento que o governo não que comprar por o achar caro.
Os doentes com Hepatite C estão à espera que o governo decida comprar um medicamento que em 90% dos casos lhes traz a cura. Mas o governo não está preocupado com a cura e salvar da morte estes doentes. A preocupação do governo é financeira. O governo entende, pela voz do Ministro da Saúde e do Primeiro-ministro, que o medicamento é muito caro e que a empresa farmacêutica tem de reduzir o preço. Falamos de um medicamento novo que custa cerca de 41 mil euros. Será que a vida de uma pessoa não vale mais de 41 mil euros? Se fosse Paulo Macedo ou Passos Coelho, ou alguém da sua “entourage” familiar e política eles perdiam tempo a ratear o preço como se estivessem numa feira? Certamente que não!
Uma mulher de 51 anos, que sofria de Hepatite C, acabou por morrer sem que o governo decidisse comprar o medicamento que a salvava da morte. Esta doente passou o último ano em constantes tratamentos e internamentos. Quanto custou esta senhora ao SNS no último ano com os tratamentos e os internamentos? Talvez mais que os 41 mil euros que custa o medicamento que a poderia salvar. Mas o governo preferiu andar na feira a regatear o preço e a fazer um “braço-de-ferro” com a empresa farmacêutica que produziu e comercializa o medicamento.
Muitos doentes esperam que o governo lhes disponibilize esse medicamento que os pode salvar. Um dos doentes, por carta dirigida ao ministro Paulo Macedo, já se disponibilizou a pagar metade do valor do medicamento. Do ministro nem resposta obteve! Esta semana, o mesmo doente, na audiência parlamentar ao Ministro da Saúde na Assembleia da República, suplicou a Paulo Macedo que não o «deixe morrer». Perante este pedido lancinante de quem vê que se pode curar mas por um capricho do governo do seu país corre o risco de morrer antes do tempo, o que fez um deputado do PSD que estava nessa audiência, Miguel Santos, interveio, e em vez de demonstrar solidariedade pelos doentes, vociferou contra os mesmos, apelidando de “circo” o que ali estava a acontecer. Esta é a exemplar forma como o governo e a maioria trata os portugueses.
Como todos nos lembramos, Passos Coelho não se cansou de afirmar que iria cumprir escrupulosamente o programa da troika, que apelidou do seu programa de governo e que iria para além da troika, “custe o que custar”, vindo agora, confrontado com o problema dos doentes com Hepatite C que «deve-se fazer tudo para salvar vidas, mas não custe o que custar». E acrescentou «Pagar uma fortuna para aceder ao medicamento não nos parece uma coisa equilibrada».
Este governo parece seguir a lógica de deixar morrer os doentes graves e os idosos para poupar nas reformas? Passos Coelho tem a desfaçatez de nos dizer que temos de empobrecer “custe o que custar”, pois custe o que custar temos de pagar a dívida e os juros. Este governo que se quer fazer duro a negociar a descida do preço do medicamento que pode salvar a vida dos doentes, é o mesmo que não tem a coragem de negociar a descida do valor dos juros da dívida que estamos a pagar!
Só de juros da dívida pagamos por ano tanto como o que gastamos com o Serviço Nacional de Saúde – oito mil milhões de euros. Temos um governo forte com os fracos e fraco com os fortes! Só nos resta esperar pelas eleições e correr com eles, mas até lá ainda vão fazer o mal e a caramunha.
Resta, por fim, acrescentar que em Portugal os tumores matam 70 pessoas por dia, e 10 000 novos doentes por ano são recebidos no IPO do Porto.
É urgente que as políticas para a saúde comecem a orientar-se para a prevenção, pois só assim haverá menos mortes e menos despesa no tratamento.

*Artigo publicado no Jornal Notícias de Esposende, n.º 5/2015 – 7 a 13 de Fevereiro.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

QUEM TEM MEDO DO SYRIZA? (II)*

O conto de crianças do programa do Syriza,
é o mesmo conto de crianças do programa do PSD
e de Passos Coelho em 2011

No passado dia 25 de Janeiro, o povo grego elegeu, em eleições livres e democráticas, um novo governo.
O partido vencedor, o Syriza, sempre anunciou que era contra a austeridade e que a Grécia não poderia continuar a seguir o programa económico imposto pelas instituições europeias, e que a dívida grega era incomportável. Nestas eleições a Democracia funcionou na Grécia!
Durante a campanha eleitoral foram proferidas inúmeras declarações de altos responsáveis políticos das instituições europeias com o intuito de chantagear e atemorizar o povo grego, caso o partido vencedor fosse o Syriza. Mas o povo grego não temeu as intimações!
No entanto, os lambe-botas do mundo financeiro, onde muitos deles fizeram carreira, portanto devedores de muitas sinecuras aos detentores do capital selvagem, não querem ver e entender que o mal que se apoderou da Europa está a montante de tudo aquilo que aconteceu aos países do Sul da Europa. Os tratados europeus, com destaque para o da criação da moeda única, desenhado apenas pela Alemanha para seu proveito, e o tratado orçamental são a fonte da origem de todos os males que afectaram os países mais desequilibrados económica e socialmente. Países como Portugal e a Grécia, mas também a Irlanda, não têm condições, pela falta de recursos naturais, para cumprirem o pacto de estabilidade que lhes é imposto pelos países mais fortes e pelas instituições europeias.
A Europa política não soube, ou não quis, lidar convenientemente com a Globalização, por isso deixaram cair os países do Sul da Europa, aqueles que tinham uma economia precária baseada em salários baixos, mão-de-obra intensiva e pouco qualificada, para se instalarem na Ásia e Europa de Leste, onde aí tinham à sua disposição mão-de-obra com salários ainda mais baixos. Foi isso que aconteceu na Grécia e em Portugal! Não obstante, a mesma Europa iludia os países do Sul com dinheiro barato, convencendo-os que poderiam viver apenas à base dos serviços. Para além disso, empurraram as vendas dos submarinos, a Portugal e à Grécia, recheadas de grandes nacos de corrupção – que só em Portugal é que foram arquivados, dado que na Alemanha e na Grécia há gente presa -, endividando ainda mais países sem estrutura económica e financeira para suportar a compra de material desnecessário. Foram as grilhetas aplicadas à sorrelfa para condicionar os países e os obrigar ao “beija-mão” aos mercados. Foi a teia urdida com os bilros da paciência para atar os países mais débeis.
No momento oportuno, o ataque foi desferido a rudes golpes, ferindo de morte as populações, portuguesa e grega. Os aumentos pornográficos dos juros da dívida pública em 2010 foi o “napalm” necessário para dizimar os povos destes dois países. Depois disto foi tudo fazer para que ao poder chegassem políticos ordeiros, “bons alunos”, e subservientes que pusessem em prática o desenho traçado do empobrecimento geral das populações para a manutenção e garantia dos pagamentos aos “usurários mercados” que destroem vidas e famílias.
Com a confirmação da vitória do Syriza, a mesma tropa-fandanga, que tem destruído a coesão social na Europa, continuou a proferir declarações de imposição do medo, e as advertências ostensivas continuaram. Parece que há uma dúzia de iluminados no mundo político europeu que se julgam os guardiões da única verdade e da única via para a governação. Esta gente não enxerga que em Democracia o povo tem o direito de escolher quem entende que esteja em melhores condições para governar em prol das suas reais necessidades.
A vitória do Syriza na Grécia é vista como uma lufada de ar fresco na Europa. Alguns aguardam com expectativa o resultado das medidas que o novo governo grego já anunciou. Só que as eminências pardas, denominadas de mercados, já vieram a terreiro colocar um garrote à Grécia, pois os juros da dívida já aumentaram, os bancos gregos já desvalorizaram e as ameaças lançadas durante a campanha eleitoral começam a concretizar-se, pois a ditadura dos mercados e o mundo financeiro já estão a atacar a Democracia na Grécia. Na bolsa de Atenas os 4 maiores bancos da Grécia já perderam um quarto do seu valor. Os responsáveis políticos e os comentadores a soldo do mundo financeiro, e apologistas da política de austeridade que mata, começaram a perorar sobre o apocalipse que se vai abater sobre a Grécia, e aproveitando para abrir o trilho do medo para os portugueses, que este ano terão eleições Legislativas.
Não conseguindo intimidar os gregos, a casta política e financeira da “entourage” europeia começa a cercar o povo português, inaugurando a vereda da imposição do medo aos portugueses como o pretenderam impor aos gregos. Daqui até Setembro/Outubro vamos assistir a declarações abjectas e direccionadas para a ameaça e criação do pavor ao povo português, caso ouse pensar em eleger quem venha alterar o rumo político que está a ser imposto e a desgraçar Portugal.
De entre os “bons alunos” defensores da manutenção desta política de desgraça, destaca-se o Primeiro-ministro de Portugal, Passos Coelho. Com a sofreguidão própria dos alunos “graxistas”, ávidos de fazer boa figura perante os mais poderosos, Passos Coelho teve o topete, o desplante e a desfaçatez de proferir, com a alarvidade que lhe é conhecida, que «o programa de governo do Syriza era um conto de crianças». Coelho comportou-se, após as eleições gregas, como o “rapaz dos recados” dos donos da finança.
Mas quem julga Passos Coelho que é para falar deste modo? Ele, o contador mor de contos de criança em Portugal. Para avivar a memória dos portugueses, e principalmente de Passos Coelho e do governo, o programa do Syriza é o mesmo conto de crianças que Passos Coelho contou aos portugueses em 2011 para chegar ao poder, conforme se pode comprovar com a resposta que deu à menina que lhe perguntou se ia cortar o subsídio à mãe. Qual foi a resposta de Coelho? Isso não é verdade, frisou com a “cara-de-pau” que se lhe conhece. Isso é uma mentira que o Primeiro-ministro (José Sócrates) anda para aí a dizer. Eu não vou cortar o subsídio à sua mãe.
Vamos ler e ouvir o que disse Coelho nessa campanha eleitoral e o que disse Tsipras, e concluímos que estamos perante o mesmo conto de crianças. Mas Coelho não tem vergonha!
E assim o contador de contos de criança português, Passos Coelho, virou porta-voz das instituições europeias! Como pode o Primeiro-ministro de Portugal dizer o que disse sobre o programa do Syriza? Eu sei que isto é o que os responsáveis europeus queriam dizer, mas o politicamente correcto impede-os de proferir tais alarvices. Por isso o aceitaram como seu porta-voz.
Mas esta gente sem escrúpulos que se apresenta muito pesarosa com os gregos e o que lhes pode acontecer, são aqueles que há cinco anos empurraram o povo grego para o abismo. São os mesmos que obrigaram os governos gregos a imporem medidas de austeridade tão fortes que colocaram o povo grego num pântano, de onde jamais conseguirá sair sem ajuda externa; sem uma mudança de políticas sérias.
É essa esperança que o Syriza oferece ao povo grego!
O medo da vitória do Syriza não é para benefício do povo grego, é, apenas e só, para continuar a beneficiar o mundo financeiro e as políticas neoliberais que estão a fustigar os países do Sul da Europa.

* Artigo publicado no Jornal Notícias de Esposende, n.º 4/2015 de 31 de Janeiro a 6 de Fevereiro.