Passou o Carnaval, e a
quarta-feira de cinzas serviu para se desmontar os carros alegóricos que
circularam nos cortejos carnavalescos e para arrumar as fantasias usadas, quem
sabe se para usar no próximo Carnaval.
Os Cristãos entram na Quaresma,
período sem festas e dado ao jejum e abstinência.
O povo, em geral, arrumou tudo o
que o ligava ao entrudo, pois cumpre a tradição quaresmal, que na Igreja
Católica representa os 40 dias de recolhimento de Jesus Cristo no deserto, sem
comer e sem beber, e se prepara para cumprir, cada qual a seu modo, o ritual da
penitência, a dedicação à oração e a exercitação das obras de piedade e
caridade.
Já os políticos, mandando às
malvas a penitência, a oração e as obras de caridade, iniciam o seu entrudo
político, pois tiram dos armários os seus acessórios carnavalescos e iniciam a
marcha da fantasia política.
A fantasia política vai durar até
Setembro/Outubro. Os políticos já escolheram as suas fantasias e não terão
pejo, nem vergonha, em as exporem ao povo.
Por um lado teremos a fantasia da
maioria. Apresentar-se-ão fantasiados de salvadores da pátria, à laia de Sassá
Mutema, anunciarão que salvaram o País. Exclamarão que graças às suas políticas
salvíficas Portugal ganhou o respeito dos mercados. Aproveitarão para nos
esfregar na cara os encómios recebidos por parte do ministro das Finanças da
Alemanha e da senhora Merkel, a toda-poderosa.
No entanto, as suas fantasias vão
esconder do povo que as suas decisões políticas aumentaram o desemprego;
aumentaram a dívida pública; destruíram o Serviço Nacional de Saúde e a
Educação Pública; deram origem à falência de milhares de micros e pequenas e
médias empresas; cortaram sem critério nos apoios socias; aumentaram
exponencialmente os níveis de pobreza.
Por sua vez, a oposição vai
aparecer ao povo com duas fantasias diferentes. Por um lado virão aqueles que
nunca foram nem querem ser poder denunciar que os partidos da maioria do
governo e o PS são farinha do mesmo saco. Que todos no governo aplicam
políticas de direita. Que estão subjugados ao tratado Orçamental e que a dívida
é impagável.
São os fantasistas radicais que
não querem fazer parte da solução, mormente numa lógica de esquerda Democrática
e responsável, preferindo ficar à margem de qualquer solução de esquerda para o
País. Não querem, nunca quiseram, fazer parte de uma solução. Neste momento já
nem ao Syriza se podem agarrar. São as fantasias ortodoxas de uma esquerda
radical que prefere seguir o exemplo salazarista do orgulhosamente só.
Por sua vez, o PS, acossado à
direita pelas fantasias da coligação, e à esquerda por um discurso radical,
vê-se na obrigação de não se fantasiar do que quer que seja.
Não pode/deve vestir a fantasia
dos salvadores da pátria e os detentores das soluções que nos salvarão da canga
dos mercados e das grilhetas de uma União Económica e Monetária sem sentido e
mal desenhada. Não poderão vestir a fantasia do Syriza nem do PS de Hollande,
muito menos da fantasia do governo Socialista de Itália.
O PS e António Costa deverão ser
transparentes, concisos e coerentes nas propostas. Não poderá alinhar no
discurso do radicalismo e do corte com o passado da governação socialista, por
muitos anátemas que a maioria e a esquerda radical possam lançar. Para António
Costa este será o maior desafio da sua vida. Mas não pode ficar à espera, no
silêncio, na fantasia de passar pelos pingos da chuva sem se molhar.
Sem disfarces carnavalescos, sem
entrudos políticos e sem fantasias, no devido tempo o PS terá, obrigatoriamente,
de anunciar as suas linhas mestras definitivas, pois os traços gerais indicados
na Agenda para a Década não são sinal bastante.
Vamos ter uma Primavera e um
Verão bem quentes da fantasia deste entrudo político que não nos deixa.
Só mesmo no entrudo é que podemos
assistir à subserviência da nossa Ministra das Finanças, a fazer papel da boa
aluna, ao lado do alemão, quando este apresentava Portugal como o troféu das
políticas austeritárias da troika.
Que tristeza de gente que temos
no nosso governo. Subservientes e orgulhosos por terem obedecido e agradado
cegamente aos algozes do povo português.
Entrudo político sem vergonha e
fantasias loucas é o que nos espera até às próximas eleições legislativas!