sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

“O ENTRUDO DOS POLÍTICOS”

Passou o Carnaval, e a quarta-feira de cinzas serviu para se desmontar os carros alegóricos que circularam nos cortejos carnavalescos e para arrumar as fantasias usadas, quem sabe se para usar no próximo Carnaval.
Os Cristãos entram na Quaresma, período sem festas e dado ao jejum e abstinência.
O povo, em geral, arrumou tudo o que o ligava ao entrudo, pois cumpre a tradição quaresmal, que na Igreja Católica representa os 40 dias de recolhimento de Jesus Cristo no deserto, sem comer e sem beber, e se prepara para cumprir, cada qual a seu modo, o ritual da penitência, a dedicação à oração e a exercitação das obras de piedade e caridade.
Já os políticos, mandando às malvas a penitência, a oração e as obras de caridade, iniciam o seu entrudo político, pois tiram dos armários os seus acessórios carnavalescos e iniciam a marcha da fantasia política.
A fantasia política vai durar até Setembro/Outubro. Os políticos já escolheram as suas fantasias e não terão pejo, nem vergonha, em as exporem ao povo.
Por um lado teremos a fantasia da maioria. Apresentar-se-ão fantasiados de salvadores da pátria, à laia de Sassá Mutema, anunciarão que salvaram o País. Exclamarão que graças às suas políticas salvíficas Portugal ganhou o respeito dos mercados. Aproveitarão para nos esfregar na cara os encómios recebidos por parte do ministro das Finanças da Alemanha e da senhora Merkel, a toda-poderosa.
No entanto, as suas fantasias vão esconder do povo que as suas decisões políticas aumentaram o desemprego; aumentaram a dívida pública; destruíram o Serviço Nacional de Saúde e a Educação Pública; deram origem à falência de milhares de micros e pequenas e médias empresas; cortaram sem critério nos apoios socias; aumentaram exponencialmente os níveis de pobreza.
Por sua vez, a oposição vai aparecer ao povo com duas fantasias diferentes. Por um lado virão aqueles que nunca foram nem querem ser poder denunciar que os partidos da maioria do governo e o PS são farinha do mesmo saco. Que todos no governo aplicam políticas de direita. Que estão subjugados ao tratado Orçamental e que a dívida é impagável.
São os fantasistas radicais que não querem fazer parte da solução, mormente numa lógica de esquerda Democrática e responsável, preferindo ficar à margem de qualquer solução de esquerda para o País. Não querem, nunca quiseram, fazer parte de uma solução. Neste momento já nem ao Syriza se podem agarrar. São as fantasias ortodoxas de uma esquerda radical que prefere seguir o exemplo salazarista do orgulhosamente só.
Por sua vez, o PS, acossado à direita pelas fantasias da coligação, e à esquerda por um discurso radical, vê-se na obrigação de não se fantasiar do que quer que seja.
Não pode/deve vestir a fantasia dos salvadores da pátria e os detentores das soluções que nos salvarão da canga dos mercados e das grilhetas de uma União Económica e Monetária sem sentido e mal desenhada. Não poderão vestir a fantasia do Syriza nem do PS de Hollande, muito menos da fantasia do governo Socialista de Itália.
O PS e António Costa deverão ser transparentes, concisos e coerentes nas propostas. Não poderá alinhar no discurso do radicalismo e do corte com o passado da governação socialista, por muitos anátemas que a maioria e a esquerda radical possam lançar. Para António Costa este será o maior desafio da sua vida. Mas não pode ficar à espera, no silêncio, na fantasia de passar pelos pingos da chuva sem se molhar.
Sem disfarces carnavalescos, sem entrudos políticos e sem fantasias, no devido tempo o PS terá, obrigatoriamente, de anunciar as suas linhas mestras definitivas, pois os traços gerais indicados na Agenda para a Década não são sinal bastante.
Vamos ter uma Primavera e um Verão bem quentes da fantasia deste entrudo político que não nos deixa.
Só mesmo no entrudo é que podemos assistir à subserviência da nossa Ministra das Finanças, a fazer papel da boa aluna, ao lado do alemão, quando este apresentava Portugal como o troféu das políticas austeritárias da troika.
Que tristeza de gente que temos no nosso governo. Subservientes e orgulhosos por terem obedecido e agradado cegamente aos algozes do povo português.

Entrudo político sem vergonha e fantasias loucas é o que nos espera até às próximas eleições legislativas!