Hoje é dia de entrudo! Muitos são
os foliões que vêm para a rua. Uns apenas servem de mirones. Mas outros há que
se esmeram na sua fantasia carnavalesca.
Tenho sérias dúvidas que alguém
hoje, por vontade própria, se queira fantasiar de Cavaco, Coelho, Portas e,
mesmo, de Costa.
É certo que se devem sentir
deprimidos só em pensar que, com tal disfarce, os mirones lhe possam apontar o
dedo, e em escárnio histérico, os acusarem de falta de imaginação ou de fazer
uma deprimente figura. Muitos lhes diriam: vai para casa e esconde-te, tal é o
mau gosto; outros gritariam que melhor se fantasiasse de matrafona ou de rato
de esgoto, pois seria mais aplaudido nesta sua fantasia e poder de imaginação.
Irra! Em frente ao teclado, a
escrever conforme as palavras vão surgindo, também, eu, em dia de entrudo,
estou travestido, sem rumo, sem lógica, sem métrica. Mas pronto, não estou
fantasiado. Eu sou eu! Não passo de ser eu próprio, mesmo em dia de entrudo.
Porque não gosto! Mas não crítico quem gosta. Mas, porra! Não se fantasiem com
as caras dos atrás citados. Procurem mais imaginação, quanto mais não seja
imaginem-se na saga de Grey e nas suas 50 sombras do “tau tau”.
Seria bonito! Que alegria para os
mirones. Que mesmo eles, que não gostam de se fantasiar, apenas de ver e rir à
custa daqueles que tudo fazem para os divertir, começariam a fantasiar a sua
pobre vida sexual. Certamente que alguns chegariam a casa e chamavam a Maria
(não a cavaca).
A sua Maria, submissa como
sempre, chegava prontamente junto do mariolas fantasista que se intitula de não
se fantasiar em carnavais, e exclama do alto da sua pesporrência machista:
- Maria, já não és virgem, por
isso não fantasies, esse direito é meu, vira para cá esse rabo gordo, cheio de
celulite que eu vou-te açoitar, tal como descreve a E. L. James, ou lá que raio
é.
E a Maria, atónita do que estava
a ouvir.
- Ó “home”, que estás tu a dizer?
Tu bebeste? Que raio te fez mal, credo?
O fantasista estúpido, já cheio
de cólera, saca do cinto e desata a chibatar o rabo da Maria. Mas esta, em vez
de dar gritinhos de prazer hedonista, gritava a plenos pulmões de dor
lancinante perante as chibatadas impostas pelo fantasista cobarde que se diz
não ser fantasista e criticar aqueles que se fantasiam.
O entrudo é isto: uns
fantasiam-se para brincar; outros mascaram-se daquilo que gostariam de ser
durante todo o ano; e outros, os que gostavam de se fantasiar mas são covardes,
tal qual os nossos personagens de que todos fogem de se fantasiar, que gostavam
de ser alemães e por isso se disfarçam de alemães para poderem chicotear os
gregos.