segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

QUEM TEM MEDO DO SYRIZA? (II)*

O conto de crianças do programa do Syriza,
é o mesmo conto de crianças do programa do PSD
e de Passos Coelho em 2011

No passado dia 25 de Janeiro, o povo grego elegeu, em eleições livres e democráticas, um novo governo.
O partido vencedor, o Syriza, sempre anunciou que era contra a austeridade e que a Grécia não poderia continuar a seguir o programa económico imposto pelas instituições europeias, e que a dívida grega era incomportável. Nestas eleições a Democracia funcionou na Grécia!
Durante a campanha eleitoral foram proferidas inúmeras declarações de altos responsáveis políticos das instituições europeias com o intuito de chantagear e atemorizar o povo grego, caso o partido vencedor fosse o Syriza. Mas o povo grego não temeu as intimações!
No entanto, os lambe-botas do mundo financeiro, onde muitos deles fizeram carreira, portanto devedores de muitas sinecuras aos detentores do capital selvagem, não querem ver e entender que o mal que se apoderou da Europa está a montante de tudo aquilo que aconteceu aos países do Sul da Europa. Os tratados europeus, com destaque para o da criação da moeda única, desenhado apenas pela Alemanha para seu proveito, e o tratado orçamental são a fonte da origem de todos os males que afectaram os países mais desequilibrados económica e socialmente. Países como Portugal e a Grécia, mas também a Irlanda, não têm condições, pela falta de recursos naturais, para cumprirem o pacto de estabilidade que lhes é imposto pelos países mais fortes e pelas instituições europeias.
A Europa política não soube, ou não quis, lidar convenientemente com a Globalização, por isso deixaram cair os países do Sul da Europa, aqueles que tinham uma economia precária baseada em salários baixos, mão-de-obra intensiva e pouco qualificada, para se instalarem na Ásia e Europa de Leste, onde aí tinham à sua disposição mão-de-obra com salários ainda mais baixos. Foi isso que aconteceu na Grécia e em Portugal! Não obstante, a mesma Europa iludia os países do Sul com dinheiro barato, convencendo-os que poderiam viver apenas à base dos serviços. Para além disso, empurraram as vendas dos submarinos, a Portugal e à Grécia, recheadas de grandes nacos de corrupção – que só em Portugal é que foram arquivados, dado que na Alemanha e na Grécia há gente presa -, endividando ainda mais países sem estrutura económica e financeira para suportar a compra de material desnecessário. Foram as grilhetas aplicadas à sorrelfa para condicionar os países e os obrigar ao “beija-mão” aos mercados. Foi a teia urdida com os bilros da paciência para atar os países mais débeis.
No momento oportuno, o ataque foi desferido a rudes golpes, ferindo de morte as populações, portuguesa e grega. Os aumentos pornográficos dos juros da dívida pública em 2010 foi o “napalm” necessário para dizimar os povos destes dois países. Depois disto foi tudo fazer para que ao poder chegassem políticos ordeiros, “bons alunos”, e subservientes que pusessem em prática o desenho traçado do empobrecimento geral das populações para a manutenção e garantia dos pagamentos aos “usurários mercados” que destroem vidas e famílias.
Com a confirmação da vitória do Syriza, a mesma tropa-fandanga, que tem destruído a coesão social na Europa, continuou a proferir declarações de imposição do medo, e as advertências ostensivas continuaram. Parece que há uma dúzia de iluminados no mundo político europeu que se julgam os guardiões da única verdade e da única via para a governação. Esta gente não enxerga que em Democracia o povo tem o direito de escolher quem entende que esteja em melhores condições para governar em prol das suas reais necessidades.
A vitória do Syriza na Grécia é vista como uma lufada de ar fresco na Europa. Alguns aguardam com expectativa o resultado das medidas que o novo governo grego já anunciou. Só que as eminências pardas, denominadas de mercados, já vieram a terreiro colocar um garrote à Grécia, pois os juros da dívida já aumentaram, os bancos gregos já desvalorizaram e as ameaças lançadas durante a campanha eleitoral começam a concretizar-se, pois a ditadura dos mercados e o mundo financeiro já estão a atacar a Democracia na Grécia. Na bolsa de Atenas os 4 maiores bancos da Grécia já perderam um quarto do seu valor. Os responsáveis políticos e os comentadores a soldo do mundo financeiro, e apologistas da política de austeridade que mata, começaram a perorar sobre o apocalipse que se vai abater sobre a Grécia, e aproveitando para abrir o trilho do medo para os portugueses, que este ano terão eleições Legislativas.
Não conseguindo intimidar os gregos, a casta política e financeira da “entourage” europeia começa a cercar o povo português, inaugurando a vereda da imposição do medo aos portugueses como o pretenderam impor aos gregos. Daqui até Setembro/Outubro vamos assistir a declarações abjectas e direccionadas para a ameaça e criação do pavor ao povo português, caso ouse pensar em eleger quem venha alterar o rumo político que está a ser imposto e a desgraçar Portugal.
De entre os “bons alunos” defensores da manutenção desta política de desgraça, destaca-se o Primeiro-ministro de Portugal, Passos Coelho. Com a sofreguidão própria dos alunos “graxistas”, ávidos de fazer boa figura perante os mais poderosos, Passos Coelho teve o topete, o desplante e a desfaçatez de proferir, com a alarvidade que lhe é conhecida, que «o programa de governo do Syriza era um conto de crianças». Coelho comportou-se, após as eleições gregas, como o “rapaz dos recados” dos donos da finança.
Mas quem julga Passos Coelho que é para falar deste modo? Ele, o contador mor de contos de criança em Portugal. Para avivar a memória dos portugueses, e principalmente de Passos Coelho e do governo, o programa do Syriza é o mesmo conto de crianças que Passos Coelho contou aos portugueses em 2011 para chegar ao poder, conforme se pode comprovar com a resposta que deu à menina que lhe perguntou se ia cortar o subsídio à mãe. Qual foi a resposta de Coelho? Isso não é verdade, frisou com a “cara-de-pau” que se lhe conhece. Isso é uma mentira que o Primeiro-ministro (José Sócrates) anda para aí a dizer. Eu não vou cortar o subsídio à sua mãe.
Vamos ler e ouvir o que disse Coelho nessa campanha eleitoral e o que disse Tsipras, e concluímos que estamos perante o mesmo conto de crianças. Mas Coelho não tem vergonha!
E assim o contador de contos de criança português, Passos Coelho, virou porta-voz das instituições europeias! Como pode o Primeiro-ministro de Portugal dizer o que disse sobre o programa do Syriza? Eu sei que isto é o que os responsáveis europeus queriam dizer, mas o politicamente correcto impede-os de proferir tais alarvices. Por isso o aceitaram como seu porta-voz.
Mas esta gente sem escrúpulos que se apresenta muito pesarosa com os gregos e o que lhes pode acontecer, são aqueles que há cinco anos empurraram o povo grego para o abismo. São os mesmos que obrigaram os governos gregos a imporem medidas de austeridade tão fortes que colocaram o povo grego num pântano, de onde jamais conseguirá sair sem ajuda externa; sem uma mudança de políticas sérias.
É essa esperança que o Syriza oferece ao povo grego!
O medo da vitória do Syriza não é para benefício do povo grego, é, apenas e só, para continuar a beneficiar o mundo financeiro e as políticas neoliberais que estão a fustigar os países do Sul da Europa.

* Artigo publicado no Jornal Notícias de Esposende, n.º 4/2015 de 31 de Janeiro a 6 de Fevereiro.