O
conto de crianças do programa do Syriza,
é o
mesmo conto de crianças do programa do PSD
e de
Passos Coelho em 2011
No passado dia 25 de Janeiro, o
povo grego elegeu, em eleições livres e democráticas, um novo governo.
O partido vencedor, o Syriza,
sempre anunciou que era contra a austeridade e que a Grécia não poderia
continuar a seguir o programa económico imposto pelas instituições europeias, e
que a dívida grega era incomportável. Nestas eleições a Democracia funcionou na
Grécia!
Durante a campanha eleitoral
foram proferidas inúmeras declarações de altos responsáveis políticos das
instituições europeias com o intuito de chantagear e atemorizar o povo grego, caso
o partido vencedor fosse o Syriza. Mas o povo grego não temeu as intimações!
No entanto, os lambe-botas do
mundo financeiro, onde muitos deles fizeram carreira, portanto devedores de
muitas sinecuras aos detentores do capital selvagem, não querem ver e entender
que o mal que se apoderou da Europa está a montante de tudo aquilo que
aconteceu aos países do Sul da Europa. Os tratados europeus, com destaque para
o da criação da moeda única, desenhado apenas pela Alemanha para seu proveito,
e o tratado orçamental são a fonte da origem de todos os males que afectaram os
países mais desequilibrados económica e socialmente. Países como Portugal e a
Grécia, mas também a Irlanda, não têm condições, pela falta de recursos
naturais, para cumprirem o pacto de estabilidade que lhes é imposto pelos
países mais fortes e pelas instituições europeias.
A Europa política não soube, ou
não quis, lidar convenientemente com a Globalização, por isso deixaram cair os
países do Sul da Europa, aqueles que tinham uma economia precária baseada em
salários baixos, mão-de-obra intensiva e pouco qualificada, para se instalarem
na Ásia e Europa de Leste, onde aí tinham à sua disposição mão-de-obra com
salários ainda mais baixos. Foi isso que aconteceu na Grécia e em Portugal! Não
obstante, a mesma Europa iludia os países do Sul com dinheiro barato,
convencendo-os que poderiam viver apenas à base dos serviços. Para além disso,
empurraram as vendas dos submarinos, a Portugal e à Grécia, recheadas de
grandes nacos de corrupção – que só em Portugal é que foram arquivados, dado
que na Alemanha e na Grécia há gente presa -, endividando ainda mais países sem
estrutura económica e financeira para suportar a compra de material
desnecessário. Foram as grilhetas aplicadas à sorrelfa para condicionar os
países e os obrigar ao “beija-mão” aos mercados. Foi a teia urdida com os
bilros da paciência para atar os países mais débeis.
No momento oportuno, o ataque foi
desferido a rudes golpes, ferindo de morte as populações, portuguesa e grega.
Os aumentos pornográficos dos juros da dívida pública em 2010 foi o “napalm” necessário
para dizimar os povos destes dois países. Depois disto foi tudo fazer para que
ao poder chegassem políticos ordeiros, “bons alunos”, e subservientes que
pusessem em prática o desenho traçado do empobrecimento geral das populações
para a manutenção e garantia dos pagamentos aos “usurários mercados” que
destroem vidas e famílias.
Com a confirmação da vitória do
Syriza, a mesma tropa-fandanga, que tem destruído a coesão social na Europa,
continuou a proferir declarações de imposição do medo, e as advertências
ostensivas continuaram. Parece que há uma dúzia de iluminados no mundo político
europeu que se julgam os guardiões da única verdade e da única via para a
governação. Esta gente não enxerga que em Democracia o povo tem o direito de
escolher quem entende que esteja em melhores condições para governar em prol
das suas reais necessidades.
A vitória do Syriza na Grécia é
vista como uma lufada de ar fresco na Europa. Alguns aguardam com expectativa o
resultado das medidas que o novo governo grego já anunciou. Só que as
eminências pardas, denominadas de mercados, já vieram a terreiro colocar um
garrote à Grécia, pois os juros da dívida já aumentaram, os bancos gregos já
desvalorizaram e as ameaças lançadas durante a campanha eleitoral começam a concretizar-se,
pois a ditadura dos mercados e o mundo financeiro já estão a atacar a
Democracia na Grécia. Na bolsa de Atenas os 4 maiores bancos da Grécia já
perderam um quarto do seu valor. Os responsáveis políticos e os comentadores a
soldo do mundo financeiro, e apologistas da política de austeridade que mata,
começaram a perorar sobre o apocalipse que se vai abater sobre a Grécia, e
aproveitando para abrir o trilho do medo para os portugueses, que este ano terão
eleições Legislativas.
Não conseguindo intimidar os
gregos, a casta política e financeira da “entourage” europeia começa a cercar o
povo português, inaugurando a vereda da imposição do medo aos portugueses como
o pretenderam impor aos gregos. Daqui até Setembro/Outubro vamos assistir a
declarações abjectas e direccionadas para a ameaça e criação do pavor ao povo
português, caso ouse pensar em eleger quem venha alterar o rumo político que
está a ser imposto e a desgraçar Portugal.
De entre os “bons alunos” defensores da manutenção desta política de
desgraça, destaca-se o Primeiro-ministro de Portugal, Passos Coelho. Com a
sofreguidão própria dos alunos “graxistas”, ávidos de fazer boa figura perante
os mais poderosos, Passos Coelho teve o topete, o desplante e a desfaçatez de
proferir, com a alarvidade que lhe é conhecida, que «o programa de governo do
Syriza era um conto de crianças». Coelho comportou-se, após as eleições gregas,
como o “rapaz dos recados” dos donos da finança.
Mas quem julga Passos Coelho que é para falar deste modo? Ele, o contador
mor de contos de criança em Portugal. Para avivar a memória dos portugueses, e
principalmente de Passos Coelho e do governo, o programa do Syriza é o mesmo
conto de crianças que Passos Coelho contou aos portugueses em 2011 para chegar
ao poder, conforme se pode comprovar com a resposta que deu à menina que lhe
perguntou se ia cortar o subsídio à mãe. Qual foi a resposta de Coelho? Isso
não é verdade, frisou com a “cara-de-pau” que se lhe conhece. Isso é uma
mentira que o Primeiro-ministro (José Sócrates) anda para aí a dizer. Eu não
vou cortar o subsídio à sua mãe.
Vamos ler e ouvir o que disse
Coelho nessa campanha eleitoral e o que disse Tsipras, e concluímos que estamos
perante o mesmo conto de crianças. Mas Coelho não tem vergonha!
E assim o contador de contos de
criança português, Passos Coelho, virou porta-voz das instituições europeias!
Como pode o Primeiro-ministro de Portugal dizer o que disse sobre o programa do
Syriza? Eu sei que isto é o que os responsáveis europeus queriam dizer, mas o
politicamente correcto impede-os de proferir tais alarvices. Por isso o
aceitaram como seu porta-voz.
Mas esta gente sem escrúpulos que
se apresenta muito pesarosa com os gregos e o que lhes pode acontecer, são
aqueles que há cinco anos empurraram o povo grego para o abismo. São os mesmos
que obrigaram os governos gregos a imporem medidas de austeridade tão fortes
que colocaram o povo grego num pântano, de onde jamais conseguirá sair sem
ajuda externa; sem uma mudança de políticas sérias.
É essa esperança que o Syriza
oferece ao povo grego!
O medo da vitória do Syriza não é
para benefício do povo grego, é, apenas e só, para continuar a beneficiar o
mundo financeiro e as políticas neoliberais que estão a fustigar os países do
Sul da Europa.
* Artigo publicado no Jornal Notícias de Esposende, n.º 4/2015 de 31 de
Janeiro a 6 de Fevereiro.