domingo, 6 de setembro de 2015

“MEU QUERIDO MÊS DE AGOSTO”*

Este é um mês de férias, de festa e “Sol na moleirinha”.

O mês de Agosto terminou! Como em todos os anos, este é um mês de férias, de festa e onde alguns apanham “Sol na moleirinha” e dizem muitos disparates.
Desmontada a tenda das férias, e feita a preparação psicológica para encarar mais um ano da costumeira rotina, fica-nos sempre a sensação de que “soube a pouco” ou que finalmente terminou o “degredo”.
Mas Agosto é assim! E não podemos fazer nada para mudar! Para uns é um alívio, pois acabou a confusão! Para outros é uma pena, pois terminou o mês onde fazem mais negócio! Para outra parte da populaça é uma chatice, porque acabou o “bem bom” das férias!
Por cá, pelo nosso burgo, voltamos à pasmaceira dos restantes 11 meses do ano! Podemos dizer que na nossa “santa” terrinha esgotamos todos os créditos no mês de Agosto. Mas isso são opções de quem detém a vara do mando. 
1 – As férias: Este é o mês por excelência das férias. Os veraneantes acorrem às praias. Os mais endinheirados aproveitam para sair do país e outros deslocam-se para outras partes “cá dentro”. Uma grande maioria não sai de casa. Os emigrantes regressam e povoam as aldeias despovoadas. É o reencontro esperado com os familiares e os amigos. É o regresso às tertúlias animadas à volta da mesa do café ou de uma esplanada. Enfim, Agosto é assim e uns gostam e outros nem tanto! Por norma é o mês mais esperado pela maioria da população: uns porque vão ter férias; outros porque têm a oportunidade de aumentar as vendas do seu negócio, que os ajudará a encarar o resto do ano de “pasmaceira”. Mas isto é mesmo assim!
2 – As festas: Em todo o lado o mês de Agosto é o mês das festas. Mesmo na mais recôndita aldeia decorre uma festa em honra do santo padroeiro. É o tempo dos artistas e dos grupos musicais poderem actuar e ganhar dinheiro. Cada festa é sempre o culminar de um ano de trabalho de muita gente, que se dedica graciosamente a trabalhar para arrecadar receitas para pagar as despesas do programa festivo. É este o exemplo da entrega e dedicação de muita gente na defesa das suas tradições. Um bem-haja para todos aqueles que desprendidamente deram muito do seu tempo em prol de um interesse comum, que era a realização da festa da sua aldeia, da sua vila, ou da sua cidade.
Contudo, se muita gente gasta o seu tempo a trabalhar para a angariação de fundos das suas festas, há autarquias que desbaratam centenas de milhares de euros em festas. O que não se compreende é que esses eventos da autarquia, muitas vezes, coincidam com as datas das festas populares que se realizam nas freguesias dos próprios concelhos. Mas, como dizia a minha avó, “manda quem pode, obedece quem deve”.
Todavia, era importante que todos ficassem a saber qual o retorno económico para a terra de tal investimento das autarquias na realização de eventos e concertos. Era bom que os contribuintes soubessem que, não obstante a sua autarquia gastar mais de 500 mil euros em eventos no curto prazo de um mês, a economia concelhia arrecadou, graças a esses eventos, um milhão, dois milhões de euros. São essas as contas que devem ser feitas! É isso que todos devem ter conhecimento, se, de facto, há retorno económico de tal gasto. Até para ficarmos a saber que o dinheiro dos contribuintes serve, não só para ter gente na rua e assistir a concertos de borla, mas também a gastar dinheiro nos restaurantes, cafés, bares e no comércio local. Era isso que era importante!
Já agora, tendo em conta o mês e a localização geográfica, há localidades que não precisam de gastar muito dinheiro público em iniciativas no sentido de “chamar” gente, pois a gente já vem e está lá porque está de férias nesses sítios. O que essas localidades precisam é que sejam organizadas iniciativas nos meses “mortos” para que, aí sim, se “chame” gente para movimentar a economia local. Depois também seria de todo pertinente sabermos quanto ganharam, directa ou indirectamente, as empresas do próprio concelho na organização e contratação dos eventos?
3 – “Sol na moleirinha”: Por vezes ouvimos comentários a certos disparates ditos por alguém de que o dito cujo apanhou muito “Sol na moleirinha”. Certamente muitos dos leitores desta crónica dirão o mesmo do autor, de que apanhei muito “Sol na moleirinha”. Aceito a crítica, pois a pluralidade de pensamento é importante, tal como é importante o direito a ter uma opinião contrária, mesmo que seja em minoria ou mesmo isolada. O que nunca deveremos é deixar de dar a nossa opinião, apenas porque nos queremos esconder no “politicamente correcto”, ou de que as pessoas não gostam que se façam críticas. Mas vamos então à lógica do disparate e do “Sol na moleirinha”.   
Quem apanhou muito “Sol na moleirinha” ali para os lados do Pontal foi Passos Coelho e Paulo Portas, pois as suas declarações desde essa “rentrée” deixam-nos a convicção de que eles foram afectados pelo quente do Sol a bater na moleirinha e causaram-lhe um curto-circuito nos nerónios.
É que a confirmação deste facto advém das múltiplas intervenções que diariamente estes dois fazem, bem como a sua “entourage”, pois quando os ouvimos falar dá a sensação que não foram eles que estiveram no governo nos últimos 4 anos!
Passos Coelho, em 2011, mal chegou ao poder abandonou de imediato a campanha eleitoral e afirmou, alto e bom som com a sua voz de tenor, de que “Portugal tinha de empobrecer”. E assim começou a deriva de cortes de salários, pensões e prestações sociais. Ao mesmo tempo que uns viam o emagrecimento salarial e perdiam o emprego, outros, uma pequena fatia, viam engrossar o seu pecúlio de riqueza: os pobres ficaram mais pobres; os ricos ficaram mais ricos.
Mas eis que as Legislativas já entram de novo no radar, e com elas as novas promessas de Coelho e Portas, e assistimos à deriva populista de Coelho, no encerramento das jornadas do “Centro de Incubação” de Castelo de Vide, a anunciar aos jovens do seu partido o seu conseguimento na promessa pós-eleitoral de 2011 de empobrecimento generalizado do país, quando afirmou que “Portugal é hoje um país profundamente desigual”. E nessa demagogia, Passos Coelho, fazendo recordar o ano de 2011, defendeu a necessidade de combater essas desigualdades, e fê-lo com a mesma convicção com que há 4 anos defendia que não ia aumentar os impostos e que iria promover o fim dos cortes em salários e pensões.
Entendo que à primeira as pessoas mais conservadoras tenham votado em Coelho, pois o homem apresentava-se com uma áurea de anjo e de integridade que até causava inveja ao Santo Padre, dado que se apresentava como o homem humilde que tinha uma casita em Massamá. Tal auréola que brilhava ao seu redor, fez com que a boa-fé de muito boa gente acreditasse que este seria o homem redentor, que vinha para acabar com os maus costumes do país, combater o clientelismo, acabar de vez com o despesismo, derreter as gorduras do Estado que eram a razão de ser do défice das contas públicas, que ia acabar com as fundações que viviam à custa dos dinheiros públicos, libertar o país das despesistas PPP’s e das frotas de luxo que circulavam pelos ministérios, bem como acabar com os fretes aos empresários amigos.
Só que o “salvador” de Massamá fez exactamente tudo ao contrário: as gorduras cresceram, o emprego desceu, os “tachos” para os “boys” aumentaram de forma exponencial, as promessas viraram mentiras colossais, as gorduras que ia combater transformaram-se nas vendas das melhores empresas do país, os salários foram cortados, as pensões reduzidas, os impostos sofreram um aumento colossal e o estado social foi completamente dizimado pela dupla sem qualidades, Coelho e Portas.
O Sol de Castelo de Vide que bateu na moleirinha do Rangel esturricou mesmo tudo!
Espero que os portugueses que foram enganados a primeira vez não se deixem enganar pela segunda vez.
Acredito que os portugueses não apanharam “Sol na moleirinha”!

Nota: O autor, por decisão própria, escreve com o antigo AO.


*Crónica publicada no jornal Notícias de Esposende, n.º 32/2015, de 3 a 9/Setembro.