A coligação de direita, com todo o despudor que a acompanha,
utiliza o discurso do medo para fugir à discussão política da sua
governação.
1 - Estamos a três semanas das
eleições legislativas de 4 de Outubro. E nestas eleições os portugueses terão
de julgar a governação da coligação da direita do PSD e do CDS, que foi quem nos
últimos 4 anos governou Portugal. As eleições servem para julgar o governo em
funções!
As declarações prestadas por
Passos Coelho e Paulo Portas, mais não têm feito do que procurar desviar as
atenções da acção do actual governo e acenar com o papão do governo Socialista.
As eleições servem para o povo fazer o julgamento da governação dos últimos 4
anos! E isso a PàF quer afastar da discussão pública!
A coligação usa e abusa do
discurso do medo. E continua a falar do governo Socialista que foi julgado
pelos portugueses em 2011. A coligação da direita sabe que o povo português verga-se
perante a lógica do “pobre mas honrado”, e por isso conforma-se com os “sermões”
que Passos Coelho e Paulo Portas têm pregado: tal como o aceitar que “”vivemos
acima das nossas possibilidades”; acreditar que é virtuoso e salvífico para
cada um de nós aceitar de que “temos de empobrecer”.
A coligação de direita, Portugal
à Frente (PàF), sabe que se desfraldar a bandeira do medo consegue aguar a
escandecência daqueles que ficaram desempregados; dos reformados que sofreram
os cortes nas pensões; da classe média que foi fustigada pelos impostos; dos
pais que viram os seus filhos serem obrigados a emigrar porque o governo da
direita não lhes deu esperanças de sobreviver em Portugal; dos funcionários
públicos que foram tão maltratados pelo governo de Coelho e Portas.
Assim, acreditando nesta táctica
do medo, Passos Coelho desapareceu, surge fugazmente em actividades de campanha
travestidas de iniciativas do governo, onde aproveita para lançar umas farpas e
fugir de novo para o seu esconderijo.
Por sua vez, Portas procura a
todo o custo tentar mostrar uma faceta de estadista. Esbraceja para que lhe
dêem atenção. Quer palco para destilar a sua verve arrogante, embevecida de
palavrório suave na tentativa de procurar ser o pêndulo da Democracia Cristã,
mas que ele já há anos abandonou. Portas procura vender a sua imagem à moda do
Oliveira da Figueira, um comerciante português, de Lisboa, que figura nas
aventuras do “Tintin”, que é um vendedor nato de “banha da cobra”, e conhecido
por vender tudo e mais alguma coisa, mesmo até os objectos inúteis e
desnecessários para os seus compradores, e um fala-barato invertebrado.
Não por acaso, a coligação da
direita anda há semanas a introduzir propositadamente o tema dos debates na
discussão pública. Procura com isto desviar as atenções! Coelho sabe que
enquanto andar na comunicação social a contenda sobre o facto de Portas participar
ou não nos debates, não se discute, não se analisa, não se debate os 4 anos de
governação de Coelho e Portas. Com a conivência da comunicação social, o tempo
corre a favor da direita, com Coelho a fazer-se de “morto” e os seus acólitos a
lançarem para a discussão pública outros temas que não a verdadeira realidade
do país que temos ao fim de 4 anos de governação. Por isso, Coelho está a fazer
de conta que não existe e deixa que o foco de atenções se centre no seu
parceiro de coligação na discussão do vai ou não aos debates. E a oposição
deixa-se enredar infantilmente nesta teia.
2 - Bastou assistirmos ao primeiro
frente-a-frente entre Jerónimo de Sousa e Catarina Martins para todos
percebermos que a campanha eleitoral não se vai centrar, por parte da CDU e do
BE, no julgamento dos 4 anos de governo da PàF, mas sim no programa do PS e
como se fosse um governo do Partido Socialista que estivesse a ser julgado
nestas eleições. O governo do Partido Socialista já foi julgado em 2011! O que
agora tem de ser julgado é o governo da PàF, que governou o país nos últimos 4
anos. É isso que a CDU e o BE têm de fazer. E não entrarem numa deriva de
acusações contra o PS.
É por estas e por outras que
Passos Coelho recusa os debates, foge às entrevistas, dá-se ao luxo de não ter
de prestar contas, apregoa que o seu governo serviu para reparar avarias.
Entende que desaparecendo consegue resistir, aproveitando o facto dos
portugueses este ano terem ido de férias como há muito já não se via e que
começam a acreditar que as coisas vão melhorar, ou mesmo que estão melhores.
Mas isto é pura ilusão! Coelho e Portas são mestres na arte do ilusionismo e
estão rodeados de excelentes partners,
como o são Marcelo, Mendes e toda uma comunicação social submissa à direita,
que os ajudam a vender a ilusão de que temos um país melhor, de que as
dificuldades acabaram, que agora tudo é a subir. A PàF descobriu que
desaparecendo conseguirá sobreviver graças à amnésia colectiva que procura
provocar nos portugueses. Por isso pensam que podem ganhar as eleições. E
poderão? É difícil acreditar! Mas a oposição, nomeadamente o PS, não pode
continuar a oferecer o flanco à PàF. O PS terá que agarrar esta campanha de
frente, como António Costa tem feito.
3 – E para que a discussão
pública continuasse fora da órbita da análise e do escrutínio dos 4 anos de
governo da coligação da direita, eis que surge, apenas por coincidência e obra
do acaso(?), a saída de Sócrates da prisão de Évora para prisão domiciliária
com polícia à porta.
Este acontecimento foi o bastante
para as “telelixo” portuguesas passarem horas a falar da casa para onde foi
Sócrates. Eram directos para “encher chouriços” que pareciam não ter fim. Para
o jornalismo de sarjeta importava saber o que veio trazer à casa onde Sócrates
está o trabalhador da entrega de pizas. Que piza pediu? Ah, e de que é? De
extra-queijo e pepperoni. Oh, diabo, lá vai a dieta dele!
Contudo, no meio de toda aquela
tralha jornalística, o único dotado de capacidades intelectuais e o único a
mostrar profissionalismo no seu trabalho foi o rapaz da entrega das pizas.
Quanto ao resto, é o mau exemplo do que é fazer jornalismo sério.
4 – E o mau jornalismo continua
quando os jornalistas insistem em questionar António Costa sobre se Sócrates
vai ou não prejudicar o PS. É preciso ter uma paciência de Job para aturar
estes dislates jornalísticos! Os jornalistas deveriam era querer saber, para
informar devidamente os portugueses, pois essa é a sua missão e obrigação, é pedir
a António Costa para explicar o programa eleitoral, onde estão feitas todas as
contas, ao contrário da coligação da direita que não tem qualquer conta feita,
e justificar as medidas que anuncia sobre Segurança Social, as pensões, a
redução dos impostos, o seu combate aos salários baixos e ao emprego falso.
António Costa quer explicar isto
tudo! O PS apresentou o seu cenário macroeconómico e sobre ele trabalhou o seu
programa eleitoral. Foram apresentadas as contas que tipificam cada uma das
medidas que se propõe fazer de diferente da PàF.
Quem não se lembra do escarcéu
que a PàF fez sobre as contas do PS? Já se esqueceram da ameaça do PSD de
solicitar à UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) que fiscalizasse as
contas do PS no programa eleitoral? Não podemos ignorar toda a verve
panfletária da coligação da direita com a exigência de explicações ao PS?
Acredito que os portugueses não
olvidaram nada disto! Mas apenas quero anunciar que a coligação de direita
colocou 29 perguntas ao PS a exigir justificações para as medidas apontadas.
Pois bem, caros leitores, o PS
respondeu às 29 perguntas feitas pela coligação da direita. Agora pergunto:
alguém ouviu a Coligação da direita a contestar as 29 respostas do PS? Não!
Ninguém ouviu! Por isso a coligação da direita não quer discutir política. Quer
apenas meter medo aos portugueses.
Mas os portugueses não devem ter
medo! O PS e António Costa sabem o que fazem. E o que fazem é o melhor para os
portugueses. Disso que ninguém duvide!
Nota: O autor escreve segundo o antigo AO
*Crónica publicada no Jornal
Notícias de Esposende, n.º 33/2015 – 10 a 16 Setembro