segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O DISCURSO DO MEDO*

A coligação de direita, com todo o despudor que a acompanha,
utiliza o discurso do medo para fugir à discussão política da sua governação.

1 - Estamos a três semanas das eleições legislativas de 4 de Outubro. E nestas eleições os portugueses terão de julgar a governação da coligação da direita do PSD e do CDS, que foi quem nos últimos 4 anos governou Portugal. As eleições servem para julgar o governo em funções!
As declarações prestadas por Passos Coelho e Paulo Portas, mais não têm feito do que procurar desviar as atenções da acção do actual governo e acenar com o papão do governo Socialista. As eleições servem para o povo fazer o julgamento da governação dos últimos 4 anos! E isso a PàF quer afastar da discussão pública!
A coligação usa e abusa do discurso do medo. E continua a falar do governo Socialista que foi julgado pelos portugueses em 2011. A coligação da direita sabe que o povo português verga-se perante a lógica do “pobre mas honrado”, e por isso conforma-se com os “sermões” que Passos Coelho e Paulo Portas têm pregado: tal como o aceitar que “”vivemos acima das nossas possibilidades”; acreditar que é virtuoso e salvífico para cada um de nós aceitar de que “temos de empobrecer”.
A coligação de direita, Portugal à Frente (PàF), sabe que se desfraldar a bandeira do medo consegue aguar a escandecência daqueles que ficaram desempregados; dos reformados que sofreram os cortes nas pensões; da classe média que foi fustigada pelos impostos; dos pais que viram os seus filhos serem obrigados a emigrar porque o governo da direita não lhes deu esperanças de sobreviver em Portugal; dos funcionários públicos que foram tão maltratados pelo governo de Coelho e Portas.
Assim, acreditando nesta táctica do medo, Passos Coelho desapareceu, surge fugazmente em actividades de campanha travestidas de iniciativas do governo, onde aproveita para lançar umas farpas e fugir de novo para o seu esconderijo.
Por sua vez, Portas procura a todo o custo tentar mostrar uma faceta de estadista. Esbraceja para que lhe dêem atenção. Quer palco para destilar a sua verve arrogante, embevecida de palavrório suave na tentativa de procurar ser o pêndulo da Democracia Cristã, mas que ele já há anos abandonou. Portas procura vender a sua imagem à moda do Oliveira da Figueira, um comerciante português, de Lisboa, que figura nas aventuras do “Tintin”, que é um vendedor nato de “banha da cobra”, e conhecido por vender tudo e mais alguma coisa, mesmo até os objectos inúteis e desnecessários para os seus compradores, e um fala-barato invertebrado. 
Não por acaso, a coligação da direita anda há semanas a introduzir propositadamente o tema dos debates na discussão pública. Procura com isto desviar as atenções! Coelho sabe que enquanto andar na comunicação social a contenda sobre o facto de Portas participar ou não nos debates, não se discute, não se analisa, não se debate os 4 anos de governação de Coelho e Portas. Com a conivência da comunicação social, o tempo corre a favor da direita, com Coelho a fazer-se de “morto” e os seus acólitos a lançarem para a discussão pública outros temas que não a verdadeira realidade do país que temos ao fim de 4 anos de governação. Por isso, Coelho está a fazer de conta que não existe e deixa que o foco de atenções se centre no seu parceiro de coligação na discussão do vai ou não aos debates. E a oposição deixa-se enredar infantilmente nesta teia.
 2 - Bastou assistirmos ao primeiro frente-a-frente entre Jerónimo de Sousa e Catarina Martins para todos percebermos que a campanha eleitoral não se vai centrar, por parte da CDU e do BE, no julgamento dos 4 anos de governo da PàF, mas sim no programa do PS e como se fosse um governo do Partido Socialista que estivesse a ser julgado nestas eleições. O governo do Partido Socialista já foi julgado em 2011! O que agora tem de ser julgado é o governo da PàF, que governou o país nos últimos 4 anos. É isso que a CDU e o BE têm de fazer. E não entrarem numa deriva de acusações contra o PS.
É por estas e por outras que Passos Coelho recusa os debates, foge às entrevistas, dá-se ao luxo de não ter de prestar contas, apregoa que o seu governo serviu para reparar avarias. Entende que desaparecendo consegue resistir, aproveitando o facto dos portugueses este ano terem ido de férias como há muito já não se via e que começam a acreditar que as coisas vão melhorar, ou mesmo que estão melhores. Mas isto é pura ilusão! Coelho e Portas são mestres na arte do ilusionismo e estão rodeados de excelentes partners, como o são Marcelo, Mendes e toda uma comunicação social submissa à direita, que os ajudam a vender a ilusão de que temos um país melhor, de que as dificuldades acabaram, que agora tudo é a subir. A PàF descobriu que desaparecendo conseguirá sobreviver graças à amnésia colectiva que procura provocar nos portugueses. Por isso pensam que podem ganhar as eleições. E poderão? É difícil acreditar! Mas a oposição, nomeadamente o PS, não pode continuar a oferecer o flanco à PàF. O PS terá que agarrar esta campanha de frente, como António Costa tem feito.
3 – E para que a discussão pública continuasse fora da órbita da análise e do escrutínio dos 4 anos de governo da coligação da direita, eis que surge, apenas por coincidência e obra do acaso(?), a saída de Sócrates da prisão de Évora para prisão domiciliária com polícia à porta.
Este acontecimento foi o bastante para as “telelixo” portuguesas passarem horas a falar da casa para onde foi Sócrates. Eram directos para “encher chouriços” que pareciam não ter fim. Para o jornalismo de sarjeta importava saber o que veio trazer à casa onde Sócrates está o trabalhador da entrega de pizas. Que piza pediu? Ah, e de que é? De extra-queijo e pepperoni. Oh, diabo, lá vai a dieta dele!
Contudo, no meio de toda aquela tralha jornalística, o único dotado de capacidades intelectuais e o único a mostrar profissionalismo no seu trabalho foi o rapaz da entrega das pizas. Quanto ao resto, é o mau exemplo do que é fazer jornalismo sério.
4 – E o mau jornalismo continua quando os jornalistas insistem em questionar António Costa sobre se Sócrates vai ou não prejudicar o PS. É preciso ter uma paciência de Job para aturar estes dislates jornalísticos! Os jornalistas deveriam era querer saber, para informar devidamente os portugueses, pois essa é a sua missão e obrigação, é pedir a António Costa para explicar o programa eleitoral, onde estão feitas todas as contas, ao contrário da coligação da direita que não tem qualquer conta feita, e justificar as medidas que anuncia sobre Segurança Social, as pensões, a redução dos impostos, o seu combate aos salários baixos e ao emprego falso.
António Costa quer explicar isto tudo! O PS apresentou o seu cenário macroeconómico e sobre ele trabalhou o seu programa eleitoral. Foram apresentadas as contas que tipificam cada uma das medidas que se propõe fazer de diferente da PàF.
Quem não se lembra do escarcéu que a PàF fez sobre as contas do PS? Já se esqueceram da ameaça do PSD de solicitar à UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) que fiscalizasse as contas do PS no programa eleitoral? Não podemos ignorar toda a verve panfletária da coligação da direita com a exigência de explicações ao PS?
Acredito que os portugueses não olvidaram nada disto! Mas apenas quero anunciar que a coligação de direita colocou 29 perguntas ao PS a exigir justificações para as medidas apontadas.
Pois bem, caros leitores, o PS respondeu às 29 perguntas feitas pela coligação da direita. Agora pergunto: alguém ouviu a Coligação da direita a contestar as 29 respostas do PS? Não! Ninguém ouviu! Por isso a coligação da direita não quer discutir política. Quer apenas meter medo aos portugueses.
Mas os portugueses não devem ter medo! O PS e António Costa sabem o que fazem. E o que fazem é o melhor para os portugueses. Disso que ninguém duvide!
Nota: O autor escreve segundo o antigo AO

*Crónica publicada no Jornal Notícias de Esposende, n.º 33/2015 – 10 a 16 Setembro